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Novos modos de habitarmos o mundo, metáforas, gestualidade e símbolos

Exposições de arte pública de Thierry Ferreira em Alcobaça, de fotografia com José Pedro Cortes no Porto, de trabalhos em papel da artista Sofia Areal em Lisboa e de pintura com Ana Monteiro em Braga.

Exposição de fotografia «Cintura», de José Pedro Cortes, na sala de exposições da Escola das Artes da Universidade Católica no Porto, até 17 de dezembro
Créditos / José Pedro Cortes

«A Minha Casa é o Meu Jardim», Exposição de Arte Pública de Thierry Ferreira1, no Parque Verde e Museu do Vinho de Alcobaça2até 31 de dezembro.

Esta exposição teve origem no projeto «Arte na Horta» iniciado em março de 2020, por altura do primeiro confinamento, tem a curadoria de Alberto Guerreiro e Thierry Ferreira e no texto de apresentação refere-se que é «composta por um conjunto de esculturas contemporâneas de caráter monumental, organizadas num percurso entre a Praça João de Deus Ramos, o Parque Verde e o Museu do Vinho de Alcobaça; e por uma exposição de pequeno formato, patente em dois espaços expositivos do Museu do Vinho: a galeria da Adega dos Balseiros e o Armazém Novo.

A exposição pretende ser um evento centrado na valorização do património natural e construído através das artes, em que propõe contrariar o olhar moldado do espetador pelo quotidiano, levando-o para uma nova perspetiva de apreender e questionar o seu modo de habitar o mundo. O cenário expositivo apresenta as possíveis relações entre Arte Pública e contextos específicos, tais como paisagem e arquitetura, e as incidências que ocorrem da presença de um sobre o outro, e na perceção que o público tem sobre ambas.

As obras apresentadas situam-se em articulação e itinerância do projeto de pesquisa artística de Thierry Ferreira, iniciado em 2016, intitulado «Habitar o mundo» e que já resultou em diversas exposições pelo país, nomeadamente: «III Pistas II Obstáculos», Espaço Amoreiras, Lisboa 2018; «Desktop», Forte de São Miguel, Nazaré 2018; «Depois do Degelo», centro histórico da cidade da Guarda, 2019; «Habitar o Lugar», Politécnico de Leiria e Galeria do Banco das Artes, Leiria 2020, estando já programada para Oeiras em 2022. Poderá ver um vídeo da montagem da exposição aqui.

«Cintura» é o título da exposição de fotografia de José Pedro Cortes3, com curadoria de Sylvia Chivaratanond, na sala de exposições da Escola das Artes da Universidade Católica4 no Porto, até 17 de dezembro.

Para a realização dos seus trabalhos, o artista teve como referência uma frase do ambientalista Paul Hawken: «O futuro pertence àqueles que entendem que fazer mais com menos é compassivo, próspero e duradouro e, portanto, mais inteligente e até competitivo». Esta exposição explora as vastas estruturas da VCI, um mapa entrelaçado de auto-estradas e anéis circulares que ligam as pontes do centro do Porto à periferia da cidade ao longo do Rio Douro, vistas pelos olhos do artista como quem «desenha um retrato íntimo de seu sistema pulsante como visto através de suas lentes».

No texto da curadora apresenta-se o trabalho de Cortes, como «(…) momentos íntimos que são misteriosos e pessoais, quase como se a VCI fosse uma personagem por si só. Diariamente, a VCI conta com bastante movimento de pessoas, sendo difícil imaginar que todo esse movimento desacelere, como se o artista nos lembrasse que a humanidade possa estar nessa mesma trajetória – uma metáfora sobre a cultura contemporânea, ou talvez a falta dela. Ou ainda, talvez queira apontar para os meros atos transgressivos que já ocorreram nessas estradas. Em contraste com a natureza, a VCI foi construída pelo homem e atende às necessidades do capitalismo. Ainda assim, a ironia que existe por trás é que devemos entrar nos nossos carros e usar essas mesmas estradas para chegar à natureza, ou, tal como Ralph Waldo Emerson escreveu: «Adote o ritmo da natureza – o segredo dela é a paciência; na realidade, é algo que todos devemos adotar para poder entrar e sair da VCI.»

Exposição «20 Anos para a frente, 20 anos para trás», de Sofia Areal, na Fundação Carmona e Costa em Lisboa, até 18 de dezembro
 
Créditos

Na Fundação Carmona e Costa5, em Lisboa, apresenta-se a exposição «20 Anos para a frente, 20 anos para trás», da artista plástica Sofia Areal6, a decorrer até 18 de dezembro.

Nesta exposição a artista apresenta 130 trabalhos em papel, selecionados entre os 40 anos do seu trabalho, com curadoria de Martim Brion. A exposição é acompanhada por um livro com textos de José Luís Porfírio, Jorge Silva Melo, Ricardo Escarduça e Martim Brion. Inicialmente o seu trabalho assume-se como figurativo, passando após os finais da década de 90 por explorar composições abstratas e geométricas, com um forte cromatismo e uma vigorosa gestualidade, com «…movimentos que fundam pela repetição, como as formas circulares ou as suas derivações em espirais, círculos concêntricos e flores…»7.

No seu trabalho artístico tem vindo a desenvolver as técnicas da pintura, escultura, desenho, colagem, ilustração, design gráfico, desenho têxtil e cenografia. «Aquilo que me interessou foi ver a Sofia Areal pensar pintando, pintar pensando», o ofício «dessa mão que todos os dias faz a alegria», descreveu Jorge Silva Melo sobre a artista, na apresentação de um documentário.

