O relatório, feito pelo Mapbiomas – iniciativa que integra diversas entidades dedicadas a estudos e acções de protecção ambiental –, comprova que o agronegócio é o principal responsável pela desflorestação ilegal no país sul-americano.
Comparando 2020 com 2021, a perda de cobertura vegetal aumentou 20%, com registo de alta nos seis biomas brasileiros: Amazónia, Cerrado, Caatinga, Pantanal, Mata Atlântica e Pampa.
O estudo, divulgado esta segunda-feira, aponta que a agropecuária foi responsável por 96,6% da perda de vegetação nativa, principalmente na Amazónia, que concentrou 59% da área desmatada no período, seguida pelo Cerrado (30%) e pela Caatinga (7%).
A destruição concentrou-se em duas regiões onde a sócio-biodiversidade tem sido rapidamente transformada em pasto, mercadorias agrícolas e especulação fundiária. Ambas se consolidaram como pólos agropecuários durante o governo de Jair Bolsonaro, refere o Brasil de Fato.
Ambientalistas sublinham que o «crime» é «incentivado pela redução da fiscalização» e directamente pelas autoridades, ao proporem legislação no sentido oposto ao controlo da destruição ambiental. «A cada hora, a Amazónia brasileira perdeu 96 hectares da sua cobertura florestal no ano de 2020. Ao fim de um dia, foram desmatados 2309 hectares. Nesse ritmo, ao terminar de ler esta reportagem, o equivalente a 32 campos de futebol da floresta amazónica terão sido devastados», lê-se no portal Amazônia Real, que se refere aos dados divulgados na passada sexta-feira pela MapBiomas. Em 2020, ano marcado pelos efeitos da pandemia da Covid-19, o desmatamento da maior floresta tropical do mundo aumentou 9% em relação a 2019. De cada dez hectares desflorestados no Brasil, seis tiveram lugar na Amazónia, com a devastação a atingir os 842 983 hectares. Para o Amazônia Real, o governo de Bolsonaro levou a sério o «passar a boiada» (actualizar/flexibilizar normas, no caso, para o avanço do agronegócio) defendido pelo ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, que é investigado por crime ambiental e enriquecimento ilícito. O segundo Relatório Anual do Desmatamento 2020, elaborado pelo MapBiomas, mostra que, no Brasil, entre Janeiro e Dezembro, foram emitidos 74 218 alertas de desmatamento para uma área superior a 1,3 milhão de hectares. Por comparação com 2019, o aumento da área abrangida foi de 14%. A MapBiomas, iniciativa que integra diversas entidades dedicadas a estudos e acções de protecção ambiental, verificou que 99% de todo o desmatamento do país sul-americano ocorreu de forma ilegal, ou seja, sem a devida autorização dos órgãos ambientais. Nem mesmo áreas protegidas, como unidades de conservação e terras indígenas, escaparam da acção dos prevaricadores. Os alertas de desmatamento da floresta amazónica indicaram uma área de 8426 quilómetros quadrados em 2020, o equivalente a cerca de cinco cidades de São Paulo. Os dados foram divulgados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) na sexta-feira passada e foram registados pelo projecto Deter-B, que indica praticamente em tempo real a localização de acções ilegais em zonas preservadas. A área devastada na Amazónia em 2020 – 8426 quilómetros quadrados – corresponde ao segundo pior índice da série histórica do Deter, que começou a operar em 2015; só é suplantada por 2019, primeiro ano de governação de Jair Bolsonaro, em que foi desflorestada uma área de 9178 quilómetros quadrados. Ou seja, nos dois primeiros anos do governo de Bolsonaro, a área desflorestada na Amazónia é 82% superior, em média, à dos três anos anteriores. Mesmo com a redução de 8% de 2019 para 2020, a média de área desmatada nestes dois anos é de 8802 quilómetros quadrados, bem acima da registada entre 2016 e 2018: 4844 quilómetros quadrados, informa o Portal Vermelho. Numa nota à imprensa, o secretário executivo do Observatório do Clima, Marcio Astrini, comentou estes dados afirmando que «Bolsonaro tem dois anos de mandato e os dois piores anos de Deter ocorreram na gestão dele». «As queimadas, tanto na Amazónia quanto no Pantanal, também cresceram por dois anos consecutivos. Não é coincidência, mas sim o resultado das políticas de destruição ambiental implementadas pelo actual governo», sublinhou. Já no início de Dezembro, quando veio a público que a devastação da Amazónia batia recordes no Brasil, o Observatório dirigiu duras críticas ao governo brasileiro, tendo emitido uma nota em que denunciava que os números cumprem «um projeto bem-sucedido de aniquilação da capacidade do Estado Brasileiro e dos órgãos de fiscalização de cuidar de nossas florestas e combater o crime na Amazónia». Por seu