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Medidas urgentes para o sector das artes

«Museus para a igualdade: diversidade e inclusão». Medidas urgentes para o sector das artes e da cultura em Portugal. Galeria Municipal do Porto e MUDAS.Museu de Arte Contemporânea da Madeira.

Exposição colectiva «Máscaras (Masks)» na Galeria Municipal do Porto, até 16 de Agosto
CréditosDiogo Santos / Notícias do Porto

As normas que foram estabelecidas para a abertura dos museus e galerias e outros espaços de exposição no dia 18 de Maio, quanto à higienização dos espaços e das pessoas, recomendações de lotação reduzida e distanciamento físico e o uso de máscaras não constituiu qualquer problema na abertura desta nova fase de desconfinamento da pandemia. Convém assinalar que por norma os museus nunca são frequentados por multidões, à excepção de algumas inaugurações ou palestras, entre outros, que a partir de agora se vão realizar seguindo as recomendações estabelecidas. No que se refere à minha experiência da visita, que fiz no dia 18 de Maio, aos diversos museus em Setúbal, fiquei triste, ainda pensei que iria encontrar grandes filas de pessoas sedentas de cultura, a avaliar pela enorme adesão aos projectos culturais disponíveis na Internet, e eis que durante toda a tarde andámos sempre sozinhos. De referir ainda que fomos a uma esplanada, mesmo ao fim do dia das visitas, esta sim, sem grande surpresa, estava cheia.

O Dia Internacional dos Museus, que este ano assumiu como mote «Museus para a igualdade: diversidade e inclusão», como já foi divulgado no AbrilAbril, celebrando a diferença, a memória, o conhecimento, a identidade e a igualdade sem preconceitos, foi comemorado em diversos museus do nosso país, referindo apenas alguns, como a Fundação Calouste Gulbenkian, o Museu Nacional de Arte Contemporânea do Chiado, o Museu Colecção Berardo, o Museu Nacional de Machado de Castro em Coimbra, o Museu José Malhoa e Museu da Cerâmica nas Caldas da Rainha, o Museu Dr. Joaquim Manso em Nazaré, o Museu Municipal Carlos Reis em Torres Novas, a Galeria Municipal do Antigo Banco de Portugal em Setúbal (que integra parte do espólio do Museu de Setúbal/Convento de Jesus), o Quartel da Arte Contemporânea de Abrantes, a Casa-Estúdio Carlos Relvas na Golegã, o Museu Regional de Beja-Rainha D. Leonor, MU.SA-Museu das Artes de Sintra e Museu Municipal de Loures. No dia 19 de Maio foi também a vez de abrirem as Galerias Municipais de Lisboa, de início com um horário reduzido (entre as 14h30 e as 19h), a Culturgest reabriu as suas exposições em 23 de Maio e a Galeria Municipal do Porto abrirá em Junho. Os programas virtuais-online estiveram também presentes nas comemorações e vão continuar a estar em algumas das programações artísticas.

Atendendo à situação de enorme fragilidade em que já se encontravam os profissionais das artes e da cultura, diversas vezes denunciado e assumido nas acções da «Plataforma Cultura em Luta» e agora aos mais recentes protestos sobre a actual situação destes profissionais, onde a grande maioria está sem quaisquer receitas para satisfazer as necessidades mais básicas, motivado pela crise pandémica e falta de apoio do Estado, esperemos que este sector se mantenha unido para além dos recentes protestos, nos quais se tem vindo a exigir medidas urgentes para o sector, com especial referência para o manifesto «Unidos pelo presente e futuro da Cultura em Portugal» promovido por 14 estruturas formais e informais representativas do tecido cultural e artístico. As respostas a estas e outras situações que coloquem em fragilidade os trabalhadores das áreas artísticas, assim como a organização destas lutas, só serão eficazes se já existirem estruturas profissionais que procedam ao reconhecimento legal da actividade artística e à defesa dos direitos dos seus agentes e que se façam representar tanto a nível nacional, como internacional, com vista à utilização de todos os instrumentos legais necessários para melhorar as condições de trabalho e a dignidade no exercício da actividade em cada uma das áreas artísticas.

Quanto à agenda de eventos ou projectos artísticos para a próxima quinzena sugerimos a visita à Galeria Municipal do Porto ou ao Palácio das Artes-Fundação da Juventude no Porto e uma visita virtual ao MUDAS.Museu de Arte Contemporânea da Madeira.

Na Galeria Municipal do Porto1, a partir de 2 de Junho, irão reabrir duas exposições, que poderão ser visitadas até ao dia 16 de Agosto, dentro do horário de funcionamento normal da Galeria Municipal, uma exposição colectiva «Máscaras (Masks)», com curadoria de João Laia e Valentinas Klimasauskas, que nos propõe «um olhar sobre a radical reformulação em curso das nossas múltiplas identidades históricas, sociopolíticas, sexuais e transcendentais, questionando os actuais processos em que nos metamorfoseamos de uma em outra» e «Apesar de não estar, estou muito», de Diogo Jesus, com curadoria de João Ribas, que «reúne as obsessões autobiográficas do artista e a sua distinta perspectiva da cultura popular», apresentando os seus desenhos, objectos, vídeos e textos de projectos e publicações, a partir de 2007.

