|BRICS

Dezoito líderes já confirmaram participação na cimeira do BRICS

Dos 36 líderes de países estrangeiros convidados para a cimeira do BRICS – que será celebrada em Cazã de 22 a 24 de Outubro –, metade já confirmou a sua presença no evento.

«Fizemos uma viagem de inspecção a Cazã e, em geral, estamos satisfeitos com a forma como a preparação [para a cimeira] está a decorrer. Os preparativos são de facto sérios, pois o evento tem uma dimensão sem precedentes [...] 36 chefes de vários Estados foram convidados», disse Iúri Ushakov, assessor presidencial russo para Assuntos Internacionais, citado pela Xinhua.

Em conferência de imprensa, Ushakov especificou que, além dos governantes dos países-membros do BRICS, foram convidados os líderes dos que integram a Comunidade de Estados Independentes (CEI) e de outros que «presidem a influentes associações de integração regional em África, na América Latina, no Médio Oriente e no Sudeste Asiático».

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«O Sul Global já não é uma maioria silenciosa», afirma diplomata chinês

Na cidade russa de Nizhny Novgorod, Wang Yi destacou que «o Sul Global já não é uma maioria silenciosa, mas uma nova força desperta».

Wang Yi intervém no Diálogo dos Ministros dos Negócios Estrangeiros do BRICS com os Países em Desenvolvimento (BRICS+) Créditos / @chinaorgcn

A afirmação do diplomata chinês foi proferida ao intervir no Diálogo dos Ministros dos Negócios Estrangeiros do Grupo BRICS com os Países em Desenvolvimento (BRICS+), esta terça-feira.

Wang disse que, para os países desse bloco, o BRICS+ funciona como uma plataforma vital de diálogo em relação aos mercados emergentes e aos países em desenvolvimento.

«Há muito que é uma força dinâmica para o desenvolvimento dos BRICS e tornou-se uma bandeira da cooperação Sul-Sul», frisou, citado pela Xinhua.

O encontro em Nizhny Novgorod (ou Níjni Novgorod) contou com a participação de representantes dos dez países do BRICS e de «12 países em desenvolvimento e com influência regional» – Tailândia, Vietname, Laos, Bangladesh, Sri Lanka, Cazaquistão, Bielorrússia, Turquia, Mauritânia, Cuba, Venezuela e Bahrein.

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China defende mais cooperação, inclusão e respeito pelas diferenças

Ao discursar esta quarta-feira em Joanesburgo, Xi Jinping instou o BRICS a defender o espírito de inclusão e a promover a coexistência, respeitando a escolha de cada país no caminho para a modernização.

Xi Jinping a intervir na XV Cimeira do BRICS, em Joanesburgo, a 23 de Agosto de 2023 
CréditosItumeleng English / iol.co.za

Durante a sua intervenção na XV Cimeira do bloco também integrado por África do Sul, Brasil, Índia e Rússia, o presidente chinês sublinhou, esta quarta-feira, que o conclave ocorre num momento em que mundo vive «turbulência e transformação».

«Está a passar por grandes mudanças, divisões e reagrupamentos, conduzindo a desenvolvimentos mais incertos, instáveis e imprevisíveis», disse Xi Jinping, citado pela Xinhua.

Neste contexto, valorizou o grupo BRICS como «uma força importante na configuração do cenário internacional». «Escolhemos os nossos caminhos de desenvolvimento de forma independente, defendemos conjuntamente o nosso direito ao desenvolvimento e marchamos em conjunto em direcção à modernização», disse, acrescentando que isto «terá um impacto profundo no processo de desenvolvimento do mundo».

Além do aprofundamento da cooperação mutuamente benéfica e do desenvolvimento, Xi Jinping destacou o facto de o bloco ter feito crescer «a voz e a influência dos mercados emergentes e dos países em desenvolvimento», bem como o facto de não ter sucumbido «a pressões externas» ou agido «como vassalos de outros».

Para o chefe de Estado chinês, «o desenvolvimento é um direito inalienável de todos os países e não um privilégio reservado a alguns», pelo que, em seu entender, o BRICS deve «aprofundar a cooperação empresarial e financeira, de modo a impulsionar o crescimento económico».

«Nós, países do BRICS, devemos ser companheiros na jornada de desenvolvimento e revitalização e opor-nos à dissociação e à interrupção das cadeias de abastecimento, bem como à coerção económica», afirmou.

«A mentalidade da Guerra Fria ainda assombra o nosso mundo»

Anunciando medidas que o seu país adoptará ao nível da cooperação, sobretudo nos âmbitos da ciência, educação, agricultura e ambiente, Xi Jinping fez a defesa de uma maior «cooperação política e de segurança para defender a paz e a tranquilidade».

«A mentalidade da Guerra Fria ainda assombra o nosso mundo», afirmou o presidente da China, sublinhando que «as tentativas de procurar a segurança absoluta à custa dos outros acabarão por ter resultados contraproducentes».

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Dirigentes do grupo BRICS defendem uma maior integração financeira

No Fórum Empresarial do BRICS, os representantes dos cinco países que integram o bloco centraram os seus discursos no que consideram a via para reforçar os laços financeiros e económicos.

Representantes dos cinco países-membros do grupo BRICS 
Créditos / tvbrics.com

No âmbito da XV Cimeira do BRICS, decorreu esta terça-feira, em Joanesburgo (África do Sul), o Fórum Empresarial dos países do BRICS, contando com a presença de chefes de Estado, membros de governo, empresários e delegados de vários países.

No final do Fórum, representantes políticos dos cinco países-membros do bloco – África do Sul, Brasil, China, Índia e Rússia – discursaram. O presidente russo, Vladimir Putin, interveio por videoconferência, enquanto Xi Jinping, que se encontra na África do Sul, se fez representar pelo ministro chinês do Comércio, Wang Wentao.

Na sua intervenção, o presidente do Brasil, Lula da Silva, defendeu a criação de uma moeda de referência do BRICS, mas que não substitua as divisas dos países-membros.

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Díaz-Canel destaca o papel dos BRICS face à hegemonia

Numa entrevista concedida ao canal RT, o presidente cubano classificou o grupo dos BRICS como uma alternativa importante à ordem económica internacional, tendo em conta a hegemonia do dólar.

Em entrevista à RT, o presidente de Cuba, Díaz-Canel, denunciou o bloqueio norte-americano e mostrou confiança na capacidade dos BRICS para desenvolver novas formas de relações económico-comerciais 
Créditos / Prensa Latina

«Os BRICS [grupo integrado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul], acima de tudo, defendem a multipolaridade, o multilateralismo nas relações. Ao defender o multilateralismo, os BRICS opõem-se aos conceitos da Guerra Fria, e geram a possibilidade de uma ordem económica internacional mais justa, mais equitativa, que favoreça todos», sublinhou Miguel Díaz-Canel, citado pela agência Prensa Latina – com acesso ao canal RT en Español.

Para Díaz-Canel, Washington pretende manter o controlo total da economia mundial, apoiado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial (BM), o que cria uma ordem «totalmente injusta, antidemocrática».

«Hoje, as relações internacionais no mundo assentam na política agressiva e hegemónica do governo dos Estados Unidos, que constantemente ergue muros, aplica sanções coercivas, chantagem, agressão, calúnias», disse o chefe de Estado cubano ao canal russo.

Denunciou, além disso, as pressões dos sucessivos governos da Casa Branca em relação a Cuba, através do bloqueio económico, comercial e financeiro imposto.

«Cuba é um exemplo disso com o bloqueio e com a recusa de que Cuba possa realizar operações financeiras em dólar, que são perseguidas por instituições financeiras norte-americanas», disse.

Em seu entender, os planos do grupo dos BRICS vão promover o desenvolvimento de novas formas de relações económico-comerciais e contribuirão para o equilíbrio perante as forças de poder económico do país a norte.

Díaz-Canel afirmou que Rússia e China assumem um o «papel relevante [...] na política internacional», sendo por isso «uma preocupação para os Estados Unidos» / Prensa Latina

O presidente cubano condenou ainda o recurso aos «golpes brandos» e à «judicialização da política» por parte dos Estados Unidos contra governos da América Latina, afirmando que é «uma crueldade e uma perseguição baseada na construção de mentiras, de calúnias, de falsos acontecimentos contra líderes da esquerda».

Nos 47 minutos da entrevista concedida à jornalista Aliana Nieves, que teve lugar no Palácio da Revolução, Díaz-Canel referiu-se ainda ao papel actualmente desempenhado por Rússia e China, frisando que são «uma preocupação para os Estados Unidos» pelo «papel relevante que têm na política internacional».

Destacou, além disso, o excelente estado das relações políticas entre Cuba e Rússia, o que permite uma maior cooperação comercial e financeira, e em sectores como o da energia.

Fez ainda referência – condenando-as – à «presença militar agressiva dos EUA» no Estreito de Taiwan e à expansão da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO) em direcção às fronteiras russas, bem como às medidas económicas que o Ocidente adoptou contra o gigante euroasiático.

Pode-se aceder à entrevista, na íntegra, por via do link https://vk.com/video-61174019_456254715.

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«Sou a favor da ideia de uma maior integração financeira, na qual possamos ter uma nova unidade de referência. O banco unificado deve ser um líder mundial no financiamento de projectos que resolvam os problemas mais urgentes do nosso tempo, diversificando as fontes de pagamentos em moedas locais», disse Lula.

O chefe de Estado brasileiro destacou ainda o crescimento das relações comerciais do seu país com o bloco, que, em seu entender deve ser uma força em prol de um comércio global mais justo, previsível, equitativo; e garantiu o interesse do Brasil no continente africano.

Maior investimento e cooperação

Por seu lado, o presidente russo, Vladimir Putin, destacou a importância das reuniões e fóruns celebrados no formato BRICS e BRICS+, que «desempenham um grande papel prático na promoção do comércio e investimento mútuos, aprofundando os laços de cooperação e expandindo o diálogo directo entre as comunidades empresariais», disse.

O dirigente russo destacou igualmente o crescimento económico dos países que integram o grupo, tendo afirmado que, «na última década, o investimento mútuo dos países-membros do BRICS aumentou seis vezes».

«Por sua vez, os seus investimentos na economia global como um todo duplicaram. As exportações agregadas atingiram 20% do valor global. Quanto à Rússia, o nosso volume de negócios com os parceiros do BRICS aumentou 40,5% e atingiu um recorde de mais de 230 mil milhões de dólares», afirmou o chefe de Estado do país euro-asiático.

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BRICS alerta para os riscos do unilateralismo

Na X Cimeira do BRICS, os presidentes sul-africano e chinês defenderam o multilateralismo e alertaram para os efeitos negativos do proteccionismo na economia mundial.

A X Cimeira do BRICS, em 2018, teve uma mensagem clara em defesa do multilateralismo e da cooperação entre os povos
Créditos / thenational.ae

Esta quinta-feira, segundo dia da cimeira que hoje termina em Joanesburgo, na África do Sul, os chefes de Estado ou de governo do BRICS, organismo que representa as principais economias emergentes do mundo, debateram temas como a cooperação e as ameaças ao comércio mundial, bem como questões relacionadas com o actual cenário político e de segurança internacional.

A sessão de ontem – precedida, na quarta-feira, pela realização do Fórum de Negócios do BRICS – foi presidida pelo chefe de Estado sul-africano, Cyril Ramaphosa, e contou com a participação e as intervenções dos presidentes do Brasil, da Rússia e da China, e do primeiro-ministro da Índia, que abordaram a fundo questões relativas à cooperação entre os seus países, sob o lema «BRICS em África: colaborando para o crescimento inclusivo e a prosperidade partilhada na Quarta Revolução Industrial».

Nas suas intervenções, Ramaphosa e o presidente chinês, Xi Jinping, vincaram a defesa do multilateralismo e do comércio livre. Sem se referir aos EUA, o presidente da China enquadrou o unilateralismo e o proteccionismo nos factores que «estão a afectar o ambiente de desenvolvimento externo dos mercados emergentes e dos países em desenvolvimento».

Xi Jinping defendeu a consolidação do quadro de cooperação do BRICS, assente na cooperação económica, política e de segurança, bem como no comércio entre os povos. Tal como Cyril Ramaphosa, o chefe de Estado chinês exortou os países do BRICS a trabalhar de forma conjunta em prol de um novo tipo de relações internacionais, marcadas pelo respeito mútuo, a igualdade e a justiça.

«Devemos continuar comprometidos com o multilateralismo e os propósitos e princípios da Carta das Nações Unidas», disse, defendendo que, na salvaguarda da paz e da segurança mundiais, os membros do BRICS devem «pedir a todas as partes que cumpram as normas fundamentais que regem as relações internacionais e solucionem as disputas pela via do diálogo».

«Permitir que mais povos e países beneficiem dos avanços»

Logo na quarta-feira, perante os mais de mil delegados presentes no Fórum de Negócios da X Cimeira do BRICS, Ramaphosa mostrou-se preocupado com o «aumento de medidas unilaterais que são incompatíveis com as regras da Organização Mundial do Comércio» e, especialmente, com o seu impacto «nos países em vias de desenvolvimento».

Esta intervenção inicial ficou marcada pelas críticas ao unilateralismo – sem referências directas a Donald Trump –, a defesa do multilateralismo e a lembrança das conquistas do BRICS na sua década de cooperação.

A necessidade de um rumo estratégico para as oportunidades que a Quarta Revolução Industrial proporciona e a importância da cooperação do BRICS com África foram outros tópicos de destaque na intervenção do chefe de Estado sul-africano.

Também Xi Jinping deixou clara, logo no primeiro dia da Cimeira, a rejeição das medidas unilaterais e do proteccionismo económico, afirmando que os BRICS devem promover uma economia mundial aberta.

Sublinhando o contributo dado pelo bloco que integra o seu país, a Índia, a Rússia, a África do Sul e o Brasil, nos seus primeiros dez anos, para a recuperação e o crescimento económico mundiais, o presidente chinês afirmou: «Deve-se rejeitar uma guerra comercial, pois não haveria vencedores.»

«A hegemonia económica é ainda mais inaceitável, na medida em que minaria os interesses colectivos da comunidade internacional; aqueles que seguirem esse caminho acabarão apenas por se prejudicar a si mesmos», frisou.

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Já o presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, destacou o facto de as mudanças sofridas pelas economias do espaço BRICS nas últimas décadas terem contribuído, de forma decisiva, para transformar a configuração da economia mundial, indica a TeleSur.

Em seu entender, «o grupo de países do BRICS existe não apenas para fortalecer as relações intergovernamentais, mas também para reforçar os laços entre as pessoas» desses cinco países. Por isso, sublinhou a criação de vários órgãos que garantem a cooperação entre empresas, partidos políticos e sectores sociais e desportivos.

Ramaphosa afirmou a ideia de inclusão e, nesse sentido, defendeu a necessidade de «reformas fundamentais das instituições financeiras globais, para que possam ser mais flexíveis face aos desafios que as economias emergentes enfrentam».

«A hegemonia não está no ADN da China»

Ao intervir, o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, sublinhou o papel do Conselho Empresarial do BRICS no actual panorama geopolítico. Afirmando que a criação da aliança representou «um raio de esperança para a economia global», Modi referiu-se aos desafios económicos que o mundo enfrenta, nos dias de hoje, e como o papel dos países do BRICS está a crescer mais uma vez».

O discurso do presidente chinês, Xi Jinping, foi proferido pelo ministro do Comércio da China, Wang Wentao. Nele, o chefe de Estado destacou o 10.º aniversário do Conselho Empresarial do BRICS. «Desde então, o conselho permaneceu fiel à sua missão principal, aproveitando oportunidades para aprofundar a cooperação, promovendo o desenvolvimento económico e social dos países do BRICS e ajudando a sustentar o crescimento económico global», defendeu Xi pela voz do seu ministro.

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BRICS: apostar na cooperação e desenvolvimento, fazer frente à hegemonia

O presidente chinês fará a abertura da 14.ª Cimeira do BRICS, em Pequim, no dia 23. O tema central do evento é «Promover parceria BRICS de alta qualidade, inaugurar uma nova era para o desenvolvimento global».

Bandeiras dos cinco países-membros do BRICS: Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul 
Créditos / Global Times

No âmbito do encontro, dia 24 de Junho, Xi Jinping será o anfitrião do Diálogo de Alto Nível sobre Desenvolvimento Global, em Pequim, que contará com a presença de líderes de países do bloco e de países em desenvolvimento e de mercados emergentes, revela o portal do periódico Global Times.

Como a China preside actualmente ao bloco que integra também o Brasil, a Rússia, a Índia e a África do Sul, Xi Jinping vai ainda participar na cerimónia de abertura do Fórum Empresarial do BRICS, em formato virtual, e dará uma palestra, esta quarta-feira.

O anúncio desta agenda foi feito por Wang Wenbin, representante do Ministério dos Negócios Estrangeiros da China, numa conferência de imprensa na capital chinesa, sexta-feira passada.

Na ocasião, Wang destacou que os países do BRICS resistiram ao teste da mudança da situação internacional e tornaram-se uma força importante que não pode ser ignorada no cenário internacional.

À medida que o mundo entra num novo período de turbulência e mudança, assume maior destaque a importância de aprofundar ainda mais a cooperação deste bloco, e os mercados emergentes e países em desenvolvimento demonstram maior vontade de participar nesta cooperação.

Wang disse ainda que a China espera trabalhar com os outros países do BRICS para, através da cimeira, aprofundar a cooperação e dar um maior contributo para manter a paz e a estabilidade, e promover o desenvolvimento.

Uma nova abordagem, distante da hegemonia

Nas reuniões do bloco estarão não apenas representantes dos cinco países-membros, mas também de países emergentes como a Indonésia e a Argentina, o que, segundo o Global Times, indica que o BRICS representa um «conceito comum de países em desenvolvimento e novas forças na reforma da governação mundial», que persegue uma diplomacia independente e vias de desenvolvimento, em vez de seguir o Ocidente económica e politicamente.

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BRICS alerta para os riscos do unilateralismo

Na X Cimeira do BRICS, os presidentes sul-africano e chinês defenderam o multilateralismo e alertaram para os efeitos negativos do proteccionismo na economia mundial.

A X Cimeira do BRICS, em 2018, teve uma mensagem clara em defesa do multilateralismo e da cooperação entre os povos
Créditos / thenational.ae

Esta quinta-feira, segundo dia da cimeira que hoje termina em Joanesburgo, na África do Sul, os chefes de Estado ou de governo do BRICS, organismo que representa as principais economias emergentes do mundo, debateram temas como a cooperação e as ameaças ao comércio mundial, bem como questões relacionadas com o actual cenário político e de segurança internacional.

A sessão de ontem – precedida, na quarta-feira, pela realização do Fórum de Negócios do BRICS – foi presidida pelo chefe de Estado sul-africano, Cyril Ramaphosa, e contou com a participação e as intervenções dos presidentes do Brasil, da Rússia e da China, e do primeiro-ministro da Índia, que abordaram a fundo questões relativas à cooperação entre os seus países, sob o lema «BRICS em África: colaborando para o crescimento inclusivo e a prosperidade partilhada na Quarta Revolução Industrial».

Nas suas intervenções, Ramaphosa e o presidente chinês, Xi Jinping, vincaram a defesa do multilateralismo e do comércio livre. Sem se referir aos EUA, o presidente da China enquadrou o unilateralismo e o proteccionismo nos factores que «estão a afectar o ambiente de desenvolvimento externo dos mercados emergentes e dos países em desenvolvimento».

Xi Jinping defendeu a consolidação do quadro de cooperação do BRICS, assente na cooperação económica, política e de segurança, bem como no comércio entre os povos. Tal como Cyril Ramaphosa, o chefe de Estado chinês exortou os países do BRICS a trabalhar de forma conjunta em prol de um novo tipo de relações internacionais, marcadas pelo respeito mútuo, a igualdade e a justiça.

«Devemos continuar comprometidos com o multilateralismo e os propósitos e princípios da Carta das Nações Unidas», disse, defendendo que, na salvaguarda da paz e da segurança mundiais, os membros do BRICS devem «pedir a todas as partes que cumpram as normas fundamentais que regem as relações internacionais e solucionem as disputas pela via do diálogo».

«Permitir que mais povos e países beneficiem dos avanços»

Logo na quarta-feira, perante os mais de mil delegados presentes no Fórum de Negócios da X Cimeira do BRICS, Ramaphosa mostrou-se preocupado com o «aumento de medidas unilaterais que são incompatíveis com as regras da Organização Mundial do Comércio» e, especialmente, com o seu impacto «nos países em vias de desenvolvimento».

Esta intervenção inicial ficou marcada pelas críticas ao unilateralismo – sem referências directas a Donald Trump –, a defesa do multilateralismo e a lembrança das conquistas do BRICS na sua década de cooperação.

A necessidade de um rumo estratégico para as oportunidades que a Quarta Revolução Industrial proporciona e a importância da cooperação do BRICS com África foram outros tópicos de destaque na intervenção do chefe de Estado sul-africano.

Também Xi Jinping deixou clara, logo no primeiro dia da Cimeira, a rejeição das medidas unilaterais e do proteccionismo económico, afirmando que os BRICS devem promover uma economia mundial aberta.

Sublinhando o contributo dado pelo bloco que integra o seu país, a Índia, a Rússia, a África do Sul e o Brasil, nos seus primeiros dez anos, para a recuperação e o crescimento económico mundiais, o presidente chinês afirmou: «Deve-se rejeitar uma guerra comercial, pois não haveria vencedores.»

«A hegemonia económica é ainda mais inaceitável, na medida em que minaria os interesses colectivos da comunidade internacional; aqueles que seguirem esse caminho acabarão apenas por se prejudicar a si mesmos», frisou.

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Isto também porque, acrescenta, o bloco explora «uma ordem internacional mais justa e mutuamente benéfica», e porque ficar «preso à velha ordem de confrontação e jogos de "soma zero", dominada pelo Ocidente», só pode conduzir a conflitos e crises intermináveis.

A este propósito, o professor Wang Wen, do Instituto Chongyang de Estudos Financeiros da Universidade Renmin da China, disse ao Global Times que o Ocidente está «a tentar lucrar ao transformar a segurança e os conflitos na principal questão mundial», e a Cimeira do BRICS na China deve trazer uma «nova atmosfera» ao mundo, que inclua um sistema de governação mundial igualitário, em vez de um dominado pela hegemonia dos EUA; um novo enfoque da reforma financeira, colocando-o ao serviço da entidade económica, em de vez a militarizar; e a reparação da cadeia de abastecimento mundial, que foi minada pelos EUA.

Face à tenativa de instaurar a Guerra Fria, uma plataforma de desenvolvimento

Num contexto em que os Estados Unidos têm estado a tentar isolar a Rússia e conter a China, em que o tema primordial da paz e do desenvolvimento foi seriamente questionado pelas alianças lideradas pelos EUA e em que muitos dos países em desenvolvimento enfrentam desafios sérios associados aos efeitos da guerra na Ucrânia – como segurança alimentar, inflação e especulação –, a 14.ª Cimeira do BRICS, na China, constitui-se como uma plataforma para «construir um consenso sobre a forma de abordar os desafios sérios colocados ao desenvolvimento», refere o periódico.

As reuniões no âmbito da cimeira centrar-se-ão na segurança e no desenvolvimento, disse ao Global Times Zhu Tianxiang, director do Centro de Segurança Política do Instituto de Investigação BRICS da Universidade de Estudos Internacionais de Sichuan.

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Ucranianos podem continuar a morrer: NATO admite que não quer a paz

A Aliança Atlântica deixou claro que, para defender os seus interesses geopolíticos e debilitar a Rússia, está disposta «a lutar até ao último ucraniano». O WaPo foi explícito e o jornalista Ben Norton também.

Imagem de Mariupol, na região do Donbass 
Créditos / slavyangrad.es

De uma forma que Norton considera «escandalosamente franca», The Washington Post (WaPo) reconheceu que alguns estados-membros da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO) querem que «os ucranianos continuem a lutar e a morrer» para evitar que a Rússia obtenha ganhos políticos.

Numa peça publicada a 5 de Abril último sobre as conversações de paz entre a Ucrânia e a Rússia, o jornal norte-americano revelou que a NATO teme que Kiev ceda a algumas das exigências de Moscovo.

O jornal escreveu: «Para alguns na NATO, é melhor que os ucranianos continuem a lutar e a morrer do que alcançar uma paz que chega demasiado cedo ou a um custo demasiado alto para Kiev e o resto da Europa.»

Tendo em conta «as questões mais importantes de segurança global em jogo», os que apoiam a Ucrânia no Ocidente sublinharam que «há limites para o número de compromissos que alguns na NATO irão apoiar para ganhar a paz», escreveu o jornal, acrescentando que estão dispostos a prolongar a guerra para evitar que as preocupações da Rússia com a segurança sejam satisfeitas.

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EUA provocaram a crise na Ucrânia, defende jornalista norte-americano

Um relatório da Rand Corporation, um dos think tanks que o Departamento da Defesa mais tem em consideração, «receitou» as provocações contra a Rússia e previu as acções de Moscovo.

Créditos / multipolarista.com

Ao analisar o relatório da Rand – publicado em 2019 e intitulado «Overextending and Unbalancing Russia» (esgotar e desequilibrar a Rússia) –, o jornalista norte-americano Rick Sterling afirma que o objectivo dos EUA era minar a Rússia, tal como o fez com a União Soviética no período da guerra fria.

«Em vez de "tentar estar na vanguarda" ou tentar melhorar a situação dos Estados Unidos a nível interno e nas relações internacionais, a ênfase é colocada nos esforços e nas acções para minar o adversário designado, a Rússia», diz Sterling numa análise que publicou dia 27 no portal dissidentvoice.org e também acessível em english.almayadeen.net.

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Ucrânia, o rastilho da Europa

Entre a riqueza armamentista e a miséria social, este país a funcionar como base militar da NATO transformou-se num rastilho de guerra, talvez o mais inquietante, susceptível de incendiar a Europa e o mundo.

Militares ucranianos no Donbass (foto de arquivo)
Créditos / Telegraph.ua

A administração colonial formada pelos Estados Unidos e a União Europeia que desde 2014 gere a Ucrânia, com apoio em entidades nazis saudosas de Hitler, criou a maior plataforma de guerra e de provocação que ameaça toda a Europa ao mesmo tempo que transformou o país num espaço de miséria.

Desde 2014 que, à luz do golpe da Praça Maidan dado em nome «da democracia», que Washington e Bruxelas vêm militarizando a Ucrânia recorrendo, sem rebuço nem vergonha, a uma máfia política mergulhada em corrupção e em traficâncias neoliberais; criando assim condições para conduzir uma guerra interna contra as populações russófonas da região do Donbass e desenvolvendo uma atmosfera de hostilidade contra a Rússia e a Bielorrússia propícia às manobras agressivas e provocatórias da NATO.

Nas operações internas tem-se distinguido, pela crueldade exercida contra as populações civis, o instrumento de mão do regime, a Guarda Nacional, corpo criado a partir do golpe de 2014 integrando estruturas retintamente nazis, como é o caso do batalhão Azov. Notícias vindas regularmente a público, mas que não cabem nos pacotes propagandísticos da comunicação social corporativa, dão conta de que estes grupos hitlerianos frequentam as acções de formação ministradas por altos quadros militares norte-americanos e europeus em situação de reserva mas realmente integrados nas estruturas da NATO.

Já em Novembro deste ano o regime de Kiev recebeu mais 60 milhões de dólares em material militar, incluindo 80 toneladas de munições, da administração Biden – a quarta remessa desde Agosto enviada de Washington. Joseph Biden, então como vice-presidente de Obama, foi um dos principais operacionais do golpe de Maidan, recorrendo principalmente aos serviços de campo de Victoria Nuland, quadro superior do Departamento de Estado envolvida directamente na conspiração, na acção e na formação dos primeiros governos do regime. A propósito desta manobra, na qual os Estados Unidos fizeram questão de exercer exclusividade absoluta, Nuland pronunciou a célebre frase «fuck the UE», um escândalo diplomático entre «aliados» que Bruxelas, fiel à sua subserviência em relação a Washington, reduziu a um não-acontecimento. A expressão foi proferida numa conversa com o então embaixador norte-americano em Kiev, Geoffrey E. Pyatt, agora em Atenas conduzindo as acções de conspiração e provocação nos Balcãs.

«Joseph Biden, então como vice-presidente de Obama, foi um dos principais operacionais do golpe de Maidan (...)»

O actual presidente norte-americano tem uma forte ligação «sentimental» à Ucrânia. Utilizando o filho Hunter Biden como testa de ferro, Joseph Biden entrou em força nos negócios de petróleo e gás do país; no seu actual governo colocou na mais elevada das posições, a de secretário de Estado, o norte-americano e ucraniano Anthony Blinken. De 2014 para cá têm passado pela administração ucraniana vários ministros e ministras de nacionalidade e ascendência norte-americana, ou mesmo indivíduos com formação nos Estados Unidos e que já foram presidentes de outros países, como o caso do georgiano corrupto Shakashwili.

Desde o golpe de 2014, segundo o actual secretário da Defesa norte-americano, Lloyd Austin, os Estados Unidos injectaram na Ucrânia mais de 2500 milhões de dólares em material militar, incluindo recentemente os mísseis antitanque Javelin, que já foram utilizados na guerra contra o Donbass, de acordo com Kyrilo Budanov, chefe da espionagem militar de Kiev. Confirmando-se assim que o governo ucraniano tem como política a violação dos acordos de Minsk, que determinam uma solução política e não militar para o conflito na região.

Budanov foi mais longe e assegurou que os mísseis Javelin foram usados igualmente «contra forças russas». Esta afirmação deve ler-se, porém, à luz do facto de Kiev considerar as forças militarizadas de autodefesa do Donbass como «parte do exército russo». Uma asserção que faz parte do discurso provocatório oficial ucraniano.

De realçar ainda que o equipamento das forças militares de influência nazi da Ucrânia foi ainda reforçado recentemente com drones ofensivos Bayraktar, de fabrico turco. O ditador Erdogan é um dos pilares internacionais de sustentação do regime autocrático de Kiev, apesar da crescente degradação das condições económicas do seu país.

Provocação em curso

Há pouco mais de uma semana, os serviços de espionagem norte-americanos municiaram a Comissão Europeia com supostas «informações secretas», segundo as quais a Rússia se prepara para invadir a Ucrânia no início do próximo ano, designadamente a partir da Crimeia e da Bielorrússia.

Embora fazendo parte da alimentação permanente da hostilidade da União Europeia para com a Rússia, esta diligência pode traduzir um novo nível da agressividade da NATO em relação a Moscovo. Há poucos dias, tirando proveito da situação criada com o problema dos refugiados entre a Bielorrússia e a Polónia, a Aliança Atlântica reforçou com mais umas dezenas de tanques o seu dispositivo de guerra alegadamente contra Minsk mas que, em última análise, tem a Rússia como alvo principal.

Na sequência das mais recentes operações militares de Kiev contra o Donbass, utilizando nomeadamente os mísseis de fabrico norte-americano Javelin, como o chefe da espionagem militar ucraniana confirmou, o exército russo reforçou os dispositivos militares na fronteira ucraniana. Algo que Moscovo já fizera anteriormente e que dissuadiu então as forças de Kiev de prosseguirem uma das frequentes ofensivas contra o Leste do país.

Os Estados Unidos pretendem que se interpretem estas movimentações como uma ameaça iminente de invasão da Ucrânia pela Rússia. Washington e a NATO, que se caracterizam por fazer manobras militares agressivas em praticamente todo o mundo, onde dispõem de 800 bases militares muito para além das suas próprias fronteiras, têm assim a desfaçatez de qualificar como indícios de agressão as movimentações militares a que outros países procedem, de maneira soberana, exclusivamente no interior dos seus territórios. A Rússia, recorda-se, está cercada pela presença exorbitante de tropas da NATO nas suas fronteiras, oriundas até de nações muito distantes.

«Washington e a NATO, que se caracterizam por fazer manobras militares agressivas em praticamente todo o mundo, onde dispõem de 800 bases militares muito para além das suas próprias fronteiras, têm assim a desfaçatez de qualificar como indícios de agressão as movimentações militares a que outros países procedem, de maneira soberana, exclusivamente no interior dos seus territórios.»

As acusações de Kiev e da NATO pronunciadas a propósito de supostas intenções agressivas de Moscovo são entre outras coisas, e como é fácil de perceber, cortinas de fumo para tentar resolver militarmente a guerra contra o Donbass e para o reforço cada vez mais intenso do massivo dispositivo da Aliança Atlântica ameaçando a Rússia.

Um regime de miséria

Entre 2013 e 2021 a Ucrânia transformou-se, como um todo, numa das maiores bases militares da NATO. Os armamentos e as capacidades militares presentes no país são absolutamente desproporcionadas e insultuosas em relação às grandes necessidades da esmagadora maioria da população, cada vez mais desprovida de condições essenciais de vida e até de sobrevivência.