lado, Rômulo Batista, porta-voz da Campanha Amazônia da Greenpeace, disse que aquilo a que se tem assistido nos últimos dois anos é um desmantelamento de «todas as políticas e conquistas ambientais feitas desde a redemocratização do país». Em entrevista ao Brasil de Fato, afirmou que «Bolsonaro vê o meio ambiente como um entrave económico» e que tanto ele como os seus ministros «apostam na abertura de terras indígenas para mineração e no desmatamento para o aumento da produção agrícola». Destacou que o «desmatamento não traz riqueza» e lembrou que a «ciência aponta que a Amazónia está muito próxima de um ponto de "não retorno" também chamado de ponto de "inflexão", que é quando a floresta perde a capacidade da sua automanutenção». Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença. Marcos Reis Rosa, doutor em Geografia pela Universidade de São Paulo, afirma que, tendo em conta as informações disponíveis em bancos de dados como o Cadastro Ambiental Rural (CAR), é possível identificar o autor em qualquer desmatamento ocorrido no Brasil. Dos mais de 5,5 milhões de imóveis rurais cadastrados no Brasil, sublinha, houve registo de desflorestação em apenas 0,99%. «Só um por cento teve desmatamento, o que bastou para fazer este estrago não só ao meio ambiente mas também à nossa imagem lá fora. Mas é este 1% que faz barulho, que tem representantes no Congresso, que está lá para fazer lei para ampliar o desmatamento, lei para amnistiar ocupação ilegal», disse Rosa, um dos autores do relatório da MapBiomas, em entrevista à Amazônia Real. Líder de Conversão Zero do WWF-Brasil – um dos parceiros institucionais da MapBiomas –, Frederico Machado avalia que a fragilidade dos trabalhos de fiscalização em campo por causa da pandemia foi apenas mais uma oportunidade encontrada para o avanço da desflorestação. «O crime não pára. É até incentivado pela redução da fiscalização. Por falas das nossas autoridades, propondo legislação no sentido oposto ao controle da destruição ambiental. Há o desmantelamento das nossas agências ambientais. Isso tudo é muito grave, e a pandemia foi mais um momento de oportunidade», disse Machado. Entre os cinco biomas brasileiros, a Amazónia concentrou 60,9% da área desmatada no país em 2020. Segue-se o Cerrado (31%), a Caatinga (4,4%), o Pantanal e a Mata Atlântica, ambos com 1,7%, e o Pampa (0,1%). Entre os 27 estados da federação, os que compõem a Amazónia Legal lideram o ranking do desmatamento. Só no Pará, registou-se mais de um quarto (26,4%) da desflorestação detectada em todo o país. Seguem-se Mato Grosso (12,9%), Maranhão (12,1%), Amazonas (9,2%) e Rondónia (8,3%). Tanto Mato Grosso quanto o Maranhão integram outros biomas – Cerrado e Pantanal, no primeiro caso, e Cerrado, no segundo. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.Internacional|
Amazónia perdeu quase 100 hectares de floresta por hora em 2020
Internacional|
Desflorestação no período de Bolsonaro é 82% superior aos anos anteriores
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«O crime não pára»
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A primeira região situa-se na Amazónia, nas fronteiras entre os estados de Amazonas, Acre e Rondónia. Conhecida como «Amacro», a região foi palco de 12,2% de todos abates no Brasil em 2021. No Cerrado, o foco é a «Matopiba», que se refere aos estados de Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, onde fica 23,6% do total desmatado.
«Os números mostram a prevalência e a estabilidade no nível de pressão da agropecuária nos últimos três anos, quando a atividade foi responsável por percentuais de desmatamento acima de 97%», lê-se no estudo.
É a primeira vez que o relatório anual do MapBiomas identifica as actividades relacionadas com a devastação ambiental. À agropecuária (97%), seguem-se o garimpo (0,5%), a expansão urbana (0,4%) e a mineração (0,1%).
O agro desmata
No discurso oficial, os gigantes do agronegócio garantem fazer tudo para bloquear a compra de gado a fazendeiros que promovem a desflorestação à margem da lei. No entanto, refere o Brasil de Fato, investigações policiais, da imprensa e de organizações não governamentais (ONG) têm mostrado que «legalidades e ilegalidades convivem no interior das mesmas cadeias produtivas do setor».
O ano passado, uma auditoria do Ministério Público Federal (MPF) concluiu que um terço do gado comprado pela empresa JBS no estado do Pará teve origem em áreas abatidas ilegalmente.
A maior processadora de carnes do mundo violou normas internacionais e continuou a comprar carne a 144 fazendas onde se verifica desmatamento ilegal, segundo a ONG Global Witness.
