Diz a comunicação social corporativa – vale o que vale mas, por uma vez, até nem terá razão para mentir – que em poucos dias entraram mais refugiados em Portugal do que nos últimos sete anos. Um período em que se afogaram uns largos milhares de seres humanos nas águas do Mediterrâneo, sem esquecer os mais largos milhares que penam errando pela Turquia, sob maus tratos na Grécia ou em campos de concentração na Líbia, soluções finais possíveis graças aos nossos impostos, pois são financiadas pela União Europeia.
Se dúvidas ainda houvesse é legítima a conclusão de que a mentalidade do governo português e do Estado Português em geral é xenófoba, ao compasso do resto da União Europeia. Muitas virgens ofendidas argumentam que isto é uma calúnia própria de execrandos apoiantes de Putin, mas a aritmética é uma ciência exacta e ao menos os números não mentem. Entretanto, não sei se sabem, continuam a morrer diariamente, ao tentarem cruzar mares e desertos em busca da sobrevivência, dezenas de refugiados africanos, do Médio Oriente e de outras regiões onde as guerras imperiais e as nefastas práticas coloniais arrasam os direitos humanos minuto a minuto. Nada disso é notícia.
«continuam a morrer diariamente, ao tentarem cruzar mares e desertos em busca da sobrevivência, dezenas de refugiados africanos, do Médio Oriente e de outras regiões onde as guerras imperiais e as nefastas práticas coloniais arrasam os direitos humanos minuto a minuto. Nada disso é notícia»
Porém, são pessoas de pele escura, andrajosas, esfomeadas, sem terem onde cair mortas na verdadeira acepção da palavra. Nada que tenha a ver com as gentes europeias, como qualquer dos nossos vizinhos, pessoas normais, bem-apessoadas, muitas louras e de olhos azuis oriundas da Ucrânia ocidental – que não do Donbass, essa zona da Ucrânia habitada maioritariamente por «sub humanos» ou «pretos da neve», como os qualificam os nazis de Kiev que sustentam o governo. Gente flagelada pela guerra há oito anos e que deve ser «enforcada» e «exterminada», como se ouve em manifestações também na capital ucraniana, abençoada pela democracia segregacionista instaurada pelos Estados Unidos e a União Europeia. Essa realidade, contudo, deve ser permanente omitida no contexto da asfixiante verdade única imposta sob pretexto da invasão russa da Ucrânia. Há circunstâncias tão inconvenientes que têm de ser banidas do discurso oficial nem que seja pelos arrogantes lápis azuis dos senhores ministros europeus, instituídos em coronéis de novo tipo, polidos de tecnocracia. Em boa verdade, a mentalidade que faz mexer os velhos lápis, ao serviço do todo-poderoso Ministério orwelliano da Verdade, torna-os obsoletos, porque tanto a censura praticada pelas hierarquias montadas ao serviço dos oligarcas proprietários dos centros de propaganda como a autocensura dos assalariados que têm as contas para pagar ao fim do mês são suficientes para garantir a lavagem cerebral da esmagadora maioria das populações.
Degradação do comportamento humano
Queiram ou não queiram os que se ofendem com o enunciado de simples factos à disposição de todos os cidadãos cujos horizontes extravasam a obsessão da comunicação social pela mentira e a manipulação, as autoridades que actuam em nome do Estado português e a partir de Bruxelas são xenófobas. Por isso, até o tráfico de seres humanos, que se manifesta já de modo frenético tirando proveito das vagas dramáticas de refugiados ucranianos – o que nada tem de inesperado – parece muito mais limpo, envolvendo potenciais escravas e escravos decerto mais cativantes para as numerosas e variadas práticas extremas e humilhantes de exploração. Mas chegar ao ponto de segregar entre refugiados de primeira e de segunda, tal como entre ucranianos de primeira e de segunda, equivale a afundar-se num dos níveis mais degradados e degradantes do comportamento humano. É isso que está a acontecer com os que se proclamam defensores inabaláveis dos direitos humanos, tão em pé de guerra, por exemplo, com dois mortos num bombardeamento russo em Kiev, tão omissos e silenciosos com a morte de 25 pessoas em Donetsk (Donbass) na sequência do disparo de mísseis ucranianos munidos com ilegais bombas de fragmentação – sabia disto senhor secretário-geral da ONU, sempre tão cheio de certezas quando acolhe as versões da NATO sem qualquer investigação ou fact-checking?
«A guerra, o maior flagelo da humanidade, tem dois lados e em ambos se amontoam vítimas civis, todas elas com o mesmo valor e importância. Por isso não existe alternativa ao silenciamento das armas e à realização de negociações sérias e não fingidas»
A morte é um drama que não tem maior ou menor valor de mercado conforme a vítima, mas o humanismo selectivo tornou-se uma virtude da civilização globalizante, tal como os brancos sul-africanos definiam o regime de apartheid como sistema de «desenvolvimento independente» e os sionistas chamam «lei do Estado nação» às práticas assumidas pela fascizante supremacia judaica em Israel.
A guerra, o maior flagelo da humanidade, tem dois lados e em ambos se amontoam vítimas civis, todas elas com o mesmo valor e importância. Por isso não existe alternativa ao silenciamento das armas e à realização de negociações sérias e não fingidas. Tão criminosos são os que impõem condições inaceitáveis e humilhantes ao outro lado como os que, usando marionetas como «estadistas», manobram nos bastidores para que as negociações se arrastem de maneira inconclusiva – e a guerra prossiga e proporcione uma escalada para patamares muito mais mortíferos e abrangentes. Há quem aposte nisso em Moscovo, Washington, Bruxelas e, naturalmente Kiev. A irresponsabilidade tomou conta das castas governantes enquanto os mercadores da morte, desde os donos de exércitos de mercenários aos impérios fabricantes de armas, embolsam lucros com que nem eles próprios sonhavam.
É muito possível que, pelo andar da carruagem, aumentem as hipóteses de um confronto envolvendo armas de extermínio e no fim do qual não haverá condições nem vida para gozar essas riquezas. É uma opção dos senhores da guerra de todos os matizes – eles e quem os serve estão dispostos a correr o risco de o poderem fazer sobre montes de milhões de cadáveres. E nem sequer precisam de pagar para ver: enriquecem enquanto observam.
A saga das armas químicas e biológicas
A guerra é um manancial de lições. Assim soubessem os belicistas – aberração comum a todos quantos nos governam – estudá-las e extrair as conclusões convertíveis em significativas mudanças de ideias e alterações de comportamento. Enquanto é tempo.
Não nos iludamos, contudo, com isso. Os ventos não sopram nessa direcção.