O sistema autocrático e castrense instituído em Kiev pela administração colonial de Washington e Bruxelas, em nome «da democracia» e da «ameaça russa», é um regime de autêntica miséria, com estratos sociais reduzidos a uma penúria degradante. A «libertação» consumada a partir da «revolução colorida» de Maidan, que rapidamente se tornou sangrenta através da acção das tropas de choque nazis, conduziu a Ucrânia à cauda da Europa em matéria de condições sociais, económicas e humanas.

Através de dados recolhidos em fontes como o FMI, o Banco Mundial, o serviço oficial de estatísticas de Kiev e o Banco Central da Ucrânia é possível perceber o estado dramático do país, um cenário inversamente proporcional à riqueza das suas aptidões militares.

De 2013 até 2020, a população da Ucrânia reduziu-se de 45,5 milhões de pessoas para 30,1 milhões – ou mesmo para 28 milhões, segundo fontes diferenciadas.

Dessa redução de 15 milhões na população, cerca de 10 milhões deixaram o país em busca de melhores condições de vida em países da União Europeia e na Rússia. Grande parte dessas pessoas adquiriram já as nacionalidades dos países de acolhimento e chamaram as respectivas famílias. Deixaram, em grande parte, de contribuir para a economia ucraniana.

Os restantes cinco milhões de pessoas a menos traduzem o aumento de mortalidade em relação aos valores médios registados até 2013.

«A "libertação" consumada a partir da "revolução colorida" de Maidan, que rapidamente se tornou sangrenta através da acção das tropas de choque nazis, conduziu a Ucrânia à cauda da Europa em matéria de condições sociais, económicas e humanas.»

Segundo elementos fornecidos pelo FMI e pelo Banco Mundial, o Produto Interno Bruto (PIB) ucraniano desceu de 183 300 milhões de dólares em 2013 para 155 500 milhões em 2020, ou seja uma queda da ordem dos 15% desde a instauração «da democracia» por Washington e a UE.

O rendimento médio per capita caiu em média de 4030 dólares em 2013 para 3725 dólares em 2020 – 310 dólares por mês (menos de 300 euros). No entanto, a grande maioria da população, cerca de 70%, tem um rendimento mensal de 210 a 215 dólares, isto é, mais ou menos 200 euros. Naturalmente o poder de compra baixou cerca de 20%. Os preços da alimentação e dos medicamentos são os mais elevados em comparação com os dos países vizinhos.

Dados oficiais revelam ainda que um terço da população, 10 milhões de pessoas, sofre de subnutrição; e dois milhões passam fome num país onde as desigualdades continuam a crescer, como é próprio das ditaduras neoliberais.

A indústria ucraniana colapsou 25% e a dependência energética em combustíveis fósseis e electricidade continua a aumentar, sobretudo em relação à Rússia, país com o qual a Ucrânia se diz «em guerra», e à Bielorrússia, país contra o qual funciona como plataforma de conspiração e actividades subversivas.

Apesar de a Ucrânia se ter transformado num paraíso neoliberal, nem sequer se consegue afirmar como um farol para o investimento estrangeiro, antes pelo contrário: esse valor desceu de 5600 milhões de dólares em 2013 para 800 milhões de dólares em 2020, isto é, sete vezes menos do que antes do golpe.

Neste quadro verdadeiramente trágico, a publicação anual Doing Business do Banco Mundial conseguiu encontrar em 2020 um rating de «sucesso» para a Ucrânia. O resultado foi tão pouco convincente que o próprio Banco Mundial veio a considerá-lo depois como «distorcido», levantando assim suspeitas de que terá sido fabricado graças a incentivos financeiros irregulares. O regime ucraniano, de tão protegido pelos seus gestores internacionais, consegue até exportar corrupção, revelando grandes aptidões na matéria.

Entre a riqueza armamentista e a miséria social, este país a funcionar como base militar da NATO, mesmo sem pertencer formalmente à organização, transformou-se num rastilho de guerra, talvez o mais inquietante, susceptível de incendiar a Europa e o mundo.

Basta uma faúlha. E a NATO, com a colaboração prestimosa da União Europeia, parece andar à procura da maneira de a atear. Condições e marionetas não faltam na Ucrânia.

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A Rand, um think tank «quase governamental, que recebe três quartos do seu financiamento do Exército norte-americano», listou uma série de medidas anti-russas nas áreas económica, geopolítica, ideológica/informativa e militar.

Sterling destaca a importância da Ucrânia – a vários níveis – para a Rússia e, nesse sentido, afirma que se trata de uma «componente importante do esforço de EUA/NATO para minar a Rússia».

Por isso mesmo, Victoria Nuland, actual subsecretária de Estado para Assuntos Políticos, disse que os Estados Unidos investiram cinco mil milhões de dólares, ao longo de 20 anos, para «virar» a Ucrânia para a sua esfera de influência.

O culminar desse processo – sublinha Sterling – foi o golpe de Fevereiro de 2014, também conhecido como golpe fascista de Maidan. «Desde 2015, os EUA têm treinado milícias ultra-nacionalistas e neonazis», afirma o jornalista, dando indicação de várias peças que o documentam.

Provocações sugeridas contra Moscovo

O think tank altamente financiado pelo Pentágono sugeriu uma série de provocações contra a Rússia, que foram de facto implementadas. Uma delas foi o aumento da ajuda militar à Ucrânia, que tem vindo sempre a crescer desde 2019. Segundo refere The Hill, no último ano, chegou aos mil milhões de dólares.

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Situação na Ucrânia é «guerra por procuração», admite ex-funcionário da Casa Branca

Um ex-funcionário do Departamento de Estado afirmou que existe uma «guerra por procuração» da NATO com a Rússia e que os soldados russos têm de «se render ou morrer» – «quantos mais e mais depressa, melhor».

Créditos / multipolarista.com

Eliot Cohen, que foi conselheiro de Condoleezza Rice entre 2007 e 2009, no Departamento de Estado da administração de George W. Bush, é conhecido como elemento da chamada «linha dura» entre os conservadores, tendo defendido a guerra contra o Irão e as agressões norte-americanas no Iraque e no Afeganistão.

Num artigo publicado dia 14 na revista The Atlantic, Cohen louva a administração liderada pelo actual presidente norte-americano, Joe Biden, pelo «trabalho admirável» que realizou até agora em diversas frentes, nomeadamente ao «vencer a guerra de informação, mobilizar os aliados da NATO e impor sanções incapacitantes (embora incompletas) à economia russa».

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NATO e nazismo, uma irmandade

Irmãos da Floresta, regimento Azov, Abdelhakim Belhadj, o Estado Islâmico e o terrorismo «moderado», fornecimento clandestino de armamento sofisticado. A associação entre a NATO e os nazi-fascismos é um facto.

O batalhão Azov, apoiado pela NATO e pelas lideranças da UE e dos EUA, e tratado pelos mainstream media ocidentais como «nacionalistas ucranianos» ou «admiradores de Stepan Bandera», usa o símbolo nazi Wolfsangel na sua bandeira e uma das tropas de choque preferidas do governo de Kiev, no Leste como no resto do país.
Créditos / twitter

Que haverá de comum entre um grupo armado formado por membros das Waffen SS em Estados bálticos, designado Irmãos da Floresta, o regimento Azov da Guarda Nacional ucraniana, o emir do Daesh no Magrebe, de seu nome Abdelhakim Belhadj, e o mistério do armamento sofisticado descoberto recentemente num santuário neonazi em Turim, Itália?

Por muito que seja considerada inadmissível pela comunicação mainstream e seus fiéis seguidores, a resposta é: NATO – Organização do Tratado do Atlântico Norte.

«Que haverá de comum entre um grupo armado formado por membros das Waffen SS em Estados bálticos, designado Irmãos da Floresta, o regimento Azov da Guarda Nacional ucraniana, o emir do Daesh no Magrebe, de seu nome Abdelhakim Belhadj, e o mistério do armamento sofisticado descoberto recentemente num santuário neonazi em Turim, Itália? Por muito que seja considerada inadmissível pela comunicação mainstream e seus fiéis seguidores, a resposta é: NATO – Organização do Tratado do Atlântico Norte»

É a linguagem objectiva dos factos. E se contra factos pode haver quantos argumentos quiserem, todos eles serão rejeitados pela mais transparente realidade. As circunstâncias citadas têm em comum, sem dúvida, o culto do nazi-fascismo e, de uma maneira ou de outra, estão igualmente interligadas pela acção, protecção ou propaganda da NATO.

Vamos então a factos.

Os Irmãos da Floresta

A Segunda Guerra Mundial entrava na sua fase final quando foram criados os Irmãos da Floresta, grupos armados anticomunistas nascidos na Estónia, Letónia e Lituânia. Os membros, na sua maioria, foram recrutados entre os destacamentos locais das Waffen SS, integrados no aparelho de guerra hitleriano que tentou ocupar a União Soviética. Na Estónia, por exemplo, estes terroristas faziam juramento de fidelidade ao Fuhrer1.

Com a cumplicidade de serviços de espionagem de países ocidentais – nessa altura, formalmente em aliança com o lado soviético – os Irmãos da Floresta, ex-Waffen SS, foram reciclados como tampões contra o avanço do Exército Vermelho para Oeste depois de este ter vergado o nazismo na decisiva e sangrenta batalha de Estalinegrado.

Em suma, os Irmãos da Floresta, tal como os destacamentos bálticos das Waffen SS, tinham como missão, de facto, impedir que os soviéticos esmagassem completamente os nazis – o que também significava travar a libertação dos seres humanos que ainda sobreviviam nos campos da morte hitlerianos2.

«é pena que os propagandistas da aliança não tenham podido dedicar um segundo sequer às origens hitlerianas e terroristas da gloriosa irmandade – certamente por falta de tempo. Que outras razões haveria para esconder uma matriz tão inspiradora?»

Pois os Irmãos da Floresta são agora glorificados como heróis de uma gesta democrática, através de um documentário da NATO inserido no seu espaço de propaganda no YouTube. São oito minutos e alguns segundos de pura heroicidade ao melhor estilo de Hollywood, durante os quais os feitos dos Irmãos da Floresta são apresentados como inspiradores das forças especiais das repúblicas bálticas que agora «estão na linha da frente» contra a temível «ameaça russa». Afinal, hoje como ontem, explica-nos a NATO.

Só é pena que os propagandistas da aliança não tenham podido dedicar um segundo sequer às origens hitlerianas e terroristas da gloriosa irmandade – certamente por falta de tempo. Que outras razões haveria para esconder uma matriz tão inspiradora?3

O regimento Azov

Dos Estados bálticos para a Ucrânia, dos Irmãos da Floresta dos anos quarenta para o actual e activo regimento Azov, um bastião da «pureza rácica» ucraniana, como estipula o seu fundador, Andriy Biletski, aliás o «Fuhrer Branco». Pretende assim que os genes dos seus compatriotas «não se misturem com os de raças inferiores», cumprindo «a sua missão histórica de comandar a Raça Branca mundial na sua cruzada final pela sobrevivência».

Ao contrário do que possam pensar, isto não é folclore nem delírio sob efeito de qualquer fumo. O grupo nazi designado Batalhão Azov, e outros do género, receberam treino de instrutores norte-americanos e da NATO e foram decisivos no êxito do golpe «democrático» de 2014 na Praça Maidan, em Kiev. Depois disso, foram transformados em regimentos integrados na Guarda Nacional, o novo corpo militar nascido da «revolução» e que se tornou a guarda pretoriana do regime fascista patrocinado pela Aliança Atlântica, os Estados Unidos e a União Europeia4 .

O regimento Azov e outros grupos neonazis, inspirados pela figura de Stepan Bandera, um executor do genocídio hitleriano contra as populações ucranianas, tornaram-se corpos fundamentais na agressão do actual regime contra as populações ucranianas russófonas da região de Donbass.

Os membros do regimento Azov orgulham-se de posar com as bandeiras nazi e da NATO, dando-se assim a conhecer ao mundo.

A gratidão é uma atitude que nunca fica mal. Mesmo aos nazis.

Sob o regime actual em Kiev, a Ucrânia tornou-se, de facto, membro da NATO. Trata-se, como nos Estados bálticos, de combater a terrível «ameaça russa». Para executar tão nobre missão até o nazismo engrossa as hostes da «democracia».

Abdelhakim Belhadj

Embora desempenhando, desde 2015, a tarefa mais recatada e menos mediática de emir do Daesh, ou Estado Islâmico, no Magrebe, Abdelhakim Belhadj não desapareceu como figura de referência das transformações «libertadoras» que galoparam pelo Médio Oriente e Norte de África sob as exaltantes bandeiras das «primaveras árabes».

Abdelhakim Belhadj, para quem não se recorda, foi um dos chefes terroristas islâmicos que contribuíram, em aliança com a NATO, para «libertar a Líbia» do regime de Khaddafi. Houve-se tão bem da missão que a aliança fez dele «governador militar de Tripoli» logo que as hordas fundamentalistas tomaram a capital líbia.

Quando ainda mal aquecera o lugar, a tutela atlantista enviou-o para a Síria formar o «Exército Livre», o grupo terrorista «moderado» no qual os Estados Unidos e os seus principais parceiros da NATO apostaram inicialmente todas as fichas com o objectivo de «libertar Damasco».

Abdelhakim Belhadj recebeu honrarias dos Estados Unidos, outorgadas pelo embaixador na Líbia e pelo falecido senador McCain, então movendo-se febrilmente entre a Líbia, a Síria e a Ucrânia, onde foi um dos principais timoneiros do golpe de Maidan e das suas frentes nazis.

A partir de 2015, segundo a Interpol, Belhadj tornou-se emir do Daesh – o tão proscrito Estado Islâmico – no Magrebe.

Porém, cada vez que algum jornalista a sério mexe em acontecimentos da história recente arrisca-se a encontrar-se com a figura de Belhadj. Foi o que sucedeu com profissionais do jornal espanhol Publico: ao investigarem o envolvimento dos serviços de informações de Madrid (CNI) no atentado terrorista de 11 de Março de 2004, que provocou 200 mortos, depararam com outras situações que dizem muito sobre o tipo de «democracia» em que vivemos.

Segundo o próprio chefe do governo espanhol da época, José María Aznar – invasão do Iraque, lembram-se? –, Abdelhakim Belhadj foi um dos estrategos do atentado, embora nunca tenha sido preso nem julgado.

O curioso é que o atentado começou por ser atribuído à ETA e depois à al-Qaida; e que a maior parte dos operacionais detidos eram informadores dos serviços secretos espanhóis.

Mais curioso ainda é o facto de o tema do exercício europeu CMX 2004 da NATO, que decorreu de 4 a 10 de Março, tenha sido precisamente o da simulação de um atentado com as características do que aconteceu em 11 de Março na capital espanhola. «A semelhança do cenário elaborado pela NATO com os acontecimentos ocorridos em Madrid provoca calafrios na espinha e impressionou os diplomatas, militares e serviços de informações que participaram no exercício apenas algumas horas antes», escreveu o jornal El Mundo, inconformado com a tese que acabou por ficar para a história: atentado cometido por uma rede islamita sem ligações à al-Qaida.

Entre as névoas do caso avultam, porém, algumas circunstâncias que é possível focar: a declaração de Aznar envolvendo Abdelhakim Belhadj, que se revelou vir a ser uma aposta da NATO antes de ter ascendido ao topo do Estado Islâmico no Magrebe; e os dons proféticos desta mesma NATO, concebendo um tema para exercícios que se tornou realidade menos de 24 horas depois.

O santuário nazi de Turim

Há poucos dias, a polícia italiana descobriu um arsenal de armamento num santuário nazi em Turim, Itália.

O que à primeira vista poderia ser mais um armazém de velhas e nostálgicas recordações dos fãs do Fuhrer mudou de figura quando foram desembalados alguns sofisticados mísseis que não costumam estar ao alcance de pequenos e médios traficantes de armas.

Diz a imprensa italiana que os investigadores do caso seguiram pistas que conduziam até aos grupos nazis ucranianos mas não obtiveram dados consistentes. E provavelmente não encontrarão esses e outros elementos: a verdade é que as notícias sobre o assunto quase desapareceram. O caso é um nado-morto.

Já as redes clandestinas formadas pela NATO, do tipo Gládio, não estarão mortas, desafiando todas as propagandas, como recordaram alguns jornalistas italianos.

A história do arsenal está mal contada e, previsivelmente, será arquivada com celeridade; já o apoio da NATO aos grupos nazis ucranianos não suscita dúvidas: os próprios beneficiários o confessam. Porém, não é um auxílio que deva ser feito aos olhos de todos, tratando-se da NATO, uma aliança que existe para «defender a democracia» – a NATO só defende, nunca ataca, como se sabe. A verdade é que desde que passou de batalhão a regimento da Guarda Nacional o grupo terrorista Azov foi equipado com armas pesadas, incluindo tanques, que chegaram de algum lado. Talvez agora seja a hora dos mísseis, quem sabe? Ainda recentemente as forças policiais italianas e o regimento Azov assinaram um acordo de cooperação desbravando novos caminhos.

É provável que todas estas relações dêem os seus frutos; é improvável, porém, que cheguem ao conhecimento dos cidadãos comuns, tal como o desfecho do mistério dos mísseis nazis de Turim.

A grande irmandade

Irmãos da Floresta, regimento Azov, Abdelhakim Belhadj, o Estado Islâmico e o terrorismo «moderado», fornecimento clandestino de armamento sofisticado. Não é necessário escavar muito estas histórias, casos e mistérios para tropeçarmos na associação entre a NATO e os nazi-fascismos, duas correntes que, a acreditar na propaganda oficial, deveriam ser como a água e o azeite.

Afinal não. Trata-se de uma fluida cooperação nos tempos em que se fala no risco de uma nova guerra mundial e que traz raízes consolidadas na altura em que o anterior conflito ainda não tinha acabado.

É, como se percebe, uma grande e frutífera irmandade. Factos são factos.

  • 1. Note-se que os teóricos nazis atribuíam desde os anos 30, na sua propaganda, o estatuto de «raça superior» aos povos estónio e letão, facilitando a formação dos sanguinários esquadrões da morte bálticos integrados nas Waffen SS, tão ou mais temidos pelos povos e etnias que viviam no território soviético ocupado pela Alemanha nazi do que os próprios alemães.
  • 2. No período posterior à derrota hitleriana no Báltico os Irmãos da Floresta mantiveram-se activos até meados da década de 50. Actualmente, os próprios admiradores destes colaboradores nazis no Báltico reciclados reconhecem o carácter terrorista dos seus heróis, como é fácil de confirmar através do volume de baixas soviéticas nos anos de 1944-1958 no Báltico: mais de 25 mil civis foram assassinados e muitos torturados antes de executados, enquanto os polícias que combatiam os Irmãos da Floresta tiveram quatro mil baixas. Outro pormenor menos ventilado é que o maior apoio interno daquelas organizações provinha dos poderosos e ricos latifundiários da região, que tinham um profundo ódio aos camponeses que os tinham expropriado durante os anos da Revolução Russa. Após a deportação para a Sibéria, no final dos anos 40, da maioria dos grandes proprietários de terras no Báltico, a actividade dos Irmãos da Floresta decaiu consideravelmente, apesar de todos os esforços da CIA e dos serviços secretos britânicos para reactivá-los. O golpe final foi dado após a amnistia concedida pelas autoridades soviéticas após a morte de José Estaline, em 1953. O leitor terá de procurar em língua russa (mesmo que em sítios como a insuspeita Rádio Liberdade, financiada pelo governo americano) as fontes documentais sobre este assunto, visto os websites do Ocidente serem consideravelmente parcos a respeito destes dados e optarem habitualmente por uma visão puramente apologética dos Irmãos da Floresta, escondendo a sua verdadeira natureza.
  • 3. Neonazis e veteranos da Waffen-SS voltaram a marchar em Riga em Março de 2019, como denunciou o AbrilAbril em artigo publicado na altura.
  • 4. O regimento Azov [ou «Batalhão Azov», ou muito simplesmente «Azov»] é uma organização paramilitar criada em 2014, durante os protestos da praça Euromaidan e do golpe de Estado que lhe foi subsequente. É enquadrado e remunerado pelo Ministério do Interior da Ucrânia como um dos membros da chamada Guarda Nacional, que confere poderes estatais a este e outros grupos fascistas ucranianos. Originalmente fundado como um grupo paramilitar voluntário, é acusado de ser uma organização neonazi e neofascista, além de estar envolvido em vários casos de abusos de direitos humanos e crimes de guerra leste da Ucrânia, principalmente em casos de torturas, estupros, saques, limpeza étnica e perseguição de minorias como homossexuais, judeus e russos. O Azov tem ligações a grupos nazi-fascistas internacionais, como em Itália ou no Brasil onde recruta combatentes na guerra que move contra as populações do Donbass, no leste da Ucrânia.
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E admite claramente que a NATO trava na Ucrânia uma «guerra por procuração», buscada pela Casa Branca. No entanto, critica a actual administração por não fazer o suficiente, defendendo que deve promover ainda mais a escalada do conflito.

Segundo refere o portal multipolarista.com, tendo por base informações divulgadas na imprensa dominante, a administração de Biden enviou para a Ucrânia mais de 17 mil armas anti-tanque, incluindo mísseis Javelin, e 2000 mísseis anti-aéreos Stinger – alguns dos quais foram parar directamente às forças neonazis do Batalhão Azov.

A mesma fonte indica que, depois de ter enviado para a Ucrânia, no final de Fevereiro, armas no valor de 350 milhões de dólares, a Casa Branca aprovou uma pacote de ajuda adicional no valor de 13,6 mil milhões de dólares, em Março, incluindo 6,5 mil milhões em apoio militar.

Uma «inundação» de armas

Para Eliot Cohen, isto não basta. «O fluxo de armas que entra na Ucrânia tem de ser uma inundação», escreveu em The Atlantic.

«Os Estados Unidos e os seus aliados da NATO estão envolvidos numa guerra por procuração com a Rússia», disse. «Estão a fornecer milhares de munições e, esperemos, fazendo muito mais – partilhando inteligência, por exemplo – com o objectivo de matar soldados russos».

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Activistas norte-americanos protestam contra o negócio da guerra

Um grupo de pessoas manifestou-se, esta segunda-feira, na sede da empresa de armamento norte-americana Raytheon Technologies, em Cambridge, Massachusetts, contra o negócio da guerra.

Acção contra o negócio da guerra na sede da Raytheon, em Cambridge, Massachusetts 
Créditos@resist_abolish

No cimo da sede da Raytheon, cinco pessoas penduraram panos em que pediam o fim de todos os conflitos bélicos e denunciavam que a empresa em causa, um dos gigantes da indústria do armamento, lucra com a morte no Iémen, na Palestina e na Ucrânia [vídeo].

Outras, mais abaixo, mostraram faixas em que denunciavam o lucro da empresa com o «genocídio» e que os seus «mísseis matam civis».

De acordo com a informação divulgada na conta de Twitter da organização Resist and Abolish the Military Industrial Complex (RAM INC), a Polícia deteve as pessoas envolvidas na acção de protesto – que foram mais tarde libertadas.

Por um protesto realizado o ano passado à entrada das instalações da Raytheon em Portsmouth, no estado norte-americano de Rhode Island, a organização enfrenta uma multa de 3000 dólares, segundo informa na mesma rede social.

A Raytheon, que o ano passado anunciou vendas no valor de 64,4 mil milhões de dólares, tem entre os seus clientes a Arábia Saudita, o Catar e os Emirados Árabes Unidos.

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Empresas de armamento lucram com o trabalho dos reclusos nos EUA

«Reclusos que ganham centavos fabricam armas multimilionárias», revela o MintPress News. As maiores empresas de armas dos EUA encontram novas formas de tirar proveito do complexo industrial das prisões.

Um grupo de reclusos regressa aos dormitórios, no regresso do trabalho, na Prisão Estatal de Louisiana, em Angola, EUA 
CréditosGerald Herbert / innocenceproject.org

Um estudo do MintPress News indica que, «em muitos casos, as armas de guerra são fabricadas directamente com recurso a trabalho penitenciário sob coacção».

Centrada nas cem maiores empresas privadas contratadas pelo Departamento da Defesa norte-americano, a investigação mostra que 37% também lucram com norte-americanos reclusos, tanto em prisões como nos campos do Serviço de Imigração e Controlo de Fronteiras (ICE).

Entre os 25 maiores fabricantes de armas, 16 beneficiam do trabalho dos reclusos. A lista completa das 37 empresas que lucram com o «encarceramento massivo» pode ser consultada aqui (apresentada por ordem do valor dos contratos recebidos do Departamento da Defesa).

A lista, explica o jornalista Alan MacLeod, foi criada com base na recolha de dados do portal da administração norte-americana usaspending.gov. Os dados relativos às cem maiores empresas militares privadas contratadas no último ano fiscal completo foram comparados com uma base de dados de agentes do sector privado da indústria prisional, organizada pelo grupo Worth Rises, que defende o desmantelamento da indústria das prisões e o fim da exploração que ela implica.

«"historicamente, o governo federal atribuiu subsídios para testar nas prisões a tecnologia que está a ser desenvolvida para a luta contra o terrorismo"»

Chris Hedges, jornalista e professor no sistema prisional a quem foi pedido um comentário, não ficou chocado com o facto de quase dois terços dos maiores agentes da indústria da defesa estarem bastante envolvidos no negócio das prisões. «O tecido da indústria da defesa, o Estado carcerário, a indústria da inteligência, está tudo interligado. E acho que estas descobertas o provam», disse.

O MintPress falou igualmente com a fundadora e directora executiva da Worth Rises, Bianca Tylek, que também não se mostrou surpreendida.

«Há uma sobreposição considerável entre as duas indústrias, o que não é surpreendente; são indústrias controversas. As empresas que operam numa indústria controversa não temem participar noutra. Onde vemos uma sobreposição particular é na tecnologia de segurança e vigilância. Na verdade, historicamente, o governo federal atribuiu subsídios para testar nas prisões a tecnologia que está a ser desenvolvida para a luta contra o terrorismo», disse.

Não é uma indústria artesanal

Uma dessas empresas «controversas» é a Raytheon, que o ano passado anunciou vendas no valor de 64,4 mil milhões de dólares e que também recorre à vasta população prisional dos Estados Unidos como mão-de-obra barata quase infinita para fabricar alguns dos seus produtos mais caros.

Os reclusos, refere o texto, são obrigados a trabalhar por apenas 23 centavos por hora (menos impostos e outras taxas) para empresas subcontratadas que fabricam peças para mísseis Patriot que custam até 5,9 milhões de dólares (cada um), o que significa que um preso teria de trabalhar quase 3000 anos, 24 horas por dia, para ser capaz de pagar o que está a fazer.

«As armas da Raytheon têm sido cruciais para os bombardeamentos levados a cabo pela coligação liderada pelos sauditas no Iémen»

A administração norte-americana autoriza a Raytheon e outros a venderem os seus produtos a alguns dos governos que mais violam os direitos humanos, afirma o MintPress News, incluindo nessa lista os da Arábia Saudita, do Catar e dos Emirados Árabes Unidos.

As armas da Raytheon têm sido cruciais para os bombardeamentos levados a cabo pela coligação liderada pelos sauditas no Iémen, criando aquilo que as Nações Unidas classificam como «a pior crise humanitária do mundo».

Desde o início da guerra de agressão, a Raytheon vendeu a Riade equipamento pelo menos no valor de 3,3 mil milhões de dólares. Em 2018, a aviação saudita usou um míssil fabricado pela Raytheon para fazer explodir um autocarro cheio de crianças iemenitas, provocando a morte a 51 pessoas. «Se esta história foi notícia, há seguramente muitos outros casos semelhantes que nunca chegam ao público ocidental», frisa o portal.

Reclusos na Prisão Estatal de San Quentin, Califórnia (EUA) / VCG / CGTN

Exemplos de «promiscuidade» entre Defesa e sistema prisional

Reclusos nos EUA fabricam equipamentos electrónicos, ópticos e arneses para a BAE Systems, incluindo para o seu veículo de combate Bradley, um pilar do Exército norte-americano. Por este trabalho, os presos recebem cerca de 100 dólares por mês, segundo informação divulgada.

Várias subsidiárias da BAE Systems – incluindo o fabricante de equipamentos militares e policiais Armor Holdings (que fabrica a maioria das mochilas do Exército dos EUA) e a empresa de tecnologia de câmaras, segurança e espionagem Fairchild Imaging – também aparecem na lista de empresas que vendem para a indústria prisional, elaborada pela Worth Rises.

«Há diversas grandes empresas contratadas pela Defesa que também operam na indústria prisional.»

BAE Systems, General Dynamics e Lockheed Martin estão entre as empresas que mais lucram com o trabalho prisional, segundo a Worth Rises, que as marca com «nota máxima» no índice de danos.

Há diversas grandes empresas contratadas pela Defesa que também operam na indústria prisional. Um dos exemplos apontados pelo MintPress News é o da General Electric e das suas subsidiárias, envolvidas na construção e no equipamento das prisões, no fornecimento de alimentos e na supervisão dos cuidados de saúde.

Porventura, o agente mais importante na ligação da indústria prisional à militar é empresa estatal Unicor (também conhecida como Federal Prison Industries). Empregando 16 mil reclusos a nível nacional em 2021, a Unicor anunciou receitas de 528 milhões de dólares o ano passado.

Fabricando de tudo – desde têxteis até equipamentos de escritório e electrónicos –, a empresa presta um serviço vital ao complexo industrial militar, fornecendo-lhe um fluxo quase interminável de mão-de-obra cativa e praticamente gratuita para explorar, destaca o portal.

Ao contrário da Raytheon e da Lockheed Martin, que mantêm em silêncio a ligação a esta fonte controversa de trabalho, a Unicor parece orgulhar-se dela, ostentando-a na sua página de Internet.

Conversa progressista até falar o dinheiro

Muitas das 37 empresas listadas são conhecidas como fabricantes de armas, mas outras poderão não ser associadas à indústria das armas. A CACI International, por exemplo, está longe de ser um nome familiar, apesar de empregar mais de 22 mil pessoas em todo o mundo.

O principal cliente da CACI é o governo dos EUA, a quem fornece uma vasta gama de serviços profissionais e de tecnologias da informação. Localizada no Norte da Virgínia, é uma das muitas empresas que se banqueteiam com os contratos de guerra do Iraque e do Afeganistão.

«O ano passado, o director executivo da CACI, John Mengucci, referiu-se à retirada do Afeganistão como má para o negócio.»

A CACI promove-se a si mesma como um «empregador progressista», e o seu portal está cheio de conversa sobre «diversidade» e «inclusividade», além de se vangloriar de estar na lista da Forbes do «top mais» das empresas «amigas das mulheres».

Mas esta conversa «progressista» dura até que o dinheiro fale. Em 2016, revela o MintPress, a CACI lançou uma oferta e ganhou um contrato de 93 milhões de dólares com o Serviço de Imigração e Controlo de Fronteiras para fazer a manutenção dos seus centros de detenção – edifícios que foram amplamente descritos como campos de concentração.

O ano passado, o director executivo da CACI, John Mengucci, referiu-se à retirada do Afeganistão como má para o negócio. E tinha razão: em 2019, a CACI assegurou um contrato de 907 milhões de dólares, por um período de cinco anos, para «fornecer operações de inteligência e apoio analítico» às forças dos EUA no Afeganistão.

Além disso, em 2021, o Supremo Tribunal dos EUA rejeitou o recurso da CACI relativo ao processo instaurado por um grupo de iraquianos pelo alegado envolvimento da empresa em tortura e agressão sexual, na célebre prisão de Abu Ghraib.

Neoliberalismo e exploração nos cárceres

As condições prisionais nos Estados Unidos estão entre as piores do mundo desenvolvido, denuncia o MintPress News. A maior parte dos estados exige que os reclusos recebam uma compensação financeira pelo seu trabalho, mas os salários podem ser embargados para pagamento de pensões de alimentos, restituições à vítima e até alojamento e alimentação. Em cinco estados – Texas, Arkansas, Alabama, Geórgia e Florida – os reclusos são obrigados a trabalhar sem qualquer pagamento.

«Isto é trabalho em condições de servidão; não se pode organizar; não pode fazer greve; não pode protestar pelas más condições. O pagamento está muito abaixo do salário mínimo», disse Hedges ao MintPress.

Assim, a enorme população prisional satisfaz as necessidades das empresas norte-americanas de duas formas: primeiro, fornece uma gigantesca reserva de mão-de-obra barata e disciplinada para explorar, ajudando-as a competir com «fábricas de miséria» na Ásia; em segundo lugar, actua como uma ferramenta disciplinadora do «trabalho livre», ajudando a acabar com os sindicatos e a reduzir os salários e as condições de trabalho em todo o país.

A Worth Rises faz parte de um conjunto de organizações que consideram que parte do trabalho prisional se assemelha à escravidão, pelo que tem feito campanha para alterar a 13.ª Emenda, que permite que a escravidão seja usada como forma de punição de um crime.

