O Instituto Nacional de Direitos Humanos (INDH) chileno anunciou ontem que vai apresentar novas queixas contra os Carabineiros, na sequência da brutalidade empregue pelos seus agentes contra manifestantes que, na terça-feira, voltaram a exigir nas ruas a melhoria das condições de vida, a criação de uma Assembleia Constituinte, o fim do modelo económico e social «pinochetista», tal como o fazem praticamente desde 18 de Outubro.
A exigência de justiça e a denúncia da brutal repressão policial também têm crescido entre os manifestantes, que, na tarde desta terça-feira, Dia Internacional dos Direitos Humanos, realizaram uma «Marcha pelos Olhos do Chile», depois de 352 pessoas terem perdido, total ou parcialmente, a vista, porque os Carabineiros dispararam – e continuam a fazê-lo – chumbos ou bombas de gás lacrimogéneo directamente para o rosto de quem participa nos protestos.
À noite, depois de visitar os hospitais de Santiago, o INDH verificou a existência de mais oito feridos, na sequência da repressão policial, entre eles uma rapariga de 15 anos e um homem de 35, que se encontram em estado grave, depois de os agentes terem disparado bombas de gás lacrimogéneo contra as suas cabeças, revelam a TeleSur e a Prensa Latina.
Representantes do INDH sublinharam a gravidade da situação, bem como a preocupação, já antes manifestada, pelo facto de os Carabineiros continuarem a disparar para a parte superior do corpo. De acordo com os dados mais recentes do INDH, actualizados a 6 de Dezembro, 3449 pessoas ficaram feridas e 352 sofreram lesões oculares desde o dia 18 de Outubro, no âmbito das grandes manifestações de protesto contra o modelo económico neoliberal no Chile.
O INDH chileno, que apresentou 709 acções judiciais, registou 1383 denúncias de violações dos direitos humanos por parte da Polícia, relativas a violência sexual (192), torturas e maus-tratos (405) e uso excessivo da força na detenção (787).
Piñera enfrenta «acusação constitucional»
A Câmara dos Deputados deverá pronunciar-se hoje sobre um relatório aprovado na véspera por uma comissão que, durante cerca de 15 dias, analisou uma grande quantidade de testemunhos, documentos e exposições de organismos de direitos humanos, bem como de vítimas de violência policial, informa a Prensa Latina.
A comissão, integrada por cinco deputados dos partidos comunista, socialista e da democracia cristã (oposição) e da Renovação Nacional e União Democrata Independente (do governo) decidiu, por três votos contra dois, prosseguir com a análise da acusação.
Se a Câmara dos Deputados também for favorável à «acusação constitucional», a discussão segue para o Senado, que terá a palavra final.
No documento, exige-se a destituição do presidente pela sua responsabilidade política nas reiteradas violações dos direitos humanos, cometidas por agentes do Estado contra a população que se manifesta nas ruas desde 18 de Outubro.
A votação de hoje, na Câmara, tem como precedente a de ontem, no Senado, onde passou a «acusação constitucional» contra o ex-ministro chileno do Interior, Andrés Chadwick, por 23 votos contra 18.
Chadwick, figura muito próxima de Piñera e acusado por motivos semelhantes, fica impedido de ocupar cargos públicos nos próximos cinco anos.
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