Exemplo de que os senhores da guerra nada aprendem, antes estão mais atreitos a repetir manobras terroristas embrulhadas em gastos mas ainda eficazes papéis de propaganda, é o recurso às histórias sobre armas químicas e biológicas em cenários de conflito.
Trata-se de variantes do desmascarado episódio das armas de destruição massiva do Iraque de Saddam Hussein e que surgiram agora na guerra da Ucrânia depois de terem sido praticadas na Síria em áreas controladas pelos «terroristas moderados», um corpo mercenário gerido pela Al-Qaeda agindo por procuração da NATO.
Sabia-se há muito, embora fosse um segredo resguardado pelos meios de propaganda social, que os Estados Unidos tinham instalado laboratórios de «investigação» química e biológica na Ucrânia, tal como na Geórgia e em outras antigas repúblicas da União Soviética.
«Em 24 de Fevereiro último, dia do início da nova fase da guerra através da invasão russa, o Ministério da Saúde de Kiev, certamente cumprindo ordens emanadas de Washington, ordenou o encerramento de todos os laboratórios norte-americanos e a destruição dos sensíveis materiais neles produzidos»
Os contratos datam de 2005, quando vigorava em Kiev um governo montado por Washington através da «revolução laranja», e foram reequacionados em 2013, para mal dos seus pecados, pelo executivo eleito dito «pró-russo» – em boa verdade representando toda a Ucrânia – de Viktor Yanukovych. Depois de terem constatado que os Estados Unidos apenas mostravam às autoridades de Kiev o que era de sua conveniência sobre as actividades nos citados laboratórios, os dirigentes ucranianos de então entenderam que era chegada a altura de denunciarem os contratos.
Alguns meses depois aconteceu o golpe de Maidan para instaurar uma «democracia» na Ucrânia, que começou a ser levada à prática com um governo integrando dez dirigentes de organizações nazis. Relação parcial de causa e efeito entre o desejo governamental de encerrar os laboratórios biológicos norte-americanos e a conspiração que derrubou o executivo de Yanukovych? Não há elementos que permitam ir além da especulação, mas o certo é que o golpe garantiu a Washington a possibilidade de continuar as «investigações» nos seus laboratórios químicos e biológicos sem qualquer interferência indesejável dos anfitriões.
Em 24 de Fevereiro último, dia do início da nova fase da guerra através da invasão russa, o Ministério da Saúde de Kiev, certamente cumprindo ordens emanadas de Washington, ordenou o encerramento de todos os laboratórios norte-americanos e a destruição dos sensíveis materiais neles produzidos. «Para evitar que caíssem nas mãos dos russos», alegaram as autoridades ucranianas ocidentais, em sintonia com os tutores norte-americanos.
No Congresso dos Estados Unidos assistiu-se então a uma esclarecedora troca de impressões entre o senador Marco Rubio e a secretária de Estado adjunta dos Assuntos Internacionais, Victoria Nuland. Olhem que dois! O fascista gusano que controla directamente o terrorista Guaidó nas tentativas de golpe contra a Venezuela e a neoconservadora que chefiou operacionalmente o golpe de 2014 em Kiev e colocou no governo dez chefes nazis.
Nuland disse na ocasião a Rubio, sob juramento e pesando muito bem as palavras, que os Estados Unidos «têm na Ucrânia instrumentos de pesquisa biológica e agora estamos verdadeiramente preocupados com a possibilidade de as tropas russas os passarem a controlar; por isso trabalhamos com as tropas ucranianas para impedir que esses resultados de investigação caiam em poder dos russos».
Deixando claro que a «conversa» fora ensaiada nos bastidores com intuitos político-terroristas muito precisos, Rubio quis saber quais as possíveis consequências na eventualidade de acontecer o pior, isto é, Moscovo tomar conhecimento do que se passava nesses laboratórios praticamente secretos. Nuland não se fez rogada: «É um clássico padrão russo queixarem-se de que a outra parte faz aquilo que eles planeiam fazer; se houver um incidente químico-biológico os russos estarão por detrás dele».
Ao que poderia acrescentar-se que «é um clássico padrão» norte-americano, com mais de cem anos de prática, a organização das chamadas operações de bandeira falsa mesmo que ponham em risco cidadãos dos Estados Unidos e aliados.
Os meios de repercussão da mentira são incomensuravelmente mais fortes do que as reposições da verdade. Os fabricantes e mensageiros das falsificações há muito que perderam a vergonha e espezinharam os princípios – se é que alguma vez os tiveram. A Organização para a Proibição de Armas Químicas (OPAQ/OPCW) não encontrou vestígios da utilização de produtos químicos no alegado ataque cometido por forças sírias em Duma, região de Ghuta Oriental, no dia 7 de Abril de 2018. O relatório da organização, com data de 1 de Março de 2019, sublinha ainda que a missão não conseguiu apurar o número de mortos provocados pelo ataque, «se é que os houve». Cerca de duas semanas antes da publicação das conclusões da OPCW, o jornalista independente James Harkin, director do Consórcio Internacional de Jornalismo de Investigação (ICIJ), afirmou que as imagens que correram mundo na altura, supostamente captadas nos postos médicos da região, foram «provavelmente» encenadas; o que, por sua vez, confirma as palavras do produtor da BBC, Riam Dalati, segundo as quais «está enjoado e cansado de ver activistas e rebeldes usarem cadáveres de crianças para encenar imagens emotivas para consumo do Ocidente». Estes dados vêm engrossar as informações no mesmo sentido divulgadas por alguns jornalistas que estiveram no local pouco depois do suposto ataque, entre os quais Robert Fisk, Vanessa Beeley e Eva Bartlett, do britânico The Independent; Uli Gack, da ZDF alemã; e Pearson Sharp, da OAN – One America News Network. Pelo que pode afirmar-se, sem qualquer vestígio de dúvida – sobretudo após a publicação do relatório da OPAQ/OPCW, organização galardoada com o Nobel da Paz – que não houve qualquer ataque químico em Duma. E agora? Agora, se vivêssemos numa sociedade onde os dirigentes que governam o mundo e a comunicação mainstream que os sustenta se pautassem pela seriedade, a idoneidade e a ética, estaríamos ouvir desculpas, retractações e reposições da verdade. Ao menos, deveríamos estar a assistir à divulgação do relatório da OPAQ/OPCW1 com o realce e um destaque idênticos aos que tiveram as imagens do ataque químico que não existiu e que, assim sendo, não se tratou de mais um caso em que «o governo sírio atacou o seu próprio povo». Se houvesse decência nos políticos do globalismo, incluindo aqueles que funcionam a escalas domésticas, e respeito pela profissão entre os jornalistas que fabricam a informação dominante, as imagens estariam agora ser repetidas pelos meios que lhes deram repercussão universal, mas como exemplos de notícias faltas ou fake news; e os profissionais que vasculharam a verdade até conseguirem trazê-la à superfície, que