«Pessoas nas ruas de Detroit, Newark ou no Leste de Nova Iorque não valem nada aos olhos do Estado corporativo. Mas, se forem fechadas numa gaiola, têm capacidade para gerar 50 ou 60 mil dólares por ano para essas empresas.»

Tendo em conta que a economia foi esvaziada e os empregos foram transferidos para o estrangeiro, grande parte da população trabalhadora do país tornou-se, aos olhos das empresas norte-americanas, excedentária em relação às necessidades económicas, afirma o MintPress News.

Já não são necessários para trabalhar nas fábricas e são efectivamente inúteis para gerar lucros para outros. Hedges encara a ascensão do complexo industrial prisional como uma resposta a isto.

«Pessoas nas ruas de Detroit, Newark ou no Leste de Nova Iorque não valem nada aos olhos do Estado corporativo. Mas, se forem fechadas numa gaiola, têm capacidade para gerar 50 ou 60 mil dólares por ano para essas empresas. Então, nesse sentido, é um continuum completo [desde a escravidão]», disse.

Com quase 2,3 milhões de pessoas atrás das grades numa rede de mais de 7000 instalações, os Estados Unidos têm de longe a taxa mais elevada de encarceramento do mundo, encarcerando os seus cidadãos a uma taxa dez vezes superior à de países europeus como a Suécia ou a Dinamarca e 17 vezes mais elevada que a do Japão.

A explosão da população prisional dos EUA reflecte de perto a ascensão do neoliberalismo como a ideologia dominante, afirma o portal, precisando que, antes da administração Reagan, os números das prisões norte-americanas eram comparáveis aos da Europa. No entanto, entre 1984 e 2005, uma nova cadeia foi construída, em média, a cada 8,5 dias, atingindo o pico em 2009.

Tylek, da Worth Rises, criticou fortemente o custo e o desperdício do empreendimento. «Em muitos lugares, as populações prisionais caíram nos últimos anos. E, no entanto, os orçamentos dessas agências continuam a aumentar. Nada o justifica», disse.

A indústria prisional «para lá dos limites» tornou-se tão normalizada que é objecto de entretenimento ligeiro. Em 2020, um novo jogo, chamado «Prison Empire Tycoon», tornou-se viral, convertendo-se no jogo de estratégia número um na App Store da Apple.

O objectivo do jogo é supervisionar e administrar uma prisão com fins lucrativos. Durante o tutorial, no início, um guarda empunhando um bastão instrui os jogadores, dizendo-lhes que «o Estado paga bom dinheiro» para lidar com os «criminosos».

Reclusos na Prisão Estatal de Louisiana, em Angola (EUA) / Gerald Herbert / MintPress News

A pagar a dívida?

Uma forma de gerar mais lucro, tanto no jogo como na realidade, é transferir os custos para os próprios reclusos. As pessoas encarceradas agora têm de pagar regularmente artigos essenciais como sabão, pasta de dentes e champô, bem como chamadas para os seus entes queridos. A outros exigem-lhes co-pagamentos para consultar um médico ou para despesas de alojamento, a serem descontadas dos salários ganhos.

«Corporações financeiras como a JPay e a JP Morgan Chase fazem parcerias com instituições penitenciárias para garantir o melhor negócio para eles – e o pior negócio para os presos.»

Muitas vezes, apenas o facto de se ser enviado para um estabelecimento prisional implica uma «taxa de processamento» de 100 dólares, que os reclusos têm de pagar, enquanto aos visitantes são cobradas regularmente quantias por verificações de antecedentes. Amigos e familiares dos presos transferem 1,8 mil milhões de dólares para estabelecimentos prisionais todos os anos.

Sem outra opção, são forçados a aceitar taxas de transferência de dinheiro até 45%. Corporações financeiras como a JPay e a JP Morgan Chase fazem parcerias com instituições penitenciárias para garantir o melhor negócio para eles – e o pior negócio para os presos. Tylek disse ao MintPress: «Estar preso é muito caro. É tão caro que endivida muitas famílias que apoiam pessoas que estão encarceradas.»

Trazer as guerras para casa

Hedges, que passou muito tempo a ensinar no sistema penitenciário de New Jersey, também observou as semelhanças entre as prisões e os militares, comentando que os guardas são frequentemente recrutados nas Forças Armadas ou na Guarda Nacional. Cada vez mais, os guardas parecem-se com as equipas SWAT, com armas letais de alta tecnologia. «Tudo é militarizado», disse Hedges. E acrescentou:

«Dirigem-se a ti pelo teu número, não pelo teu nome. És obrigado a andar em fila indiana pelos corredores. Qualquer infracção […] pode fazer com que acabes por ser espancado ou atirado para a solitária e despojado dos poucos privilégios que tens. É o microcosmo perfeito do Estado totalitário.»

«À medida que os impérios decaem (...), muitas vezes trazem de volta a repressão que infligem no estrangeiro»

Por seu lado, Tylek disse que, «em muitos casos, o governo está a reagir ao crime a nível nacional da mesma forma que responde à guerra internacional. E isto deve-se ao facto de que muitos dos mesmos fornecedores estão a facultar equipamento tecnológico para esses dois ambientes».

À medida que os impérios decaem – argumentou Hedges –, muitas vezes trazem de volta a repressão que infligem no estrangeiro, usando na população nacional tácticas aprimoradas para reprimir a dissidência estrangeira.

Hoje, as comunidades pobres nos EUA estão a ser governadas de uma forma cada vez mais militarizada, nota o MintPress News, enquanto os oprimidos pelo complexo industrial prisional no país são coagidos a fornecer o seu trabalho para reforçar o complexo industrial militar no estrangeiro. E, a cada passo, as empresas norte-americanas continuam a lucrar.

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As suas armas têm sido fundamentais para os bombardeamentos levados a cabo pela coligação liderada pelos sauditas no Iémen, ajudando a criar aquilo que as Nações Unidas classificam como «a pior crise humanitária do mundo».

Desde o início da guerra de agressão, a Raytheon vendeu a Riade equipamento pelo menos no valor de 3,3 mil milhões de dólares, segundo refere o MintPress News.

Em 2018, a aviação saudita usou um míssil fabricado pela Raytheon para fazer explodir um autocarro cheio de crianças iemenitas, provocando a morte a 51 pessoas.

A indústria de armamento dos EUA também tem lucrado bastante com a actual situação na Ucrânia, tendo como base os contratos celebrados com países ocidentais que estão a aumentar as suas despesas na área da defesa.

Segundo revelou o diário The Hill na semana passada, o valor das acções da Lockheed Martin disparou quase 25% desde o início do ano, enquanto o de outras empresas do sector como Raytheon, General Dynamics e Northrop Grumman subiu cerca de 12%, cada qual.

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«Para vergar a vontade da Rússia e libertar a Ucrânia da conquista e da subjugação, muitos soldados russos têm de fugir, render-se ou morrer, e, quantos mais e mais depressa, melhor», acrescentou o apoiante das invasões do Iraque e do Afeganistão, que também pedia a guerra com o Irão.

Embora não esteja directamente no governo, Cohen trabalha para o think tank neoconservador Center for Strategic and International Studies (CSIS), que recebe fundos do governo, da indústria de armamento e das empresas de combustíveis fósseis.

De acordo com o portal norte-americano, a «perspectiva ultra-belicosa de Cohen é bastante representativa dos falcões [da guerra] em Washington» e «o seu artigo em The Atlantic permite vislumbrar de forma honesta como os planificadores imperialistas norte-americanos encaram a crise na Ucrânia: uma oportunidade para usar o povo ucraniano como carne para canhão numa guerra por procuração» contra a Rússia.

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Das muitas sugestões da Rand, Sterling destaca reposicionar os bombardeiros a uma distância de ataque fácil dos alvos estratégicos russos; colocar mais armas nucleares tácticas em locais da Europa e da Ásia; aumentar a presença das forças navais norte-americanas e dos seus aliados nas zonas de operações da Rússia (Mar Negro).

Ainda a realização de exercícios de guerra da NATO junto às fronteiras da Rússia; e a retirada de Washington do Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermediário (INF).

De acordo com Sterling, a alternativa, que podia ter evitado a actual intervenção militar russa, teria sido declarar a Ucrânia não apta para a NATO. «Mas isto teria sido o oposto da intenção de Washington de pressionar, provocar e ameaçar deliberadamente a Rússia», refere.

Em Dezembro do ano passado, refere, a Rússia propôs a celebração de um tratado com os Estados Unidos e a NATO, e a proposta central era um acordo, por escrito, segundo qual a Ucrânia não se tornaria membro da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO).

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Rússia insta países ocidentais a travar avanço para leste

Com vista a garantir a segurança da Europa e impedir o avanço da NATO para leste, a diplomacia russa defende negociações imediatas e a celebração de acordos juridicamente vinculativos.

Um tanque norueguês participa em exercícios militares na Polónia (imagem de arquivo)  
CréditosSean Gallup / RT

Na sequência do encontro recentemente mantido entre os presidentes russo, Vladimir Putin, e norte-americano, Joseph Biden, o Ministério russo dos Negócios Estrangeiros afirma que «o diálogo é urgentemente necessário», tendo em conta a «linha crítica» para que caminham as relações entre a Federação Russa e o Ocidente.

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Ucrânia oferece o seu território para instalar sistema de defesa aéreo dos EUA

O apelo da Ucrânia aos EUA para que enviem tropas e sistemas anti-mísseis para o país foi classificado pela Rússia como uma «provocação grosseira», que não ficará «sem retaliação».

Créditos / PressTV

Numa reunião em Washington com o presidente da Jamestown Foundation, Glen Howard, o vice-ministro ucraniano para a Reintegração dos Territórios Não Controlados, Alexei Reznikov, abordou aquilo a que chamou a necessidade de expandir o pacote de segurança para a Ucrânia.

Para esse efeito, sugeriu a instalação de meios de defesa anti-aérea dos Estados Unidos e mesmo o destacamento de unidades de tropas norte-americanas, refere a agência TASS.

Reznikov defendeu que a legislação ucraniana permite o destacamento de tropas estrangeiras no país e disse estar preocupado com a alegada intenção da Rússia de colocar armas nucleares na Crimeia.

Reagindo a estas «especulações» do lado ucraniano, o presidente da Comissão para os Assuntos Externos da Duma Estatal, Leonid Slutsky, recorreu à rede social Telegram para afirmar que o destacamento de sistemas norte-americanos de defesa anti-mísseis na Ucrânia poderia alterar o equilíbrio de forças na região e fora dela, informa a agência russa.

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Rússia tomará «medidas adicionais» se a NATO destacar tropas para a Ucrânia

O aviso do Kremlin sobre o reforço das fronteiras russas ocorre depois de Kiev se ter referido à «postura pró-activa» dos EUA no «apoio à soberania» e «restauração da integridade territorial» ucraniana.

Soldados ucranianos (imagem de arquivo) 
A NATO tem vindo a reforçar a sua presença no chamado Flanco Leste Créditos / @14Milimetros

Moscovo alertou que não irá ficar de braços cruzados caso a NATO destaque tropas para a Ucrânia, um passo que «levaria a um novo aumento de tensões perto das fronteiras» e que «requererá medidas adicionais por parte da Rússia para garantir a sua segurança», afirmou esta sexta-feira à imprensa Dmitri Peskov, porta-voz do Kremlin.

Antes disto, revela a RT, o Ministério ucraniano da Defesa emitiu um comunicado sobre a conversa telefónica mantida dia 1 de Abril com o secretário da Defesa dos EUA, Lloyd Austin, que comunicou aos ucranianos a «postura pró-activa» do seu país «no apoio à soberania e aos passos para restaurar a integridade territorial da Ucrânia».

«Os EUA não deixarão a Ucrânia sozinha face à escalada da agressão da Rússia», afirmou o Ministério ucraniano da Defesa, que acusa Moscovo de anexar e ocupar a Crimeia, e de apoiar o movimento de resistência antifascista na região do Donbass, no Leste do país, onde recentemente, lembra a RT, se registaram novos episódios de violência na linha de demarcação com os territórios das repúblicas de Donetsk e Lugansk.

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Secretário-geral da NATO entrevistado na RTP

Fascismo na Ucrânia ou destruição da Líbia? Não, ameaça russa!

Na entrevista que a RTP1 transmitiu esta segunda-feira, Jens Stoltenberg, secretário-geral da NATO, falou dos «muitos desafios complexos» com que a Aliança Atlântica se depara, mas nada do expansionismo militarista e das guerras de rapina que promove.

Em entrevista à RTP, Jens Stoltenberg, secretário-geral da NATO, disse, sem «mea culpa», que a Aliança se depara com «muitos desafios complexos ao mesmo tempo»
Créditos / politico.eu

Quem tiver visto e ouvido, de cabo a rabo, a conversa de Stoltenberg ontem à noite na RTP terá ficado com a impressão de ter acabado de ver e ouvir o cavaleiro branco de uma «santa aliança» pronta a dar cabo dos negrumes do mundo: terrorismo, o Daesh ou chamado Estado Islâmico, as ameaças cibernéticas, a assertividade da Rússia, a proliferação de armas na Coreia do Norte, os conflitos que «existem» no Norte de África, no Médio Oriente, Iraque, Síria, Afeganistão.

Conflitos que por aí «há», que por aí «surgiram», e a que a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN ou NATO, na sigla em inglês) tem de fazer frente.

Apesar de ter passado uma boa parte da entrevista a falar da Rússia, no início o secretário-geral da NATO rejeitou a ideia de que a Aliança Atlântica esteja a «enfatizar a tensão com a Rússia na Europa de Leste», sublinhando que «a maior operação militar de sempre» da NATO decorre no Afeganistão. Não fez, no entanto, qualquer menção ao histórico, mais recente ou afastado, do intervencionismo dos «aliados da NATO» no país da Ásia Central. Também não se esperava que falasse de Reagan e talibans.

Referindo-se à acção global da Aliança Atlântica, disse que esta integra «a coligação global para derrotar o Daesh» e que a NATO «fez muitos progressos nessa coligação, derrotando o Daesh no Iraque e na Síria». Mais à frente, não se quis comprometer em excesso, afirmando que a NATO não está no terreno no Norte da Síria: «Apoiamos a coligação com aviões-radar, mas não estamos no terreno», disse.

«Também não se esperava que falasse de Reagan e talibans.»

Nem «ai», nem «ui» sobre o facto de a coligação internacional que opera na Síria o fazer sem autorização do governo de Damasco e sem um mandato das Nações Unidas. E, aqui, também não houve menção ao esforço da Rússia – ao lado de Damasco.

«A Nato está preparada para defender qualquer aliado, contra qualquer ameaça, é essa a mensagem principal, o ideal principal da NATO», disse, salientando que «a razão pela qual a NATO é forte e unida não é para provocar um conflito, mas sim para evitar um conflito». Percebe-se o ultraje sentido por quem olha para o mundo e vê as guerras de agressão e saque do capitalismo, as operações de desestabilização fomentadas pelos Estados Unidos da América no pátio traseiro global – as de agora e outras mais –, tendo a NATO por braço armado.

O ex-primeiro-ministro norueguês trouxe ainda à tona a ideia da «paz na Europa durante quase 70 anos, um dos mais longos períodos de paz durante séculos na Europa», sem lhe ocorrer a menção da destruição da Jugoslávia e do golpe de 2014 na Ucrânia, com o apoio dos Estados Unidos e da União Europeia (UE), com a guerra subsequente no Donbass, onde a população rejeitou a ameaça fascista e se ergueu em armas.

Diálogo, sim, mas a culpa é da Rússia

Sobre a Rússia, Jens Stoltenberg afirmou que «é possível combinar defesa, dissuasão e diálogo». Ou seja, deu sequência ao discurso do vizinho maléfico que acossa a Europa em paz com os seus bandos de hackers e as suas campanhas de propaganda e desinformação. O secretário-geral da NATO disse mesmo que a Rússia está «mais assertiva». Tão marota que até usa «ferramentas diferentes» e, por isso, a impoluta NATO «está a responder com o reforço das ciberdefesas». A UE também já se precaveu.

«Parceria estratégica» com a Rússia é coisa que não existe – não por falta de tentativa da NATO, frisou, mas porque Moscovo «decidiu tentar reestabelecer esferas de influência e, de certa forma, controlar os seus vizinhos, como vimos na Geórgia, Moldávia e na Ucrânia».

E isto é algo que a NATO, tutelada pelos Estados Unidos da América, carregada de arsenais em prol da paz no mundo e a cavalgar há anos sobre os despojos da União Soviética e amigos, não pode tolerar. Assim, a NATO vai procurar uma forma de dizer que «são firmes», que «são fortes», mas tentando reduzir a tensão, para evitar um conflito e manter um diálogo, disse Stoltenberg.

Já a Rússia não tem nada de se preocupar com o facto de estar rodeada por países que se tornaram membros da NATO, pois foi uma decisão de «nações soberanas e independentes». E, se preocupações tem quanto à existência de uma Frente Leste da Aliança Atlântica, a culpa é sua, «consequência directa das [suas] acções agressivas contra a Ucrânia», justificou Stoltenberg, aludindo à situação no Donbass, no Leste da Ucrânia, e à reintegração da Crimeia na Federação Russa.

O secretário-geral da NATO insiste que a integridade territorial e a soberania da Ucrânia foram violadas na Crimeia e no Donbass, por forças apoiadas pela Rússia e com apoio militar russo, mas, como se estivesse num universos paralelo, não fez uma alusão, ao golpe de 2014 em Kiev, ao fascismo na Ucrânia – ou na Polónia ou na Letónia. Nem se referiu como, em Julho do ano passado, a NATO promoveu os Irmãos da Floresta, que lutaram «contra o Exército Vermelho pelas suas pátrias», no Báltico, e que integravam muitos membros das SS nazis ou colaboradores com as forças nazis invasoras.

EUA reforçam presença militar na Europa

O secretário-geral da NATO afirmou que os EUA têm mostrado que «estão empenhados nos laços transatlânticos», acrescentando que Washington está mesmo a aumentar a presença militar no continente europeu, depois de anos de declínio. «É um compromisso que vemos não são só em palavras, mas também em factos», frisou Stoltenberg.

Não abordando a questão do aprofundamento da militarização da UE, a criação da chamada cooperação estruturada permanente (CEP) e a complementaridade – que já defendeu noutros momentos – entre aquilo a que chama Defesa Europeia e a NATO, o responsável da Aliança Atlântica sempre se referiu à necessidade de cooperar em matéria de defesa na UE para «resolver a fragmentação da indústria de defesa europeia».

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Peskov, por seu lado, sublinhou que a percepção da Rússia como inimigo e adversário é «deslocada» e «inadmissível», uma vez que Moscovo «não ameaça ninguém e nunca o tinha feito», baseando toda a sua política neste principio, informa o portal russo.

Na quinta-feira, em resposta a alertas do lado ucraniano sobre movimentações de tropas russas junto à fronteira, Peskov já tinha afirmado que a transferência de tropas dentro da Federação Russa não devia preocupar ninguém, nem constitui uma ameaça para ninguém, revelou a TASS.

O funcionário do Kremlin reafirmou que «as tropas russas nunca participaram, nem estão a participar agora em conflitos armados em solo ucraniano», acrescentando, citado pela mesma fonte, que «nem a Rússia, nem os países europeus, nem outros países do mundo gostariam de ver a guerra civil na Ucrânia incendiar-se outra vez como resultado das provocações e dos passos provocadores dos militares ucranianos».

«A realidade na linha de contacto é bastante aterradora»

No Donbass, região do Leste da Ucrânia de maioria russa, onde as populações se insurgiram contra o golpe de Estado fascista de Maidan que depôs Viktor Yanukovich, em 2014, patrocinado pela União Europeia e os Estados Unidos, e onde foram autoproclamadas as repúblicas populares de Donetsk e Lugansk, a situação agudizou-se no passado dia 26 de Março, segundo a RT, com a morte de quatro soldados das Forças Armadas ucranianas, perto da localidade de Shumy, embora outras fontes assinalem, já há algum tempo, a violação repetida do cessar-fogo por parte das tropas ucranianas.

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Resistência antifascista em Donbass

O novo governo, imposto sem eleições, permitiu que grupos paramilitares fascistas dessem rédeas ao ódio anti-russo e anti-comunista. Milhares de mulheres e homens deram corpo à resistência.

Igreja destruída junto ao aeroporto de Donetsk
Créditos / Bruno Carvalho

Quando se cumpriam quatro anos da rebelião antifascista que se espalhou como pólvora por todo o leste da Ucrânia, atravessei a fronteira através da Rússia num autocarro onde viajavam meia centena de antifascistas de vários países.

Respondendo ao apelo do grupo musical italiano Banda Bassotti, que tocou duas vezes em Portugal na Festa do «Avante!», percorreram durante uma semana os territórios em resistência visitando orfanatos, hospitais, fábricas, sindicatos e autarquias.

No primeiro dia, entre Rostov-sobre-o-Don, cidade russa no Norte do Cáucaso, e a fronteira com a auto-proclamada República Popular de Lugansk (RPL), atravessámos cerca de uma centena de quilómetros de estepe.

Enquanto viajávamos por terras de cossacos, Mitya Dezhnev explicava-me como teve de fugir da sua terra para a Rússia e de como não podíamos deixar esquecer os comunistas que todavia resistiam na Ucrânia controlada por Kiev. «Queres ouvir uma canção que era muito popular no tempo da União Soviética?», perguntou-me em inglês antes de começar num quase perfeito português a cantar o «Avante, camarada!». 

Foi em 2014, uma semana depois do massacre que vitimou cerca de meia centena de pessoas em Odessa, na Ucrânia, que as populações do leste do país se insurgiram contra o golpe de Estado patrocinado pela União Europeia e pelos Estados Unidos que depôs Viktor Yanukovich.

O novo governo, imposto sem eleições, permitiu que grupos paramilitares fascistas dessem rédeas ao ódio anti-russo e anti-comunista. Sem qualquer protecção e ante a ofensiva fascista, milhares de mulheres e homens concentraram-se nas principais praças das localidades insurrectas e deram corpo à resistência.

Primeiro, tomaram as instituições e desarmaram as forças de segurança e, depois, organizaram-se militarmente constituindo milícias antifascistas. Nessa semana, as principais regiões da industrial Bacia do rio Don, conhecida como Donbass, declararam a independência e constituíram-se em dois países: a República Popular de Donetsk (RPD) e a RPL. Depois de pesados bombardeamentos que vitimaram milhares de pessoas, o apoio militar russo foi decisivo para evitar a barbárie e a conquista destes territórios por Kiev.

O cessar-fogo que formalmente se mantém é desmentido na prática pelos sucessivos confrontos na linha da frente. As sucessivas provocações patrocinadas pela NATO continuam a causar vítimas entre os civis que moram em localidades ao alcance da artilharia ucraniana. Empurrados, primeiro pelas perseguições e depois pela guerra, dezenas de milhares de ucranianos continuam exilados na Rússia ou nas zonas sob controlo das forças democráticas.

Neli Zadiraka foi outra das pessoas que conheci nessa condição. É uma das deputadas da sede do poder legislativo da RPL, o Conselho Popular de Lugansk. Foi obrigada a abandonar a sua casa em Rubezhnoe, território da região ocupado pela Ucrânia.

Foi ela que, em 2014, leu a declaração de independência da RPL e, por essa razão, é considerada terrorista pelo governo ucraniano. Neli apontou para a estrela vermelha do brasão da jovem república e explicou-me que se inspira nos símbolos e valores da União Soviética.

Esse foi, aliás, um elemento presente em toda a viagem. Para além da preservação e do respeito pelos monumentos e símbolos, a presença da foice e do martelo é constante. Em conversa com vários habitantes de Lugansk e Donetsk, a chegada do fascismo ao poder na Ucrânia veio reforçar as convicções políticas dos cidadãos de ambas as repúblicas. Mas não é algo recente. Em 2012, nas últimas eleições antes do golpe fascista, o Partido Comunista da Ucrânia conquistou 13,2% dos votos em todo o país.

Em Kiev, obteve somente 7,23% e no ocidente houve regiões em que aquele partido não superou os 2%. Mas no oriente, sobretudo, nas regiões de Donbass, os valores oscilaram entre os 18% de Odessa e os 29,46% de Sebastopol, na Crimeia. Em Donetsk, os comunistas chegaram aos 18,85% e, em Lugansk, atingiram os 25,14% dos votos.

Em Makeeva, cidade vizinha de Donetsk, a organização local do Partido Comunista da RPD organizou uma iniciativa cultural que envolveu centenas de pessoas para receber gente de tantos países, numa cerimónia em que se entregaram os cartões a dois combatentes especiais. Um miliciano vindo do Texas e outro da Colômbia que escolheram atravessar o mundo para abraçar a causa antifascista ao lado dos soldados desta região.

O colombiano decidiu baptizar-se com o nome de guerra Alfonso Cano em homenagem ao comandante histórico das FARC e contou-me que decidiu voluntarizar-se para combater o fascismo em Donbass como parte das suas convicções políticas. São muitos os combatentes internacionalistas que participam nos exércitos das duas repúblicas.

Na companhia de Boris Litvinov, Primeiro Secretário do Partido Comunista da RPD, que foi, aliás, o primeiro a encabeçar o Soviete Supremo da RPD, o novo órgão legislativo daquele país, conhecemos um dos corações industriais da Europa.

Antes de chegarmos a uma das mais importantes minas de carvão da Europa, erguia-se um muro escrito recentemente com spray: «Somos cidadãos da União Soviética». Em 2013, antes do golpe, a Ucrânia produzia 84,8 milhões de toneladas. Três anos depois, esses números baixaram para menos de metade: 41,8.

O objectivo do imperialismo, quando interveio na Ucrânia, não foi apenas levar mais longe as fronteiras da NATO, violando uma vez mais os compromissos assumidos com os últimos dirigentes soviéticos. Foi também controlar um país com importantes recursos, sobretudo na região que agora resiste ao avanço das forças apoiadas pelos Estados Unidos e União Europeia.

Nas últimas semanas, a guerra intensificou-se e muitas das pessoas com que conversei admitem que o governo de Kiev pode estar a preparar uma provocação a larga escala durante o Campeonato Mundial de Futebol. 

Petro Poroshenko, presidente da Ucrânia, acaba de ser recebido em Espanha por Pedro Sánchez, novo chefe do governo, e falava abertamente ao diário El País do falso assassinato do jornalista Arkadi Babchenko como uma técnica necessária para proteger os dissidentes.

Sem qualquer vergonha, acrescentou que há uma campanha russa de notícias falsas para destabilizar o mundo. É este o carácter de um governante que anunciava meses depois do golpe que faria tudo para que as crianças da Ucrânia pudessem ir à escola e para que as de Donbass ficassem fechadas em caves.

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Pelas mortes, o governo da Ucrânia responsabilizou «forças de ocupação russas», referindo-se, segundo a RT, a efectivos da República Popular de Donetsk, cujos representantes negaram qualquer ligação ao facto e, posteriormente, declararam que os militares ucranianos morreram por terem pisado um explosivo durante uma inspecção a campos minados.

A este propósito, Peskov disse que «não tentava fazer passar os desejos por realidade». «Para nossa desgraça, a realidade na linha de contacto é bastante aterradora, têm lugar provocações por parte das Forças Armadas da Ucrânia, e não são casos isolados, mas múltiplos», afirmou.

No que respeita à Crimeia, o governo russo considera a sua integração no país um facto consumado e inteiramente legítimo. A Ucrânia nunca reconheceu os resultados do referendo realizado em Março de 2014, pouco depois do golpe de Estado em Kiev, em que a maioria esmagadora da população do território se pronunciou a favor da reintegração na Rússia.

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O responsável russo classificou o pedido de Reznikov como «uma provocação grosseira» e sublinhou que a presença dos sistemas de defesa aérea dos EUA «perto das fronteiras com a Rússia irá sem dúvida merecer uma resposta da parte de Moscovo». «As tensões vão simplesmente aumentar», alertou Slutsky.

«É lamentável que as leis da Ucrânia permitam privá-la do que ainda resta da sua soberania e aos seus cidadãos de uma oportunidade para viver em segurança. Os políticos ucranianos estão dispostos a sacrificar tudo isto para prolongar a sua participação no projecto anti-Rússia», afirmou o funcionário russo.

As relações entre Kiev e Moscovo deterioraram-se bastante na sequência do golpe fascista de Maidan, em Fevereiro de 2014, com a Ucrânia a assumir um posicionamento consistente pró-NATO, UE e EUA e anti-russo, a acusar a Rússia de envolvimento na guerra antifascista na região do Donbass e a reclamar a recuperação da Crimeia, depois de os habitantes do território terem votado num referendo esmagadoramente a favor da reintegração na Rússia, em Março de 2014.

A Ucrânia tem acolhido no seu território, de forma recorrente, manobras militares organizadas pelos países da NATO, tanto em terra como no Mar Negro.

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«Aumentar o confronto com o nosso país é absolutamente inaceitável», afirma o governo russo num comunicado emitido dia 10, onde defende a adopção de um acordo juridicamente vinculativo que garanta que a Organização do Tratado do Atlântico Norte não avança mais para leste ou instala armamento de ataque nos países que fazem fronteira com a Rússia.

Também insiste em receber uma resposta da NATO a propostas previamente formuladas com vista à diminuição das tensões na Europa, nomeadamente sobre a realização de exercícios operacionais a uma distância acordada da linha de contacto Rússia-NATO; a coordenação da aproximação de navios e aviões de combate, para prevenir actividades militares perigosas, sobretudo nas regiões do Báltico e do Mar Negro; a renovação do diálogo regular entre os ministérios da Defesa nos formatos Rússia-EUA e Rússia-NATO.

Negociações devem começar «imediatamente»

Sobre a conversa telefónica mantida esta segunda-feira entre Vladimir Putin e o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, o gabinete de imprensa do Kremlin refere que a Rússia expôs a necessidade urgente de negociações, que devem ter início «imediato», para estabelecer acordos internacionais que impeçam qualquer expansão adicional do bloco militar.

No decorrer da conversa, Johnson manifestou preocupação com um «alegado movimento de tropas russas em larga escala junto à fronteira com a Ucrânia», a que o chefe de Estado russo respondeu com a sua visão da situação actual no país vizinho, de acordo com a nota do Kremlin, a que a RT faz referência.

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Rússia tomará «medidas adicionais» se a NATO destacar tropas para a Ucrânia

O aviso do Kremlin sobre o reforço das fronteiras russas ocorre depois de Kiev se ter referido à «postura pró-activa» dos EUA no «apoio à soberania» e «restauração da integridade territorial» ucraniana.

Soldados ucranianos (imagem de arquivo) 
A NATO tem vindo a reforçar a sua presença no chamado Flanco Leste Créditos / @14Milimetros

Moscovo alertou que não irá ficar de braços cruzados caso a NATO destaque tropas para a Ucrânia, um passo que «levaria a um novo aumento de tensões perto das fronteiras» e que «requererá medidas adicionais por parte da Rússia para garantir a sua segurança», afirmou esta sexta-feira à imprensa Dmitri Peskov, porta-voz do Kremlin.

Antes disto, revela a RT, o Ministério ucraniano da Defesa emitiu um comunicado sobre a conversa telefónica mantida dia 1 de Abril com o secretário da Defesa dos EUA, Lloyd Austin, que comunicou aos ucranianos a «postura pró-activa» do seu país «no apoio à soberania e aos passos para restaurar a integridade territorial da Ucrânia».

«Os EUA não deixarão a Ucrânia sozinha face à escalada da agressão da Rússia», afirmou o Ministério ucraniano da Defesa, que acusa Moscovo de anexar e ocupar a Crimeia, e de apoiar o movimento de resistência antifascista na região do Donbass, no Leste do país, onde recentemente, lembra a RT, se registaram novos episódios de violência na linha de demarcação com os territórios das repúblicas de Donetsk e Lugansk.

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Secretário-geral da NATO entrevistado na RTP

Fascismo na Ucrânia ou destruição da Líbia? Não, ameaça russa!

Na entrevista que a RTP1 transmitiu esta segunda-feira, Jens Stoltenberg, secretário-geral da NATO, falou dos «muitos desafios complexos» com que a Aliança Atlântica se depara, mas nada do expansionismo militarista e das guerras de rapina que promove.

Em entrevista à RTP, Jens Stoltenberg, secretário-geral da NATO, disse, sem «mea culpa», que a Aliança se depara com «muitos desafios complexos ao mesmo tempo»
Créditos / politico.eu

Quem tiver visto e ouvido, de cabo a rabo, a conversa de Stoltenberg ontem à noite na RTP terá ficado com a impressão de ter acabado de ver e ouvir o cavaleiro branco de uma «santa aliança» pronta a dar cabo dos negrumes do mundo: terrorismo, o Daesh ou chamado Estado Islâmico, as ameaças cibernéticas, a assertividade da Rússia, a proliferação de armas na Coreia do Norte, os conflitos que «existem» no Norte de África, no Médio Oriente, Iraque, Síria, Afeganistão.

