Victoria Marinova, directora da cadeia de televisão búlgara TVN e apresentadora do programa «Detector», da mesma estação, foi assassinada no passado sábado, dia 6 de Outubro, na cidade de Ruse, no Nordeste da Bulgária, junto à fronteira com a Roménia.
A apresentadora, de 30 anos, foi atacada quando fazia o seu habitual jogging num passeio contíguo ao rio Danúbio, que bordeja a cidade. Segundo a RT News, citando fontes locais, Marinova foi «violada e brutalmente espancada», a ponto de «ficar desfigurada» e ter «morrido sufocada».
Segundo fontes locais, as autoridades não encontraram, junto à vítima, «o telemóvel, as chaves do caro e os óculos de sol», bem como «algumas peças de vestuário».
A investigação criminal em curso
A TVN noticiou a chegada a Ruse, no mesmo dia, do procurador-geral, Sotir Tsatsarov, e do ministro do Interior, Mladen Marinov, para impelir as investigações do assassinato, face ao escândalo e alarme provocado pelo crime.
Ontem a Reuters citava «fonte próxima da investigação», «não desmentida nem confirmada por um porta-voz oficial do Ministério do Interior», como tendo sido detido, em relação com o crime, «um suspeito de cidadania romena, também portador de passaporte moldavo», mas hoje foi noticiada a sua libertação.
Na sequência «dos vestígios de ADN» encontrados no corpo da vítima «e de outros indícios», entre os quais se incluía o facto de o atacante «se encontrar fortemente alcoolizado no momento do ataque» – como referiu a fontes locais o procurador-geral, Sotir Tsatsarov –, as autoridades apontaram um novo suspeito, contra o qual foi emitido um mandato internacional «por rapto», o qual foi prontamente emitido pelas autoridades europeias.
O indivíduo foi hoje preso na Alemanha e identificado como Severin Krasimov, um natural de Ruse com pouco mais de 20 anos, vivendo próximo do local do crime, anunciou o ministro do Interior Mladen Marinov. O procurador-geral, Sotir Tsatsarov, manifestou a sua convicção de o assassinato da jornalista se ter tratado de «um ataque espontâneo de violação», segundo declarações citadas pela RT News. No entanto, segundo relata o Balkan Insight, o ministro foi mais prudente do que o procurador-geral quanto às causas do crime, mantendo que « todas as versões acerca dos possíveis motivos para o assassínio continuavam em cima da mesa».
O anúncio oficial da detenção foi feito às 9h da manhã de hoje pelo primeiro-ministro da Bulgária Boiko Borissov, que aproveitou a ocasião para acusar os seus adversários políticos de utilizarem o assassinato para «denegrir a reputação do país e retratá-lo como inseguro».
Comoção na Bulgária alastra à União Europeia
A cadeia TVN divulgou a realização, no dia 8, de diversas vigílias em memória de Victoria Marinova. A mais importante realizou-se em Ruse, onde familiares, amigos, colegas e numerosos cidadãos lhe prestaram homenagem junto ao Monumento da Liberdade (que celebra a insurreição búlgara de 1876 pela independência do Império Otomano), mas também em Stara Zagora, Plovdiv e na capital, Sófia – nestas últimas cidades foram sobretudo jornalistas que manifestaram o seu pesar pela morte da colega.
O Comité para a Proteção de Jornalistas (CPJ), uma ONG fundada por correspondentes americanos no estrangeiro e sediada em Nova Iorque, manifestou-se, por intermédio de Tom Gibson, seu representante na União Europeia (UE), «chocado pelo bárbaro assassinato da jornalista Victoria Marinova» e afirmou a obrigação de as autoridades búlgaras «envidarem todos os esforços e mobilizarem todos os recursos para realizar um inquérito exaustivo e trazer perante a justiça os responsáveis».
Também o secretário-geral dos Repórteres sem Fronteiras (Paris), Christophe Deloire, exigiu às autoridades búlgaras «uma investigação séria e completa do horrível crime» e pediu a protecção governamental para «os jornalistas que trabalharam com Victoria Marinova» no mesmo caso, pelo menos «enquanto durarem as investigações».
O crime motivou indignadas e preocupadas reacções de diversos governos da UE e instituições europeias, entre as quais se destacaram a Organização para a Segurança e Cooperação Europeia (OSCE), o Gabinete Europeu Anti-Fraude (OLAF) e o Presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, cujo porta-voz declarou que «a Comissão Europeia esperava uma rápida e completa investigação» do crime. Ao ser preso o principal suspeito do mesmo, o gabinete do presidente Juncker emitiu hoje uma nota oficial saudando os «rápidos e intensivos esforços desenvolvidos pelo primeiro-ministro Borissov e as autoridades búlgaras» na origem da prisão com êxito do suspeito do assassinato da jornalista Victoria Marinova.
A investigação de corrupção que Marinova divulgou
O crime teve repercussão imediata nas organizações e mídia internacionais e, segundo a RT News, «colocou a Bulgária sobre pressão», sobretudo por o último programa da apresentadora, emitido a 30 de Setembro, ter dado voz a dois jornalistas que procediam, segundo a mesma fonte, a uma investigação sobre «o roubo de dinheiro em projectos financiados por fundos europeus».
Segundo a Agência Lusa, no referido programa Marinova difundiu uma entrevista com dois reputados jornalistas de investigação, o búlgaro Dimitar Stoyanov, do sítio búlgaro Bivol, e o romeno Attila Biro, ambos investigando «suspeitas de fraudes nos fundos europeus e que envolveriam empresários e responsáveis políticos».
O co-fundador do Bivol, Assen Yordanov, disse à agência noticiosa AFP ter recebido informações credíveis de que os jornalistas estavam em perigo devido a esta investigação e manifestou a sua convicção de que «a morte de Victoria, a forma brutal como foi morta, é uma execução feita para servir de exemplo» – refere a Agência Lusa.
Terceiro jornalista assassinado no espaço de um ano
Victoria Marinova é o terceiro jornalista assassinado na União Europeia no espaço de um ano, levantando preocupações sobre a segurança dos jornalistas de investigação no seu espaço.
Em Outubro de 2017 a jornalista maltesa Daphne Caruana Galizia foi morta pela explosão de uma bomba sob a sua viatura, após expor os negócios através de offshore do primeiro-ministro de Malta, expostos pelos Panama Papers. Em Fevereiro de 2018 foi morto a tiro o jornalista eslovaco Jan Kuciak, conhecido pelas suas reportagens sobre fraude fiscal e negociações duvidosas da elite eslovaca, e a polícia local não pôs de parte a hipótese de o crime estar relacionado «com a sua actividade de investigação».
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