continuam a alertar para o facto de esta operação não ter sido a única no género e outras estarem em preparação deveriam, no mínimo, deixar de ser ostensivamente acusados de ser «teóricos da conspiração». A luta por Duma foi um episódio exemplar no processo de libertação da região síria de Ghuta Oriental do poder cruel de grupos terroristas islâmicos como o Jaish al-Islam, associado à al-Qaida. Exemplar porque permitiu desvendar a estratégia de propaganda que serve de suporte à agressão internacional contra a Síria, conduzida pelos Estados Unidos, a NATO e a União Europeia, através dos seus braços terroristas islâmicos. E permitiu desmontar, a propósito destes grupos, o papel provocatório assumido pelas chamadas «Forças de Defesa Síria» ou Capacetes Brancos – ao mesmo tempo organização terrorista e de «socorro humanitário» criada pelos serviços secretos britânicos e aclamada através da atribuição de um Oscar de Hollywood. Organização esta que, comprovadamente, se dedica à encenação de «ataques químicos» atribuídos ao governo sírio – usando, para o efeito, produtoras cinematográficas, entre elas a britânica Olive2. Para se ter ideia da extraordinária importância que tem a recente divulgação do relatório da OPAQ/OPCW é essencial recordar alguns dados factuais relacionados com os acontecimentos desses dias de Abril de 2018, na altura em que Duma estava em poder dos terroristas do Jaish al-Islam. Quando as imagens do suposto ataque químico começaram a correr mundo, como prova de que o governo sírio «ataca o seu próprio povo», Damasco desmentiu a acusação – mas de nada serviu. O Departamento de Estado norte-americano não se limitou a afirmar-se seguro de que tinham sido utilizadas armas químicas: chegou a identificar um dos agentes como gás sarin. O presidente francês, Emmanuel Macron, revelou ao mundo que tinha «provas de que foram usadas armas químicas». Fiel à permanente guerra de propaganda de Londres contra Moscovo, o então chefe da diplomacia britânica, Boris Johnson, qualificou como «grotesco» o parecer de especialistas russos enviados ao local e que não detectaram vestígios de produtos químicos. E a primeira-ministra, Theresa May, asseverou que se tratava «de um genocídio». A embaixadora dos Estados Unidos na NATO, Kay Hutchinson, foi um pouco mais além e declarou que uma resposta, através de «punição militar», não era de excluir. Entretanto, os megafones mainstream passavam e voltavam a passar as imagens de socorro «às vítimas», apenas não conseguindo unanimidade quanto ao número de mortos: 48, segundo os Capacetes Brancos; 70, segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos, entidade com sede em Londres, também controlada pelos serviços secretos britânicos; e uma centena, segundo o Jaish al-Islam. Agindo em conformidade, como executantes da sumária justiça globalista, aviões e navios de guerra norte-americanos, franceses e britânicos lançaram, em 14 de Abril, mais de cem mísseis de cruzeiro contra a Síria tendo como objectivo declarado «atingir o programa químico do regime». Uma espécie de réplica, tudo o indica, das célebres «armas de destruição massiva» que estariam em poder de Saddam Hussein e detonaram uma guerra que vai completar 16 anos nos próximos dias. O que revela agora a OPCW no relatório que acaba de publicar, após um ano de trabalho? Que não encontrou qualquer traço de armas químicas em Duma; que os terroristas do Jaish al-Islam não permitiram aos investigadores examinar os cadáveres das alegadas vítimas; que ignora o número de mortos, «se é que os houve»; que o Jaish al-Islam manteve a missão da OPCW à margem enquanto os corpos eram queimados. Um ritual absurdo, tratando-se de fundamentalistas islâmicos, inimigos da cremação. A falsificação e encenação de «ataques químicos» é uma metodologia da propaganda que acompanha política e mediaticamente a guerra contra a Síria. São recorrentes as informações sobre os preparativos de novas encenações previstas, por exemplo, em Idleb, o último bastião em poder dos terroristas islâmicos na Síria. Os preparativos envolvem, habitualmente, a movimentação de recipientes com produtos químicos, a mobilização de equipas de algumas das maiores cadeias internacionais de televisão e até o rapto de crianças e o respectivo treino para simulação de sintomas associados à inalação de gases tóxicos. Muitos destes dados têm vindo a ser denunciados previamente, a partir de agências de informação sírias ou mesmo de meios militares e diplomáticos russos no terreno, o que, previsivelmente, tem dissuadido os Capacetes Brancos de levarem por diante algumas das operações programadas. Isso não significa um abandono da estratégia, que pode reaparecer a qualquer momento, devido à inegável vantagem dos efeitos alcançados sobre as denúncias feitas. A situação de Idleb é crítica por ser o último bastião terrorista e, por isso, ainda um trunfo para a estratégia de comando anglo-saxónico e francês. O caso de Duma agora desmontado não foi, aliás, o primeiro registo de uma encenação deste tipo. Riam Dalati, o produtor da BBC que se diz «enjoado e cansado» de ver utilizar cadáveres de crianças em encenações, parece ter razões para isso. Ele próprio fez parte da equipa de produção do documentário Saving Syrian’s Children para o programa Panorama BBC, em Setembro de 2013. Este documentário foi objecto de uma investigação forense pelo especialista independente Robert Stuart, que concluiu o seguinte: «sequências filmadas pelo pessoal da BBC e outros no hospital de Atareb, Alepo, em 26 de Agosto de 2013, mostrando a situação depois de um ataque com bombas incendiárias perto de uma escola, são em grande parte, se não totalmente, encenadas». No entanto, o documentário em nada foi desvalorizado por esta denúncia em relação aos seus objectivos originais: desacreditar e incriminar o governo legítimo da Síria. Tal como em Duma ou em qualquer outro lugar, os meios de repercussão da mentira são incomensuravelmente mais fortes do que as reposições da verdade. O que acontece também porque os fabricantes e mensageiros das falsificações há muito que perderam a vergonha e espezinharam os princípios, se é que alguma vez os tiveram. Vivemos, pois, num mundo em que também o triunfo da mentira é global. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.Opinião|
O triunfo da mentira global
Recordando Duma
Uma metodologia
Contribui para uma boa ideia
A partir da encenação no Congresso de Washington começou a falar-se insistentemente num ataque russo com armas químicas na Ucrânia. O que qualquer analista militar independente considera uma iniciativa tola e contraproducente por parte de quem está a ganhar a guerra e que, porque o uso de tais armas provoca consequências imprevisíveis, pode virar-se contra os próprios militares de Moscovo presentes no terreno. Seria um tiro no pé que não parece em consonância com a estratégia russa seguida até agora no território da Ucrânia.