Conflitos que por aí «há», que por aí «surgiram», e a que a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN ou NATO, na sigla em inglês) tem de fazer frente.

Apesar de ter passado uma boa parte da entrevista a falar da Rússia, no início o secretário-geral da NATO rejeitou a ideia de que a Aliança Atlântica esteja a «enfatizar a tensão com a Rússia na Europa de Leste», sublinhando que «a maior operação militar de sempre» da NATO decorre no Afeganistão. Não fez, no entanto, qualquer menção ao histórico, mais recente ou afastado, do intervencionismo dos «aliados da NATO» no país da Ásia Central. Também não se esperava que falasse de Reagan e talibans.

Referindo-se à acção global da Aliança Atlântica, disse que esta integra «a coligação global para derrotar o Daesh» e que a NATO «fez muitos progressos nessa coligação, derrotando o Daesh no Iraque e na Síria». Mais à frente, não se quis comprometer em excesso, afirmando que a NATO não está no terreno no Norte da Síria: «Apoiamos a coligação com aviões-radar, mas não estamos no terreno», disse.

«Também não se esperava que falasse de Reagan e talibans.»

Nem «ai», nem «ui» sobre o facto de a coligação internacional que opera na Síria o fazer sem autorização do governo de Damasco e sem um mandato das Nações Unidas. E, aqui, também não houve menção ao esforço da Rússia – ao lado de Damasco.

«A Nato está preparada para defender qualquer aliado, contra qualquer ameaça, é essa a mensagem principal, o ideal principal da NATO», disse, salientando que «a razão pela qual a NATO é forte e unida não é para provocar um conflito, mas sim para evitar um conflito». Percebe-se o ultraje sentido por quem olha para o mundo e vê as guerras de agressão e saque do capitalismo, as operações de desestabilização fomentadas pelos Estados Unidos da América no pátio traseiro global – as de agora e outras mais –, tendo a NATO por braço armado.

O ex-primeiro-ministro norueguês trouxe ainda à tona a ideia da «paz na Europa durante quase 70 anos, um dos mais longos períodos de paz durante séculos na Europa», sem lhe ocorrer a menção da destruição da Jugoslávia e do golpe de 2014 na Ucrânia, com o apoio dos Estados Unidos e da União Europeia (UE), com a guerra subsequente no Donbass, onde a população rejeitou a ameaça fascista e se ergueu em armas.

Diálogo, sim, mas a culpa é da Rússia

Sobre a Rússia, Jens Stoltenberg afirmou que «é possível combinar defesa, dissuasão e diálogo». Ou seja, deu sequência ao discurso do vizinho maléfico que acossa a Europa em paz com os seus bandos de hackers e as suas campanhas de propaganda e desinformação. O secretário-geral da NATO disse mesmo que a Rússia está «mais assertiva». Tão marota que até usa «ferramentas diferentes» e, por isso, a impoluta NATO «está a responder com o reforço das ciberdefesas». A UE também já se precaveu.

«Parceria estratégica» com a Rússia é coisa que não existe – não por falta de tentativa da NATO, frisou, mas porque Moscovo «decidiu tentar reestabelecer esferas de influência e, de certa forma, controlar os seus vizinhos, como vimos na Geórgia, Moldávia e na Ucrânia».

E isto é algo que a NATO, tutelada pelos Estados Unidos da América, carregada de arsenais em prol da paz no mundo e a cavalgar há anos sobre os despojos da União Soviética e amigos, não pode tolerar. Assim, a NATO vai procurar uma forma de dizer que «são firmes», que «são fortes», mas tentando reduzir a tensão, para evitar um conflito e manter um diálogo, disse Stoltenberg.

Já a Rússia não tem nada de se preocupar com o facto de estar rodeada por países que se tornaram membros da NATO, pois foi uma decisão de «nações soberanas e independentes». E, se preocupações tem quanto à existência de uma Frente Leste da Aliança Atlântica, a culpa é sua, «consequência directa das [suas] acções agressivas contra a Ucrânia», justificou Stoltenberg, aludindo à situação no Donbass, no Leste da Ucrânia, e à reintegração da Crimeia na Federação Russa.

O secretário-geral da NATO insiste que a integridade territorial e a soberania da Ucrânia foram violadas na Crimeia e no Donbass, por forças apoiadas pela Rússia e com apoio militar russo, mas, como se estivesse num universos paralelo, não fez uma alusão, ao golpe de 2014 em Kiev, ao fascismo na Ucrânia – ou na Polónia ou na Letónia. Nem se referiu como, em Julho do ano passado, a NATO promoveu os Irmãos da Floresta, que lutaram «contra o Exército Vermelho pelas suas pátrias», no Báltico, e que integravam muitos membros das SS nazis ou colaboradores com as forças nazis invasoras.

EUA reforçam presença militar na Europa

O secretário-geral da NATO afirmou que os EUA têm mostrado que «estão empenhados nos laços transatlânticos», acrescentando que Washington está mesmo a aumentar a presença militar no continente europeu, depois de anos de declínio. «É um compromisso que vemos não são só em palavras, mas também em factos», frisou Stoltenberg.

Não abordando a questão do aprofundamento da militarização da UE, a criação da chamada cooperação estruturada permanente (CEP) e a complementaridade – que já defendeu noutros momentos – entre aquilo a que chama Defesa Europeia e a NATO, o responsável da Aliança Atlântica sempre se referiu à necessidade de cooperar em matéria de defesa na UE para «resolver a fragmentação da indústria de defesa europeia».

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Peskov, por seu lado, sublinhou que a percepção da Rússia como inimigo e adversário é «deslocada» e «inadmissível», uma vez que Moscovo «não ameaça ninguém e nunca o tinha feito», baseando toda a sua política neste principio, informa o portal russo.

Na quinta-feira, em resposta a alertas do lado ucraniano sobre movimentações de tropas russas junto à fronteira, Peskov já tinha afirmado que a transferência de tropas dentro da Federação Russa não devia preocupar ninguém, nem constitui uma ameaça para ninguém, revelou a TASS.

O funcionário do Kremlin reafirmou que «as tropas russas nunca participaram, nem estão a participar agora em conflitos armados em solo ucraniano», acrescentando, citado pela mesma fonte, que «nem a Rússia, nem os países europeus, nem outros países do mundo gostariam de ver a guerra civil na Ucrânia incendiar-se outra vez como resultado das provocações e dos passos provocadores dos militares ucranianos».

«A realidade na linha de contacto é bastante aterradora»

No Donbass, região do Leste da Ucrânia de maioria russa, onde as populações se insurgiram contra o golpe de Estado fascista de Maidan que depôs Viktor Yanukovich, em 2014, patrocinado pela União Europeia e os Estados Unidos, e onde foram autoproclamadas as repúblicas populares de Donetsk e Lugansk, a situação agudizou-se no passado dia 26 de Março, segundo a RT, com a morte de quatro soldados das Forças Armadas ucranianas, perto da localidade de Shumy, embora outras fontes assinalem, já há algum tempo, a violação repetida do cessar-fogo por parte das tropas ucranianas.

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Resistência antifascista em Donbass

O novo governo, imposto sem eleições, permitiu que grupos paramilitares fascistas dessem rédeas ao ódio anti-russo e anti-comunista. Milhares de mulheres e homens deram corpo à resistência.

Igreja destruída junto ao aeroporto de Donetsk
Créditos / Bruno Carvalho

Quando se cumpriam quatro anos da rebelião antifascista que se espalhou como pólvora por todo o leste da Ucrânia, atravessei a fronteira através da Rússia num autocarro onde viajavam meia centena de antifascistas de vários países.

Respondendo ao apelo do grupo musical italiano Banda Bassotti, que tocou duas vezes em Portugal na Festa do «Avante!», percorreram durante uma semana os territórios em resistência visitando orfanatos, hospitais, fábricas, sindicatos e autarquias.

No primeiro dia, entre Rostov-sobre-o-Don, cidade russa no Norte do Cáucaso, e a fronteira com a auto-proclamada República Popular de Lugansk (RPL), atravessámos cerca de uma centena de quilómetros de estepe.

Enquanto viajávamos por terras de cossacos, Mitya Dezhnev explicava-me como teve de fugir da sua terra para a Rússia e de como não podíamos deixar esquecer os comunistas que todavia resistiam na Ucrânia controlada por Kiev. «Queres ouvir uma canção que era muito popular no tempo da União Soviética?», perguntou-me em inglês antes de começar num quase perfeito português a cantar o «Avante, camarada!». 

Foi em 2014, uma semana depois do massacre que vitimou cerca de meia centena de pessoas em Odessa, na Ucrânia, que as populações do leste do país se insurgiram contra o golpe de Estado patrocinado pela União Europeia e pelos Estados Unidos que depôs Viktor Yanukovich.

O novo governo, imposto sem eleições, permitiu que grupos paramilitares fascistas dessem rédeas ao ódio anti-russo e anti-comunista. Sem qualquer protecção e ante a ofensiva fascista, milhares de mulheres e homens concentraram-se nas principais praças das localidades insurrectas e deram corpo à resistência.

Primeiro, tomaram as instituições e desarmaram as forças de segurança e, depois, organizaram-se militarmente constituindo milícias antifascistas. Nessa semana, as principais regiões da industrial Bacia do rio Don, conhecida como Donbass, declararam a independência e constituíram-se em dois países: a República Popular de Donetsk (RPD) e a RPL. Depois de pesados bombardeamentos que vitimaram milhares de pessoas, o apoio militar russo foi decisivo para evitar a barbárie e a conquista destes territórios por Kiev.

O cessar-fogo que formalmente se mantém é desmentido na prática pelos sucessivos confrontos na linha da frente. As sucessivas provocações patrocinadas pela NATO continuam a causar vítimas entre os civis que moram em localidades ao alcance da artilharia ucraniana. Empurrados, primeiro pelas perseguições e depois pela guerra, dezenas de milhares de ucranianos continuam exilados na Rússia ou nas zonas sob controlo das forças democráticas.

Neli Zadiraka foi outra das pessoas que conheci nessa condição. É uma das deputadas da sede do poder legislativo da RPL, o Conselho Popular de Lugansk. Foi obrigada a abandonar a sua casa em Rubezhnoe, território da região ocupado pela Ucrânia.

Foi ela que, em 2014, leu a declaração de independência da RPL e, por essa razão, é considerada terrorista pelo governo ucraniano. Neli apontou para a estrela vermelha do brasão da jovem república e explicou-me que se inspira nos símbolos e valores da União Soviética.

Esse foi, aliás, um elemento presente em toda a viagem. Para além da preservação e do respeito pelos monumentos e símbolos, a presença da foice e do martelo é constante. Em conversa com vários habitantes de Lugansk e Donetsk, a chegada do fascismo ao poder na Ucrânia veio reforçar as convicções políticas dos cidadãos de ambas as repúblicas. Mas não é algo recente. Em 2012, nas últimas eleições antes do golpe fascista, o Partido Comunista da Ucrânia conquistou 13,2% dos votos em todo o país.

Em Kiev, obteve somente 7,23% e no ocidente houve regiões em que aquele partido não superou os 2%. Mas no oriente, sobretudo, nas regiões de Donbass, os valores oscilaram entre os 18% de Odessa e os 29,46% de Sebastopol, na Crimeia. Em Donetsk, os comunistas chegaram aos 18,85% e, em Lugansk, atingiram os 25,14% dos votos.

Em Makeeva, cidade vizinha de Donetsk, a organização local do Partido Comunista da RPD organizou uma iniciativa cultural que envolveu centenas de pessoas para receber gente de tantos países, numa cerimónia em que se entregaram os cartões a dois combatentes especiais. Um miliciano vindo do Texas e outro da Colômbia que escolheram atravessar o mundo para abraçar a causa antifascista ao lado dos soldados desta região.

O colombiano decidiu baptizar-se com o nome de guerra Alfonso Cano em homenagem ao comandante histórico das FARC e contou-me que decidiu voluntarizar-se para combater o fascismo em Donbass como parte das suas convicções políticas. São muitos os combatentes internacionalistas que participam nos exércitos das duas repúblicas.

Na companhia de Boris Litvinov, Primeiro Secretário do Partido Comunista da RPD, que foi, aliás, o primeiro a encabeçar o Soviete Supremo da RPD, o novo órgão legislativo daquele país, conhecemos um dos corações industriais da Europa.

Antes de chegarmos a uma das mais importantes minas de carvão da Europa, erguia-se um muro escrito recentemente com spray: «Somos cidadãos da União Soviética». Em 2013, antes do golpe, a Ucrânia produzia 84,8 milhões de toneladas. Três anos depois, esses números baixaram para menos de metade: 41,8.

O objectivo do imperialismo, quando interveio na Ucrânia, não foi apenas levar mais longe as fronteiras da NATO, violando uma vez mais os compromissos assumidos com os últimos dirigentes soviéticos. Foi também controlar um país com importantes recursos, sobretudo na região que agora resiste ao avanço das forças apoiadas pelos Estados Unidos e União Europeia.

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No que respeita à Crimeia, o governo russo considera a sua integração no país um facto consumado e inteiramente legítimo. A Ucrânia nunca reconheceu os resultados do referendo realizado em Março de 2014, pouco depois do golpe de Estado em Kiev, em que a maioria esmagadora da população do território se pronunciou a favor da reintegração na Rússia.

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Putin deu exemplos concretos de decisões tomadas por Kiev com o objectivo de desmantelar os acordos de Minsk, com vista a encontrar uma solução para o conflito no Leste da Ucrânia, e acusou as autoridades de Kiev de estarem a agravar a situação no Donbass, recorrendo a armamento pesado e drones de ataque, e de discriminarem a população russo-falante no país.

O Kremlin acusa também o Ocidente de estar a utilizar como pretexto a situação na Ucrânia, um país onde «se empenhou no incentivo à russofobia e em justificar as acções do regime de Kiev para minar os acordos de Minsk [de 2015] e se preparar para um cenário militar no Donbass».

«Os países da NATO estão a empurrar Kiev para medidas agressivas. A militarização do território da Ucrânia e o fornecimento de armas estão em curso», lê-se na nota emitida dia 10, na qual a Rússia advoga que a Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) não deve estar à margem das discussões que dizem respeito à segurança no continente.

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O relatório da Rand refere-se a um eventual «acordo de paz desvantajoso» e Sterling questiona para quem é que a paz traria desvantagens, lembrando a perda de vidas na Ucrânia por causa do conflito, agora, e as mais de 14 mil no Donbass, desde o golpe de 2014.

Em seu entender, um acordo de paz que garantisse os direitos fundamentais de todos os ucranianos e a neutralidade do país seria «vantajoso para a maioria dos ucranianos».

Aqueles que «não tirariam vantagens» seriam o complexo industrial mediático-militar dos EUA e os ultra-nacionalistas na Ucrânia, afirma o jornalista.

O relatório da Rand Corporation «mostra como a política dos Estados Unidos se centra em acções para prejudicar a Rússia e manipula a terceiros países (Ucrânia) com vista a essa tarefa», sublinha.

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De acordo com o jornal, que se refere a fontes da aliança militar, alguns membros são «particularmente cautelosos» no que respeita a dar «ao presidente da Rússia, Vladimir Putin, qualquer aparência de vitória».

Neste sentido, comenta o jornalista Ben Norton, num artigo agora publicado em english.almayadeen.net, para alcançar os seus objectivos a NATO está mais que disposta a manter os ucranianos na «picadora».

Ainda sobre as negociações, o conselheiro de segurança nacional dos EUA, Jake Sullivan, referiu que a equipa de Zelensky mantinha uma estreita coordenação com Washington e que estava em «contacto quase diário» com funcionários da Casa Branca. Para Norton, isto deixa bem claro quem é que de facto manda.

WaPo, Bezos e administração dos EUA

Ben Norton destaca a estreita relação existente entre The Washington Post, propriedade do multimilionário Jeff Bezos – também conhecido como presidente executivo da Amazon –, que tem contratos no valor de milhares de milhões de dólares com a CIA, o FBI, o Pentágono, o Serviço de Imigração e Controlo de Fronteiras (ICE) e outras agências governamentais norte-americanas.

«Se The Washington Post está a revelar estas informações sobre a NATO, com citações de altos funcionários da Casa Branca, é óbvio que tem luz verde dos seus responsáveis em Washington», afirma Norton.

Para o jornalista norte-americano, editor do portal multipolarista.com e colaborador em diversos projectos de linha anti-imperialista, a peça publicada dia 5 no WaPo é «uma confirmação semi-oficial de que a NATO vê os ucranianos como carne para canhão na sua guerra imperialista por procuração contra a Rússia», algo que, lembra, alguns representantes ocidentais já afirmaram abertamente.

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Situação na Ucrânia é «guerra por procuração», admite ex-funcionário da Casa Branca

Um ex-funcionário do Departamento de Estado afirmou que existe uma «guerra por procuração» da NATO com a Rússia e que os soldados russos têm de «se render ou morrer» – «quantos mais e mais depressa, melhor».

Créditos / multipolarista.com

Eliot Cohen, que foi conselheiro de Condoleezza Rice entre 2007 e 2009, no Departamento de Estado da administração de George W. Bush, é conhecido como elemento da chamada «linha dura» entre os conservadores, tendo defendido a guerra contra o Irão e as agressões norte-americanas no Iraque e no Afeganistão.

Num artigo publicado dia 14 na revista The Atlantic, Cohen louva a administração liderada pelo actual presidente norte-americano, Joe Biden, pelo «trabalho admirável» que realizou até agora em diversas frentes, nomeadamente ao «vencer a guerra de informação, mobilizar os aliados da NATO e impor sanções incapacitantes (embora incompletas) à economia russa».

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NATO e nazismo, uma irmandade

Irmãos da Floresta, regimento Azov, Abdelhakim Belhadj, o Estado Islâmico e o terrorismo «moderado», fornecimento clandestino de armamento sofisticado. A associação entre a NATO e os nazi-fascismos é um facto.

O batalhão Azov, apoiado pela NATO e pelas lideranças da UE e dos EUA, e tratado pelos mainstream media ocidentais como «nacionalistas ucranianos» ou «admiradores de Stepan Bandera», usa o símbolo nazi Wolfsangel na sua bandeira e uma das tropas de choque preferidas do governo de Kiev, no Leste como no resto do país.
Créditos / twitter

Que haverá de comum entre um grupo armado formado por membros das Waffen SS em Estados bálticos, designado Irmãos da Floresta, o regimento Azov da Guarda Nacional ucraniana, o emir do Daesh no Magrebe, de seu nome Abdelhakim Belhadj, e o mistério do armamento sofisticado descoberto recentemente num santuário neonazi em Turim, Itália?

Por muito que seja considerada inadmissível pela comunicação mainstream e seus fiéis seguidores, a resposta é: NATO – Organização do Tratado do Atlântico Norte.

«Que haverá de comum entre um grupo armado formado por membros das Waffen SS em Estados bálticos, designado Irmãos da Floresta, o regimento Azov da Guarda Nacional ucraniana, o emir do Daesh no Magrebe, de seu nome Abdelhakim Belhadj, e o mistério do armamento sofisticado descoberto recentemente num santuário neonazi em Turim, Itália? Por muito que seja considerada inadmissível pela comunicação mainstream e seus fiéis seguidores, a resposta é: NATO – Organização do Tratado do Atlântico Norte»

É a linguagem objectiva dos factos. E se contra factos pode haver quantos argumentos quiserem, todos eles serão rejeitados pela mais transparente realidade. As circunstâncias citadas têm em comum, sem dúvida, o culto do nazi-fascismo e, de uma maneira ou de outra, estão igualmente interligadas pela acção, protecção ou propaganda da NATO.

Vamos então a factos.

Os Irmãos da Floresta

A Segunda Guerra Mundial entrava na sua fase final quando foram criados os Irmãos da Floresta, grupos armados anticomunistas nascidos na Estónia, Letónia e Lituânia. Os membros, na sua maioria, foram recrutados entre os destacamentos locais das Waffen SS, integrados no aparelho de guerra hitleriano que tentou ocupar a União Soviética. Na Estónia, por exemplo, estes terroristas faziam juramento de fidelidade ao Fuhrer1.

Com a cumplicidade de serviços de espionagem de países ocidentais – nessa altura, formalmente em aliança com o lado soviético – os Irmãos da Floresta, ex-Waffen SS, foram reciclados como tampões contra o avanço do Exército Vermelho para Oeste depois de este ter vergado o nazismo na decisiva e sangrenta batalha de Estalinegrado.

Em suma, os Irmãos da Floresta, tal como os destacamentos bálticos das Waffen SS, tinham como missão, de facto, impedir que os soviéticos esmagassem completamente os nazis – o que também significava travar a libertação dos seres humanos que ainda sobreviviam nos campos da morte hitlerianos2.

«é pena que os propagandistas da aliança não tenham podido dedicar um segundo sequer às origens hitlerianas e terroristas da gloriosa irmandade – certamente por falta de tempo. Que outras razões haveria para esconder uma matriz tão inspiradora?»

Pois os Irmãos da Floresta são agora glorificados como heróis de uma gesta democrática, através de um documentário da NATO inserido no seu espaço de propaganda no YouTube. São oito minutos e alguns segundos de pura heroicidade ao melhor estilo de Hollywood, durante os quais os feitos dos Irmãos da Floresta são apresentados como inspiradores das forças especiais das repúblicas bálticas que agora «estão na linha da frente» contra a temível «ameaça russa». Afinal, hoje como ontem, explica-nos a NATO.

Só é pena que os propagandistas da aliança não tenham podido dedicar um segundo sequer às origens hitlerianas e terroristas da gloriosa irmandade – certamente por falta de tempo. Que outras razões haveria para esconder uma matriz tão inspiradora?3

O regimento Azov

Dos Estados bálticos para a Ucrânia, dos Irmãos da Floresta dos anos quarenta para o actual e activo regimento Azov, um bastião da «pureza rácica» ucraniana, como estipula o seu fundador, Andriy Biletski, aliás o «Fuhrer Branco». Pretende assim que os genes dos seus compatriotas «não se misturem com os de raças inferiores», cumprindo «a sua missão histórica de comandar a Raça Branca mundial na sua cruzada final pela sobrevivência».

Ao contrário do que possam pensar, isto não é folclore nem delírio sob efeito de qualquer fumo. O grupo nazi designado Batalhão Azov, e outros do género, receberam treino de instrutores norte-americanos e da NATO e foram decisivos no êxito do golpe «democrático» de 2014 na Praça Maidan, em Kiev. Depois disso, foram transformados em regimentos integrados na Guarda Nacional, o novo corpo militar nascido da «revolução» e que se tornou a guarda pretoriana do regime fascista patrocinado pela Aliança Atlântica, os Estados Unidos e a União Europeia4 .

O regimento Azov e outros grupos neonazis, inspirados pela figura de Stepan Bandera, um executor do genocídio hitleriano contra as populações ucranianas, tornaram-se corpos fundamentais na agressão do actual regime contra as populações ucranianas russófonas da região de Donbass.

Os membros do regimento Azov orgulham-se de posar com as bandeiras nazi e da NATO, dando-se assim a conhecer ao mundo.

A gratidão é uma atitude que nunca fica mal. Mesmo aos nazis.

Sob o regime actual em Kiev, a Ucrânia tornou-se, de facto, membro da NATO. Trata-se, como nos Estados bálticos, de combater a terrível «ameaça russa». Para executar tão nobre missão até o nazismo engrossa as hostes da «democracia».

Abdelhakim Belhadj

Embora desempenhando, desde 2015, a tarefa mais recatada e menos mediática de emir do Daesh, ou Estado Islâmico, no Magrebe, Abdelhakim Belhadj não desapareceu como figura de referência das transformações «libertadoras» que galoparam pelo Médio Oriente e Norte de África sob as exaltantes bandeiras das «primaveras árabes».

Abdelhakim Belhadj, para quem não se recorda, foi um dos chefes terroristas islâmicos que contribuíram, em aliança com a NATO, para «libertar a Líbia» do regime de Khaddafi. Houve-se tão bem da missão que a aliança fez dele «governador militar de Tripoli» logo que as hordas fundamentalistas tomaram a capital líbia.

Quando ainda mal aquecera o lugar, a tutela atlantista enviou-o para a Síria formar o «Exército Livre», o grupo terrorista «moderado» no qual os Estados Unidos e os seus principais parceiros da NATO apostaram inicialmente todas as fichas com o objectivo de «libertar Damasco».

Abdelhakim Belhadj recebeu honrarias dos Estados Unidos, outorgadas pelo embaixador na Líbia e pelo falecido senador McCain, então movendo-se febrilmente entre a Líbia, a Síria e a Ucrânia, onde foi um dos principais timoneiros do golpe de Maidan e das suas frentes nazis.

A partir de 2015, segundo a Interpol, Belhadj tornou-se emir do Daesh – o tão proscrito Estado Islâmico – no Magrebe.

Porém, cada vez que algum jornalista a sério mexe em acontecimentos da história recente arrisca-se a encontrar-se com a figura de Belhadj. Foi o que sucedeu com profissionais do jornal espanhol Publico: ao investigarem o envolvimento dos serviços de informações de Madrid (CNI) no atentado terrorista de 11 de Março de 2004, que provocou 200 mortos, depararam com outras situações que dizem muito sobre o tipo de «democracia» em que vivemos.

Segundo o próprio chefe do governo espanhol da época, José María Aznar – invasão do Iraque, lembram-se? –, Abdelhakim Belhadj foi um dos estrategos do atentado, embora nunca tenha sido preso nem julgado.

O curioso é que o atentado começou por ser atribuído à ETA e depois à al-Qaida; e que a maior parte dos operacionais detidos eram informadores dos serviços secretos espanhóis.

Mais curioso ainda é o facto de o tema do exercício europeu CMX 2004 da NATO, que decorreu de 4 a 10 de Março, tenha sido precisamente o da simulação de um atentado com as características do que aconteceu em 11 de Março na capital espanhola. «A semelhança do cenário elaborado pela NATO com os acontecimentos ocorridos em Madrid provoca calafrios na espinha e impressionou os diplomatas, militares e serviços de informações que participaram no exercício apenas algumas horas antes», escreveu o jornal El Mundo, inconformado com a tese que acabou por ficar para a história: atentado cometido por uma rede islamita sem ligações à al-Qaida.

Entre as névoas do caso avultam, porém, algumas circunstâncias que é possível focar: a declaração de Aznar envolvendo Abdelhakim Belhadj, que se revelou vir a ser uma aposta da NATO antes de ter ascendido ao topo do Estado Islâmico no Magrebe; e os dons proféticos desta mesma NATO, concebendo um tema para exercícios que se tornou realidade menos de 24 horas depois.

O santuário nazi de Turim

Há poucos dias, a polícia italiana descobriu um arsenal de armamento num santuário nazi em Turim, Itália.

O que à primeira vista poderia ser mais um armazém de velhas e nostálgicas recordações dos fãs do Fuhrer mudou de figura quando foram desembalados alguns sofisticados mísseis que não costumam estar ao alcance de pequenos e médios traficantes de armas.

Diz a imprensa italiana que os investigadores do caso seguiram pistas que conduziam até aos grupos nazis ucranianos mas não obtiveram dados consistentes. E provavelmente não encontrarão esses e outros elementos: a verdade é que as notícias sobre o assunto quase desapareceram. O caso é um nado-morto.

Já as redes clandestinas formadas pela NATO, do tipo Gládio, não estarão mortas, desafiando todas as propagandas, como recordaram alguns jornalistas italianos.

A história do arsenal está mal contada e, previsivelmente, será arquivada com celeridade; já o apoio da NATO aos grupos nazis ucranianos não suscita dúvidas: os próprios beneficiários o confessam. Porém, não é um auxílio que deva ser feito aos olhos de todos, tratando-se da NATO, uma aliança que existe para «defender a democracia» – a NATO só defende, nunca ataca, como se sabe. A verdade é que desde que passou de batalhão a regimento da Guarda Nacional o grupo terrorista Azov foi equipado com armas pesadas, incluindo tanques, que chegaram de algum lado. Talvez agora seja a hora dos mísseis, quem sabe? Ainda recentemente as forças policiais italianas e o regimento Azov assinaram um acordo de cooperação desbravando novos caminhos.

É provável que todas estas relações dêem os seus frutos; é improvável, porém, que cheguem ao conhecimento dos cidadãos comuns, tal como o desfecho do mistério dos mísseis nazis de Turim.

A grande irmandade

Irmãos da Floresta, regimento Azov, Abdelhakim Belhadj, o Estado Islâmico e o terrorismo «moderado», fornecimento clandestino de armamento sofisticado. Não é necessário escavar muito estas histórias, casos e mistérios para tropeçarmos na associação entre a NATO e os nazi-fascismos, duas correntes que, a acreditar na propaganda oficial, deveriam ser como a água e o azeite.

Afinal não. Trata-se de uma fluida cooperação nos tempos em que se fala no risco de uma nova guerra mundial e que traz raízes consolidadas na altura em que o anterior conflito ainda não tinha acabado.

É, como se percebe, uma grande e frutífera irmandade. Factos são factos.

  • 1. Note-se que os teóricos nazis atribuíam desde os anos 30, na sua propaganda, o estatuto de «raça superior» aos povos estónio e letão, facilitando a formação dos sanguinários esquadrões da morte bálticos integrados nas Waffen SS, tão ou mais temidos pelos povos e etnias que viviam no território soviético ocupado pela Alemanha nazi do que os próprios alemães.
  • 2. No período posterior à derrota hitleriana no Báltico os Irmãos da Floresta mantiveram-se activos até meados da década de 50. Actualmente, os próprios admiradores destes colaboradores nazis no Báltico reciclados reconhecem o carácter terrorista dos seus heróis, como é fácil de confirmar através do volume de baixas soviéticas nos anos de 1944-1958 no Báltico: mais de 25 mil civis foram assassinados e muitos torturados antes de executados, enquanto os polícias que combatiam os Irmãos da Floresta tiveram quatro mil baixas. Outro pormenor menos ventilado é que o maior apoio interno daquelas organizações provinha dos poderosos e ricos latifundiários da região, que tinham um profundo ódio aos camponeses que os tinham expropriado durante os anos da Revolução Russa. Após a deportação para a Sibéria, no final dos anos 40, da maioria dos grandes proprietários de terras no Báltico, a actividade dos Irmãos da Floresta decaiu consideravelmente, apesar de todos os esforços da CIA e dos serviços secretos britânicos para reactivá-los. O golpe final foi dado após a amnistia concedida pelas autoridades soviéticas após a morte de José Estaline, em 1953. O leitor terá de procurar em língua russa (mesmo que em sítios como a insuspeita Rádio Liberdade, financiada pelo governo americano) as fontes documentais sobre este assunto, visto os websites do Ocidente serem consideravelmente parcos a respeito destes dados e optarem habitualmente por uma visão puramente apologética dos Irmãos da Floresta, escondendo a sua verdadeira natureza.
  • 3. Neonazis e veteranos da Waffen-SS voltaram a marchar em Riga em Março de 2019, como denunciou o AbrilAbril em artigo publicado na altura.
  • 4. O regimento Azov [ou «Batalhão Azov», ou muito simplesmente «Azov»] é uma organização paramilitar criada em 2014, durante os protestos da praça Euromaidan e do golpe de Estado que lhe foi subsequente. É enquadrado e remunerado pelo Ministério do Interior da Ucrânia como um dos membros da chamada Guarda Nacional, que confere poderes estatais a este e outros grupos fascistas ucranianos. Originalmente fundado como um grupo paramilitar voluntário, é acusado de ser uma organização neonazi e neofascista, além de estar envolvido em vários casos de abusos de direitos humanos e crimes de guerra leste da Ucrânia, principalmente em casos de torturas, estupros, saques, limpeza étnica e perseguição de minorias como homossexuais, judeus e russos. O Azov tem ligações a grupos nazi-fascistas internacionais, como em Itália ou no Brasil onde recruta combatentes na guerra que move contra as populações do Donbass, no leste da Ucrânia.
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E admite claramente que a NATO trava na Ucrânia uma «guerra por procuração», buscada pela Casa Branca. No entanto, critica a actual administração por não fazer o suficiente, defendendo que deve promover ainda mais a escalada do conflito.

Segundo refere o portal multipolarista.com, tendo por base informações divulgadas na imprensa dominante, a administração de Biden enviou para a Ucrânia mais de 17 mil armas anti-tanque, incluindo mísseis Javelin, e 2000 mísseis anti-aéreos Stinger – alguns dos quais foram parar directamente às forças neonazis do Batalhão Azov.

A mesma fonte indica que, depois de ter enviado para a Ucrânia, no final de Fevereiro, armas no valor de 350 milhões de dólares, a Casa Branca aprovou uma pacote de ajuda adicional no valor de 13,6 mil milhões de dólares, em Março, incluindo 6,5 mil milhões em apoio militar.

Uma «inundação» de armas

Para Eliot Cohen, isto não basta. «O fluxo de armas que entra na Ucrânia tem de ser uma inundação», escreveu em The Atlantic.

