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101 anos de luta comunista na Turquia

O TKP fez 101 anos. Ekin Sönmez, responsável das relações internacionais, falou do autoritarismo, do aumento da exploração na pandemia, das mulheres, dos refugiados, da xenofobia e do papel do partido.

O  TKP é o partido mais antigo e o mais jovem da Turquia, afirmam oc comunistas turcos (imagem de arquivo) 
Créditos / TKP

No dia 10, passaram 101 anos sobre a fundação do TKP. A propósito disso o Peoples Dispatch falou com Ekin Sönmez, jovem responsável pelas relações internacionais do Partido Comunista da Turquia, sobre o modo como o partido está a enfrentar os desafios que se impõem à classe trabalhadora na actualidade.

Na entrevista, Sönmez sublinhou que o TKP é o partido mais velho e mais jovem da Turquia, esperança e vanguarda dos trabalhadores turcos por um futuro livre da barbárie do capitalismo.

Um dos tópicos abordados foram o autoritarismo e as campanhas de perseguição política dirigidas contra a oposição pelo Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP), de Erdogan.

Ekin Sönmez destacou os «enganos» que o AKP despertou na Turquia, ao ponto de ser aplaudido pela elite liberal, quando o «AKP é um partido islamita, conservador, anti-republicano, contra o povo, que partilha uma ideologia comum com a Irmandade Muçulmana».

«o TKP é o partido mais velho e mais jovem da Turquia, esperança e vanguarda dos trabalhadores turcos por um futuro livre da barbárie do capitalismo»

O TKP alertou «o nosso povo» para os perigos que aí vinham, pelo que foi sem surpresa que viu as «ilusões» dos liberais embaterem numa «crise severa», numa «imensa dívida», no «aumento do tom autoritário», na «opressão dos trabalhadores e dos opositores», «a preparar o nacionalismo e a reacção».

Sönmez disse ainda, neste contexto, que os ataques ao partido não foram uma novidade em si, uma vez que o anti-comunismo está arraigado na burguesia turca, de qualquer tempo. Aquilo que se verificou com o AKP foi uma «severidade crescente», com vários membros do Comité Central e o secretário-geral a serem indiciados com o pretexto repetido de «insultarem Erdogan».

Além disso referiu os ataques contra sedes e centros de trabalho, «geralmente perpetratos por elementos de seitas religiosas ou fascistas, que também são nutridos pelo AKP».

Confrontados com esta situação, os comunistas turcos respondem continuando a desempenhar a sua tarefa principal, que é organizar os trabalhadores e as camadas populares.

Pandemia e aprofundamento da exploração

A dirigente comunista turca afirma que as condições de trabalho na Turquia já se estavam a deteriorar antes da pandemia de Covid-19, registando-se ainda um nível de desemprego muito elevado, a rondar os 25%, e maior entre os jovens.

Como aconteceu noutros países capitalistas, o governo do AKP utilizou a pandemia e as respostas criadas (quarentenas, encerramento de escolas, etc.) de forma abusiva para beneficiar o patronato e prejudicar os trabalhadores. «O resultado foi desastroso: por um lado, os trabalhadores foram obrigados a laborar em más condições, espaços cheios e sem aplicação de medidas de prevenção; por outro, muitas pessoas perderam o emprego e o rendimento», denuncia Ekin Sönmez.

«o governo do AKP utilizou a pandemia e as respostas criadas (quarentenas, encerramento de escolas, etc.) de forma abusiva para beneficiar o patronato e prejudicar os trabalhadores»

Também graças às políticas do AKP, sectores altamente privatizados como a saúde, a educação, os transportes, a segurança tornaram-se extremamente «penalizadores» para a classe trabalhadora nos dias da pandemia, que, diz Sönmez, ajudou as empresas privadas a maximizar os lucros em áreas de importância vital, urgente para as populações.

