Desde a madrugada de domingo que forças arménias e azeris combatem no enclave de Nagorno-Karabakh, na fronteira entre a Arménia e o Azerbaijão.
O Azerbaijão, segundo a agência Lusa, afirma ter conquistado territórios no enclave, afirmação que é negada pela Arménia.
Ambos os lados afirmaram ter infligido perdas significativas ao adversário, incluindo a destruição de blindados e helicópteros e divulgaram imagens de bombardeamentos e destruições causadas nas forças adversárias.
As imagens recebidas pela Lusa revelam a destruição de blindados adversários em movimento, o que torna provável a existência de baixas mortais certa entre as tripulações.
As autoridades arménias de Nagorno -Karabakh reconheceram a morte de 16 militares e dois civis. O Azerbaijão recusa-se a revelar o número de baixas militares, tendo anunciado a morte de cinco civis.
Baseada nestes dados, ainda incompletos, a Lusa deu, às 19h20, um balanço provisório de 23 mortos e sete feridos, entre militares e civis, o qual classifica como o pior número desde os confrontos de 2016, que causaram uma centena de mortos dos dois lados e fez recear por uma guerra aberta entre os dois estados pelo controlo do território.
Decretada a lei marcial, declarações beligerantes das partes
A lei marcial foi primeiro declarada no enclave de maioria arménia e depois sucessivamente declarada em Baku e Erevan, respectivamente capitais da Arménia e do Azerbaijão.
As autoridades de Nagorno-Karabakh alegam que a capital, Stepanakert, e aldeias dos arredores, foram bombardeadas e que se registam baixas civis, tendo pedido aos residentes de Stepanakert para se colocarem em segurança.
«A lei marcial e uma mobilização militar total» foram declaradas numa sessão de emergência do parlamento local, com o presidente Araik Harutyunyan a declarar que «todos os que estão em condições de prestar serviço militar foram chamados para cumprir o seu dever», segundo a agência alemã DW.
No Azerbaijão, além da lei marcial, foi decretado o recolher obrigatório na capital, Baku, e em várias outras cidades importantes, mas não foi considerado necessário, até agora, proceder à mobilização de reservistas. Foi também reforçado o controlo sobre a internet.
O presidente azeri Ilham Aliev afirmara recentemente, a propósito do enclave de Nagorno-Karabakh de maioria arménia, que o seu país iria «restaurar a justiça histórica» sobre o território, considerando o território «nossa terra» que «não entregaremos a ninguém».
Hoje, discursando perante a a cúpula militar azeri, Aliev insistiu que o conflito no enclave separatista «não pode ter meias soluções» e que estas deverão ser aplicadas «de tal maneira para que o povo azeri fique satisfeito».
Depois de reafirmar que o Azerbaijão nunca iria permitir a criação de um «segundo Estado arménio» no seu território, afirmou a intenção de «restaurar a integridade territorial do Azerbaijão».
Em Erevan, capital da Arménia, o primeiro-ministro Nikol Pashinian, num discurso transmitido em directo pela televisão estatal, explicou à população ter decretado a lei marcial e a mobilização geral face à iminência de o país vizinho poder empreender «acções militares em direcção à fronteira».
Pashinian considerou a ofensiva azeri em Nagorno-Karabakh, onde «o inimigo ataca as posições do exército» com «armamento pesado» e «em todas as direcções», uma consequência do ódio propagado contra os arménios no Azerbaijão».
O primeiro-ministro arménio disse que o país está «pronto» para um conflito, mas preveniu que um conflito «de envergadura» entre os dois países poderá ter «consequências imprevisíveis» e estender-se para além do Cáucaso.
Além disso, apelou ao Grupo de Minsk (Rússia, França e EUA) da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) para que medeie o conflito e também a «toda a comunidade internacional» para que «leve a sério» a situação e use de influência para desencorajar a intervenção da Turquia, que hoje manifestou «total apoio» ao Azerbaijão.
A Rússia e o Irão, que mantêm boas relações com ambos os países, instaram a um cessar-fogo imediato, no que foram seguidos pela França e pelo Vaticano.
Ao contrário, a Turquia, uma das maiores potências militares da região, que ocupa o norte da Síria, manifestou-se totalmente disponível para apoiar o Azerbaijão em caso de guerra deste com a Arménia.
O conflito entre os dois países pode incendiar o sul do Cáucaso, com a agravante de existirem entre os dois povos não só conflitos étnicos como, também, um conflito religioso, com a Arménia predominantemente cristã e o Azerbaijão predominantemente muçulmano.
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