«Os Estados Unidos e os seus aliados da NATO estão envolvidos numa guerra por procuração com a Rússia», disse. «Estão a fornecer milhares de munições e, esperemos, fazendo muito mais – partilhando inteligência, por exemplo – com o objectivo de matar soldados russos».

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Activistas norte-americanos protestam contra o negócio da guerra

Um grupo de pessoas manifestou-se, esta segunda-feira, na sede da empresa de armamento norte-americana Raytheon Technologies, em Cambridge, Massachusetts, contra o negócio da guerra.

Acção contra o negócio da guerra na sede da Raytheon, em Cambridge, Massachusetts 
Créditos@resist_abolish

No cimo da sede da Raytheon, cinco pessoas penduraram panos em que pediam o fim de todos os conflitos bélicos e denunciavam que a empresa em causa, um dos gigantes da indústria do armamento, lucra com a morte no Iémen, na Palestina e na Ucrânia [vídeo].

Outras, mais abaixo, mostraram faixas em que denunciavam o lucro da empresa com o «genocídio» e que os seus «mísseis matam civis».

De acordo com a informação divulgada na conta de Twitter da organização Resist and Abolish the Military Industrial Complex (RAM INC), a Polícia deteve as pessoas envolvidas na acção de protesto – que foram mais tarde libertadas.

Por um protesto realizado o ano passado à entrada das instalações da Raytheon em Portsmouth, no estado norte-americano de Rhode Island, a organização enfrenta uma multa de 3000 dólares, segundo informa na mesma rede social.

A Raytheon, que o ano passado anunciou vendas no valor de 64,4 mil milhões de dólares, tem entre os seus clientes a Arábia Saudita, o Catar e os Emirados Árabes Unidos.

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Empresas de armamento lucram com o trabalho dos reclusos nos EUA

«Reclusos que ganham centavos fabricam armas multimilionárias», revela o MintPress News. As maiores empresas de armas dos EUA encontram novas formas de tirar proveito do complexo industrial das prisões.

Um grupo de reclusos regressa aos dormitórios, no regresso do trabalho, na Prisão Estatal de Louisiana, em Angola, EUA 
CréditosGerald Herbert / innocenceproject.org

Um estudo do MintPress News indica que, «em muitos casos, as armas de guerra são fabricadas directamente com recurso a trabalho penitenciário sob coacção».

Centrada nas cem maiores empresas privadas contratadas pelo Departamento da Defesa norte-americano, a investigação mostra que 37% também lucram com norte-americanos reclusos, tanto em prisões como nos campos do Serviço de Imigração e Controlo de Fronteiras (ICE).

Entre os 25 maiores fabricantes de armas, 16 beneficiam do trabalho dos reclusos. A lista completa das 37 empresas que lucram com o «encarceramento massivo» pode ser consultada aqui (apresentada por ordem do valor dos contratos recebidos do Departamento da Defesa).

A lista, explica o jornalista Alan MacLeod, foi criada com base na recolha de dados do portal da administração norte-americana usaspending.gov. Os dados relativos às cem maiores empresas militares privadas contratadas no último ano fiscal completo foram comparados com uma base de dados de agentes do sector privado da indústria prisional, organizada pelo grupo Worth Rises, que defende o desmantelamento da indústria das prisões e o fim da exploração que ela implica.

«"historicamente, o governo federal atribuiu subsídios para testar nas prisões a tecnologia que está a ser desenvolvida para a luta contra o terrorismo"»

Chris Hedges, jornalista e professor no sistema prisional a quem foi pedido um comentário, não ficou chocado com o facto de quase dois terços dos maiores agentes da indústria da defesa estarem bastante envolvidos no negócio das prisões. «O tecido da indústria da defesa, o Estado carcerário, a indústria da inteligência, está tudo interligado. E acho que estas descobertas o provam», disse.

O MintPress falou igualmente com a fundadora e directora executiva da Worth Rises, Bianca Tylek, que também não se mostrou surpreendida.

«Há uma sobreposição considerável entre as duas indústrias, o que não é surpreendente; são indústrias controversas. As empresas que operam numa indústria controversa não temem participar noutra. Onde vemos uma sobreposição particular é na tecnologia de segurança e vigilância. Na verdade, historicamente, o governo federal atribuiu subsídios para testar nas prisões a tecnologia que está a ser desenvolvida para a luta contra o terrorismo», disse.

Não é uma indústria artesanal

Uma dessas empresas «controversas» é a Raytheon, que o ano passado anunciou vendas no valor de 64,4 mil milhões de dólares e que também recorre à vasta população prisional dos Estados Unidos como mão-de-obra barata quase infinita para fabricar alguns dos seus produtos mais caros.

Os reclusos, refere o texto, são obrigados a trabalhar por apenas 23 centavos por hora (menos impostos e outras taxas) para empresas subcontratadas que fabricam peças para mísseis Patriot que custam até 5,9 milhões de dólares (cada um), o que significa que um preso teria de trabalhar quase 3000 anos, 24 horas por dia, para ser capaz de pagar o que está a fazer.

«As armas da Raytheon têm sido cruciais para os bombardeamentos levados a cabo pela coligação liderada pelos sauditas no Iémen»

A administração norte-americana autoriza a Raytheon e outros a venderem os seus produtos a alguns dos governos que mais violam os direitos humanos, afirma o MintPress News, incluindo nessa lista os da Arábia Saudita, do Catar e dos Emirados Árabes Unidos.

As armas da Raytheon têm sido cruciais para os bombardeamentos levados a cabo pela coligação liderada pelos sauditas no Iémen, criando aquilo que as Nações Unidas classificam como «a pior crise humanitária do mundo».

Desde o início da guerra de agressão, a Raytheon vendeu a Riade equipamento pelo menos no valor de 3,3 mil milhões de dólares. Em 2018, a aviação saudita usou um míssil fabricado pela Raytheon para fazer explodir um autocarro cheio de crianças iemenitas, provocando a morte a 51 pessoas. «Se esta história foi notícia, há seguramente muitos outros casos semelhantes que nunca chegam ao público ocidental», frisa o portal.

Reclusos na Prisão Estatal de San Quentin, Califórnia (EUA) / VCG / CGTN

Exemplos de «promiscuidade» entre Defesa e sistema prisional

Reclusos nos EUA fabricam equipamentos electrónicos, ópticos e arneses para a BAE Systems, incluindo para o seu veículo de combate Bradley, um pilar do Exército norte-americano. Por este trabalho, os presos recebem cerca de 100 dólares por mês, segundo informação divulgada.

Várias subsidiárias da BAE Systems – incluindo o fabricante de equipamentos militares e policiais Armor Holdings (que fabrica a maioria das mochilas do Exército dos EUA) e a empresa de tecnologia de câmaras, segurança e espionagem Fairchild Imaging – também aparecem na lista de empresas que vendem para a indústria prisional, elaborada pela Worth Rises.

«Há diversas grandes empresas contratadas pela Defesa que também operam na indústria prisional.»

BAE Systems, General Dynamics e Lockheed Martin estão entre as empresas que mais lucram com o trabalho prisional, segundo a Worth Rises, que as marca com «nota máxima» no índice de danos.

Há diversas grandes empresas contratadas pela Defesa que também operam na indústria prisional. Um dos exemplos apontados pelo MintPress News é o da General Electric e das suas subsidiárias, envolvidas na construção e no equipamento das prisões, no fornecimento de alimentos e na supervisão dos cuidados de saúde.

Porventura, o agente mais importante na ligação da indústria prisional à militar é empresa estatal Unicor (também conhecida como Federal Prison Industries). Empregando 16 mil reclusos a nível nacional em 2021, a Unicor anunciou receitas de 528 milhões de dólares o ano passado.

Fabricando de tudo – desde têxteis até equipamentos de escritório e electrónicos –, a empresa presta um serviço vital ao complexo industrial militar, fornecendo-lhe um fluxo quase interminável de mão-de-obra cativa e praticamente gratuita para explorar, destaca o portal.

Ao contrário da Raytheon e da Lockheed Martin, que mantêm em silêncio a ligação a esta fonte controversa de trabalho, a Unicor parece orgulhar-se dela, ostentando-a na sua página de Internet.

Conversa progressista até falar o dinheiro

Muitas das 37 empresas listadas são conhecidas como fabricantes de armas, mas outras poderão não ser associadas à indústria das armas. A CACI International, por exemplo, está longe de ser um nome familiar, apesar de empregar mais de 22 mil pessoas em todo o mundo.

O principal cliente da CACI é o governo dos EUA, a quem fornece uma vasta gama de serviços profissionais e de tecnologias da informação. Localizada no Norte da Virgínia, é uma das muitas empresas que se banqueteiam com os contratos de guerra do Iraque e do Afeganistão.

«O ano passado, o director executivo da CACI, John Mengucci, referiu-se à retirada do Afeganistão como má para o negócio.»

A CACI promove-se a si mesma como um «empregador progressista», e o seu portal está cheio de conversa sobre «diversidade» e «inclusividade», além de se vangloriar de estar na lista da Forbes do «top mais» das empresas «amigas das mulheres».

Mas esta conversa «progressista» dura até que o dinheiro fale. Em 2016, revela o MintPress, a CACI lançou uma oferta e ganhou um contrato de 93 milhões de dólares com o Serviço de Imigração e Controlo de Fronteiras para fazer a manutenção dos seus centros de detenção – edifícios que foram amplamente descritos como campos de concentração.

O ano passado, o director executivo da CACI, John Mengucci, referiu-se à retirada do Afeganistão como má para o negócio. E tinha razão: em 2019, a CACI assegurou um contrato de 907 milhões de dólares, por um período de cinco anos, para «fornecer operações de inteligência e apoio analítico» às forças dos EUA no Afeganistão.

Além disso, em 2021, o Supremo Tribunal dos EUA rejeitou o recurso da CACI relativo ao processo instaurado por um grupo de iraquianos pelo alegado envolvimento da empresa em tortura e agressão sexual, na célebre prisão de Abu Ghraib.

Neoliberalismo e exploração nos cárceres

As condições prisionais nos Estados Unidos estão entre as piores do mundo desenvolvido, denuncia o MintPress News. A maior parte dos estados exige que os reclusos recebam uma compensação financeira pelo seu trabalho, mas os salários podem ser embargados para pagamento de pensões de alimentos, restituições à vítima e até alojamento e alimentação. Em cinco estados – Texas, Arkansas, Alabama, Geórgia e Florida – os reclusos são obrigados a trabalhar sem qualquer pagamento.

«Isto é trabalho em condições de servidão; não se pode organizar; não pode fazer greve; não pode protestar pelas más condições. O pagamento está muito abaixo do salário mínimo», disse Hedges ao MintPress.

Assim, a enorme população prisional satisfaz as necessidades das empresas norte-americanas de duas formas: primeiro, fornece uma gigantesca reserva de mão-de-obra barata e disciplinada para explorar, ajudando-as a competir com «fábricas de miséria» na Ásia; em segundo lugar, actua como uma ferramenta disciplinadora do «trabalho livre», ajudando a acabar com os sindicatos e a reduzir os salários e as condições de trabalho em todo o país.

A Worth Rises faz parte de um conjunto de organizações que consideram que parte do trabalho prisional se assemelha à escravidão, pelo que tem feito campanha para alterar a 13.ª Emenda, que permite que a escravidão seja usada como forma de punição de um crime.

«Pessoas nas ruas de Detroit, Newark ou no Leste de Nova Iorque não valem nada aos olhos do Estado corporativo. Mas, se forem fechadas numa gaiola, têm capacidade para gerar 50 ou 60 mil dólares por ano para essas empresas.»

Tendo em conta que a economia foi esvaziada e os empregos foram transferidos para o estrangeiro, grande parte da população trabalhadora do país tornou-se, aos olhos das empresas norte-americanas, excedentária em relação às necessidades económicas, afirma o MintPress News.

Já não são necessários para trabalhar nas fábricas e são efectivamente inúteis para gerar lucros para outros. Hedges encara a ascensão do complexo industrial prisional como uma resposta a isto.

«Pessoas nas ruas de Detroit, Newark ou no Leste de Nova Iorque não valem nada aos olhos do Estado corporativo. Mas, se forem fechadas numa gaiola, têm capacidade para gerar 50 ou 60 mil dólares por ano para essas empresas. Então, nesse sentido, é um continuum completo [desde a escravidão]», disse.

Com quase 2,3 milhões de pessoas atrás das grades numa rede de mais de 7000 instalações, os Estados Unidos têm de longe a taxa mais elevada de encarceramento do mundo, encarcerando os seus cidadãos a uma taxa dez vezes superior à de países europeus como a Suécia ou a Dinamarca e 17 vezes mais elevada que a do Japão.

A explosão da população prisional dos EUA reflecte de perto a ascensão do neoliberalismo como a ideologia dominante, afirma o portal, precisando que, antes da administração Reagan, os números das prisões norte-americanas eram comparáveis aos da Europa. No entanto, entre 1984 e 2005, uma nova cadeia foi construída, em média, a cada 8,5 dias, atingindo o pico em 2009.

Tylek, da Worth Rises, criticou fortemente o custo e o desperdício do empreendimento. «Em muitos lugares, as populações prisionais caíram nos últimos anos. E, no entanto, os orçamentos dessas agências continuam a aumentar. Nada o justifica», disse.

A indústria prisional «para lá dos limites» tornou-se tão normalizada que é objecto de entretenimento ligeiro. Em 2020, um novo jogo, chamado «Prison Empire Tycoon», tornou-se viral, convertendo-se no jogo de estratégia número um na App Store da Apple.

O objectivo do jogo é supervisionar e administrar uma prisão com fins lucrativos. Durante o tutorial, no início, um guarda empunhando um bastão instrui os jogadores, dizendo-lhes que «o Estado paga bom dinheiro» para lidar com os «criminosos».

Reclusos na Prisão Estatal de Louisiana, em Angola (EUA) / Gerald Herbert / MintPress News

A pagar a dívida?

Uma forma de gerar mais lucro, tanto no jogo como na realidade, é transferir os custos para os próprios reclusos. As pessoas encarceradas agora têm de pagar regularmente artigos essenciais como sabão, pasta de dentes e champô, bem como chamadas para os seus entes queridos. A outros exigem-lhes co-pagamentos para consultar um médico ou para despesas de alojamento, a serem descontadas dos salários ganhos.

«Corporações financeiras como a JPay e a JP Morgan Chase fazem parcerias com instituições penitenciárias para garantir o melhor negócio para eles – e o pior negócio para os presos.»

Muitas vezes, apenas o facto de se ser enviado para um estabelecimento prisional implica uma «taxa de processamento» de 100 dólares, que os reclusos têm de pagar, enquanto aos visitantes são cobradas regularmente quantias por verificações de antecedentes. Amigos e familiares dos presos transferem 1,8 mil milhões de dólares para estabelecimentos prisionais todos os anos.

Sem outra opção, são forçados a aceitar taxas de transferência de dinheiro até 45%. Corporações financeiras como a JPay e a JP Morgan Chase fazem parcerias com instituições penitenciárias para garantir o melhor negócio para eles – e o pior negócio para os presos. Tylek disse ao MintPress: «Estar preso é muito caro. É tão caro que endivida muitas famílias que apoiam pessoas que estão encarceradas.»

Trazer as guerras para casa

Hedges, que passou muito tempo a ensinar no sistema penitenciário de New Jersey, também observou as semelhanças entre as prisões e os militares, comentando que os guardas são frequentemente recrutados nas Forças Armadas ou na Guarda Nacional. Cada vez mais, os guardas parecem-se com as equipas SWAT, com armas letais de alta tecnologia. «Tudo é militarizado», disse Hedges. E acrescentou:

«Dirigem-se a ti pelo teu número, não pelo teu nome. És obrigado a andar em fila indiana pelos corredores. Qualquer infracção […] pode fazer com que acabes por ser espancado ou atirado para a solitária e despojado dos poucos privilégios que tens. É o microcosmo perfeito do Estado totalitário.»

«À medida que os impérios decaem (...), muitas vezes trazem de volta a repressão que infligem no estrangeiro»

Por seu lado, Tylek disse que, «em muitos casos, o governo está a reagir ao crime a nível nacional da mesma forma que responde à guerra internacional. E isto deve-se ao facto de que muitos dos mesmos fornecedores estão a facultar equipamento tecnológico para esses dois ambientes».

À medida que os impérios decaem – argumentou Hedges –, muitas vezes trazem de volta a repressão que infligem no estrangeiro, usando na população nacional tácticas aprimoradas para reprimir a dissidência estrangeira.

Hoje, as comunidades pobres nos EUA estão a ser governadas de uma forma cada vez mais militarizada, nota o MintPress News, enquanto os oprimidos pelo complexo industrial prisional no país são coagidos a fornecer o seu trabalho para reforçar o complexo industrial militar no estrangeiro. E, a cada passo, as empresas norte-americanas continuam a lucrar.

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As suas armas têm sido fundamentais para os bombardeamentos levados a cabo pela coligação liderada pelos sauditas no Iémen, ajudando a criar aquilo que as Nações Unidas classificam como «a pior crise humanitária do mundo».

Desde o início da guerra de agressão, a Raytheon vendeu a Riade equipamento pelo menos no valor de 3,3 mil milhões de dólares, segundo refere o MintPress News.

Em 2018, a aviação saudita usou um míssil fabricado pela Raytheon para fazer explodir um autocarro cheio de crianças iemenitas, provocando a morte a 51 pessoas.

A indústria de armamento dos EUA também tem lucrado bastante com a actual situação na Ucrânia, tendo como base os contratos celebrados com países ocidentais que estão a aumentar as suas despesas na área da defesa.

Segundo revelou o diário The Hill na semana passada, o valor das acções da Lockheed Martin disparou quase 25% desde o início do ano, enquanto o de outras empresas do sector como Raytheon, General Dynamics e Northrop Grumman subiu cerca de 12%, cada qual.

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«Para vergar a vontade da Rússia e libertar a Ucrânia da conquista e da subjugação, muitos soldados russos têm de fugir, render-se ou morrer, e, quantos mais e mais depressa, melhor», acrescentou o apoiante das invasões do Iraque e do Afeganistão, que também pedia a guerra com o Irão.

Embora não esteja directamente no governo, Cohen trabalha para o think tank neoconservador Center for Strategic and International Studies (CSIS), que recebe fundos do governo, da indústria de armamento e das empresas de combustíveis fósseis.

De acordo com o portal norte-americano, a «perspectiva ultra-belicosa de Cohen é bastante representativa dos falcões [da guerra] em Washington» e «o seu artigo em The Atlantic permite vislumbrar de forma honesta como os planificadores imperialistas norte-americanos encaram a crise na Ucrânia: uma oportunidade para usar o povo ucraniano como carne para canhão numa guerra por procuração» contra a Rússia.

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O ex-funcionário do Departamento de Estado Eliot Cohen, falcão da guerra da direita, afirmou na revista The Atlantic que os EUA e os seus aliados estão envolvidos numa «guerra por procuração» com a Rússia e que os soldados russos têm de «se render ou morrer» – «quantos mais e mais depressa, melhor».

O conselheiro de Condoleeza Rice entre 2007 e 2009 defendeu que «o fluxo de armas que entra na Ucrânia tem de ser uma inundação», e isso, sublinha Norton, é exactamente o que os estados-membros da NATO estão a fazer: inundar o país vizinho da Rússia com armamento.

Em vez de apoio às conversações de paz, mais armamento

Os Estados Unidos e a União Europeia têm estado a promover activamente a escalada da guerra, afirma Norton, que destaca o envio para a Ucrânia de armas no valor de milhares de milhões de dólares.

«Aquilo que não se diz é como as empresas de armamento norte-americanas e europeias têm beneficiado enormemente com a guerra», denuncia, acrescentando que as acções dos contratistas militares privados dispararam depois de tropas russas terem invadido a Ucrânia, a 24 de Fevereiro, enquanto os governos ocidentais se comprometiam a aumentar substancialmente as suas despesas militares.

Nos passados dias 6 e 7 de Abril, os ministros dos Negócios Estrangeiros da NATO reuniram-se na sede da aliança, em Bruxelas, tendo-se comprometido a intensificar ainda mais a guerra na Ucrânia.

Representantes de países que não pertencem à NATO também estiveram presentes, como Japão, Coreia do Sul, Austrália, Nova Zelândia, Geórgia, Finlândia e Suécia.

Dmytro Kuleba, ministro ucraniano dos Negócios Estrangeiros, dissipou em Bruxelas qualquer dúvida sobre o que estava em causa na reunião da NATO: «Vim aqui hoje para discutir três coisas muito importantes: armas, armas e armas», disse.

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NATO e nazismo, uma irmandade

Irmãos da Floresta, regimento Azov, Abdelhakim Belhadj, o Estado Islâmico e o terrorismo «moderado», fornecimento clandestino de armamento sofisticado. A associação entre a NATO e os nazi-fascismos é um facto.

O batalhão Azov, apoiado pela NATO e pelas lideranças da UE e dos EUA, e tratado pelos mainstream media ocidentais como «nacionalistas ucranianos» ou «admiradores de Stepan Bandera», usa o símbolo nazi Wolfsangel na sua bandeira e uma das tropas de choque preferidas do governo de Kiev, no Leste como no resto do país.
Créditos / twitter

Que haverá de comum entre um grupo armado formado por membros das Waffen SS em Estados bálticos, designado Irmãos da Floresta, o regimento Azov da Guarda Nacional ucraniana, o emir do Daesh no Magrebe, de seu nome Abdelhakim Belhadj, e o mistério do armamento sofisticado descoberto recentemente num santuário neonazi em Turim, Itália?

Por muito que seja considerada inadmissível pela comunicação mainstream e seus fiéis seguidores, a resposta é: NATO – Organização do Tratado do Atlântico Norte.

«Que haverá de comum entre um grupo armado formado por membros das Waffen SS em Estados bálticos, designado Irmãos da Floresta, o regimento Azov da Guarda Nacional ucraniana, o emir do Daesh no Magrebe, de seu nome Abdelhakim Belhadj, e o mistério do armamento sofisticado descoberto recentemente num santuário neonazi em Turim, Itália? Por muito que seja considerada inadmissível pela comunicação mainstream e seus fiéis seguidores, a resposta é: NATO – Organização do Tratado do Atlântico Norte»

É a linguagem objectiva dos factos. E se contra factos pode haver quantos argumentos quiserem, todos eles serão rejeitados pela mais transparente realidade. As circunstâncias citadas têm em comum, sem dúvida, o culto do nazi-fascismo e, de uma maneira ou de outra, estão igualmente interligadas pela acção, protecção ou propaganda da NATO.

Vamos então a factos.

Os Irmãos da Floresta

A Segunda Guerra Mundial entrava na sua fase final quando foram criados os Irmãos da Floresta, grupos armados anticomunistas nascidos na Estónia, Letónia e Lituânia. Os membros, na sua maioria, foram recrutados entre os destacamentos locais das Waffen SS, integrados no aparelho de guerra hitleriano que tentou ocupar a União Soviética. Na Estónia, por exemplo, estes terroristas faziam juramento de fidelidade ao Fuhrer1.

Com a cumplicidade de serviços de espionagem de países ocidentais – nessa altura, formalmente em aliança com o lado soviético – os Irmãos da Floresta, ex-Waffen SS, foram reciclados como tampões contra o avanço do Exército Vermelho para Oeste depois de este ter vergado o nazismo na decisiva e sangrenta batalha de Estalinegrado.

Em suma, os Irmãos da Floresta, tal como os destacamentos bálticos das Waffen SS, tinham como missão, de facto, impedir que os soviéticos esmagassem completamente os nazis – o que também significava travar a libertação dos seres humanos que ainda sobreviviam nos campos da morte hitlerianos2.

«é pena que os propagandistas da aliança não tenham podido dedicar um segundo sequer às origens hitlerianas e terroristas da gloriosa irmandade – certamente por falta de tempo. Que outras razões haveria para esconder uma matriz tão inspiradora?»

Pois os Irmãos da Floresta são agora glorificados como heróis de uma gesta democrática, através de um documentário da NATO inserido no seu espaço de propaganda no YouTube. São oito minutos e alguns segundos de pura heroicidade ao melhor estilo de Hollywood, durante os quais os feitos dos Irmãos da Floresta são apresentados como inspiradores das forças especiais das repúblicas bálticas que agora «estão na linha da frente» contra a temível «ameaça russa». Afinal, hoje como ontem, explica-nos a NATO.

Só é pena que os propagandistas da aliança não tenham podido dedicar um segundo sequer às origens hitlerianas e terroristas da gloriosa irmandade – certamente por falta de tempo. Que outras razões haveria para esconder uma matriz tão inspiradora?3

O regimento Azov

Dos Estados bálticos para a Ucrânia, dos Irmãos da Floresta dos anos quarenta para o actual e activo regimento Azov, um bastião da «pureza rácica» ucraniana, como estipula o seu fundador, Andriy Biletski, aliás o «Fuhrer Branco». Pretende assim que os genes dos seus compatriotas «não se misturem com os de raças inferiores», cumprindo «a sua missão histórica de comandar a Raça Branca mundial na sua cruzada final pela sobrevivência».

Ao contrário do que possam pensar, isto não é folclore nem delírio sob efeito de qualquer fumo. O grupo nazi designado Batalhão Azov, e outros do género, receberam treino de instrutores norte-americanos e da NATO e foram decisivos no êxito do golpe «democrático» de 2014 na Praça Maidan, em Kiev. Depois disso, foram transformados em regimentos integrados na Guarda Nacional, o novo corpo militar nascido da «revolução» e que se tornou a guarda pretoriana do regime fascista patrocinado pela Aliança Atlântica, os Estados Unidos e a União Europeia4 .

O regimento Azov e outros grupos neonazis, inspirados pela figura de Stepan Bandera, um executor do genocídio hitleriano contra as populações ucranianas, tornaram-se corpos fundamentais na agressão do actual regime contra as populações ucranianas russófonas da região de Donbass.

Os membros do regimento Azov orgulham-se de posar com as bandeiras nazi e da NATO, dando-se assim a conhecer ao mundo.

A gratidão é uma atitude que nunca fica mal. Mesmo aos nazis.

Sob o regime actual em Kiev, a Ucrânia tornou-se, de facto, membro da NATO. Trata-se, como nos Estados bálticos, de combater a terrível «ameaça russa». Para executar tão nobre missão até o nazismo engrossa as hostes da «democracia».

Abdelhakim Belhadj

Embora desempenhando, desde 2015, a tarefa mais recatada e menos mediática de emir do Daesh, ou Estado Islâmico, no Magrebe, Abdelhakim Belhadj não desapareceu como figura de referência das transformações «libertadoras» que galoparam pelo Médio Oriente e Norte de África sob as exaltantes bandeiras das «primaveras árabes».

Abdelhakim Belhadj, para quem não se recorda, foi um dos chefes terroristas islâmicos que contribuíram, em aliança com a NATO, para «libertar a Líbia» do regime de Khaddafi. Houve-se tão bem da missão que a aliança fez dele «governador militar de Tripoli» logo que as hordas fundamentalistas tomaram a capital líbia.

Quando ainda mal aquecera o lugar, a tutela atlantista enviou-o para a Síria formar o «Exército Livre», o grupo terrorista «moderado» no qual os Estados Unidos e os seus principais parceiros da NATO apostaram inicialmente todas as fichas com o objectivo de «libertar Damasco».

Abdelhakim Belhadj recebeu honrarias dos Estados Unidos, outorgadas pelo embaixador na Líbia e pelo falecido senador McCain, então movendo-se febrilmente entre a Líbia, a Síria e a Ucrânia, onde foi um dos principais timoneiros do golpe de Maidan e das suas frentes nazis.

A partir de 2015, segundo a Interpol, Belhadj tornou-se emir do Daesh – o tão proscrito Estado Islâmico – no Magrebe.

Porém, cada vez que algum jornalista a sério mexe em acontecimentos da história recente arrisca-se a encontrar-se com a figura de Belhadj. Foi o que sucedeu com profissionais do jornal espanhol Publico: ao investigarem o envolvimento dos serviços de informações de Madrid (CNI) no atentado terrorista de 11 de Março de 2004, que provocou 200 mortos, depararam com outras situações que dizem muito sobre o tipo de «democracia» em que vivemos.

Segundo o próprio chefe do governo espanhol da época, José María Aznar – invasão do Iraque, lembram-se? –, Abdelhakim Belhadj foi um dos estrategos do atentado, embora nunca tenha sido preso nem julgado.

O curioso é que o atentado começou por ser atribuído à ETA e depois à al-Qaida; e que a maior parte dos operacionais detidos eram informadores dos serviços secretos espanhóis.

Mais curioso ainda é o facto de o tema do exercício europeu CMX 2004 da NATO, que decorreu de 4 a 10 de Março, tenha sido precisamente o da simulação de um atentado com as características do que aconteceu em 11 de Março na capital espanhola. «A semelhança do cenário elaborado pela NATO com os acontecimentos ocorridos em Madrid provoca calafrios na espinha e impressionou os diplomatas, militares e serviços de informações que participaram no exercício apenas algumas horas antes», escreveu o jornal El Mundo, inconformado com a tese que acabou por ficar para a história: atentado cometido por uma rede islamita sem ligações à al-Qaida.

Entre as névoas do caso avultam, porém, algumas circunstâncias que é possível focar: a declaração de Aznar envolvendo Abdelhakim Belhadj, que se revelou vir a ser uma aposta da NATO antes de ter ascendido ao topo do Estado Islâmico no Magrebe; e os dons proféticos desta mesma NATO, concebendo um tema para exercícios que se tornou realidade menos de 24 horas depois.

O santuário nazi de Turim

Há poucos dias, a polícia italiana descobriu um arsenal de armamento num santuário nazi em Turim, Itália.

O que à primeira vista poderia ser mais um armazém de velhas e nostálgicas recordações dos fãs do Fuhrer mudou de figura quando foram desembalados alguns sofisticados mísseis que não costumam estar ao alcance de pequenos e médios traficantes de armas.

Diz a imprensa italiana que os investigadores do caso seguiram pistas que conduziam até aos grupos nazis ucranianos mas não obtiveram dados consistentes. E provavelmente não encontrarão esses e outros elementos: a verdade é que as notícias sobre o assunto quase desapareceram. O caso é um nado-morto.

Já as redes clandestinas formadas pela NATO, do tipo Gládio, não estarão mortas, desafiando todas as propagandas, como recordaram alguns jornalistas italianos.

A história do arsenal está mal contada e, previsivelmente, será arquivada com celeridade; já o apoio da NATO aos grupos nazis ucranianos não suscita dúvidas: os próprios beneficiários o confessam. Porém, não é um auxílio que deva ser feito aos olhos de todos, tratando-se da NATO, uma aliança que existe para «defender a democracia» – a NATO só defende, nunca ataca, como se sabe. A verdade é que desde que passou de batalhão a regimento da Guarda Nacional o grupo terrorista Azov foi equipado com armas pesadas, incluindo tanques, que chegaram de algum lado. Talvez agora seja a hora dos mísseis, quem sabe? Ainda recentemente as forças policiais italianas e o regimento Azov assinaram um acordo de cooperação desbravando novos caminhos.

É provável que todas estas relações dêem os seus frutos; é improvável, porém, que cheguem ao conhecimento dos cidadãos comuns, tal como o desfecho do mistério dos mísseis nazis de Turim.

A grande irmandade

Irmãos da Floresta, regimento Azov, Abdelhakim Belhadj, o Estado Islâmico e o terrorismo «moderado», fornecimento clandestino de armamento sofisticado. Não é necessário escavar muito estas histórias, casos e mistérios para tropeçarmos na associação entre a NATO e os nazi-fascismos, duas correntes que, a acreditar na propaganda oficial, deveriam ser como a água e o azeite.

Afinal não. Trata-se de uma fluida cooperação nos tempos em que se fala no risco de uma nova guerra mundial e que traz raízes consolidadas na altura em que o anterior conflito ainda não tinha acabado.

É, como se percebe, uma grande e frutífera irmandade. Factos são factos.