Como os ataques químicos e de bandeira falsa são essencialmente uma «arma dos desesperados», uma tentativa de último recurso em quase irreversível perda de causa para tentar virar o rumo dos acontecimentos, deverá antes esperar-se uma acção desse tipo realizada pela parte ucraniana para acusar a Rússia e forçar a NATO a entrar directamente no conflito.
Um tal cenário é possível, se os defensores da escalada militar forem reforçando posições à medida que o processo negocial esmoreça.
O Ministério da Defesa russo alertou há dois dias: «Sabemos com toda a certeza que o Serviço de Segurança da Ucrânia, com o apoio dos países ocidentais, prepara uma provocação com o uso de substâncias tóxicas contra civis». A informação, disponível para quem esteja interessado, circula em meios oficiais russos, censurados ou não, e tem um valor relativo não maior ou menor que a conversa encenada entre Rubio e Nuland. É apenas mais um dado a ter em conta no caso de o pior cenário se verificar e produtos químicos surgirem no terreno.
O recurso a esse estratagema, como estão recordados, não aconteceria pela primeira vez. Falsos ataques químicos foram encenados na Síria na Primavera de 2017 por terroristas associados à Al-Qaeda, os chamados «Capacetes Brancos», e atribuídos ao governo de Damasco. A ocasião foi aproveitada pela administração norte-americana de Trump e pelos governos britânico e francês para efectuarem um ataque com centenas de mísseis de cruzeiro contra território sírio. Jornalistas britânicos testemunharam que a encenação cinematográfica do «ataque químico», envolvendo crianças sequestradas como «actores», esteve a cargo da produtora «Olive» do Reino Unido, em associação com os Capacetes Brancos. Foi quanto bastou para desencadear um ataque de potências da NATO contra a Síria soberana. E existe na NATO quem esteja desesperado por uma oportunidade deste tipo agora na Ucrânia.
Trabalhos sobre coronavírus
Os invasores russos confiscaram, entretanto, alguns documentos dos laboratórios biológicos norte-americanos na Ucrânia e tornaram-nos públicos no site do Ministério da Defesa de Moscovo, disponíveis quando este não é alvo de ataques cibernéticos vá lá saber-se de quem.
O «Projecto UP4», por exemplo, desenvolvido nos laboratórios de Kiev, Odessa e Kharkov, estudou a possibilidade de propagar infecções muito perigosas através de aves migratórias, designadamente a gripe H1N1 e a chamada «doença de Newcastle».
Outros projectos têm, entre as prioridades identificadas, a investigação sobre patógenos bacteriológicos e virais que podem ser transmitidos por morcegos a seres humanos tais como os da peste, leptospirose, brucelose, filovírus e também coronavírus. Coronavírus: não pode ser mais actual, o que poderá fazer pensar, apenas pensar, sobre a pressa de Donald Trump em cunhar o patógeno responsável pela Covid-19 como «vírus chinês».
As pandemias têm as suas oportunidades de negócio. As entidades que montaram o Event 201 com um coronavírus inventado são as mesmas que se preparam para extrair avultados dividendos com o coronavírus verdadeiro. No dia 18 de Outubro de 2019, dezena e meia de tecnocratas de luxo ao serviço das mais altas esferas do regime neoliberal globalista reuniram-se num hotel de Nova York para realizar «um exercício pandémico de alto nível» designado Event 201; consistiu na «simulação de um surto de um novo coronavírus» de âmbito mundial no qual, «à medida que os casos e mortes se avolumam, as consequências tornam-se cada vez mais graves» devido «ao crescimento exponencial semana a semana». Ninguém ouvira falar ainda de qualquer caso de infecção: estávamos a 20 dias de o jornal britânico Guardian noticiar o aparecimento na China de uma nova doença respiratória provocada – soube-se só algumas semanas depois – por um novo coronavírus. Os dons proféticos dos expoentes do neoliberalismo são, sem dúvida, admiráveis. Segundo os meios oficiais de divulgação do Event 201, partindo da constatação de que existem cerca de 200 situações de índole viral por ano bastaram apenas três horas e meia aos especialistas «para concordarem que é apenas uma questão de tempo até que uma dessas epidemias se torne global – uma pandemia com consequências potencialmente catastróficas». Na situação por eles idealizada à volta de uma mesa apuraram que a crise se prolongaria por 18 meses e provocaria «65 milhões de mortos» porque «embora no início alguns países possam conter o vírus ele continua a espalhar-se e a ser reintroduzido, pelo que eventualmente nenhum consegue manter o controlo». Montou-se o exercício, explicam os responsáveis, para avaliar «áreas em que as parcerias público-privadas serão necessárias durante a resposta a uma pandemia severa para diminuir as consequências económicas e sociais em grande escala». Por exemplo, como pode ler-se nas sete medidas recomendadas ao cabo da simulação, «uma pandemia grave interferiria muito na saúde da força de trabalho, nas operações comerciais e no movimento de bens e serviços». Em pessoas raramente se fala, ao longo das explicações relacionadas com o exercício, mas também não foi disso que trataram os 15 participantes, «associados a negócios à escala global, governos e saúde pública». Como disse um deles, Ryan Morhard, entrevistado pela agência financeira Bloomberg a propósito da montagem da simulação, «foi mais de um ano de investigação, um investimento de centenas de milhares de dólares, mas os ensinamentos extraídos são incalculáveis». Morhard representou, no exercício, o Fórum Económico Mundial (anualmente em Davos, Suíça), cenáculo da banca privada transnacional e do capitalismo selvagem, um dos organizadores do Event 201 juntamente com a Fundação John Hopkins e a Fundação Bill e Melinda Gates, entidade que se dedica simultaneamente à «campanha mundial de vacinação», à travagem do crescimento da população mundial e à promoção dos interesses dos grandes impérios farmacêuticos mundiais. À volta da mesa do hotel de Nova York sentaram-se também representantes oficiais e oficiosos da ONU, do Banco Mundial, do Centro de Controlo e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC), da Organização Mundial de Saúde (OMS) e de grandes empresas, designadamente da área de produção e distribuição de instrumentos clínicos e medicamentos e do marketing empresarial, além da banca. Presença especial foi a de Avril Haynes, directora-adjunta da CIA durante a administração Obama e também ex-consultora jurídica da agência. Haynes parece especialmente dotada para as profecias no âmbito da epidemiologia, pois já em 2018, num discurso proferido na Camden Conference, anteviu «uma doença infecciosa provocada por um patógeno facilmente transmissível através das vias respiratórias» e que «em seis meses afectará todos os cantos do mundo». 