A exposição colectiva e retrospectiva «Anuário 19» será também retomada, podendo ser visitada até 19 de Julho no Palácio das Artes-Fundação da Juventude2 no Porto. A exposição consiste num projecto de análise reflexiva sobre as práticas curatoriais e artísticas, que integrará obras e performances de vários artistas que apresentaram as suas obras em diferentes espaços do Porto no último ano.

Na Madeira, o Museu de Arte Contemporânea foi criado em 1992 e instalado na Fortaleza de São Tiago no Funchal. Desde 1986 que uma selecção de uma colecção de obras de arte, criada nos anos de 1966 e 1967, esteve exposta na Quinta Magnólia no Funchal, sobr a designação de Núcleo de Arte Contemporânea. Em Outubro de 2015, a colecção de arte contemporânea foi transferida para o Centro das Artes-Casa das Mudas, um projecto do arquitecto Paulo David inaugurado em 2004, dando origem ao MUDAS.Museu de Arte Contemporânea da Madeira3, que dispõe de uma área de exposição, um espaço de reservas, um centro de documentação, um auditório, uma cafetaria e uma loja.

A colecção de obras de arte contemporânea, iniciada nos anos 60, foi enriquecida ao longo dos anos 90 do século XX, constituindo-se hoje como um importante conjunto de obras de referência sobre a produção artística portuguesa, estando «representados artistas como Joaquim Rodrigo, António Areal, Helena Almeida, José Escada, Manuel Baptista, Nuno de Siqueira e Artur Rosa, com obras dos anos 60, seguidos de um conjunto vasto de artistas com obras dos anos 80 e sobretudo 90, como Fernando Calhau, Rui Sanches, Rui Chafes, Pedro Calapez, Pedro Casqueiro, José Pedro Croft, Álvaro Lapa, Ana Hatherly, Daniel Blaufuks, Fernanda Fragateiro, Ângelo de Sousa, António Palolo, Eduardo Batarda, Miguel Branco, Jorge Molder, Graça Pereira Coutinho, Albuquerque Mendes, Pedro Cabrita Reis, entre muitos outros. Foi ainda incluída uma selecção de peças de Lourdes Castro, a mais consagrada artista portuguesa de origem madeirense...». De referir que nas diversas exposições realizadas no MUDAS.Museu têm-se vindo também a incluir muitos artistas residentes na Madeira e que aqui desenvolvem o seu trabalho, casos de Amândio de Sousa, Teresa Jardim, Alice de Sousa, Martinho Mendes, Pedro Clode, Eduardo de Freitas, Domingas Pita, Humberto Spínola, Ção Pestana, José Manuel Gomes, António Marques da Silva, António Nelos, Duarte Encarnação, Diogo Goes, João Pestana, Barbara Sousa, Carmo Ramos Silva entre outros, com especial referência à presença de obras de António Aragão, Rigo, Teresa Gonçalves Lobo e Martha Telles.

O MUDAS.Museu inaugurou em Abril, de forma virtual, a nova exposição do espaço museológico «O princípio do (in)visível», através da plataforma mudasmuseuvirtual.com, dando seguimento às mostras anteriores da colecção permanente do Museu ‒ «Experiência da Forma I e II» ‒, procurando apresentar uma nova leitura curatorial sobre uma estrutura narrativa que tem por base a colecção do MUDAS, com um especial foco na produção artística contemporânea dos últimos 70 anos em Portugal Continental e Ilhas. Esta exposição integra pintura, escultura, desenho, fotografia, objectos e instalação, com «peças de Edgar Martins, Hélder Folgado, Daniel Melim, António Barros, Ana Perez-Quiroga, Miguel Palma, Beatriz Horta Correia, Pedro Cabrita Reis e Hugo Brazão. Inclui também algumas das obras em depósito, como as peças de Jorge Pinheiro sem título de 1968 e Aquiles de 1981, pertença da colecção do Novo Banco, a obra WYSIWYG (What you see is what you get), 2009, de Duarte Encarnação, ou um conjunto de plexiglass recortados de autoria de Lourdes Castro», entre outras obras.

  • 1. Galeria Municipal do Porto. Rua D. Manuel II (Jardins do Palácio de Cristal), Porto. Horário: terça-feira a domingo, das 10h às 18h; encerrado à segunda-feira e feriados.
  • 2. Palácio das Artes, Largo de S. Domingos, 16-22, Porto. Horário: dias úteis, das 9h30 às 19h.
  • 3. MUDAS.Museu de Arte Contemporânea da Madeira. Estrada Simão Gonçalves da Câmara nº 37, Calheta; Tel:(351) 291 820 900. Horário: de terça-feira a domingo, das 10h às 17h.

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