«O Mito de Sísifo» é o título da exposição de pintura de Ana Monteiro8, que podemos ver no Museu Nogueira da Silva9 em Braga, até 31 de dezembro.

Exposição «O Mito de Sísifo» de Ana Monteiro, no Museu Nogueira da Silva em Braga, até 31 de dezembro Créditos

«Quero que tudo me seja explicado, ou então coisa nenhuma (…) O absurdo nasce deste confronto entre o chamamento humano e o irrazoável silêncio do mundo», esta é a frase de Albert Camus que a artista utilizou como referência para as pinturas que aqui se apresentam. Para Ana Monteiro, este conjunto de obras, são carregadas de símbolos «que nos colocam diante de histórias onde essa inquietação é cantada com notas que suportamos ouvir. Tornada objeto estético. E talvez nesse disfarce, através da doçura da forma pintada, nos seja possível contemplar a pele bizarra do absurdo… e a carne tingida da nossa identidade. Estrangeiros de tudo. Lúcidos e cegos. Perdidos, ufanos, e nus… tentando, maravilhosamente, compreender».

Num outro texto sobre o trabalho de Ana Monteiro, refere-se que as «suas pinturas são profundamente alegóricas: através delas, o retrato é moldado como um símbolo, na tentativa de mergulhar nos lugares mais escondidos da identidade e entender, a cada passo do caminho, o quão assustador é a tarefa de tentar descobrir o que nos torna humanos – em nossa relação com o Outro, para a paisagem social e, talvez, o mais importante de todos, para nós mesmos». Esta artista pretende fala-nos essencialmente de «inquietação, cegueira e deslumbramento e atira-nos o olhar para lá dos espelhos que, ficticiamente, nos amparam».


O autor escreve ao abrigo do Acordo Ortográfico de 1990 (AO90)

  • 1. Thierry Ferreira tem o mestrado em Artes Plásticas, na Escola Superior de Artes e Design das Caldas da Rainha e é licenciado em Artes Plásticas, na Escola Superior de Artes e Design das Caldas da Rainha.  Obteve o VII Prémio Ibérico de Escultura da Cidade de Serpa e o Prémio Bienal de Coruche–Percursos com Arte em 2017; o 1.º Prémio, Bienal Internacional de escultura de Chaco, Resistência, Argentina (2014); 2.º Prémio de Escultura, Jingpo Town International Sculpture Art Festival, China (2012); o 1.º Prémio de Escultura – Bienal de Artes Plásticas de Ansião (2008); o 1.º Prémio de Escultura Artur Bual – Amadora e diversas menções honrosas. Tem diversas obras no espaço público em Portugal e no estrangeiro e tem participado em exposições desde 2003.
  • 2. Museu do Vinho de Alcobaça - Rua de Leiria, S/N, Olival Fechado 2460-059 Alcobaça. Horário: 10h00 –12h30 e 14h00 – 17h30 / Parque Verde - Parque Verde: s/h.
  • 3. José Pedro Cortes (Porto, 1976) expõe regularmente desde 2005, em Portugal e no estrangeiro. Das suas exposições individuais destacam-se as mostras no Centro Português de Fotografa (Porto, 2005), White Space Gallery (Londres, 2006), Museu da Imagem (Braga, 2006), CAV – Centro de Artes Visuais (Coimbra, 2013), Museu Nogueira da Silva (Braga, 2001), Robert Morat Galerie (Berlin, 2015), Museu da Electricidade/MAAT (Lisboa, 2015), Galeria Francisco Fino (Lisboa, 2018) e MNAC – Museu Nacional de Arte Contemporânea do Chiado (Lisboa, 2018. Em 2016 foi um dos 4 artistas comissariados para desenvolver um projecto inédito para a BF 16 – Bienal de Fotografia de Vila Franca de Xira.
  • 4. Escola das Artes da UCP – Rua Diogo Botelho, n.º 1327 4169-005 Porto. Horário: Terça a sexta, das 14h às 19h.
  • 5. Fundação Carmona e Costa – Edifício de Espanha (Bairro do Rego) Rua Soeiro Pereira Gomes, 1, 6.º 1600-207 Lisboa. Horário: quarta a sábado, das 15h às 20h.
  • 6. Sofia Areal (Lisboa, 1960) iniciou formação em Inglaterra, com os cursos de Design Têxtil e o Foundation Course, do Hertfordshire College of Art and Design, em St. Albans (1979-81), regressou a Portugal e estudou nos ateliês de gravura e pintura do centro de artes Ar.Co., em Lisboa. Expõe coletivamente desde 1982 e, individualmente, desde 1990. Em 2011, apresentou na Galeria do Torreão Nascente da Cordoaria Nacional, em Lisboa, com produção dos Artistas Unidos, uma exposição antológica de dez anos de trabalho.
  • 7. Fernando Rosa Dias, no catálogo da exposição «Quatro», produzido pelos Artistas Unidos (2010-2012).
  • 8. Ana Monteiro (Braga, 1990), vive e pinta em Braga. Licenciada em Pintura na Faculdade de Belas Artes do Porto. Expõe regularmente desde 2011, e a sua obra encontra-se representada em diversas coleções particulares.
  • 9. Museu Nogueira da Silva/Galeria da Universidade – Av. Central, 61 – Braga. Horário: Terça a Sexta, das 10h às 12h30, e das 14h às 18h30; Sábado, das 14h às 18h

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