Além disso, frisa, o governo do AKP usou o pretexto da necessidade da «distância social» para «silenciar e pacificar» os trabalhadores, para proibir os protestos, para «tirar das ruas a voz do povo». O TKP não aceitou que isto se tornasse o «novo normal» e esforçou-se para comemorar nas ruas o Primeiro de Maio, o Dia da República, entre outras datas.

Questão da migração e da xenofobia

O TKP é claro ao afirmar que as guerras imperialistas estão na origem da questão dos refugiados. A responsável das relações internacionais afirma que o governo do AKP assumiu uma «política de fronteiras abertas», tendo diversos objectivos. Um deles era interferir nos assuntos internos dos países de onde provinham os refugiados (Síria, Iraque, Afeganistão), «em linha com os seus propósitos expansionistas».

«As guerras imperialistas e a exploração laboral estão na base da questão dos refugiados e migrantes. [...] para combater a xenofobia, é necessária uma perspectiva de classe»

Outro aspecto é o da mão-de-obra barata (4/5 milhões de trabalhadores) a que os capitalistas turcos passaram a ter acesso, explorando-a na construção, nos têxteis e, até certo ponto, na agricultura sasonal. Desta forma, revela ainda Sönmez, o governo passou a ter maior poder de pressão sobre os trabalhadores turcos e as suas organizações representativas, ao deter «uma reserva» de trabalhadores-refugiados.

Com os refugiados, o AKP podia sempre «incendiar os ânimos nacionalistas» quando lhe conviesse, além de poder chantagear a União Europeia, na sequência do acordo firmado.

A causa na base da migração é a exploração laboral, afirma Ekin Sönmez, sublinhando que, para combater a xenofobia, é necessária uma perspectiva de classe, cativar os refugiados para o campo da luta pelo socialismo. Nesse sentido, o TKP criou recentemente uma estrutura para lidar com os trabalhadores imigrantes e ultrapassar barreiras linguísticas, culturais, logísticas, com vista à sua organização.

Violência contra as mulheres

Na entrevista, Ekin Sönmez afirma que, nos últimos 20 anos, se assistiu a um aumento drástico de feminicídios e de violência contra as mulheres na Turquia. «Isto não é obviamente nenhuma coincidência», antes o «resultado directo das políticas reaccionárias e islamitas do governo do AKP», bem como das «desigualdades existentes em todos os aspectos da vida», afirma, destacando como as mulheres recebem menos, estão menos empregadas, têm um nível de educação inferior, com o trabalho doméstico a recair tradicionalmente sobre os seus ombros.

«nos últimos 20 anos, assistiu-se a um aumento drástico de feminicídios e de violência contra as mulheres»

«Mais de 400 assassinatos por anos é uma enorme vergonha», denunciou, sublinhando que, ao contrário do que é preciso, não existe uma «abordagem meticulosa» da questão e a Justiça geralmente toma decisões favoráveis ao perpetrador.

«Por tudo isto, temos estado na linha da frente nas mobilizações e outras actividades de protesto contra o retrocesso do governo do AKP, que em 2009 firmou arbitrariamente a Convenção [do Conselho da Europa para a Prevenção e o Combate à Violência contra as Mulheres e a Violência Doméstica] e se retirou dela quando lhe caiu a fachada», disse.

Na sequência do nosso 13.º Congresso, em 2020, o partido anunciou o lançamento dos Comités de Solidariedade das Mulheres, de modo a criar uma base contra a opressão, a violência e a exploração, e para promover os laços de solidariedade entre as mulheres trabalhadoras.

«O TKP defende o internacionalismo e a amizade entre os povos, contra as correntes nacionalistas, racistas, xenófobas, militaristas», sublinhou ainda Ekin Sönmez.

E acrescentou: «Os intelectuais, os autores, artistas, cientistas, arqueólogos mais conhecidos, com mais impacto, com dimensão nacional e universal, são comunistas orgulhosos, incluindo Nâzım Hikmet, Suat Derviş, Sabahattin Ali, Aziz Nesin, Halet Çambel, Necdet Bulut e por aí adiante.»

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