  • 1. Note-se que os teóricos nazis atribuíam desde os anos 30, na sua propaganda, o estatuto de «raça superior» aos povos estónio e letão, facilitando a formação dos sanguinários esquadrões da morte bálticos integrados nas Waffen SS, tão ou mais temidos pelos povos e etnias que viviam no território soviético ocupado pela Alemanha nazi do que os próprios alemães.
  • 2. No período posterior à derrota hitleriana no Báltico os Irmãos da Floresta mantiveram-se activos até meados da década de 50. Actualmente, os próprios admiradores destes colaboradores nazis no Báltico reciclados reconhecem o carácter terrorista dos seus heróis, como é fácil de confirmar através do volume de baixas soviéticas nos anos de 1944-1958 no Báltico: mais de 25 mil civis foram assassinados e muitos torturados antes de executados, enquanto os polícias que combatiam os Irmãos da Floresta tiveram quatro mil baixas. Outro pormenor menos ventilado é que o maior apoio interno daquelas organizações provinha dos poderosos e ricos latifundiários da região, que tinham um profundo ódio aos camponeses que os tinham expropriado durante os anos da Revolução Russa. Após a deportação para a Sibéria, no final dos anos 40, da maioria dos grandes proprietários de terras no Báltico, a actividade dos Irmãos da Floresta decaiu consideravelmente, apesar de todos os esforços da CIA e dos serviços secretos britânicos para reactivá-los. O golpe final foi dado após a amnistia concedida pelas autoridades soviéticas após a morte de José Estaline, em 1953. O leitor terá de procurar em língua russa (mesmo que em sítios como a insuspeita Rádio Liberdade, financiada pelo governo americano) as fontes documentais sobre este assunto, visto os websites do Ocidente serem consideravelmente parcos a respeito destes dados e optarem habitualmente por uma visão puramente apologética dos Irmãos da Floresta, escondendo a sua verdadeira natureza.
  • 3. Neonazis e veteranos da Waffen-SS voltaram a marchar em Riga em Março de 2019, como denunciou o AbrilAbril em artigo publicado na altura.
  • 4. O regimento Azov [ou «Batalhão Azov», ou muito simplesmente «Azov»] é uma organização paramilitar criada em 2014, durante os protestos da praça Euromaidan e do golpe de Estado que lhe foi subsequente. É enquadrado e remunerado pelo Ministério do Interior da Ucrânia como um dos membros da chamada Guarda Nacional, que confere poderes estatais a este e outros grupos fascistas ucranianos. Originalmente fundado como um grupo paramilitar voluntário, é acusado de ser uma organização neonazi e neofascista, além de estar envolvido em vários casos de abusos de direitos humanos e crimes de guerra leste da Ucrânia, principalmente em casos de torturas, estupros, saques, limpeza étnica e perseguição de minorias como homossexuais, judeus e russos. O Azov tem ligações a grupos nazi-fascistas internacionais, como em Itália ou no Brasil onde recruta combatentes na guerra que move contra as populações do Donbass, no leste da Ucrânia.
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As declarações de Jens Stoltenberg, secretário-geral da NATO, não o devem ter desanimado: «Depois da invasão, os aliados intensificaram o apoio militar adicional, com mais equipamento militar, e a reunião de hoje deixou a mensagem clara de que os aliados devem fazer mais e estão prontos a fazer mais para proporcionar mais equipamento, e entendem e reconhecem a urgência.»

Na mesma ocasião, Stoltenberg não hesitou em afirmar que o apoio militar directo da NATO à Ucrânia remonta a 2014 e que dezenas de milhares de soldados ucranianos foram treinados pela aliança nos últimos oito anos, muito antes de tropas russas terem invadido a Ucrânia.

Nem defensiva, nem democrática

«Com a esperança de enfraquecer e desestabilizar a Rússia, a NATO prefere, de forma transparente, que os ucranianos continuem a sacrificar as suas vidas», afirma Ben Norton, destacando como toda esta «extrema violência e belicismo» chocam de frente com a pretensão da NATO de ser uma aliança «defensiva».

«A verdade é que a NATO nunca se dedicou à defesa e muito menos à democracia», afirma o jornalista, lembrando que entre os membros fundadores da aliança militar, em 1949, estava Portugal, uma ditadura fascista.

«As ruínas da Líbia, do Afeganistão e da antiga Jugoslávia mostram aquilo que a NATO realmente oferece ao mundo», alerta.

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A forma de alcançar um cessar-fogo célere no conflito em curso na Ucrânia e o avanço nas negociações de paz, tendo como base as preocupações legítimas das partes, serão discutidos pelos países-membros, notou.

Outras questões na agenda serão a energia global, a segurança alimentar, bem como os Objectivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU 2030.

Os membros do bloco devem também responder aos anseios de países que o querem integrar, e devem debater se apoiam a expansão da plataforma, discutindo os princípios, padrões e procedimentos para esse efeito, disse ainda Zhu Tianxiang.

Com mais de 40% da população mundial, os países do BRICS, sublinha o Global Times, representam 24% do PIB mundial e 16% do comércio global.

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«A China trabalhará com outros países para aprofundar ainda mais a cooperação na iniciativa de desenvolvimento global, promover o desenvolvimento global, reformar a Organização Mundial do Comércio e resolver conjuntamente problemas comuns, melhorando a vida das pessoas em todo o mundo», sublinhou o representante chinês.

«A hegemonia não está no ADN da China», destacou Xi, que fez questão de deixar claro que o seu país não está empenhado numa «competição entre grandes potências», «mas permanece firmemente no lado certo da história», em prol dos «interesses comuns dos países emergentes», refere a Xinhua.

Com a celebração do Fórum Empresarial, esta terça-feira, teve início a XV Cimeira de chefes de Estado e de governo do grupo BRICS, que se prolonga até amanhã, dia 24, no Centro de Convenções de Sandton, em Joanesburgo, com o lema ««BRICS e África: Parceria para um Crescimento Mutuamente Acelerado, Desenvolvimento Sustentável e Multilateralismo Inclusivo».

As decisões tomadas e os acordos alcançados ao longo da cimeira, em que participam dezenas de chefes de Estado, irão integrar a chamada Declaração de Joanesburgo.

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«As regras internacionais devem ser escritas e defendidas em conjunto por todos os países, com base nos propósitos e princípios da Carta das Nações Unidas, em vez de serem ditadas por aqueles que têm músculos mais fortes ou a voz mais alta», defendeu Xi Jinping. «Unir-se para formar grupos exclusivos e apresentar as suas próprias regras como normas internacionais é ainda mais inaceitável», denunciou, citado pela Xinhua.

Neste sentido, referindo-se ao conflito na Ucrânia, considerou urgente «encorajar conversações de paz, promover a desescalada, pôr fim aos combates e concretizar a paz», acrescentando que «ninguém deveria atirar lenha para a fogueira para piorar a situação».

Grupo BRICS deve «praticar o verdadeiro multilateralismo»

«Os países do BRICS devem manter-se na direcção do desenvolvimento pacífico», defendeu Xi, que sugeriu um maior intercâmbio entre povos e promover a aprendizagem mútua entre civilizações. Neste contexto, insistiu que os países que integram o bloco «devem defender o espírito de inclusão, a coexistência pacífica e a harmonia entre civilizações, e promover o respeito de todos os países na escolha independente dos seus caminhos de modernização».

Os países do grupo BRICS devem «praticar o verdadeiro multilateralismo» e «defender o sistema internacional centrado nas Nações Unidas», aproveitando plenamente o papel do Novo Banco de Desenvolvimento, disse o presidente chinês, que se congratulou com o «entusiasmo crescente dos países em desenvolvimento relativamente à cooperação do BRICS».

Neste contexto, referiu-se ao facto de que um grande número (mais de duas dezenas) solicitou a adesão ao mecanismo de cooperação do BRICS.

«Temos de agir de acordo com o espírito de abertura, inclusão e cooperação vantajosa do BRICS, para trazer mais países para a família BRICS, de modo a unir a nossa sabedoria e força e tornar a governação global mais justa e equitativa», disse.

A XV Cimeira de chefes de Estado e de governo do grupo BRICS, que termina hoje, tem estado a decorrer no Centro de Convenções de Sandton, em Joanesburgo, sob o lema «BRICS e África: Parceria para um Crescimento Mutuamente Acelerado, Desenvolvimento Sustentável e Multilateralismo Inclusivo».

Para hoje, estão previstos vários eventos paralelos, bem como a proclamação da Declaração de Joanesburgo, em que ficarão plasmados os acordos alcançados e as decisões tomadas ao longo da cimeira.

Novas adesões anunciadas

Entretanto, já esta manhã, o portal tvbrics.com anunciou que Argentina, Egipto, Etiópia, Irão, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos se vão juntar ao BRICS. «A adesão plena dos novos países à organização terá início em 1 de Janeiro de 2024», revela a fonte.

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«Estamos numa época de agitação e caos», frisou Wang, referindo-se aos conflitos que se arrastam na Ucrânia e na Palestina, e aos desafios que se colocam à cibersegurança e ao ambiente. 

No mesmo contexto, o diplomata alertou que, «para manter a sua hegemonia unipolar, um certo país está a juntar os seus aliados para aplicar sanções unilaterais e erguer altas barreiras proteccionistas, além de utilizar as medidas económicas e financeiros como armas».

«A divisão Norte-Sul continua a aumentar e a recuperação económica mundial enfrenta reveses», disse ainda Wang, notando, ainda assim, que «a ascensão colectiva dos mercados emergentes e dos países em desenvolvimento» promove de forma significativa «o processo rumo a um mundo multipolar».

«Está a emergir uma nova onda de revoluções tecnológicas e transformações industriais, que levam um grande número de países para uma via de desenvolvimento rápido», destacou, citado pela Xinhua.

Venezuela e Rússia assinam acordo para neutralizar efeitos das sanções

À margem do encontro dos ministros dos Negócios Estrangeiros do Grupo BRICS e do diálogo entre estes e os países em desenvolvimento, Nizhny Novgorod foi palco de intensa actividade diplomática bilateral.

Serguei Lavrov e Yván Gil assinam um memorando de entendimento em Nizhny Novgorod / @yvangil

Exemplo disso foi o encontro mantido entre o ministro venezuelano dos Negócios Estrangeiros, Yván Gil, e o seu homólogo russo, Serguei Lavrov, no qual ambos decidiram avançar para a criação de mecanismos que neutralizem as medidas coercivas unilaterais impostas pelos EUA e seus aliados europeus.

Para esse efeito, subscreveram um memorando de entendimento que permitirá estabelecer mecanismos financeiros e logísticos imunes à ingerência externa e reforçar a cooperação bilateral em áreas como agricultura, medicina, energia e tecnologias avançadas, revelou o diplomata venezuelano na sua conta de Twitter (X).

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Para a cimeira que terá lugar na cidade russa de Cazã entre 22 e 24 de Outubro, foram igualmente convidados os líderes de países que pretendem tornar-se membros do grupo ou estabelecer com ele alguma forma de cooperação, disse ainda Ushakov, que confirmou a presença, para já, de 18 dos líderes aos quais foram endereçados convites.

O assessor presidencial russo destacou igualmente o facto de a maioria dos eventos programados pelo seu país para os primeiros seis meses da presidência do BRICS ter decorrido com êxito, sendo que o seu número ascende a cerca de 160.

«A Rússia considera o lançamento de novos formatos de interacção como uma conquista importante da sua presidência do BRICS», disse também o funcionário, em alusão ao «novo formato de Estado-parceiro do BRICS» que está a ser elaborado.

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Rússia assume presidência do BRICS e prepara-se para realizar múltiplos eventos

A Rússia tem prevista a realização de cerca de 200 eventos no âmbito da sua presidência do grupo BRICS, incluindo uma dezena a nível ministerial, anunciou o ministro russo dos Negócios Estrangeiros.

Bandeiras dos cinco países-membros do BRICS: Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul 
Créditos / Global Times

A 1 de Janeiro, a Rússia assume a presidência do BRICS, lembrou Sergei Lavrov, esta quarta-feira, no Conselho da Federação (Senado). Acrescentou que a reunião dos ministros dos Negócios Estrangeiros do grupo terá lugar no Verão, na cidade de Nizhny Novgorod.

Na ocasião, Lavrov sublinhou que o grupo BRICS, integrado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, é «um dos pilares da ordem mundial multipolar emergente».

«Vamos promover uma integração fluida de novos participantes nas estruturas de trabalho do BRICS e esperamos chegar à cimeira da associação, que terá lugar na cidade de Cazã, no próximo mês de Outubro, com um conjunto de decisões políticas, de segurança, financeiras e económicas, culturais e humanitárias», acrescentou.

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Dirigentes do grupo BRICS defendem uma maior integração financeira

No Fórum Empresarial do BRICS, os representantes dos cinco países que integram o bloco centraram os seus discursos no que consideram a via para reforçar os laços financeiros e económicos.

Representantes dos cinco países-membros do grupo BRICS 
Créditos / tvbrics.com

No âmbito da XV Cimeira do BRICS, decorreu esta terça-feira, em Joanesburgo (África do Sul), o Fórum Empresarial dos países do BRICS, contando com a presença de chefes de Estado, membros de governo, empresários e delegados de vários países.

No final do Fórum, representantes políticos dos cinco países-membros do bloco – África do Sul, Brasil, China, Índia e Rússia – discursaram. O presidente russo, Vladimir Putin, interveio por videoconferência, enquanto Xi Jinping, que se encontra na África do Sul, se fez representar pelo ministro chinês do Comércio, Wang Wentao.

Na sua intervenção, o presidente do Brasil, Lula da Silva, defendeu a criação de uma moeda de referência do BRICS, mas que não substitua as divisas dos países-membros.

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Díaz-Canel destaca o papel dos BRICS face à hegemonia

Numa entrevista concedida ao canal RT, o presidente cubano classificou o grupo dos BRICS como uma alternativa importante à ordem económica internacional, tendo em conta a hegemonia do dólar.

Em entrevista à RT, o presidente de Cuba, Díaz-Canel, denunciou o bloqueio norte-americano e mostrou confiança na capacidade dos BRICS para desenvolver novas formas de relações económico-comerciais 
Créditos / Prensa Latina

«Os BRICS [grupo integrado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul], acima de tudo, defendem a multipolaridade, o multilateralismo nas relações. Ao defender o multilateralismo, os BRICS opõem-se aos conceitos da Guerra Fria, e geram a possibilidade de uma ordem económica internacional mais justa, mais equitativa, que favoreça todos», sublinhou Miguel Díaz-Canel, citado pela agência Prensa Latina – com acesso ao canal RT en Español.

Para Díaz-Canel, Washington pretende manter o controlo total da economia mundial, apoiado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial (BM), o que cria uma ordem «totalmente injusta, antidemocrática».

«Hoje, as relações internacionais no mundo assentam na política agressiva e hegemónica do governo dos Estados Unidos, que constantemente ergue muros, aplica sanções coercivas, chantagem, agressão, calúnias», disse o chefe de Estado cubano ao canal russo.

Denunciou, além disso, as pressões dos sucessivos governos da Casa Branca em relação a Cuba, através do bloqueio económico, comercial e financeiro imposto.

«Cuba é um exemplo disso com o bloqueio e com a recusa de que Cuba possa realizar operações financeiras em dólar, que são perseguidas por instituições financeiras norte-americanas», disse.

Em seu entender, os planos do grupo dos BRICS vão promover o desenvolvimento de novas formas de relações económico-comerciais e contribuirão para o equilíbrio perante as forças de poder económico do país a norte.

Díaz-Canel afirmou que Rússia e China assumem um o «papel relevante [...] na política internacional», sendo por isso «uma preocupação para os Estados Unidos» / Prensa Latina

O presidente cubano condenou ainda o recurso aos «golpes brandos» e à «judicialização da política» por parte dos Estados Unidos contra governos da América Latina, afirmando que é «uma crueldade e uma perseguição baseada na construção de mentiras, de calúnias, de falsos acontecimentos contra líderes da esquerda».

Nos 47 minutos da entrevista concedida à jornalista Aliana Nieves, que teve lugar no Palácio da Revolução, Díaz-Canel referiu-se ainda ao papel actualmente desempenhado por Rússia e China, frisando que são «uma preocupação para os Estados Unidos» pelo «papel relevante que têm na política internacional».

Destacou, além disso, o excelente estado das relações políticas entre Cuba e Rússia, o que permite uma maior cooperação comercial e financeira, e em sectores como o da energia.

Fez ainda referência – condenando-as – à «presença militar agressiva dos EUA» no Estreito de Taiwan e à expansão da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO) em direcção às fronteiras russas, bem como às medidas económicas que o Ocidente adoptou contra o gigante euroasiático.

Pode-se aceder à entrevista, na íntegra, por via do link https://vk.com/video-61174019_456254715.

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«Sou a favor da ideia de uma maior integração financeira, na qual possamos ter uma nova unidade de referência. O banco unificado deve ser um líder mundial no financiamento de projectos que resolvam os problemas mais urgentes do nosso tempo, diversificando as fontes de pagamentos em moedas locais», disse Lula.

O chefe de Estado brasileiro destacou ainda o crescimento das relações comerciais do seu país com o bloco, que, em seu entender deve ser uma força em prol de um comércio global mais justo, previsível, equitativo; e garantiu o interesse do Brasil no continente africano.

Maior investimento e cooperação

Por seu lado, o presidente russo, Vladimir Putin, destacou a importância das reuniões e fóruns celebrados no formato BRICS e BRICS+, que «desempenham um grande papel prático na promoção do comércio e investimento mútuos, aprofundando os laços de cooperação e expandindo o diálogo directo entre as comunidades empresariais», disse.

O dirigente russo destacou igualmente o crescimento económico dos países que integram o grupo, tendo afirmado que, «na última década, o investimento mútuo dos países-membros do BRICS aumentou seis vezes».

«Por sua vez, os seus investimentos na economia global como um todo duplicaram. As exportações agregadas atingiram 20% do valor global. Quanto à Rússia, o nosso volume de negócios com os parceiros do BRICS aumentou 40,5% e atingiu um recorde de mais de 230 mil milhões de dólares», afirmou o chefe de Estado do país euro-asiático.

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BRICS alerta para os riscos do unilateralismo

Na X Cimeira do BRICS, os presidentes sul-africano e chinês defenderam o multilateralismo e alertaram para os efeitos negativos do proteccionismo na economia mundial.

A X Cimeira do BRICS, em 2018, teve uma mensagem clara em defesa do multilateralismo e da cooperação entre os povos
Créditos / thenational.ae

Esta quinta-feira, segundo dia da cimeira que hoje termina em Joanesburgo, na África do Sul, os chefes de Estado ou de governo do BRICS, organismo que representa as principais economias emergentes do mundo, debateram temas como a cooperação e as ameaças ao comércio mundial, bem como questões relacionadas com o actual cenário político e de segurança internacional.

A sessão de ontem – precedida, na quarta-feira, pela realização do Fórum de Negócios do BRICS – foi presidida pelo chefe de Estado sul-africano, Cyril Ramaphosa, e contou com a participação e as intervenções dos presidentes do Brasil, da Rússia e da China, e do primeiro-ministro da Índia, que abordaram a fundo questões relativas à cooperação entre os seus países, sob o lema «BRICS em África: colaborando para o crescimento inclusivo e a prosperidade partilhada na Quarta Revolução Industrial».

Nas suas intervenções, Ramaphosa e o presidente chinês, Xi Jinping, vincaram a defesa do multilateralismo e do comércio livre. Sem se referir aos EUA, o presidente da China enquadrou o unilateralismo e o proteccionismo nos factores que «estão a afectar o ambiente de desenvolvimento externo dos mercados emergentes e dos países em desenvolvimento».

Xi Jinping defendeu a consolidação do quadro de cooperação do BRICS, assente na cooperação económica, política e de segurança, bem como no comércio entre os povos. Tal como Cyril Ramaphosa, o chefe de Estado chinês exortou os países do BRICS a trabalhar de forma conjunta em prol de um novo tipo de relações internacionais, marcadas pelo respeito mútuo, a igualdade e a justiça.

«Devemos continuar comprometidos com o multilateralismo e os propósitos e princípios da Carta das Nações Unidas», disse, defendendo que, na salvaguarda da paz e da segurança mundiais, os membros do BRICS devem «pedir a todas as partes que cumpram as normas fundamentais que regem as relações internacionais e solucionem as disputas pela via do diálogo».

«Permitir que mais povos e países beneficiem dos avanços»

Logo na quarta-feira, perante os mais de mil delegados presentes no Fórum de Negócios da X Cimeira do BRICS, Ramaphosa mostrou-se preocupado com o «aumento de medidas unilaterais que são incompatíveis com as regras da Organização Mundial do Comércio» e, especialmente, com o seu impacto «nos países em vias de desenvolvimento».

Esta intervenção inicial ficou marcada pelas críticas ao unilateralismo – sem referências directas a Donald Trump –, a defesa do multilateralismo e a lembrança das conquistas do BRICS na sua década de cooperação.

A necessidade de um rumo estratégico para as oportunidades que a Quarta Revolução Industrial proporciona e a importância da cooperação do BRICS com África foram outros tópicos de destaque na intervenção do chefe de Estado sul-africano.

Também Xi Jinping deixou clara, logo no primeiro dia da Cimeira, a rejeição das medidas unilaterais e do proteccionismo económico, afirmando que os BRICS devem promover uma economia mundial aberta.

Sublinhando o contributo dado pelo bloco que integra o seu país, a Índia, a Rússia, a África do Sul e o Brasil, nos seus primeiros dez anos, para a recuperação e o crescimento económico mundiais, o presidente chinês afirmou: «Deve-se rejeitar uma guerra comercial, pois não haveria vencedores.»

«A hegemonia económica é ainda mais inaceitável, na medida em que minaria os interesses colectivos da comunidade internacional; aqueles que seguirem esse caminho acabarão apenas por se prejudicar a si mesmos», frisou.

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Já o presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, destacou o facto de as mudanças sofridas pelas economias do espaço BRICS nas últimas décadas terem contribuído, de forma decisiva, para transformar a configuração da economia mundial, indica a TeleSur.

Em seu entender, «o grupo de países do BRICS existe não apenas para fortalecer as relações intergovernamentais, mas também para reforçar os laços entre as pessoas» desses cinco países. Por isso, sublinhou a criação de vários órgãos que garantem a cooperação entre empresas, partidos políticos e sectores sociais e desportivos.

Ramaphosa afirmou a ideia de inclusão e, nesse sentido, defendeu a necessidade de «reformas fundamentais das instituições financeiras globais, para que possam ser mais flexíveis face aos desafios que as economias emergentes enfrentam».

«A hegemonia não está no ADN da China»

Ao intervir, o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, sublinhou o papel do Conselho Empresarial do BRICS no actual panorama geopolítico. Afirmando que a criação da aliança representou «um raio de esperança para a economia global», Modi referiu-se aos desafios económicos que o mundo enfrenta, nos dias de hoje, e como o papel dos países do BRICS está a crescer mais uma vez».

O discurso do presidente chinês, Xi Jinping, foi proferido pelo ministro do Comércio da China, Wang Wentao. Nele, o chefe de Estado destacou o 10.º aniversário do Conselho Empresarial do BRICS. «Desde então, o conselho permaneceu fiel à sua missão principal, aproveitando oportunidades para aprofundar a cooperação, promovendo o desenvolvimento económico e social dos países do BRICS e ajudando a sustentar o crescimento económico global», defendeu Xi pela voz do seu ministro.

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BRICS: apostar na cooperação e desenvolvimento, fazer frente à hegemonia

O presidente chinês fará a abertura da 14.ª Cimeira do BRICS, em Pequim, no dia 23. O tema central do evento é «Promover parceria BRICS de alta qualidade, inaugurar uma nova era para o desenvolvimento global».

Bandeiras dos cinco países-membros do BRICS: Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul 
Créditos / Global Times

No âmbito do encontro, dia 24 de Junho, Xi Jinping será o anfitrião do Diálogo de Alto Nível sobre Desenvolvimento Global, em Pequim, que contará com a presença de líderes de países do bloco e de países em desenvolvimento e de mercados emergentes, revela o portal do periódico Global Times.

Como a China preside actualmente ao bloco que integra também o Brasil, a Rússia, a Índia e a África do Sul, Xi Jinping vai ainda participar na cerimónia de abertura do Fórum Empresarial do BRICS, em formato virtual, e dará uma palestra, esta quarta-feira.

O anúncio desta agenda foi feito por Wang Wenbin, representante do Ministério dos Negócios Estrangeiros da China, numa conferência de imprensa na capital chinesa, sexta-feira passada.

Na ocasião, Wang destacou que os países do BRICS resistiram ao teste da mudança da situação internacional e tornaram-se uma força importante que não pode ser ignorada no cenário internacional.

À medida que o mundo entra num novo período de turbulência e mudança, assume maior destaque a importância de aprofundar ainda mais a cooperação deste bloco, e os mercados emergentes e países em desenvolvimento demonstram maior vontade de participar nesta cooperação.

Wang disse ainda que a China espera trabalhar com os outros países do BRICS para, através da cimeira, aprofundar a cooperação e dar um maior contributo para manter a paz e a estabilidade, e promover o desenvolvimento.

Uma nova abordagem, distante da hegemonia

Nas reuniões do bloco estarão não apenas representantes dos cinco países-membros, mas também de países emergentes como a Indonésia e a Argentina, o que, segundo o Global Times, indica que o BRICS representa um «conceito comum de países em desenvolvimento e novas forças na reforma da governação mundial», que persegue uma diplomacia independente e vias de desenvolvimento, em vez de seguir o Ocidente económica e politicamente.

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BRICS alerta para os riscos do unilateralismo

Na X Cimeira do BRICS, os presidentes sul-africano e chinês defenderam o multilateralismo e alertaram para os efeitos negativos do proteccionismo na economia mundial.

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A sessão de ontem – precedida, na quarta-feira, pela realização do Fórum de Negócios do BRICS – foi presidida pelo chefe de Estado sul-africano, Cyril Ramaphosa, e contou com a participação e as intervenções dos presidentes do Brasil, da Rússia e da China, e do primeiro-ministro da Índia, que abordaram a fundo questões relativas à cooperação entre os seus países, sob o lema «BRICS em África: colaborando para o crescimento inclusivo e a prosperidade partilhada na Quarta Revolução Industrial».

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Isto também porque, acrescenta, o bloco explora «uma ordem internacional mais justa e mutuamente benéfica», e porque ficar «preso à velha ordem de confrontação e jogos de "soma zero", dominada pelo Ocidente», só pode conduzir a conflitos e crises intermináveis.

A este propósito, o professor Wang Wen, do Instituto Chongyang de Estudos Financeiros da Universidade Renmin da China, disse ao Global Times que o Ocidente está «a tentar lucrar ao transformar a segurança e os conflitos na principal questão mundial», e a Cimeira do BRICS na China deve trazer uma «nova atmosfera» ao mundo, que inclua um sistema de governação mundial igualitário, em vez de um dominado pela hegemonia dos EUA; um novo enfoque da reforma financeira, colocando-o ao serviço da entidade económica, em de vez a militarizar; e a reparação da cadeia de abastecimento mundial, que foi minada pelos EUA.

Face à tenativa de instaurar a Guerra Fria, uma plataforma de desenvolvimento

Num contexto em que os Estados Unidos têm estado a tentar isolar a Rússia e conter a China, em que o tema primordial da paz e do desenvolvimento foi seriamente questionado pelas alianças lideradas pelos EUA e em que muitos dos países em desenvolvimento enfrentam desafios sérios associados aos efeitos da guerra na Ucrânia – como segurança alimentar, inflação e especulação –, a 14.ª Cimeira do BRICS, na China, constitui-se como uma plataforma para «construir um consenso sobre a forma de abordar os desafios sérios colocados ao desenvolvimento», refere o periódico.

As reuniões no âmbito da cimeira centrar-se-ão na segurança e no desenvolvimento, disse ao Global Times Zhu Tianxiang, director do Centro de Segurança Política do Instituto de Investigação BRICS da Universidade de Estudos Internacionais de Sichuan.

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Ucranianos podem continuar a morrer: NATO admite que não quer a paz

A Aliança Atlântica deixou claro que, para defender os seus interesses geopolíticos e debilitar a Rússia, está disposta «a lutar até ao último ucraniano». O WaPo foi explícito e o jornalista Ben Norton também.

Imagem de Mariupol, na região do Donbass 
Créditos / slavyangrad.es

De uma forma que Norton considera «escandalosamente franca», The Washington Post (WaPo) reconheceu que alguns estados-membros da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO) querem que «os ucranianos continuem a lutar e a morrer» para evitar que a Rússia obtenha ganhos políticos.

Numa peça publicada a 5 de Abril último sobre as conversações de paz entre a Ucrânia e a Rússia, o jornal norte-americano revelou que a NATO teme que Kiev ceda a algumas das exigências de Moscovo.

O jornal escreveu: «Para alguns na NATO, é melhor que os ucranianos continuem a lutar e a morrer do que alcançar uma paz que chega demasiado cedo ou a um custo demasiado alto para Kiev e o resto da Europa.»

Tendo em conta «as questões mais importantes de segurança global em jogo», os que apoiam a Ucrânia no Ocidente sublinharam que «há limites para o número de compromissos que alguns na NATO irão apoiar para ganhar a paz», escreveu o jornal, acrescentando que estão dispostos a prolongar a guerra para evitar que as preocupações da Rússia com a segurança sejam satisfeitas.

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EUA provocaram a crise na Ucrânia, defende jornalista norte-americano

Um relatório da Rand Corporation, um dos think tanks que o Departamento da Defesa mais tem em consideração, «receitou» as provocações contra a Rússia e previu as acções de Moscovo.

Créditos / multipolarista.com

Ao analisar o relatório da Rand – publicado em 2019 e intitulado «Overextending and Unbalancing Russia» (esgotar e desequilibrar a Rússia) –, o jornalista norte-americano Rick Sterling afirma que o objectivo dos EUA era minar a Rússia, tal como o fez com a União Soviética no período da guerra fria.

«Em vez de "tentar estar na vanguarda" ou tentar melhorar a situação dos Estados Unidos a nível interno e nas relações internacionais, a ênfase é colocada nos esforços e nas acções para minar o adversário designado, a Rússia», diz Sterling numa análise que publicou dia 27 no portal dissidentvoice.org e também acessível em english.almayadeen.net.

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Ucrânia, o rastilho da Europa

Entre a riqueza armamentista e a miséria social, este país a funcionar como base militar da NATO transformou-se num rastilho de guerra, talvez o mais inquietante, susceptível de incendiar a Europa e o mundo.

Militares ucranianos no Donbass (foto de arquivo)
Créditos / Telegraph.ua

A administração colonial formada pelos Estados Unidos e a União Europeia que desde 2014 gere a Ucrânia, com apoio em entidades nazis saudosas de Hitler, criou a maior plataforma de guerra e de provocação que ameaça toda a Europa ao mesmo tempo que transformou o país num espaço de miséria.

Desde 2014 que, à luz do golpe da Praça Maidan dado em nome «da democracia», que Washington e Bruxelas vêm militarizando a Ucrânia recorrendo, sem rebuço nem vergonha, a uma máfia política mergulhada em corrupção e em traficâncias neoliberais; criando assim condições para conduzir uma guerra interna contra as populações russófonas da região do Donbass e desenvolvendo uma atmosfera de hostilidade contra a Rússia e a Bielorrússia propícia às manobras agressivas e provocatórias da NATO.

Nas operações internas tem-se distinguido, pela crueldade exercida contra as populações civis, o instrumento de mão do regime, a Guarda Nacional, corpo criado a partir do golpe de 2014 integrando estruturas retintamente nazis, como é o caso do batalhão Azov. Notícias vindas regularmente a público, mas que não cabem nos pacotes propagandísticos da comunicação social corporativa, dão conta de que estes grupos hitlerianos frequentam as acções de formação ministradas por altos quadros militares norte-americanos e europeus em situação de reserva mas realmente integrados nas estruturas da NATO.

Já em Novembro deste ano o regime de Kiev recebeu mais 60 milhões de dólares em material militar, incluindo 80 toneladas de munições, da administração Biden – a quarta remessa desde Agosto enviada de Washington. Joseph Biden, então como vice-presidente de Obama, foi um dos principais operacionais do golpe de Maidan, recorrendo principalmente aos serviços de campo de Victoria Nuland, quadro superior do Departamento de Estado envolvida directamente na conspiração, na acção e na formação dos primeiros governos do regime. A propósito desta manobra, na qual os Estados Unidos fizeram questão de exercer exclusividade absoluta, Nuland pronunciou a célebre frase «fuck the UE», um escândalo diplomático entre «aliados» que Bruxelas, fiel à sua subserviência em relação a Washington, reduziu a um não-acontecimento. A expressão foi proferida numa conversa com o então embaixador norte-americano em Kiev, Geoffrey E. Pyatt, agora em Atenas conduzindo as acções de conspiração e provocação nos Balcãs.

«Joseph Biden, então como vice-presidente de Obama, foi um dos principais operacionais do golpe de Maidan (...)»

O actual presidente norte-americano tem uma forte ligação «sentimental» à Ucrânia. Utilizando o filho Hunter Biden como testa de ferro, Joseph Biden entrou em força nos negócios de petróleo e gás do país; no seu actual governo colocou na mais elevada das posições, a de secretário de Estado, o norte-americano e ucraniano Anthony Blinken. De 2014 para cá têm passado pela administração ucraniana vários ministros e ministras de nacionalidade e ascendência norte-americana, ou mesmo indivíduos com formação nos Estados Unidos e que já foram presidentes de outros países, como o caso do georgiano corrupto Shakashwili.