18 de Outubro, o dia do Event 201, foi também a data de início dos Jogos Mundiais Militares em Wuhan, na China. O que terá este facto de especial, além da coincidência? Veremos que, no mínimo, a coincidência dá que pensar. Wuhan é a cidade do centro da China onde deflagrou, em Dezembro de 2019, o surto de um novo coronavírus, entretanto designado SARS 2019-nCov, causador da doença designada por COVID-19. O ponto de emanação terá sido, segundo fica a saber-se através da comunicação social corporativa – e sem objecções levantadas pelos novos donos da verdade, os fact-checkers – o mercado de frutos do mar da cidade. No entanto, entre os primeiros 41 doentes tratados com o novo vírus nos hospitais de Wuhan, 13 não tiveram qualquer relação com o mercado de peixe e mariscos. O surto, portanto, não teve origem num só lugar. Além disso, um porta-voz oficial do Ministério dos Negócios Estrangeiros da China, Zhao Lijian, fez uma declaração que implica outros caminhos na procura do «paciente zero» da pandemia. «Pode ter sido o Exército dos Estados Unidos que trouxe o surto para Wuhan», disse perante a teimosia provocatória do presidente norte-americano em qualificar o COVID-19 como um «vírus chinês». «Sejam transparentes, tornem os vossos dados públicos, devem-nos explicações», desafiou Zhao Lijian. A alusão ao Exército dos Estados Unidos e o pedido «de explicações» remetem-nos precisamente para os Jogos Mundiais Militares em Wuhan, nos quais participou uma delegação norte-americana de aproximadamente 300 pessoas. E precisamente durante esses jogos, segundo Larry Romanoff, professor da Universidade de Xangai, cinco participantes – cuja nacionalidade não foi revelada pelos organizadores – foram hospitalizados com uma «infecção desconhecida». Isto aconteceu entre 18 e 29 de Outubro, cerca de oito semanas antes de ser revelada a existência do surto de novo coronavírus em Wuhan. A militarização da narrativa aconselha-nos a recuar um pouco mais no tempo, para Julho e Agosto de 2019, altura em que foi encerrado subitamente o principal laboratório de guerra biológica dos Estados Unidos em Fort Detrick, Maryland. A decisão foi tomada pelo CDC invocando falhas em «descontaminar águas residuais» e deficiências na formação e certificação de pessoal dos laboratórios de biocontenção. Contudo, esclarece o insuspeito New York Times, o CDC não teve a possibilidade de fornecer dados mais específicos «por razões de segurança nacional». Não é top secret, porém, que entre 2005 e 2012 foram elencados mais de mil casos de roubos ou fuga de organismos patogénicos de laboratórios biológicos norte-americanos – mais de dois por dia. Estamos perante elementos circunstanciais e factuais, nada mais do que isso. Mas por que será que a comunicação social dominante os esconde do grande público e insiste em amarrar a origem do COVID-19 à cidade de Wuhan? Como disse o clínico Zhong Nanshan, conselheiro médico chefe da China no combate ao coronavírus: «Na verdade, a epidemia do novo coronavírus teve origem em Wuhan (…). Mas isso não quer dizer que a sua fonte esteja em Wuhan». Ou, parafraseando outro porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da China, Geng Shuang, trata-se «de um assunto científico, que requer opiniões científicas e profissionais». Portanto, no mínimo, a situação merece o benefício da dúvida. Há muitos obstáculos a remover para se tirar a limpo estas histórias virais. O profético ensaio realizado em 18 de Outubro num hotel de Nova York insere-se neste contexto. O Centro de Controlo e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC) esteve representado na reunião na pessoa do director adjunto do Serviço de Saúde Pública e Desenvolvimento da Ciência, Stephen Redd. Redd não precisaria de ter dons sobrenaturais para saber duas coisas: as razões do encerramento do laboratório de guerra biológica de Fort Detrick; e os problemas registados com a elevada taxa de mortalidade de surto de gripe comum (influenza) na altura registado nos Estados Unidos. Robert Redfield, o director do CDC, viria a admitir, aliás, que muitas dessas vítimas morreram afinal por acção do novo coronavírus, o que foi apurado através de exames póstumos. Ficando no ar a possibilidade de existirem casos letais de COVID-19 nos Estados Unidos antes de se ter desencadeado o surto em Wuhan. O aparecimento da epidemia pouco tempo depois do Event 201 levantou algumas perplexidades quanto às circunstâncias temporais em que este aconteceu. Há sempre quem seja céptico quando se trata de adivinhações ou poderes sobrenaturais. Tanto bastou para que as dúvidas e as interrogações fossem cilindradas pelos fact-checkers de serviço em vários azimutes, que as declararam sumariamente como fake news e mais uma manifestação da irredutível tendência para a «teoria da conspiração». Segundo essas almas censórias, os participantes na simulação não fizeram qualquer previsão relacionada com aquilo que previram e o número de mortes calculado – 65 milhões em 18 meses – prova que as suas estimativas não dizem respeito à pandemia de COVID-19, apesar se relacionarem com um novo coronavírus. O exercício poderia, em boa verdade, ter decorrido com base num surto de ébola, de gripe suína H1N1 mas não: os promotores escolheram um coronavírus, nada mais, nada menos. E os censores não se interrogaram sobre a coincidência desta opção. Aos fact-checkers bastou a garantia dada pelos organizadores da simulação numa declaração divulgada através dos seus órgãos oficiais já em plena pandemia real: «Embora o exercício tenha sido realizado com um novo coronavírus fictício, as entradas que usámos para estabelecer o modelo do impacto não são semelhantes ao COVID-19». A previsão de 65 milhões de mortes não vale para o vírus real, podemos ficar descansados. Aliás, neste processo parece que ninguém tentou lançar o medo e mesmo o pânico entre as instituições e a população. O que não pode ser posto em causa, porque está escrito pelos representantes da nata do capitalismo selvagem na simulação de Nova York, é que «a próxima pandemia grave provocará muita doença e perda de vidas mas também poderá desencadear importantes consequências económicas em torrente (…) Os esforços para evitar tais consequências ou para lhes responder à medida que se desenvolvem exigirão níveis sem precedentes de colaboração entre governos, organizações internacionais e o sector privado». Estas considerações servem de introdução às sete medidas aconselhadas pelos participantes no Event 201 – e começamos assim a chegar ao coração do negócio – porque é de grande negócio que se trata. Como, noutro plano, grande é o negócio da geoengenharia e mais formas de «adaptação» às alterações climáticas que tanto motivam igualmente a Fundação Bill e Melinda Gates e o Fórum Económico Mundial, promotores das adivinhações de Nova York. As quais «demonstraram vivamente algumas importantes lacunas nos