No trilho de David Thoreau

Hoje inspiramo-nos em Walden de Henry David Thoreau para, através do jazz e dos sons da Natureza, escaparmos ao ritmo da cidade e ao seu triturador compasso.

Henry David Thoreau
Créditos / brain pickings

Celebram-se hoje 210 anos sobre o nascimento do escritor e pensador Henry David Thoreau, uma mente libertária que nos seus escritos e ensaios desenvolveu a ideia de um Homem livre da sua subjugação à sociedade capitalista e ao poder do dinheiro, tal como lutou contra escravatura.

Contudo, Henry David Thoreau ficou reconhecido até aos dias de hoje sobretudo pelo seu papel na luta pela defesa da Natureza e da vida selvagem e o regresso a uma vida simples e integrada com o meio ambiente. 

Em Walden, o seu escrito clásssico de 1854, Thoreau relata a sua experiência de abandono da sociedade para se entregar à liberdade da vida no campo, longe da civilização, num verdadeiro manual de sobrevivência, de celebração da vida e de crítica da sociedade capitalista.

Hoje inspiramo-nos em Walden de Henry David Thoreau para, através do jazz e dos sons da Natureza, escaparmos ao ritmo da cidade e ao seu triturador compasso.

Em 1969, o saxofonista Pharoah Sanders grava Karma, um álbum clássico para a editora de Nova Iorque Impulse!, do produtor Creed Taylor.

Com dois temas apenas, Sanders deixou uma marca no jazz da geração hippie
marcado pela espiritualidade e sentido e transcendência da música, numa forte inspiração no orientalismo então dominante entre as novas gerações.

«Colors», com letra e voz de Leon Thomas, é uma oração jazz à Natureza e ao seu maravilhoso mundo de cores, formas e sons.
 

Hannibal Marvin Peterson, também conhecido como Hannibal Lokumbe, é um trompetista nascido em 1948 no Texas que tocou com os principais nomes da cena Loft de Nova iorque e da chamada New Thing!, onde o free jazz e o afrocentrismo se fundem no fogo brando do swing e do hard bop.

Nesta gravação de 1974, à frente da sua Sunrise Orchestra, podemos fechar os olhos e sentir os sons, as cores e o movimento de um nascer do dia em plena floresta, com o belíssimo e inspirador Forest Sunrise.

Infelizmente não encontrámos vídeo para ilustrar, mas deixamos aqui um excerto do mesmo disco de Hannibal e a Sunrise Orchestra.

O colosso do saxofone, Joe Henderson, gravou em 1973 um album maravilhoso dedicado aos quatro elementos da Natureza – Ar, Terra, Fogo e Água.

The Elements, soberbamente acompanhado por Alice Coltrane, Charlie Haden, Michael White e o percussionista Kenneth Nash, para além da magnética relação que estabelece entre os elementos desta super banda, é uma verdadeira aventura para os sentidos marcado pela inspiração, a dedicação à mãe Natureza e à constante mudança da realidade.

«Exotic Forest» corresponde exactamente à experiência de nos perdermos no mato com um guia que acabou de chegar do Espaço e nos leva pela mão, por entre todas as mais diversas e exóticas paisagens.

Perdermo-nos nunca foi tão libertador e reconfortante, como nesta gravação da Sun Ra Arkestra ao vivo em 1966, incluída no álbum Nothing Is...

Com o saxofonista e multi-instrumentista Yusef Lateef, e a sua colecção de flautas orientais, podemos assistir ao florir da ameixa neste «Plum Blossom», de 1961.

Com a ajuda do pianista Barry Harris, Yusef Lateef leva-nos a descobrir por entre sons orientais de sopros e percussões, a simplicidade esmagadora da Natureza.

Desaparecido em Dezembro do ano passado, o violinista Michael White, além de uma presença assídua em múltiplas sessões do jazz mais espiritual e de vanguarda, foi um artista cuja música parecia ter o próprio respirar da Natureza.

Usando o violino para além da sua tradição erudita, White é sempre uma refrescante fonte de luz, criativo e incansável em busca da beleza e da magia da música e do Mundo.

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