Desde o golpe de 2014, segundo o actual secretário da Defesa norte-americano, Lloyd Austin, os Estados Unidos injectaram na Ucrânia mais de 2500 milhões de dólares em material militar, incluindo recentemente os mísseis antitanque Javelin, que já foram utilizados na guerra contra o Donbass, de acordo com Kyrilo Budanov, chefe da espionagem militar de Kiev. Confirmando-se assim que o governo ucraniano tem como política a violação dos acordos de Minsk, que determinam uma solução política e não militar para o conflito na região.

Budanov foi mais longe e assegurou que os mísseis Javelin foram usados igualmente «contra forças russas». Esta afirmação deve ler-se, porém, à luz do facto de Kiev considerar as forças militarizadas de autodefesa do Donbass como «parte do exército russo». Uma asserção que faz parte do discurso provocatório oficial ucraniano.

De realçar ainda que o equipamento das forças militares de influência nazi da Ucrânia foi ainda reforçado recentemente com drones ofensivos Bayraktar, de fabrico turco. O ditador Erdogan é um dos pilares internacionais de sustentação do regime autocrático de Kiev, apesar da crescente degradação das condições económicas do seu país.

Provocação em curso

Há pouco mais de uma semana, os serviços de espionagem norte-americanos municiaram a Comissão Europeia com supostas «informações secretas», segundo as quais a Rússia se prepara para invadir a Ucrânia no início do próximo ano, designadamente a partir da Crimeia e da Bielorrússia.

Embora fazendo parte da alimentação permanente da hostilidade da União Europeia para com a Rússia, esta diligência pode traduzir um novo nível da agressividade da NATO em relação a Moscovo. Há poucos dias, tirando proveito da situação criada com o problema dos refugiados entre a Bielorrússia e a Polónia, a Aliança Atlântica reforçou com mais umas dezenas de tanques o seu dispositivo de guerra alegadamente contra Minsk mas que, em última análise, tem a Rússia como alvo principal.

Na sequência das mais recentes operações militares de Kiev contra o Donbass, utilizando nomeadamente os mísseis de fabrico norte-americano Javelin, como o chefe da espionagem militar ucraniana confirmou, o exército russo reforçou os dispositivos militares na fronteira ucraniana. Algo que Moscovo já fizera anteriormente e que dissuadiu então as forças de Kiev de prosseguirem uma das frequentes ofensivas contra o Leste do país.

Os Estados Unidos pretendem que se interpretem estas movimentações como uma ameaça iminente de invasão da Ucrânia pela Rússia. Washington e a NATO, que se caracterizam por fazer manobras militares agressivas em praticamente todo o mundo, onde dispõem de 800 bases militares muito para além das suas próprias fronteiras, têm assim a desfaçatez de qualificar como indícios de agressão as movimentações militares a que outros países procedem, de maneira soberana, exclusivamente no interior dos seus territórios. A Rússia, recorda-se, está cercada pela presença exorbitante de tropas da NATO nas suas fronteiras, oriundas até de nações muito distantes.

«Washington e a NATO, que se caracterizam por fazer manobras militares agressivas em praticamente todo o mundo, onde dispõem de 800 bases militares muito para além das suas próprias fronteiras, têm assim a desfaçatez de qualificar como indícios de agressão as movimentações militares a que outros países procedem, de maneira soberana, exclusivamente no interior dos seus territórios.»

As acusações de Kiev e da NATO pronunciadas a propósito de supostas intenções agressivas de Moscovo são entre outras coisas, e como é fácil de perceber, cortinas de fumo para tentar resolver militarmente a guerra contra o Donbass e para o reforço cada vez mais intenso do massivo dispositivo da Aliança Atlântica ameaçando a Rússia.

Um regime de miséria

Entre 2013 e 2021 a Ucrânia transformou-se, como um todo, numa das maiores bases militares da NATO. Os armamentos e as capacidades militares presentes no país são absolutamente desproporcionadas e insultuosas em relação às grandes necessidades da esmagadora maioria da população, cada vez mais desprovida de condições essenciais de vida e até de sobrevivência.

O sistema autocrático e castrense instituído em Kiev pela administração colonial de Washington e Bruxelas, em nome «da democracia» e da «ameaça russa», é um regime de autêntica miséria, com estratos sociais reduzidos a uma penúria degradante. A «libertação» consumada a partir da «revolução colorida» de Maidan, que rapidamente se tornou sangrenta através da acção das tropas de choque nazis, conduziu a Ucrânia à cauda da Europa em matéria de condições sociais, económicas e humanas.

Através de dados recolhidos em fontes como o FMI, o Banco Mundial, o serviço oficial de estatísticas de Kiev e o Banco Central da Ucrânia é possível perceber o estado dramático do país, um cenário inversamente proporcional à riqueza das suas aptidões militares.

De 2013 até 2020, a população da Ucrânia reduziu-se de 45,5 milhões de pessoas para 30,1 milhões – ou mesmo para 28 milhões, segundo fontes diferenciadas.

Dessa redução de 15 milhões na população, cerca de 10 milhões deixaram o país em busca de melhores condições de vida em países da União Europeia e na Rússia. Grande parte dessas pessoas adquiriram já as nacionalidades dos países de acolhimento e chamaram as respectivas famílias. Deixaram, em grande parte, de contribuir para a economia ucraniana.

Os restantes cinco milhões de pessoas a menos traduzem o aumento de mortalidade em relação aos valores médios registados até 2013.

«A "libertação" consumada a partir da "revolução colorida" de Maidan, que rapidamente se tornou sangrenta através da acção das tropas de choque nazis, conduziu a Ucrânia à cauda da Europa em matéria de condições sociais, económicas e humanas.»

Segundo elementos fornecidos pelo FMI e pelo Banco Mundial, o Produto Interno Bruto (PIB) ucraniano desceu de 183 300 milhões de dólares em 2013 para 155 500 milhões em 2020, ou seja uma queda da ordem dos 15% desde a instauração «da democracia» por Washington e a UE.

O rendimento médio per capita caiu em média de 4030 dólares em 2013 para 3725 dólares em 2020 – 310 dólares por mês (menos de 300 euros). No entanto, a grande maioria da população, cerca de 70%, tem um rendimento mensal de 210 a 215 dólares, isto é, mais ou menos 200 euros. Naturalmente o poder de compra baixou cerca de 20%. Os preços da alimentação e dos medicamentos são os mais elevados em comparação com os dos países vizinhos.

Dados oficiais revelam ainda que um terço da população, 10 milhões de pessoas, sofre de subnutrição; e dois milhões passam fome num país onde as desigualdades continuam a crescer, como é próprio das ditaduras neoliberais.

A indústria ucraniana colapsou 25% e a dependência energética em combustíveis fósseis e electricidade continua a aumentar, sobretudo em relação à Rússia, país com o qual a Ucrânia se diz «em guerra», e à Bielorrússia, país contra o qual funciona como plataforma de conspiração e actividades subversivas.

Apesar de a Ucrânia se ter transformado num paraíso neoliberal, nem sequer se consegue afirmar como um farol para o investimento estrangeiro, antes pelo contrário: esse valor desceu de 5600 milhões de dólares em 2013 para 800 milhões de dólares em 2020, isto é, sete vezes menos do que antes do golpe.

Neste quadro verdadeiramente trágico, a publicação anual Doing Business do Banco Mundial conseguiu encontrar em 2020 um rating de «sucesso» para a Ucrânia. O resultado foi tão pouco convincente que o próprio Banco Mundial veio a considerá-lo depois como «distorcido», levantando assim suspeitas de que terá sido fabricado graças a incentivos financeiros irregulares. O regime ucraniano, de tão protegido pelos seus gestores internacionais, consegue até exportar corrupção, revelando grandes aptidões na matéria.

Entre a riqueza armamentista e a miséria social, este país a funcionar como base militar da NATO, mesmo sem pertencer formalmente à organização, transformou-se num rastilho de guerra, talvez o mais inquietante, susceptível de incendiar a Europa e o mundo.

Basta uma faúlha. E a NATO, com a colaboração prestimosa da União Europeia, parece andar à procura da maneira de a atear. Condições e marionetas não faltam na Ucrânia.

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A Rand, um think tank «quase governamental, que recebe três quartos do seu financiamento do Exército norte-americano», listou uma série de medidas anti-russas nas áreas económica, geopolítica, ideológica/informativa e militar.

Sterling destaca a importância da Ucrânia – a vários níveis – para a Rússia e, nesse sentido, afirma que se trata de uma «componente importante do esforço de EUA/NATO para minar a Rússia».

Por isso mesmo, Victoria Nuland, actual subsecretária de Estado para Assuntos Políticos, disse que os Estados Unidos investiram cinco mil milhões de dólares, ao longo de 20 anos, para «virar» a Ucrânia para a sua esfera de influência.

O culminar desse processo – sublinha Sterling – foi o golpe de Fevereiro de 2014, também conhecido como golpe fascista de Maidan. «Desde 2015, os EUA têm treinado milícias ultra-nacionalistas e neonazis», afirma o jornalista, dando indicação de várias peças que o documentam.

Provocações sugeridas contra Moscovo

O think tank altamente financiado pelo Pentágono sugeriu uma série de provocações contra a Rússia, que foram de facto implementadas. Uma delas foi o aumento da ajuda militar à Ucrânia, que tem vindo sempre a crescer desde 2019. Segundo refere The Hill, no último ano, chegou aos mil milhões de dólares.

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Situação na Ucrânia é «guerra por procuração», admite ex-funcionário da Casa Branca

Um ex-funcionário do Departamento de Estado afirmou que existe uma «guerra por procuração» da NATO com a Rússia e que os soldados russos têm de «se render ou morrer» – «quantos mais e mais depressa, melhor».

Créditos / multipolarista.com

Eliot Cohen, que foi conselheiro de Condoleezza Rice entre 2007 e 2009, no Departamento de Estado da administração de George W. Bush, é conhecido como elemento da chamada «linha dura» entre os conservadores, tendo defendido a guerra contra o Irão e as agressões norte-americanas no Iraque e no Afeganistão.

Num artigo publicado dia 14 na revista The Atlantic, Cohen louva a administração liderada pelo actual presidente norte-americano, Joe Biden, pelo «trabalho admirável» que realizou até agora em diversas frentes, nomeadamente ao «vencer a guerra de informação, mobilizar os aliados da NATO e impor sanções incapacitantes (embora incompletas) à economia russa».

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NATO e nazismo, uma irmandade

Irmãos da Floresta, regimento Azov, Abdelhakim Belhadj, o Estado Islâmico e o terrorismo «moderado», fornecimento clandestino de armamento sofisticado. A associação entre a NATO e os nazi-fascismos é um facto.

O batalhão Azov, apoiado pela NATO e pelas lideranças da UE e dos EUA, e tratado pelos mainstream media ocidentais como «nacionalistas ucranianos» ou «admiradores de Stepan Bandera», usa o símbolo nazi Wolfsangel na sua bandeira e uma das tropas de choque preferidas do governo de Kiev, no Leste como no resto do país.
Créditos / twitter

Que haverá de comum entre um grupo armado formado por membros das Waffen SS em Estados bálticos, designado Irmãos da Floresta, o regimento Azov da Guarda Nacional ucraniana, o emir do Daesh no Magrebe, de seu nome Abdelhakim Belhadj, e o mistério do armamento sofisticado descoberto recentemente num santuário neonazi em Turim, Itália?

Por muito que seja considerada inadmissível pela comunicação mainstream e seus fiéis seguidores, a resposta é: NATO – Organização do Tratado do Atlântico Norte.

«Que haverá de comum entre um grupo armado formado por membros das Waffen SS em Estados bálticos, designado Irmãos da Floresta, o regimento Azov da Guarda Nacional ucraniana, o emir do Daesh no Magrebe, de seu nome Abdelhakim Belhadj, e o mistério do armamento sofisticado descoberto recentemente num santuário neonazi em Turim, Itália? Por muito que seja considerada inadmissível pela comunicação mainstream e seus fiéis seguidores, a resposta é: NATO – Organização do Tratado do Atlântico Norte»

É a linguagem objectiva dos factos. E se contra factos pode haver quantos argumentos quiserem, todos eles serão rejeitados pela mais transparente realidade. As circunstâncias citadas têm em comum, sem dúvida, o culto do nazi-fascismo e, de uma maneira ou de outra, estão igualmente interligadas pela acção, protecção ou propaganda da NATO.

Vamos então a factos.

Os Irmãos da Floresta

A Segunda Guerra Mundial entrava na sua fase final quando foram criados os Irmãos da Floresta, grupos armados anticomunistas nascidos na Estónia, Letónia e Lituânia. Os membros, na sua maioria, foram recrutados entre os destacamentos locais das Waffen SS, integrados no aparelho de guerra hitleriano que tentou ocupar a União Soviética. Na Estónia, por exemplo, estes terroristas faziam juramento de fidelidade ao Fuhrer1.

Com a cumplicidade de serviços de espionagem de países ocidentais – nessa altura, formalmente em aliança com o lado soviético – os Irmãos da Floresta, ex-Waffen SS, foram reciclados como tampões contra o avanço do Exército Vermelho para Oeste depois de este ter vergado o nazismo na decisiva e sangrenta batalha de Estalinegrado.

Em suma, os Irmãos da Floresta, tal como os destacamentos bálticos das Waffen SS, tinham como missão, de facto, impedir que os soviéticos esmagassem completamente os nazis – o que também significava travar a libertação dos seres humanos que ainda sobreviviam nos campos da morte hitlerianos2.

«é pena que os propagandistas da aliança não tenham podido dedicar um segundo sequer às origens hitlerianas e terroristas da gloriosa irmandade – certamente por falta de tempo. Que outras razões haveria para esconder uma matriz tão inspiradora?»

Pois os Irmãos da Floresta são agora glorificados como heróis de uma gesta democrática, através de um documentário da NATO inserido no seu espaço de propaganda no YouTube. São oito minutos e alguns segundos de pura heroicidade ao melhor estilo de Hollywood, durante os quais os feitos dos Irmãos da Floresta são apresentados como inspiradores das forças especiais das repúblicas bálticas que agora «estão na linha da frente» contra a temível «ameaça russa». Afinal, hoje como ontem, explica-nos a NATO.

Só é pena que os propagandistas da aliança não tenham podido dedicar um segundo sequer às origens hitlerianas e terroristas da gloriosa irmandade – certamente por falta de tempo. Que outras razões haveria para esconder uma matriz tão inspiradora?3

O regimento Azov

Dos Estados bálticos para a Ucrânia, dos Irmãos da Floresta dos anos quarenta para o actual e activo regimento Azov, um bastião da «pureza rácica» ucraniana, como estipula o seu fundador, Andriy Biletski, aliás o «Fuhrer Branco». Pretende assim que os genes dos seus compatriotas «não se misturem com os de raças inferiores», cumprindo «a sua missão histórica de comandar a Raça Branca mundial na sua cruzada final pela sobrevivência».

Ao contrário do que possam pensar, isto não é folclore nem delírio sob efeito de qualquer fumo. O grupo nazi designado Batalhão Azov, e outros do género, receberam treino de instrutores norte-americanos e da NATO e foram decisivos no êxito do golpe «democrático» de 2014 na Praça Maidan, em Kiev. Depois disso, foram transformados em regimentos integrados na Guarda Nacional, o novo corpo militar nascido da «revolução» e que se tornou a guarda pretoriana do regime fascista patrocinado pela Aliança Atlântica, os Estados Unidos e a União Europeia4 .

O regimento Azov e outros grupos neonazis, inspirados pela figura de Stepan Bandera, um executor do genocídio hitleriano contra as populações ucranianas, tornaram-se corpos fundamentais na agressão do actual regime contra as populações ucranianas russófonas da região de Donbass.

Os membros do regimento Azov orgulham-se de posar com as bandeiras nazi e da NATO, dando-se assim a conhecer ao mundo.

A gratidão é uma atitude que nunca fica mal. Mesmo aos nazis.

Sob o regime actual em Kiev, a Ucrânia tornou-se, de facto, membro da NATO. Trata-se, como nos Estados bálticos, de combater a terrível «ameaça russa». Para executar tão nobre missão até o nazismo engrossa as hostes da «democracia».

Abdelhakim Belhadj

Embora desempenhando, desde 2015, a tarefa mais recatada e menos mediática de emir do Daesh, ou Estado Islâmico, no Magrebe, Abdelhakim Belhadj não desapareceu como figura de referência das transformações «libertadoras» que galoparam pelo Médio Oriente e Norte de África sob as exaltantes bandeiras das «primaveras árabes».

Abdelhakim Belhadj, para quem não se recorda, foi um dos chefes terroristas islâmicos que contribuíram, em aliança com a NATO, para «libertar a Líbia» do regime de Khaddafi. Houve-se tão bem da missão que a aliança fez dele «governador militar de Tripoli» logo que as hordas fundamentalistas tomaram a capital líbia.

Quando ainda mal aquecera o lugar, a tutela atlantista enviou-o para a Síria formar o «Exército Livre», o grupo terrorista «moderado» no qual os Estados Unidos e os seus principais parceiros da NATO apostaram inicialmente todas as fichas com o objectivo de «libertar Damasco».

Abdelhakim Belhadj recebeu honrarias dos Estados Unidos, outorgadas pelo embaixador na Líbia e pelo falecido senador McCain, então movendo-se febrilmente entre a Líbia, a Síria e a Ucrânia, onde foi um dos principais timoneiros do golpe de Maidan e das suas frentes nazis.

A partir de 2015, segundo a Interpol, Belhadj tornou-se emir do Daesh – o tão proscrito Estado Islâmico – no Magrebe.

Porém, cada vez que algum jornalista a sério mexe em acontecimentos da história recente arrisca-se a encontrar-se com a figura de Belhadj. Foi o que sucedeu com profissionais do jornal espanhol Publico: ao investigarem o envolvimento dos serviços de informações de Madrid (CNI) no atentado terrorista de 11 de Março de 2004, que provocou 200 mortos, depararam com outras situações que dizem muito sobre o tipo de «democracia» em que vivemos.

Segundo o próprio chefe do governo espanhol da época, José María Aznar – invasão do Iraque, lembram-se? –, Abdelhakim Belhadj foi um dos estrategos do atentado, embora nunca tenha sido preso nem julgado.

O curioso é que o atentado começou por ser atribuído à ETA e depois à al-Qaida; e que a maior parte dos operacionais detidos eram informadores dos serviços secretos espanhóis.

Mais curioso ainda é o facto de o tema do exercício europeu CMX 2004 da NATO, que decorreu de 4 a 10 de Março, tenha sido precisamente o da simulação de um atentado com as características do que aconteceu em 11 de Março na capital espanhola. «A semelhança do cenário elaborado pela NATO com os acontecimentos ocorridos em Madrid provoca calafrios na espinha e impressionou os diplomatas, militares e serviços de informações que participaram no exercício apenas algumas horas antes», escreveu o jornal El Mundo, inconformado com a tese que acabou por ficar para a história: atentado cometido por uma rede islamita sem ligações à al-Qaida.

Entre as névoas do caso avultam, porém, algumas circunstâncias que é possível focar: a declaração de Aznar envolvendo Abdelhakim Belhadj, que se revelou vir a ser uma aposta da NATO antes de ter ascendido ao topo do Estado Islâmico no Magrebe; e os dons proféticos desta mesma NATO, concebendo um tema para exercícios que se tornou realidade menos de 24 horas depois.

O santuário nazi de Turim

Há poucos dias, a polícia italiana descobriu um arsenal de armamento num santuário nazi em Turim, Itália.

O que à primeira vista poderia ser mais um armazém de velhas e nostálgicas recordações dos fãs do Fuhrer mudou de figura quando foram desembalados alguns sofisticados mísseis que não costumam estar ao alcance de pequenos e médios traficantes de armas.

Diz a imprensa italiana que os investigadores do caso seguiram pistas que conduziam até aos grupos nazis ucranianos mas não obtiveram dados consistentes. E provavelmente não encontrarão esses e outros elementos: a verdade é que as notícias sobre o assunto quase desapareceram. O caso é um nado-morto.

Já as redes clandestinas formadas pela NATO, do tipo Gládio, não estarão mortas, desafiando todas as propagandas, como recordaram alguns jornalistas italianos.

A história do arsenal está mal contada e, previsivelmente, será arquivada com celeridade; já o apoio da NATO aos grupos nazis ucranianos não suscita dúvidas: os próprios beneficiários o confessam. Porém, não é um auxílio que deva ser feito aos olhos de todos, tratando-se da NATO, uma aliança que existe para «defender a democracia» – a NATO só defende, nunca ataca, como se sabe. A verdade é que desde que passou de batalhão a regimento da Guarda Nacional o grupo terrorista Azov foi equipado com armas pesadas, incluindo tanques, que chegaram de algum lado. Talvez agora seja a hora dos mísseis, quem sabe? Ainda recentemente as forças policiais italianas e o regimento Azov assinaram um acordo de cooperação desbravando novos caminhos.

É provável que todas estas relações dêem os seus frutos; é improvável, porém, que cheguem ao conhecimento dos cidadãos comuns, tal como o desfecho do mistério dos mísseis nazis de Turim.

A grande irmandade

Irmãos da Floresta, regimento Azov, Abdelhakim Belhadj, o Estado Islâmico e o terrorismo «moderado», fornecimento clandestino de armamento sofisticado. Não é necessário escavar muito estas histórias, casos e mistérios para tropeçarmos na associação entre a NATO e os nazi-fascismos, duas correntes que, a acreditar na propaganda oficial, deveriam ser como a água e o azeite.

Afinal não. Trata-se de uma fluida cooperação nos tempos em que se fala no risco de uma nova guerra mundial e que traz raízes consolidadas na altura em que o anterior conflito ainda não tinha acabado.

É, como se percebe, uma grande e frutífera irmandade. Factos são factos.

  • 1. Note-se que os teóricos nazis atribuíam desde os anos 30, na sua propaganda, o estatuto de «raça superior» aos povos estónio e letão, facilitando a formação dos sanguinários esquadrões da morte bálticos integrados nas Waffen SS, tão ou mais temidos pelos povos e etnias que viviam no território soviético ocupado pela Alemanha nazi do que os próprios alemães.
  • 2. No período posterior à derrota hitleriana no Báltico os Irmãos da Floresta mantiveram-se activos até meados da década de 50. Actualmente, os próprios admiradores destes colaboradores nazis no Báltico reciclados reconhecem o carácter terrorista dos seus heróis, como é fácil de confirmar através do volume de baixas soviéticas nos anos de 1944-1958 no Báltico: mais de 25 mil civis foram assassinados e muitos torturados antes de executados, enquanto os polícias que combatiam os Irmãos da Floresta tiveram quatro mil baixas. Outro pormenor menos ventilado é que o maior apoio interno daquelas organizações provinha dos poderosos e ricos latifundiários da região, que tinham um profundo ódio aos camponeses que os tinham expropriado durante os anos da Revolução Russa. Após a deportação para a Sibéria, no final dos anos 40, da maioria dos grandes proprietários de terras no Báltico, a actividade dos Irmãos da Floresta decaiu consideravelmente, apesar de todos os esforços da CIA e dos serviços secretos britânicos para reactivá-los. O golpe final foi dado após a amnistia concedida pelas autoridades soviéticas após a morte de José Estaline, em 1953. O leitor terá de procurar em língua russa (mesmo que em sítios como a insuspeita Rádio Liberdade, financiada pelo governo americano) as fontes documentais sobre este assunto, visto os websites do Ocidente serem consideravelmente parcos a respeito destes dados e optarem habitualmente por uma visão puramente apologética dos Irmãos da Floresta, escondendo a sua verdadeira natureza.
  • 3. Neonazis e veteranos da Waffen-SS voltaram a marchar em Riga em Março de 2019, como denunciou o AbrilAbril em artigo publicado na altura.
  • 4. O regimento Azov [ou «Batalhão Azov», ou muito simplesmente «Azov»] é uma organização paramilitar criada em 2014, durante os protestos da praça Euromaidan e do golpe de Estado que lhe foi subsequente. É enquadrado e remunerado pelo Ministério do Interior da Ucrânia como um dos membros da chamada Guarda Nacional, que confere poderes estatais a este e outros grupos fascistas ucranianos. Originalmente fundado como um grupo paramilitar voluntário, é acusado de ser uma organização neonazi e neofascista, além de estar envolvido em vários casos de abusos de direitos humanos e crimes de guerra leste da Ucrânia, principalmente em casos de torturas, estupros, saques, limpeza étnica e perseguição de minorias como homossexuais, judeus e russos. O Azov tem ligações a grupos nazi-fascistas internacionais, como em Itália ou no Brasil onde recruta combatentes na guerra que move contra as populações do Donbass, no leste da Ucrânia.
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E admite claramente que a NATO trava na Ucrânia uma «guerra por procuração», buscada pela Casa Branca. No entanto, critica a actual administração por não fazer o suficiente, defendendo que deve promover ainda mais a escalada do conflito.

Segundo refere o portal multipolarista.com, tendo por base informações divulgadas na imprensa dominante, a administração de Biden enviou para a Ucrânia mais de 17 mil armas anti-tanque, incluindo mísseis Javelin, e 2000 mísseis anti-aéreos Stinger – alguns dos quais foram parar directamente às forças neonazis do Batalhão Azov.

A mesma fonte indica que, depois de ter enviado para a Ucrânia, no final de Fevereiro, armas no valor de 350 milhões de dólares, a Casa Branca aprovou uma pacote de ajuda adicional no valor de 13,6 mil milhões de dólares, em Março, incluindo 6,5 mil milhões em apoio militar.

Uma «inundação» de armas

Para Eliot Cohen, isto não basta. «O fluxo de armas que entra na Ucrânia tem de ser uma inundação», escreveu em The Atlantic.

«Os Estados Unidos e os seus aliados da NATO estão envolvidos numa guerra por procuração com a Rússia», disse. «Estão a fornecer milhares de munições e, esperemos, fazendo muito mais – partilhando inteligência, por exemplo – com o objectivo de matar soldados russos».

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Activistas norte-americanos protestam contra o negócio da guerra

Um grupo de pessoas manifestou-se, esta segunda-feira, na sede da empresa de armamento norte-americana Raytheon Technologies, em Cambridge, Massachusetts, contra o negócio da guerra.

Acção contra o negócio da guerra na sede da Raytheon, em Cambridge, Massachusetts 
Créditos@resist_abolish

No cimo da sede da Raytheon, cinco pessoas penduraram panos em que pediam o fim de todos os conflitos bélicos e denunciavam que a empresa em causa, um dos gigantes da indústria do armamento, lucra com a morte no Iémen, na Palestina e na Ucrânia [vídeo].

Outras, mais abaixo, mostraram faixas em que denunciavam o lucro da empresa com o «genocídio» e que os seus «mísseis matam civis».

De acordo com a informação divulgada na conta de Twitter da organização Resist and Abolish the Military Industrial Complex (RAM INC), a Polícia deteve as pessoas envolvidas na acção de protesto – que foram mais tarde libertadas.

Por um protesto realizado o ano passado à entrada das instalações da Raytheon em Portsmouth, no estado norte-americano de Rhode Island, a organização enfrenta uma multa de 3000 dólares, segundo informa na mesma rede social.

A Raytheon, que o ano passado anunciou vendas no valor de 64,4 mil milhões de dólares, tem entre os seus clientes a Arábia Saudita, o Catar e os Emirados Árabes Unidos.

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Empresas de armamento lucram com o trabalho dos reclusos nos EUA

«Reclusos que ganham centavos fabricam armas multimilionárias», revela o MintPress News. As maiores empresas de armas dos EUA encontram novas formas de tirar proveito do complexo industrial das prisões.

Um grupo de reclusos regressa aos dormitórios, no regresso do trabalho, na Prisão Estatal de Louisiana, em Angola, EUA 
CréditosGerald Herbert / innocenceproject.org

Um estudo do MintPress News indica que, «em muitos casos, as armas de guerra são fabricadas directamente com recurso a trabalho penitenciário sob coacção».

Centrada nas cem maiores empresas privadas contratadas pelo Departamento da Defesa norte-americano, a investigação mostra que 37% também lucram com norte-americanos reclusos, tanto em prisões como nos campos do Serviço de Imigração e Controlo de Fronteiras (ICE).

Entre os 25 maiores fabricantes de armas, 16 beneficiam do trabalho dos reclusos. A lista completa das 37 empresas que lucram com o «encarceramento massivo» pode ser consultada aqui (apresentada por ordem do valor dos contratos recebidos do Departamento da Defesa).

A lista, explica o jornalista Alan MacLeod, foi criada com base na recolha de dados do portal da administração norte-americana usaspending.gov. Os dados relativos às cem maiores empresas militares privadas contratadas no último ano fiscal completo foram comparados com uma base de dados de agentes do sector privado da indústria prisional, organizada pelo grupo Worth Rises, que defende o desmantelamento da indústria das prisões e o fim da exploração que ela implica.

«"historicamente, o governo federal atribuiu subsídios para testar nas prisões a tecnologia que está a ser desenvolvida para a luta contra o terrorismo"»

Chris Hedges, jornalista e professor no sistema prisional a quem foi pedido um comentário, não ficou chocado com o facto de quase dois terços dos maiores agentes da indústria da defesa estarem bastante envolvidos no negócio das prisões. «O tecido da indústria da defesa, o Estado carcerário, a indústria da inteligência, está tudo interligado. E acho que estas descobertas o provam», disse.

O MintPress falou igualmente com a fundadora e directora executiva da Worth Rises, Bianca Tylek, que também não se mostrou surpreendida.

«Há uma sobreposição considerável entre as duas indústrias, o que não é surpreendente; são indústrias controversas. As empresas que operam numa indústria controversa não temem participar noutra. Onde vemos uma sobreposição particular é na tecnologia de segurança e vigilância. Na verdade, historicamente, o governo federal atribuiu subsídios para testar nas prisões a tecnologia que está a ser desenvolvida para a luta contra o terrorismo», disse.

Não é uma indústria artesanal

Uma dessas empresas «controversas» é a Raytheon, que o ano passado anunciou vendas no valor de 64,4 mil milhões de dólares e que também recorre à vasta população prisional dos Estados Unidos como mão-de-obra barata quase infinita para fabricar alguns dos seus produtos mais caros.

Os reclusos, refere o texto, são obrigados a trabalhar por apenas 23 centavos por hora (menos impostos e outras taxas) para empresas subcontratadas que fabricam peças para mísseis Patriot que custam até 5,9 milhões de dólares (cada um), o que significa que um preso teria de trabalhar quase 3000 anos, 24 horas por dia, para ser capaz de pagar o que está a fazer.

«As armas da Raytheon têm sido cruciais para os bombardeamentos levados a cabo pela coligação liderada pelos sauditas no Iémen»

A administração norte-americana autoriza a Raytheon e outros a venderem os seus produtos a alguns dos governos que mais violam os direitos humanos, afirma o MintPress News, incluindo nessa lista os da Arábia Saudita, do Catar e dos Emirados Árabes Unidos.

As armas da Raytheon têm sido cruciais para os bombardeamentos levados a cabo pela coligação liderada pelos sauditas no Iémen, criando aquilo que as Nações Unidas classificam como «a pior crise humanitária do mundo».

Desde o início da guerra de agressão, a Raytheon vendeu a Riade equipamento pelo menos no valor de 3,3 mil milhões de dólares. Em 2018, a aviação saudita usou um míssil fabricado pela Raytheon para fazer explodir um autocarro cheio de crianças iemenitas, provocando a morte a 51 pessoas. «Se esta história foi notícia, há seguramente muitos outros casos semelhantes que nunca chegam ao público ocidental», frisa o portal.

Reclusos na Prisão Estatal de San Quentin, Califórnia (EUA) / VCG / CGTN

Exemplos de «promiscuidade» entre Defesa e sistema prisional

Reclusos nos EUA fabricam equipamentos electrónicos, ópticos e arneses para a BAE Systems, incluindo para o seu veículo de combate Bradley, um pilar do Exército norte-americano. Por este trabalho, os presos recebem cerca de 100 dólares por mês, segundo informação divulgada.

Várias subsidiárias da BAE Systems – incluindo o fabricante de equipamentos militares e policiais Armor Holdings (que fabrica a maioria das mochilas do Exército dos EUA) e a empresa de tecnologia de câmaras, segurança e espionagem Fairchild Imaging – também aparecem na lista de empresas que vendem para a indústria prisional, elaborada pela Worth Rises.

«Há diversas grandes empresas contratadas pela Defesa que também operam na indústria prisional.»

BAE Systems, General Dynamics e Lockheed Martin estão entre as empresas que mais lucram com o trabalho prisional, segundo a Worth Rises, que as marca com «nota máxima» no índice de danos.

Há diversas grandes empresas contratadas pela Defesa que também operam na indústria prisional. Um dos exemplos apontados pelo MintPress News é o da General Electric e das suas subsidiárias, envolvidas na construção e no equipamento das prisões, no fornecimento de alimentos e na supervisão dos cuidados de saúde.

Porventura, o agente mais importante na ligação da indústria prisional à militar é empresa estatal Unicor (também conhecida como Federal Prison Industries). Empregando 16 mil reclusos a nível nacional em 2021, a Unicor anunciou receitas de 528 milhões de dólares o ano passado.