preparativos para o combate à pandemia» e permitiram encarar «soluções entre os sectores público e privado que será necessário preencher». Revelando a existência de uma grande e oportuna capacidade de resposta, no último Fórum Económico Mundial, realizado em Davos entre 21 e 24 de Janeiro, foi logo apresentado um programa de vacinação contra o coronavírus – apenas duas semanas depois de o COVID-19 ter sido identificado, em 7 de Janeiro. E ainda uma semana antes de a OMS ter lançado, a 30 de Janeiro, uma «emergência mundial de saúde pública» – a declaração de pandemia só aconteceu tempos depois. O tiro de partida da corrida às vacinas foi dado, portanto, quando havia somente 150 casos de COVID-19 oficialmente detectados no exterior da China, seis deles nos Estados Unidos. Mais vale prevenir que remediar, dir-se-á. Ou o conhecimento de situações que ainda não são do domínio do grande público permite marcar posições de vantagem – esse é o poder da informação privilegiada, ou inside information. O certo é que ainda em 23 de Janeiro, último dia do Fórum de Davos deste ano, a CEPI (Coalition for Epidemic Preparedness Innovations) entrou decididamente em campo para tentar tomar conta do processo de criação de vacinas contra o COVID-19. A CEPI, comissão que centraliza as inovações para o combate a epidemias, é patrocinada precisamente pelo Fórum Económico Global e pela Fundação Bill e Melinda Gates e, por essas vias, tem grande peso na Organização Mundial de Saúde. A CEPI lida, em modo tendencialmente monopolista, com vários gigantes da indústria farmacêutica e, neste âmbito, accionou em primeiro lugar a empresa norte-americana Moderna Inc. e o Instituto Nacional de Alergias e Doenças Infecciosas dos Estados Unidos (NIAID), chefiado pelo dr. Anthony Fauci, que se distinguiu pelas suas declarações atemorizadoras do impacto do novo coronavírus quando ele praticamente ainda mal se manifestara, em termos de reconhecimento oficial, no exterior da China. Depois a CEPI contactou a CureVac alemã, a mesma empresa à qual Donald Trump, aconselhado pelo NIAID, ofereceu secretamente mil milhões de dólares para ceder aos Estados Unidos os direitos de uma eventual vacina para o COVID-19. A Moderna é hoje a empresa mais bem posicionada na corrida à vacina do COVID-19: iniciou testes em seres humanos em 16 de Março mesmo sem ter feito experiências em outros animais; ao contrário do que aconteceu com a chinesa Canssino Biologic’s, também a realizar ensaios em seres humanos mas depois de ter obtido resultados encorajadores em outros animais. A CureVac alemã parece estar igualmente numa fase avançada da investigação da vacina, o que significa, de facto, um grande controlo dos trabalhos em curso por parte da CEPI. Richard Hackett, o presidente desta comissão, confessou em 3 de Fevereiro que «conversamos com ampla variedade de parceiros para produzir grande quantidade de vacinas para uma pandemia» – que então ainda não fora declarada. Também Hackett manifesta dons proféticos: «o projecto começou antes de ser descoberto e identificado o novo coronavírus», disse durante uma entrevista; «fizemos isso no ano passado ou antes e usámos a informação que reunimos para ir encarando a preparação de vacinas de diferentes tipos». A estratégia, explicou o presidente da CEPI, «é ter grande número de candidatos». Há claramente um grande esforço das elites neoliberais para não perderem o controlo da produção de vacinas para o novo coronavírus e tirar proveito da situação; bem basta terem de contar com a concorrência chinesa. Feita a simulação catastrófica, que medidas recomendaram os iluminados de Nova York para fazer frente às consequências? Ao longo dessa espécie de sete mandamentos a expressão que pode ler-se mais é «os governos devem…» «Os governos nacionais devem», juntamente com as organizações internacionais e a indústria privada, «reforçar os stocks mundiais de contra-medidas médicas (…) expandir o stock de vacinas (…) doar parte das suas reservas de vacinação (…) fornecer financiamento substancial». É oportuno notar que o reforço e centralização de instrumentos médicos foi a única medida tomada até agora pela União Europeia no âmbito do combate à pandemia de COVID-19. «Os governos nacionais devem fornecer mais recursos e apoio ao desenvolvimento e fabrico de vacinas, ao desenvolvimento, abastecimento e distribuição rápida e em grandes quantidades de contra-medidas médicas»; além disso, os países «com recursos suficientes devem aumentar bastante essa capacidade». «Os governos nacionais devem»… ajudar as grandes empresas do sector privado «a encarar os riscos comerciais representados por doenças infecciosas e a caminhar para atenuar esses riscos através da cooperação público-privada». Mas «também será necessário identificar» os problemas «mais críticos do sistema bancário e das economias globais necessárias e demasiado importantes para fracassar», aconselham. Por isso, «o Banco Mundial, o FMI, os bancos de desenvolvimento regional, os governos nacionais e fundações devem explorar as maneiras de aumentar a quantidade e a disponibilidade de fundos e garantir que possam ser utilizados com flexibilidade». E o Grupo dos 20 (G20) acaba de prometer mundos e fundos para injectar na economia global. «Os governos devem», «os governos devem», «os governos devem» é o mote. Porém, advertem os profetas da simulação, «uma pandemia particularmente veloz e letal poderia resultar em decisões políticas para retardar ou interromper o movimento de pessoas e bens, prejudicando potencialmente as economias já vulneráveis perante um surto». Daí «a necessidade de mitigar os danos económicos mantendo-se as principais rotas de viagem e comércio durante uma pandemia de grande escala», até porque grande parte dos danos «devem-se a comportamentos contraproducentes de indivíduos, empresas e países». Esta recomendação não parece ter sido ouvida ou então a pandemia real surgiu demasiado em cima da pandemia ficcionada. «Não agimos de maneira suficientemente rápida», lamentou muito recentemente o próprio Bill Gates. Mas parece haver quem esteja disponível para emendar o «erro» e a estratégia: o presidente dos Estados Unidos pediu o regresso ao trabalho exactamente no momento em que o ataque do COVID-19 começa a ter repercussões trágicas no seu país. Wall Street agradeceu e logo começou a compensar as perdas vultuosas sofridas nas últimas semanas. Porque as pandemias, verdade seja dita, têm as suas oportunidades de negócio. Por isso, as entidades que montaram o Event 201 com o coronavírus inventado são as mesmas que, a jusante, se preparam para extrair avultados dividendos com o coronavírus verdadeiro – juntando a ficção à realidade. Enquanto as pessoas morrem. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.Opinião|
Os profetas do vírus
O que terá acontecido em Fort Detrick?
