O director do Supremo Conselho Eleitoral (YSK), Sadi Güven, anunciou esta madrugada, numa conferência de imprensa em Ancara, que Recep Tayyip Erdogan foi reeleito presidente da Turquia à primeira volta. A participação foi elevada: votaram 87% dos 56,3 milhões de eleitores inscritos.
Erdogan «venceu com a maioria absoluta dos votos válidos», afirmou Güven, e, numa altura em que 97,7% dos votos tinham sido registados no sistema informático do YSK, os boletins que ainda não haviam sido contabilizados não iriam alterar o resultado das eleições.
O director do YSK não revelou as percentagens da votação alcançadas pelos candidatos. Já a agência noticiosa estatal Anadolu afirma que, com mais de 99% dos votos contados, Erdogan venceu as eleições com 52,5%, com o segundo candidato mais votado, Muharrem Ince, a registar 31%, segundo indica a Reuters.
A Anadolu já havia anunciado a vitória de Erdogan por volta das 22h (hora local), afirmando que 90% do escrutínio havia sido contabilizado, mas com o principal candidato da oposição, Muharrem Ince, do Partido Republicano do Povo (CHP, social-democrata), a denunciar irregularidades, a pedir aos observadores que guardassem as urnas e a afirmar que apenas 30% dos votos haviam sido registados.
Referindo-se às eleições legislativas, que ontem também se celebraram, o director do Supremo Conselho Eleitoral disse ainda na conferência de imprensa que o Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP, de Erdogan), o Partido Republicano do Povo (CHP), o Partido de Acção Nacionalista (MHP, de extrema-direita), o Partido Democrático dos Povos (HDP, pró-curdo) e o Partido Bom (IYI, nacionalista de extrema-direita) conseguiram ultrapassar o mínimo exigido por lei de 10% dos votos para terem assento a Assembleia Nacional.
De acordo com a autoridade eleitoral, o AKP obteve 42,5% do escrutínio e o seu aliado de extrema-direita MHP 11,1%, pelo que a actual base de apoio governamental terá uma maioria de 53,6% no Parlamento.
Ainda com base em resultados não oficiais, a Anadolu anunciou que a aliança formada pelo AKP (293) e pelo MHP (50) terá 343 dos 600 assentos parlamentares. O principal partido da oposição (CHP) terá 146 deputados, o HDP 67 e o IYI 44.
Eleições «importantes»
Nas últimas semanas, muita tinta se gastou sobre as eleições de ontem na Turquia, nomeadamente por consolidarem, na prática, as alterações à Constituição aprovadas por margem estreita em Abril de 2017, cristalizando a passagem de um sistema parlamentar para um sistema presidencialista, em que a figura do primeiro-ministro é eliminada e o chefe de Estado passa a assumir o poder executivo e a deter a prerrogativa de nomear mais de metade dos membros do Tribunal Constitucional.
A este propósito, muito se especulou sobre a capacidade que a oposição – uma salada de partidos com muito de islamita, conservador, nacionalista e extrema-direita, e muito pouca «esquerda», de onde o Conselho Eleitoral varreu os comunistas do TKP, em Abril último, impedindo-os de concorrer – teria para tirar da boca de Erdogan o presente que, com o referendo e o «sim» presidencialista, ele queria dar a si mesmo já (recorde-se que as eleições foram antecipadas, por iniciativa governamental, de Novembro de 2019 para a Junho de 2018).
Os olhos estavam sobretudo postos em Muharrem Ince, do Partido Republicano do Povo (CHP, social-democrata e secularista), e na capacidade que este teria para explorar o desgaste de Erdogan, há 15 anos na cena política turca, mas a enfrentar graves problemas económicos (grande desvalorização da lira turca face ao dólar, inflação elevadíssima, alta taxa de desemprego entre a juventude).
Outras questões levantadas foram o eventual preço que Recep Tayyip Erdogan e o seu partido pagariam pela resposta repressiva ao golpe de Estado de 2015, bem como o desgaste que poderiam gerar, no seio do seu eleitorado na mais tradicional, certos posicionamentos contraditórios, como a integração na NATO e a aproximação à Rússia, por um lado, e a posição ambígua alimentada em relação à guerra na Síria, ora tentando mostrar que está do lado dos construtores da paz (juntamente com o Irão e a Rússia), ora reafirmando a política expansionista e intervencionista no Norte da Síria.
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