Invasão de terras indígenas
O alto lucro garantido pela JBS aos seus fornecedores elevou o Pará a líder histórico no ranking estadual de desmatamento. Não é por acaso que as três Terras Indígenas (TI) mais devastadas do país se encontram em território paraense, sublinha o portal brasileiro.
Os alertas de desmatamento da floresta amazónica indicaram uma área de 8426 quilómetros quadrados em 2020, o equivalente a cerca de cinco cidades de São Paulo. Os dados foram divulgados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) na sexta-feira passada e foram registados pelo projecto Deter-B, que indica praticamente em tempo real a localização de acções ilegais em zonas preservadas. A área devastada na Amazónia em 2020 – 8426 quilómetros quadrados – corresponde ao segundo pior índice da série histórica do Deter, que começou a operar em 2015; só é suplantada por 2019, primeiro ano de governação de Jair Bolsonaro, em que foi desflorestada uma área de 9178 quilómetros quadrados. Ou seja, nos dois primeiros anos do governo de Bolsonaro, a área desflorestada na Amazónia é 82% superior, em média, à dos três anos anteriores. Mesmo com a redução de 8% de 2019 para 2020, a média de área desmatada nestes dois anos é de 8802 quilómetros quadrados, bem acima da registada entre 2016 e 2018: 4844 quilómetros quadrados, informa o Portal Vermelho. Numa nota à imprensa, o secretário executivo do Observatório do Clima, Marcio Astrini, comentou estes dados afirmando que «Bolsonaro tem dois anos de mandato e os dois piores anos de Deter ocorreram na gestão dele». «As queimadas, tanto na Amazónia quanto no Pantanal, também cresceram por dois anos consecutivos. Não é coincidência, mas sim o resultado das políticas de destruição ambiental implementadas pelo actual governo», sublinhou. Já no início de Dezembro, quando veio a público que a devastação da Amazónia batia recordes no Brasil, o Observatório dirigiu duras críticas ao governo brasileiro, tendo emitido uma nota em que denunciava que os números cumprem «um projeto bem-sucedido de aniquilação da capacidade do Estado Brasileiro e dos órgãos de fiscalização de cuidar de nossas florestas e combater o crime na Amazónia». Por seu lado, Rômulo Batista, porta-voz da Campanha Amazônia da Greenpeace, disse que aquilo a que se tem assistido nos últimos dois anos é um desmantelamento de «todas as políticas e conquistas ambientais feitas desde a redemocratização do país». Em entrevista ao Brasil de Fato, afirmou que «Bolsonaro vê o meio ambiente como um entrave económico» e que tanto ele como os seus ministros «apostam na abertura de terras indígenas para mineração e no desmatamento para o aumento da produção agrícola». Destacou que o «desmatamento não traz riqueza» e lembrou que a «ciência aponta que a Amazónia está muito próxima de um ponto de "não retorno" também chamado de ponto de "inflexão", que é quando a floresta perde a capacidade da sua automanutenção». Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.Internacional|
Desflorestação no período de Bolsonaro é 82% superior aos anos anteriores
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No ano passado, a actividade ilegal concentrou-se nas TI Apyterewa (8,2 mil hectares abatidos), Trincheira Bacajá (2,6 mil hectares) e Cachoeira Seca (dois mil hectares), segundo o Mapbiomas.
As três vivem conflitos territoriais crescentes provocados principalmente por invasões de fazendeiros, mas também de garimpeiros, grileiros e madeireiros.
Entre 2019 e 2021, mais da metade das 573 terras indígenas brasileiras sofreram algum grau de desflorestação.
Dezoito árvores por segundo
No total, a perda vegetal em todos os biomas brasileiros verificada em 2021 ascendeu a 16,5 mil quilómetros quadrados, o dobro da área abrangida pela Região Metropolitana de São Paulo.
O ritmo da devastação também acelerou. A velocidade média passou de 0,16 para 0,18 hectares por dia. No último ano, a Amazónia perdeu o equivalente a 18 árvores por segundo.
No Brasil, o corte da vegetação ocorre quase totalmente de forma ilegal. Apenas 0,87% da área desflorestada cumpriu as exigências legais.
«Para resolver o problema da ilegalidade é necessário atacar a impunidade. O risco de ser penalizado e responsabilizado pela destruição ilegal da vegetação nativa precisa ser real e devidamente percebido pelos infratores ambientais», disse Tasso Azevedo, coordenador do MapBiomas, numa nota divulgada.
Estados que mais desmatam
No ranking estadual de 2021, o Pará, responsável por quase um quarto (24,31%) de toda a desflorestação no país, continua em primeiro lugar. Segue-se o Amazonas, que concentra 11,75% da área abatida.
Em terceiro lugar surge o Mato Grosso (11,47%), seguido por Maranhão (10,09%) e Bahia (9,19%). Nestes cinco estados concentram-se dois terços da área desflorestada no Brasil em 2021.
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