Medo e pânico
Cronologias surpreendentes
«Os governos devem…»
Contribui para uma boa ideia
É previsível que, na sequência de tantas acusações a outras nações de serem responsáveis pelo desenvolvimento de armas químicas e bacteriológicas, os Estados Unidos tenham também os seus projectos nessa área, quanto mais não seja, como a NATO sempre alega, com objectivos «defensivos». Afinal é a lógica da componente militar da geoestratégia.
O mais natural, no entanto, seria que os laboratórios dedicados a essas actividades estivessem situados essencialmente nos Estados Unidos, tal como acontece, por exemplo, com o de Fort Detrick, encerrado temporariamente de maneira abrupta pouco antes do aparecimento «oficial» do Sars-Cov 2 gerador da Covid-19. Pelo que parece legítima a pergunta: por que razão criar mais de duas dezenas de laboratórios químicos e biológicos em países como a Ucrânia, a Geórgia e outras antigas repúblicas soviéticas que fazem precisamente fronteira com a Rússia? É só uma pergunta.
Auto sanções e dignidade nacional
A resposta ocidental à invasão russa da Ucrânia, as «sanções infernais» que seriam impostas à mesma – e não haja dúvidas quanto a isso porque todos os cenários montados apontavam nessa direcção – caso houvesse ou não agressão militar, tem consequências cuja amplitude está muito longe de ser conhecida.
As sanções são um produto das «guerras híbridas» próprias da mentalidade imperial. Com ou sem a cobertura subserviente da ONU, Washington define os conteúdos e os alvos dos castigos e todos os países do mundo são obrigados a obedecer; caso contrário, sujeitam-se igualmente a punições cuja abrangência está nas mãos, naturalmente, dos agentes imperiais. Atentemos nas últimas ameaças dos Estados Unidos dirigidas à China no sentido de se preparar para sofrer punições no caso de tomar iniciativas que minimizem o efeito das sanções sobre a economia e o povo russo. Pequim ou cumpre essas ordens ou… Esperemos para ver.
«Os preços vão por aí acima e aos cidadãos comuns começa a ser difícil entender, apesar da campanha asfixiante, que se castiguem os povos europeus para poder punir o povo russo por uma guerra pela qual, afinal, os povos não são responsáveis»
As autoridades chinesas, ligadas à Rússia por um acordo estratégico de cooperação abrangente aliás muito recente, já informaram, a par de numerosos outros países que representam muito mais de metade da população mundial, que não acatariam as actividades persecutórias de Washington; cujo objectivo último e desesperado é evitar o fim da unipolaridade como «ordem» internacional.
A União Europeia, mais papista que o papa e onde a esmagadora maioria dos 27 espremem as meninges para inventar novos castigos à Rússia e engrossar o pacote montado em Washington, está finalmente a dar-se conta de que quem vai à guerra dá e leva – o que também é válido para a arma das sanções.
Na verdade, os governos começam a ter a noção do efeito auto sancionário das sanções à Rússia através das reacções de preocupação, e até de pânico, de amplos estratos das populações, já afectados pelo ressurgimento dos resultados nefastos da crise da economia e pela transformação da austeridade em política económica permanente.
Os preços vão por aí acima e aos cidadãos comuns começa a ser difícil entender, apesar da campanha asfixiante, que se castiguem os povos europeus para poder punir o povo russo por uma guerra pela qual, afinal, os povos não são responsáveis. Uma visão elementar e terra-a-terra que os oligarcas de cá e de lá são incapazes de compreender, vivendo como vivem numa realidade paralela criada por encomenda.
Os governos, com uma contumácia irreprimível, mentem a todo o vapor para esconder e minimizar o efeito de boomerang das sanções contra a Rússia através de um comportamento errático que faz da União Europeia um carrocel estonteante onde todos elogiam a unidade enquanto esbracejam cada um para seu lado na vertigem de falsidades e contas mal feitas.
Ministro do Ambiente assume que os aumentos dos combustíveis são «expressivos», mas tarda em intervir nas margens comerciais e rejeita fixar o preço por litro. Vamos «todos» pagar, diz. Acabou por ser João Pedro Matos Fernandes a deslocar-se ao Parlamento esta terça-feira para falar sobre a escalada do preço dos combustíveis, conforme requerimento do PCP. No debate, na Comissão Permanente da Assembleia da República, o ministro do Ambiente afirmou que o Estado «não fixa nem quer fixar» o preço por litro do gasóleo ou da gasolina, apesar dos aumentos «expressivos» que, diz Matos Fernandes, «todos» vamos pagar, reconhecendo existir um «entendimento» entre as empresas petrolíferas nos preços dos combustíveis. Quanto à intervenção nas margens de lucros das gasolineiras, o ministro diz ter uma «grande vontade» de usar o instrumento fixado na lei, mas escudou-se no período de discussão pública do regulamento e disse esperar que «em Maio, Junho esteja em cima da mesa». Entretanto, há sectores, como o das pequenas e médias empresas, que contestam os «paliativos» adoptados pelo Governo e rejeitam continuar reféns da «especulação oportunista» das petrolíferas. Também Duarte Alves, do PCP, admitiu ontem que o aumento dos combustíveis «tem um carácter especulativo», e só irá beneficiar os lucros milionários das petrolíferas «se não houver coragem política» para enfrentar os grandes interesses, defendendo o controlo público do sector da energia. A insuficiência das medidas apresentadas pelo Governo foi uma das tónicas do debate, seja do ponto de vista fiscal, seja pela não regulação dos preços. Para o deputado comunista, o problema dos preços tem de ser abordado em três componentes: nas margens, na fiscalidade e na cotação internacional, onde «está a origem deste brutal aumento». «É por causa deste sistema de cotações especulativo que temos este absurdo: o preço do petróleo aumenta um dia, logo a seguir aumentam os preços dos combustíveis, quando esses combustíveis foram já refinados há meses, a partir de petróleo comprado a um preço inferior», denunciou Duarte Alves. «As política do sector eléctrico entre 1996 e 2011 criaram um dos sistemas de maior sobrecusto pago pelo consumidor e de rendas excessivas». Quem o diz é o ex-presidente da Autoridade da Concorrência. Abel Mateus foi o primeiro a ser ouvido no regresso dos trabalhos da comissão de inquérito parlamentar às rendas no sector eléctrico e a sua audição passou largamente despercebida pela comunicação social. Mas a apresentação feita pelo responsável pela entidade criada precisamente para acompanhar a liberalização do sector eléctrico foi demolidora para a estratégia política prosseguida por governos do PS, do PSD e do CDS-PP. O diagnóstico feito no início