Na Zona Sul de Cochabamba, as manifestações para denunciar a fome duram há vários dias. Outros protestos recentes estão relacionados com a falta de material de protecção para os trabalhadores da Saúde e pacientes de Covid-19; com a autorização, por parte do governo, da utilização de sementes transgénicas; e com o decreto que limita a liberdade de expressão e de imprensa.
Na cidade de Cochabamba, as manifestações sucedem-se há vários dias, com os trabalhadores e as camadas mais desfavorecidas da população, na Zona Sul, a dizerem que, por causa da quarentena decretada pelo governo de Áñez, ficaram sem trabalho e foram deixados à sua sorte, e estão a passar fome.
Por isso, informa a Radio Kawsachun Coca, «imploram ao governo que os ouça, para poder aplicar uma quarentena flexível, que lhes permita trabalhar para poder subsistir». «Os nossos filhos tomam chá, sem pão», afirmam.
Por seu lado, os médicos têm levado a cabo protestos para exigir máscaras, kits de testes e material de protecção adequado para lidar com os pacientes de Covid-19.
Tamém esta semana, a Federação Única de Trabalhadores Agrícolas de La Paz Tupac Katari, a Federação Departamental Única de Mulheres Camponesas Indígenas Originárias de La Paz «Bartolina Sisa» e organizações ambientalistas emitiram um comunicado em que repudiam o decreto presidencial 4232, que permite a utilização de sementes transgénicas nas culturas de milho, cana de açúcar, algodão, trigo e soja, alegando o governo golpista a necessidade de obter alimentos mais rapidamente e com mais rendimentos, tendo em conta o contexto de emergência sanitária provocado pela epidemia de Covid-19.
Os organismos temem o «grave impacto» que esta medida terá na agricultura boliviana e exigem a revogação do decreto, que vai contra o artigo 24.º da Lei da Mãe Terra e Desenvolvimento Integral para Viver Bem, que proíbe «a introdução, produção, uso e comercialização de sementes geneticamente modificadas» em todo o território nacional.
Ataque à liberdade de expressão e de imprensa
Confrontados com a insatisfação crescente da população, vários ministros do governo golpista apoiado pelos EUA insistem na aplicação de uma receita antiga: mais ameaças e maior repressão.
Recentemente, a autoproclamada Áñez emitiu um «decreto supremo» que impõe medidas criminais contra quem «espalhar a dúvida entre a população», bem como sobre aqueles que «disseminarem falsa informação de qualquer tipo, de forma escrita, impressa ou artística», mas sem precisar o que é «falsa informação»ou «espalhar a dúvida», revela a Radio Kawsachun Coca.
Este ataque à liberdade de expressão e de imprensa dá sequência a outros levados a cabo pelo governo golpista, de que são exemplo as «ciber-patrulhas» criadas pelo Ministério do Interior, que vigiam aquilo que «os críticos do regime publicam online».
Apesar das críticas, Christian Tejada, ministro da Ciência e Tecnologia, declarou o seu apoio ao decreto 4231, que considerou «necessário», uma vez que o governo é «vítima dos ataques da guerrilha narco-comunista que procura desestabilizar o país», informa a Kawsachun Coca.
Tanto a Missão na Bolívia da Alta Comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos como a Comissão Interamericana para os Direitos Humanos criticaram a criminalização do exercício da liberdade de expressão.
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