de Setembro, no Parlamento, é impiedoso para dois dos principais responsáveis políticos pelos polémicos CMEC, os contratos que garantiram elevadas rendas à EDP: os ministros Carlos Tavares (PSD/CDS-PP) e Manuel Pinho (PS). Ambos consultaram a então recém-criada Autoridade da Concorrência entre 2004 e 2005 sobre a matéria, mas Abel Mateus afirma que as preocupações expressas foram ignoradas pelos responsáveis políticos na elaboração dos diplomas. Os problemas no sector, segundo Abel Mateus, remontam à década de 1990 e à decisão de privatizar a EDP. O processo, iniciado em 1997, transformou «um quasi-monopólio público num quasi-monopólio privado». Dois anos antes, o governo tinha estendido os CAE (antecessores dos CMEC) a todas as unidades produtoras de energia da empresa. Os CAE, criados para financiar projectos de investimento, tornam-se num instrumento que garante o rendimento das centrais da EDP à custa de dinheiros públicos. Isto, recorde-se, num quadro em que ia sendo preparada a entrega da empresa a privados. A existência dos CAE tem sido apontada como o elemento determinante para a criação dos CMEC. O argumento que os responsáveis políticos de então vêm referindo é que era necessário substituir os compromissos do Estado para com a EDP por outros – mudar o nome mas manter a renda garantida. Para além de apontar as responsabilidades políticas no «monstro», o primeiro presidente da Autoridade da Concorrência afirma que a estratégia para o sector criou «um simulacro de “mercado”, totalmente comandado, com preços, margens e até lucros totais garantidos aos geradores de eletricidade». Abel Mateus é igualmente crítico da forma como foi subsidiada a instalação de centrais eólicas, já que a imaturidade tecnológica da solução resultou num custo de subsidiação superior a 5 mil milhões de euros entre 2006 e 2018. O economista sublinhou, no final, que a subsidiação de negócios privados no sector eléctrico, bancário e nas parcerias público-privado já custaram ao País 55 mil milhões de euros. Um valor suficiente para pagar um aumento salarial médio de 100 euros para todos os trabalhadores da Administração Pública durante mais de meio século. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença. O líder parlamentar do BE questionou igualmente o Governo sobre a demora na fixação de margens máximas de lucros das gasolineiras. Segundo informação da Entidade Nacional para o Sector Energético (ENSE), nos últimos dois anos, as margens das petrolíferas foram, em média, superiores às de 2019, atingindo o máximo do período analisado. Diz ainda a ENSE que é a margem bruta que explica o aumento que então se verificava, e que entretanto se agravou. Tal como evidenciou ontem o deputado comunista, quando o barril de petróleo atingiu o seu valor máximo histórico (acima de 140 dólares), em Julho de 2008, o gasóleo era vendido a 1,41 euro. No passado dia 7 de Março o barril chegou aos 130 dólares, e o preço do gasóleo chegou (nalgumas gasolineiras ultrapassou) aos dois euros. «Neste momento, a Galp está com margens de refinação na ordem dos 9,8 dólares por barril de petróleo refinado, quando o normal nos meses homólogos do ano anterior era de dois ou três dólares, tendo chegado a sete dólares em alturas extraordinárias», afirmou Duarte Alves. Apesar disso, Matos Fernandes argumentou que «o gasóleo e a gasolina aumentam mesmo porque o petróleo está a aumentar», constatando que os fenómenos de subida e descida dos combustíveis face ao preço do barril do petróleo acontecem a velocidades muito diferentes, tal como havia referido a deputada do CDS-PP, Cecília Meireles. À bancada do PSD, que criticou a «brutal carga fiscal sobre os combustíveis», Matos Fernandes respondeu com a criação da taxa de carbono, pelo governo de Passos e Portas. Pelo PCP, que requereu o debate, as soluções no plano fiscal passam pelo fim do adicional ao Imposto Sobre Produtos Petrolíferos (ISP), criado pelo Governo em 2016, e pelo fim da dupla tributação do ISP em sede de IVA. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.Nacional|
Governo rejeita fixar preços dos combustíveis
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O «monstro» dos lucros garantidos na energia denunciado por dentro
Privatização e liberalização criaram um «monstro»
Concorrência no sector foi um embuste
Banca, Energia e PPP já custaram 55 mil milhões de euros
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Em Portugal, a este quadro junta-se o desprezo, agora sem limites, pela soberania nacional. Perante o aumento imparável dos preços da energia e dos combustíveis, como matriz para uma carestia geral, o primeiro-ministro e o venerando chefe de Estado, espezinhando a dignidade nacional num capacho, dizem que «esperam pela autorização da Comissão Europeia» para reduzirem o IVA da energia eléctrica e tentarem minimizar os custos ao consumidor. «Autorização», imaginem. E logo da senhora Von der Leyen, personalidade de irreprimível índole autoritária ao serviço da oligarquia dominante na Europa que ninguém elegeu para nos governar; e da Comissão Europeia, idem aspas. «As leis são claras quanto a isso» (a «necessidade de autorização») assegura, vergando a coluna num primor de menino bem-comportado, o chefe do governo enquanto o executivo espanhol já decidiu que, com ou sem a bendita «autorização», vai mesmo reduzir o IVA da electricidade.
Mais ucraniano ocidental, atlantista e europeísta que português, o primeiro-ministro dança ao toque da música de Bruxelas, inamovível no preito de vassalagem à Comissão Europeia e à NATO – ou seja, a Washington. Quanto aos portugueses, que se alimentem de vento (poupo-vos ao vernáculo mais usado nestas circunstâncias), andem a pé e se confinem ao lay-off, como antecâmara do despedimento, enquanto vão ruindo as pequenas e as médias empresas, o tecido económico e social se esfacela, enriquecem os mais ricos e empobrecem ainda mais os mais pobres.
Então sim, o povo russo estará devidamente castigado, tal como os povos da União Europeia; e os povos ucranianos vegetarão na mais negra das misérias, provavelmente continuando ainda a sofrer às mãos dos nazis. Para as oligarquias de cá e de lá, ao fim e ao cabo uma grande irmandade, tudo está bem quando acaba bem. As guerras, sejam na Ucrânia, no Afeganistão, no Iraque, no Mali, Palestina, Sara Ocidental, Cabo Delgado, Síria, Líbia, Iémen, Congo, Sudão, Somália e tantos outros lados fazem-se para ter os seus vencedores – os mesmos de sempre independentemente do lado do campo de batalha em que obriguem os seus povos a combater. Custe o que custar, desde que não seja aos próprios mandantes.
José Goulão, Exclusivo AbrilAbril
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