Fabricando de tudo – desde têxteis até equipamentos de escritório e electrónicos –, a empresa presta um serviço vital ao complexo industrial militar, fornecendo-lhe um fluxo quase interminável de mão-de-obra cativa e praticamente gratuita para explorar, destaca o portal.

Ao contrário da Raytheon e da Lockheed Martin, que mantêm em silêncio a ligação a esta fonte controversa de trabalho, a Unicor parece orgulhar-se dela, ostentando-a na sua página de Internet.

Conversa progressista até falar o dinheiro

Muitas das 37 empresas listadas são conhecidas como fabricantes de armas, mas outras poderão não ser associadas à indústria das armas. A CACI International, por exemplo, está longe de ser um nome familiar, apesar de empregar mais de 22 mil pessoas em todo o mundo.

O principal cliente da CACI é o governo dos EUA, a quem fornece uma vasta gama de serviços profissionais e de tecnologias da informação. Localizada no Norte da Virgínia, é uma das muitas empresas que se banqueteiam com os contratos de guerra do Iraque e do Afeganistão.

«O ano passado, o director executivo da CACI, John Mengucci, referiu-se à retirada do Afeganistão como má para o negócio.»

A CACI promove-se a si mesma como um «empregador progressista», e o seu portal está cheio de conversa sobre «diversidade» e «inclusividade», além de se vangloriar de estar na lista da Forbes do «top mais» das empresas «amigas das mulheres».

Mas esta conversa «progressista» dura até que o dinheiro fale. Em 2016, revela o MintPress, a CACI lançou uma oferta e ganhou um contrato de 93 milhões de dólares com o Serviço de Imigração e Controlo de Fronteiras para fazer a manutenção dos seus centros de detenção – edifícios que foram amplamente descritos como campos de concentração.

O ano passado, o director executivo da CACI, John Mengucci, referiu-se à retirada do Afeganistão como má para o negócio. E tinha razão: em 2019, a CACI assegurou um contrato de 907 milhões de dólares, por um período de cinco anos, para «fornecer operações de inteligência e apoio analítico» às forças dos EUA no Afeganistão.

Além disso, em 2021, o Supremo Tribunal dos EUA rejeitou o recurso da CACI relativo ao processo instaurado por um grupo de iraquianos pelo alegado envolvimento da empresa em tortura e agressão sexual, na célebre prisão de Abu Ghraib.

Neoliberalismo e exploração nos cárceres

As condições prisionais nos Estados Unidos estão entre as piores do mundo desenvolvido, denuncia o MintPress News. A maior parte dos estados exige que os reclusos recebam uma compensação financeira pelo seu trabalho, mas os salários podem ser embargados para pagamento de pensões de alimentos, restituições à vítima e até alojamento e alimentação. Em cinco estados – Texas, Arkansas, Alabama, Geórgia e Florida – os reclusos são obrigados a trabalhar sem qualquer pagamento.

«Isto é trabalho em condições de servidão; não se pode organizar; não pode fazer greve; não pode protestar pelas más condições. O pagamento está muito abaixo do salário mínimo», disse Hedges ao MintPress.

Assim, a enorme população prisional satisfaz as necessidades das empresas norte-americanas de duas formas: primeiro, fornece uma gigantesca reserva de mão-de-obra barata e disciplinada para explorar, ajudando-as a competir com «fábricas de miséria» na Ásia; em segundo lugar, actua como uma ferramenta disciplinadora do «trabalho livre», ajudando a acabar com os sindicatos e a reduzir os salários e as condições de trabalho em todo o país.

A Worth Rises faz parte de um conjunto de organizações que consideram que parte do trabalho prisional se assemelha à escravidão, pelo que tem feito campanha para alterar a 13.ª Emenda, que permite que a escravidão seja usada como forma de punição de um crime.

«Pessoas nas ruas de Detroit, Newark ou no Leste de Nova Iorque não valem nada aos olhos do Estado corporativo. Mas, se forem fechadas numa gaiola, têm capacidade para gerar 50 ou 60 mil dólares por ano para essas empresas.»

Tendo em conta que a economia foi esvaziada e os empregos foram transferidos para o estrangeiro, grande parte da população trabalhadora do país tornou-se, aos olhos das empresas norte-americanas, excedentária em relação às necessidades económicas, afirma o MintPress News.

Já não são necessários para trabalhar nas fábricas e são efectivamente inúteis para gerar lucros para outros. Hedges encara a ascensão do complexo industrial prisional como uma resposta a isto.

«Pessoas nas ruas de Detroit, Newark ou no Leste de Nova Iorque não valem nada aos olhos do Estado corporativo. Mas, se forem fechadas numa gaiola, têm capacidade para gerar 50 ou 60 mil dólares por ano para essas empresas. Então, nesse sentido, é um continuum completo [desde a escravidão]», disse.

Com quase 2,3 milhões de pessoas atrás das grades numa rede de mais de 7000 instalações, os Estados Unidos têm de longe a taxa mais elevada de encarceramento do mundo, encarcerando os seus cidadãos a uma taxa dez vezes superior à de países europeus como a Suécia ou a Dinamarca e 17 vezes mais elevada que a do Japão.

A explosão da população prisional dos EUA reflecte de perto a ascensão do neoliberalismo como a ideologia dominante, afirma o portal, precisando que, antes da administração Reagan, os números das prisões norte-americanas eram comparáveis aos da Europa. No entanto, entre 1984 e 2005, uma nova cadeia foi construída, em média, a cada 8,5 dias, atingindo o pico em 2009.

Tylek, da Worth Rises, criticou fortemente o custo e o desperdício do empreendimento. «Em muitos lugares, as populações prisionais caíram nos últimos anos. E, no entanto, os orçamentos dessas agências continuam a aumentar. Nada o justifica», disse.

A indústria prisional «para lá dos limites» tornou-se tão normalizada que é objecto de entretenimento ligeiro. Em 2020, um novo jogo, chamado «Prison Empire Tycoon», tornou-se viral, convertendo-se no jogo de estratégia número um na App Store da Apple.

O objectivo do jogo é supervisionar e administrar uma prisão com fins lucrativos. Durante o tutorial, no início, um guarda empunhando um bastão instrui os jogadores, dizendo-lhes que «o Estado paga bom dinheiro» para lidar com os «criminosos».

Reclusos na Prisão Estatal de Louisiana, em Angola (EUA) / Gerald Herbert / MintPress News

A pagar a dívida?

Uma forma de gerar mais lucro, tanto no jogo como na realidade, é transferir os custos para os próprios reclusos. As pessoas encarceradas agora têm de pagar regularmente artigos essenciais como sabão, pasta de dentes e champô, bem como chamadas para os seus entes queridos. A outros exigem-lhes co-pagamentos para consultar um médico ou para despesas de alojamento, a serem descontadas dos salários ganhos.

«Corporações financeiras como a JPay e a JP Morgan Chase fazem parcerias com instituições penitenciárias para garantir o melhor negócio para eles – e o pior negócio para os presos.»

Muitas vezes, apenas o facto de se ser enviado para um estabelecimento prisional implica uma «taxa de processamento» de 100 dólares, que os reclusos têm de pagar, enquanto aos visitantes são cobradas regularmente quantias por verificações de antecedentes. Amigos e familiares dos presos transferem 1,8 mil milhões de dólares para estabelecimentos prisionais todos os anos.

Sem outra opção, são forçados a aceitar taxas de transferência de dinheiro até 45%. Corporações financeiras como a JPay e a JP Morgan Chase fazem parcerias com instituições penitenciárias para garantir o melhor negócio para eles – e o pior negócio para os presos. Tylek disse ao MintPress: «Estar preso é muito caro. É tão caro que endivida muitas famílias que apoiam pessoas que estão encarceradas.»

Trazer as guerras para casa

Hedges, que passou muito tempo a ensinar no sistema penitenciário de New Jersey, também observou as semelhanças entre as prisões e os militares, comentando que os guardas são frequentemente recrutados nas Forças Armadas ou na Guarda Nacional. Cada vez mais, os guardas parecem-se com as equipas SWAT, com armas letais de alta tecnologia. «Tudo é militarizado», disse Hedges. E acrescentou:

«Dirigem-se a ti pelo teu número, não pelo teu nome. És obrigado a andar em fila indiana pelos corredores. Qualquer infracção […] pode fazer com que acabes por ser espancado ou atirado para a solitária e despojado dos poucos privilégios que tens. É o microcosmo perfeito do Estado totalitário.»

«À medida que os impérios decaem (...), muitas vezes trazem de volta a repressão que infligem no estrangeiro»

Por seu lado, Tylek disse que, «em muitos casos, o governo está a reagir ao crime a nível nacional da mesma forma que responde à guerra internacional. E isto deve-se ao facto de que muitos dos mesmos fornecedores estão a facultar equipamento tecnológico para esses dois ambientes».

À medida que os impérios decaem – argumentou Hedges –, muitas vezes trazem de volta a repressão que infligem no estrangeiro, usando na população nacional tácticas aprimoradas para reprimir a dissidência estrangeira.

Hoje, as comunidades pobres nos EUA estão a ser governadas de uma forma cada vez mais militarizada, nota o MintPress News, enquanto os oprimidos pelo complexo industrial prisional no país são coagidos a fornecer o seu trabalho para reforçar o complexo industrial militar no estrangeiro. E, a cada passo, as empresas norte-americanas continuam a lucrar.

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As suas armas têm sido fundamentais para os bombardeamentos levados a cabo pela coligação liderada pelos sauditas no Iémen, ajudando a criar aquilo que as Nações Unidas classificam como «a pior crise humanitária do mundo».

Desde o início da guerra de agressão, a Raytheon vendeu a Riade equipamento pelo menos no valor de 3,3 mil milhões de dólares, segundo refere o MintPress News.

Em 2018, a aviação saudita usou um míssil fabricado pela Raytheon para fazer explodir um autocarro cheio de crianças iemenitas, provocando a morte a 51 pessoas.

A indústria de armamento dos EUA também tem lucrado bastante com a actual situação na Ucrânia, tendo como base os contratos celebrados com países ocidentais que estão a aumentar as suas despesas na área da defesa.

Segundo revelou o diário The Hill na semana passada, o valor das acções da Lockheed Martin disparou quase 25% desde o início do ano, enquanto o de outras empresas do sector como Raytheon, General Dynamics e Northrop Grumman subiu cerca de 12%, cada qual.

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«Para vergar a vontade da Rússia e libertar a Ucrânia da conquista e da subjugação, muitos soldados russos têm de fugir, render-se ou morrer, e, quantos mais e mais depressa, melhor», acrescentou o apoiante das invasões do Iraque e do Afeganistão, que também pedia a guerra com o Irão.

Embora não esteja directamente no governo, Cohen trabalha para o think tank neoconservador Center for Strategic and International Studies (CSIS), que recebe fundos do governo, da indústria de armamento e das empresas de combustíveis fósseis.

De acordo com o portal norte-americano, a «perspectiva ultra-belicosa de Cohen é bastante representativa dos falcões [da guerra] em Washington» e «o seu artigo em The Atlantic permite vislumbrar de forma honesta como os planificadores imperialistas norte-americanos encaram a crise na Ucrânia: uma oportunidade para usar o povo ucraniano como carne para canhão numa guerra por procuração» contra a Rússia.

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Das muitas sugestões da Rand, Sterling destaca reposicionar os bombardeiros a uma distância de ataque fácil dos alvos estratégicos russos; colocar mais armas nucleares tácticas em locais da Europa e da Ásia; aumentar a presença das forças navais norte-americanas e dos seus aliados nas zonas de operações da Rússia (Mar Negro).

Ainda a realização de exercícios de guerra da NATO junto às fronteiras da Rússia; e a retirada de Washington do Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermediário (INF).

De acordo com Sterling, a alternativa, que podia ter evitado a actual intervenção militar russa, teria sido declarar a Ucrânia não apta para a NATO. «Mas isto teria sido o oposto da intenção de Washington de pressionar, provocar e ameaçar deliberadamente a Rússia», refere.

Em Dezembro do ano passado, refere, a Rússia propôs a celebração de um tratado com os Estados Unidos e a NATO, e a proposta central era um acordo, por escrito, segundo qual a Ucrânia não se tornaria membro da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO).

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Rússia insta países ocidentais a travar avanço para leste

Com vista a garantir a segurança da Europa e impedir o avanço da NATO para leste, a diplomacia russa defende negociações imediatas e a celebração de acordos juridicamente vinculativos.

Um tanque norueguês participa em exercícios militares na Polónia (imagem de arquivo)  
CréditosSean Gallup / RT

Na sequência do encontro recentemente mantido entre os presidentes russo, Vladimir Putin, e norte-americano, Joseph Biden, o Ministério russo dos Negócios Estrangeiros afirma que «o diálogo é urgentemente necessário», tendo em conta a «linha crítica» para que caminham as relações entre a Federação Russa e o Ocidente.

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Ucrânia oferece o seu território para instalar sistema de defesa aéreo dos EUA

O apelo da Ucrânia aos EUA para que enviem tropas e sistemas anti-mísseis para o país foi classificado pela Rússia como uma «provocação grosseira», que não ficará «sem retaliação».

Créditos / PressTV

Numa reunião em Washington com o presidente da Jamestown Foundation, Glen Howard, o vice-ministro ucraniano para a Reintegração dos Territórios Não Controlados, Alexei Reznikov, abordou aquilo a que chamou a necessidade de expandir o pacote de segurança para a Ucrânia.

Para esse efeito, sugeriu a instalação de meios de defesa anti-aérea dos Estados Unidos e mesmo o destacamento de unidades de tropas norte-americanas, refere a agência TASS.

Reznikov defendeu que a legislação ucraniana permite o destacamento de tropas estrangeiras no país e disse estar preocupado com a alegada intenção da Rússia de colocar armas nucleares na Crimeia.

Reagindo a estas «especulações» do lado ucraniano, o presidente da Comissão para os Assuntos Externos da Duma Estatal, Leonid Slutsky, recorreu à rede social Telegram para afirmar que o destacamento de sistemas norte-americanos de defesa anti-mísseis na Ucrânia poderia alterar o equilíbrio de forças na região e fora dela, informa a agência russa.

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Rússia tomará «medidas adicionais» se a NATO destacar tropas para a Ucrânia

O aviso do Kremlin sobre o reforço das fronteiras russas ocorre depois de Kiev se ter referido à «postura pró-activa» dos EUA no «apoio à soberania» e «restauração da integridade territorial» ucraniana.

Soldados ucranianos (imagem de arquivo) 
A NATO tem vindo a reforçar a sua presença no chamado Flanco Leste Créditos / @14Milimetros

Moscovo alertou que não irá ficar de braços cruzados caso a NATO destaque tropas para a Ucrânia, um passo que «levaria a um novo aumento de tensões perto das fronteiras» e que «requererá medidas adicionais por parte da Rússia para garantir a sua segurança», afirmou esta sexta-feira à imprensa Dmitri Peskov, porta-voz do Kremlin.

Antes disto, revela a RT, o Ministério ucraniano da Defesa emitiu um comunicado sobre a conversa telefónica mantida dia 1 de Abril com o secretário da Defesa dos EUA, Lloyd Austin, que comunicou aos ucranianos a «postura pró-activa» do seu país «no apoio à soberania e aos passos para restaurar a integridade territorial da Ucrânia».

«Os EUA não deixarão a Ucrânia sozinha face à escalada da agressão da Rússia», afirmou o Ministério ucraniano da Defesa, que acusa Moscovo de anexar e ocupar a Crimeia, e de apoiar o movimento de resistência antifascista na região do Donbass, no Leste do país, onde recentemente, lembra a RT, se registaram novos episódios de violência na linha de demarcação com os territórios das repúblicas de Donetsk e Lugansk.

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Secretário-geral da NATO entrevistado na RTP

Fascismo na Ucrânia ou destruição da Líbia? Não, ameaça russa!

Na entrevista que a RTP1 transmitiu esta segunda-feira, Jens Stoltenberg, secretário-geral da NATO, falou dos «muitos desafios complexos» com que a Aliança Atlântica se depara, mas nada do expansionismo militarista e das guerras de rapina que promove.

Em entrevista à RTP, Jens Stoltenberg, secretário-geral da NATO, disse, sem «mea culpa», que a Aliança se depara com «muitos desafios complexos ao mesmo tempo»
Créditos / politico.eu

Quem tiver visto e ouvido, de cabo a rabo, a conversa de Stoltenberg ontem à noite na RTP terá ficado com a impressão de ter acabado de ver e ouvir o cavaleiro branco de uma «santa aliança» pronta a dar cabo dos negrumes do mundo: terrorismo, o Daesh ou chamado Estado Islâmico, as ameaças cibernéticas, a assertividade da Rússia, a proliferação de armas na Coreia do Norte, os conflitos que «existem» no Norte de África, no Médio Oriente, Iraque, Síria, Afeganistão.

Conflitos que por aí «há», que por aí «surgiram», e a que a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN ou NATO, na sigla em inglês) tem de fazer frente.

Apesar de ter passado uma boa parte da entrevista a falar da Rússia, no início o secretário-geral da NATO rejeitou a ideia de que a Aliança Atlântica esteja a «enfatizar a tensão com a Rússia na Europa de Leste», sublinhando que «a maior operação militar de sempre» da NATO decorre no Afeganistão. Não fez, no entanto, qualquer menção ao histórico, mais recente ou afastado, do intervencionismo dos «aliados da NATO» no país da Ásia Central. Também não se esperava que falasse de Reagan e talibans.

Referindo-se à acção global da Aliança Atlântica, disse que esta integra «a coligação global para derrotar o Daesh» e que a NATO «fez muitos progressos nessa coligação, derrotando o Daesh no Iraque e na Síria». Mais à frente, não se quis comprometer em excesso, afirmando que a NATO não está no terreno no Norte da Síria: «Apoiamos a coligação com aviões-radar, mas não estamos no terreno», disse.

«Também não se esperava que falasse de Reagan e talibans.»

Nem «ai», nem «ui» sobre o facto de a coligação internacional que opera na Síria o fazer sem autorização do governo de Damasco e sem um mandato das Nações Unidas. E, aqui, também não houve menção ao esforço da Rússia – ao lado de Damasco.

«A Nato está preparada para defender qualquer aliado, contra qualquer ameaça, é essa a mensagem principal, o ideal principal da NATO», disse, salientando que «a razão pela qual a NATO é forte e unida não é para provocar um conflito, mas sim para evitar um conflito». Percebe-se o ultraje sentido por quem olha para o mundo e vê as guerras de agressão e saque do capitalismo, as operações de desestabilização fomentadas pelos Estados Unidos da América no pátio traseiro global – as de agora e outras mais –, tendo a NATO por braço armado.

O ex-primeiro-ministro norueguês trouxe ainda à tona a ideia da «paz na Europa durante quase 70 anos, um dos mais longos períodos de paz durante séculos na Europa», sem lhe ocorrer a menção da destruição da Jugoslávia e do golpe de 2014 na Ucrânia, com o apoio dos Estados Unidos e da União Europeia (UE), com a guerra subsequente no Donbass, onde a população rejeitou a ameaça fascista e se ergueu em armas.

Diálogo, sim, mas a culpa é da Rússia

Sobre a Rússia, Jens Stoltenberg afirmou que «é possível combinar defesa, dissuasão e diálogo». Ou seja, deu sequência ao discurso do vizinho maléfico que acossa a Europa em paz com os seus bandos de hackers e as suas campanhas de propaganda e desinformação. O secretário-geral da NATO disse mesmo que a Rússia está «mais assertiva». Tão marota que até usa «ferramentas diferentes» e, por isso, a impoluta NATO «está a responder com o reforço das ciberdefesas». A UE também já se precaveu.

«Parceria estratégica» com a Rússia é coisa que não existe – não por falta de tentativa da NATO, frisou, mas porque Moscovo «decidiu tentar reestabelecer esferas de influência e, de certa forma, controlar os seus vizinhos, como vimos na Geórgia, Moldávia e na Ucrânia».

E isto é algo que a NATO, tutelada pelos Estados Unidos da América, carregada de arsenais em prol da paz no mundo e a cavalgar há anos sobre os despojos da União Soviética e amigos, não pode tolerar. Assim, a NATO vai procurar uma forma de dizer que «são firmes», que «são fortes», mas tentando reduzir a tensão, para evitar um conflito e manter um diálogo, disse Stoltenberg.

Já a Rússia não tem nada de se preocupar com o facto de estar rodeada por países que se tornaram membros da NATO, pois foi uma decisão de «nações soberanas e independentes». E, se preocupações tem quanto à existência de uma Frente Leste da Aliança Atlântica, a culpa é sua, «consequência directa das [suas] acções agressivas contra a Ucrânia», justificou Stoltenberg, aludindo à situação no Donbass, no Leste da Ucrânia, e à reintegração da Crimeia na Federação Russa.

O secretário-geral da NATO insiste que a integridade territorial e a soberania da Ucrânia foram violadas na Crimeia e no Donbass, por forças apoiadas pela Rússia e com apoio militar russo, mas, como se estivesse num universos paralelo, não fez uma alusão, ao golpe de 2014 em Kiev, ao fascismo na Ucrânia – ou na Polónia ou na Letónia. Nem se referiu como, em Julho do ano passado, a NATO promoveu os Irmãos da Floresta, que lutaram «contra o Exército Vermelho pelas suas pátrias», no Báltico, e que integravam muitos membros das SS nazis ou colaboradores com as forças nazis invasoras.

EUA reforçam presença militar na Europa

O secretário-geral da NATO afirmou que os EUA têm mostrado que «estão empenhados nos laços transatlânticos», acrescentando que Washington está mesmo a aumentar a presença militar no continente europeu, depois de anos de declínio. «É um compromisso que vemos não são só em palavras, mas também em factos», frisou Stoltenberg.

Não abordando a questão do aprofundamento da militarização da UE, a criação da chamada cooperação estruturada permanente (CEP) e a complementaridade – que já defendeu noutros momentos – entre aquilo a que chama Defesa Europeia e a NATO, o responsável da Aliança Atlântica sempre se referiu à necessidade de cooperar em matéria de defesa na UE para «resolver a fragmentação da indústria de defesa europeia».

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Peskov, por seu lado, sublinhou que a percepção da Rússia como inimigo e adversário é «deslocada» e «inadmissível», uma vez que Moscovo «não ameaça ninguém e nunca o tinha feito», baseando toda a sua política neste principio, informa o portal russo.

Na quinta-feira, em resposta a alertas do lado ucraniano sobre movimentações de tropas russas junto à fronteira, Peskov já tinha afirmado que a transferência de tropas dentro da Federação Russa não devia preocupar ninguém, nem constitui uma ameaça para ninguém, revelou a TASS.

O funcionário do Kremlin reafirmou que «as tropas russas nunca participaram, nem estão a participar agora em conflitos armados em solo ucraniano», acrescentando, citado pela mesma fonte, que «nem a Rússia, nem os países europeus, nem outros países do mundo gostariam de ver a guerra civil na Ucrânia incendiar-se outra vez como resultado das provocações e dos passos provocadores dos militares ucranianos».

«A realidade na linha de contacto é bastante aterradora»

No Donbass, região do Leste da Ucrânia de maioria russa, onde as populações se insurgiram contra o golpe de Estado fascista de Maidan que depôs Viktor Yanukovich, em 2014, patrocinado pela União Europeia e os Estados Unidos, e onde foram autoproclamadas as repúblicas populares de Donetsk e Lugansk, a situação agudizou-se no passado dia 26 de Março, segundo a RT, com a morte de quatro soldados das Forças Armadas ucranianas, perto da localidade de Shumy, embora outras fontes assinalem, já há algum tempo, a violação repetida do cessar-fogo por parte das tropas ucranianas.

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Resistência antifascista em Donbass

O novo governo, imposto sem eleições, permitiu que grupos paramilitares fascistas dessem rédeas ao ódio anti-russo e anti-comunista. Milhares de mulheres e homens deram corpo à resistência.

Igreja destruída junto ao aeroporto de Donetsk
Créditos / Bruno Carvalho

Quando se cumpriam quatro anos da rebelião antifascista que se espalhou como pólvora por todo o leste da Ucrânia, atravessei a fronteira através da Rússia num autocarro onde viajavam meia centena de antifascistas de vários países.

Respondendo ao apelo do grupo musical italiano Banda Bassotti, que tocou duas vezes em Portugal na Festa do «Avante!», percorreram durante uma semana os territórios em resistência visitando orfanatos, hospitais, fábricas, sindicatos e autarquias.

No primeiro dia, entre Rostov-sobre-o-Don, cidade russa no Norte do Cáucaso, e a fronteira com a auto-proclamada República Popular de Lugansk (RPL), atravessámos cerca de uma centena de quilómetros de estepe.

Enquanto viajávamos por terras de cossacos, Mitya Dezhnev explicava-me como teve de fugir da sua terra para a Rússia e de como não podíamos deixar esquecer os comunistas que todavia resistiam na Ucrânia controlada por Kiev. «Queres ouvir uma canção que era muito popular no tempo da União Soviética?», perguntou-me em inglês antes de começar num quase perfeito português a cantar o «Avante, camarada!». 

Foi em 2014, uma semana depois do massacre que vitimou cerca de meia centena de pessoas em Odessa, na Ucrânia, que as populações do leste do país se insurgiram contra o golpe de Estado patrocinado pela União Europeia e pelos Estados Unidos que depôs Viktor Yanukovich.

O novo governo, imposto sem eleições, permitiu que grupos paramilitares fascistas dessem rédeas ao ódio anti-russo e anti-comunista. Sem qualquer protecção e ante a ofensiva fascista, milhares de mulheres e homens concentraram-se nas principais praças das localidades insurrectas e deram corpo à resistência.

Primeiro, tomaram as instituições e desarmaram as forças de segurança e, depois, organizaram-se militarmente constituindo milícias antifascistas. Nessa semana, as principais regiões da industrial Bacia do rio Don, conhecida como Donbass, declararam a independência e constituíram-se em dois países: a República Popular de Donetsk (RPD) e a RPL. Depois de pesados bombardeamentos que vitimaram milhares de pessoas, o apoio militar russo foi decisivo para evitar a barbárie e a conquista destes territórios por Kiev.

O cessar-fogo que formalmente se mantém é desmentido na prática pelos sucessivos confrontos na linha da frente. As sucessivas provocações patrocinadas pela NATO continuam a causar vítimas entre os civis que moram em localidades ao alcance da artilharia ucraniana. Empurrados, primeiro pelas perseguições e depois pela guerra, dezenas de milhares de ucranianos continuam exilados na Rússia ou nas zonas sob controlo das forças democráticas.

Neli Zadiraka foi outra das pessoas que conheci nessa condição. É uma das deputadas da sede do poder legislativo da RPL, o Conselho Popular de Lugansk. Foi obrigada a abandonar a sua casa em Rubezhnoe, território da região ocupado pela Ucrânia.

Foi ela que, em 2014, leu a declaração de independência da RPL e, por essa razão, é considerada terrorista pelo governo ucraniano. Neli apontou para a estrela vermelha do brasão da jovem república e explicou-me que se inspira nos símbolos e valores da União Soviética.

Esse foi, aliás, um elemento presente em toda a viagem. Para além da preservação e do respeito pelos monumentos e símbolos, a presença da foice e do martelo é constante. Em conversa com vários habitantes de Lugansk e Donetsk, a chegada do fascismo ao poder na Ucrânia veio reforçar as convicções políticas dos cidadãos de ambas as repúblicas. Mas não é algo recente. Em 2012, nas últimas eleições antes do golpe fascista, o Partido Comunista da Ucrânia conquistou 13,2% dos votos em todo o país.

Em Kiev, obteve somente 7,23% e no ocidente houve regiões em que aquele partido não superou os 2%. Mas no oriente, sobretudo, nas regiões de Donbass, os valores oscilaram entre os 18% de Odessa e os 29,46% de Sebastopol, na Crimeia. Em Donetsk, os comunistas chegaram aos 18,85% e, em Lugansk, atingiram os 25,14% dos votos.

Em Makeeva, cidade vizinha de Donetsk, a organização local do Partido Comunista da RPD organizou uma iniciativa cultural que envolveu centenas de pessoas para receber gente de tantos países, numa cerimónia em que se entregaram os cartões a dois combatentes especiais. Um miliciano vindo do Texas e outro da Colômbia que escolheram atravessar o mundo para abraçar a causa antifascista ao lado dos soldados desta região.

O colombiano decidiu baptizar-se com o nome de guerra Alfonso Cano em homenagem ao comandante histórico das FARC e contou-me que decidiu voluntarizar-se para combater o fascismo em Donbass como parte das suas convicções políticas. São muitos os combatentes internacionalistas que participam nos exércitos das duas repúblicas.

Na companhia de Boris Litvinov, Primeiro Secretário do Partido Comunista da RPD, que foi, aliás, o primeiro a encabeçar o Soviete Supremo da RPD, o novo órgão legislativo daquele país, conhecemos um dos corações industriais da Europa.

Antes de chegarmos a uma das mais importantes minas de carvão da Europa, erguia-se um muro escrito recentemente com spray: «Somos cidadãos da União Soviética». Em 2013, antes do golpe, a Ucrânia produzia 84,8 milhões de toneladas. Três anos depois, esses números baixaram para menos de metade: 41,8.

O objectivo do imperialismo, quando interveio na Ucrânia, não foi apenas levar mais longe as fronteiras da NATO, violando uma vez mais os compromissos assumidos com os últimos dirigentes soviéticos. Foi também controlar um país com importantes recursos, sobretudo na região que agora resiste ao avanço das forças apoiadas pelos Estados Unidos e União Europeia.

Nas últimas semanas, a guerra intensificou-se e muitas das pessoas com que conversei admitem que o governo de Kiev pode estar a preparar uma provocação a larga escala durante o Campeonato Mundial de Futebol. 

Petro Poroshenko, presidente da Ucrânia, acaba de ser recebido em Espanha por Pedro Sánchez, novo chefe do governo, e falava abertamente ao diário El País do falso assassinato do jornalista Arkadi Babchenko como uma técnica necessária para proteger os dissidentes.

Sem qualquer vergonha, acrescentou que há uma campanha russa de notícias falsas para destabilizar o mundo. É este o carácter de um governante que anunciava meses depois do golpe que faria tudo para que as crianças da Ucrânia pudessem ir à escola e para que as de Donbass ficassem fechadas em caves.

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Pelas mortes, o governo da Ucrânia responsabilizou «forças de ocupação russas», referindo-se, segundo a RT, a efectivos da República Popular de Donetsk, cujos representantes negaram qualquer ligação ao facto e, posteriormente, declararam que os militares ucranianos morreram por terem pisado um explosivo durante uma inspecção a campos minados.

A este propósito, Peskov disse que «não tentava fazer passar os desejos por realidade». «Para nossa desgraça, a realidade na linha de contacto é bastante aterradora, têm lugar provocações por parte das Forças Armadas da Ucrânia, e não são casos isolados, mas múltiplos», afirmou.

No que respeita à Crimeia, o governo russo considera a sua integração no país um facto consumado e inteiramente legítimo. A Ucrânia nunca reconheceu os resultados do referendo realizado em Março de 2014, pouco depois do golpe de Estado em Kiev, em que a maioria esmagadora da população do território se pronunciou a favor da reintegração na Rússia.

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O responsável russo classificou o pedido de Reznikov como «uma provocação grosseira» e sublinhou que a presença dos sistemas de defesa aérea dos EUA «perto das fronteiras com a Rússia irá sem dúvida merecer uma resposta da parte de Moscovo». «As tensões vão simplesmente aumentar», alertou Slutsky.

«É lamentável que as leis da Ucrânia permitam privá-la do que ainda resta da sua soberania e aos seus cidadãos de uma oportunidade para viver em segurança. Os políticos ucranianos estão dispostos a sacrificar tudo isto para prolongar a sua participação no projecto anti-Rússia», afirmou o funcionário russo.

As relações entre Kiev e Moscovo deterioraram-se bastante na sequência do golpe fascista de Maidan, em Fevereiro de 2014, com a Ucrânia a assumir um posicionamento consistente pró-NATO, UE e EUA e anti-russo, a acusar a Rússia de envolvimento na guerra antifascista na região do Donbass e a reclamar a recuperação da Crimeia, depois de os habitantes do território terem votado num referendo esmagadoramente a favor da reintegração na Rússia, em Março de 2014.

A Ucrânia tem acolhido no seu território, de forma recorrente, manobras militares organizadas pelos países da NATO, tanto em terra como no Mar Negro.

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«Aumentar o confronto com o nosso país é absolutamente inaceitável», afirma o governo russo num comunicado emitido dia 10, onde defende a adopção de um acordo juridicamente vinculativo que garanta que a Organização do Tratado do Atlântico Norte não avança mais para leste ou instala armamento de ataque nos países que fazem fronteira com a Rússia.

Também insiste em receber uma resposta da NATO a propostas previamente formuladas com vista à diminuição das tensões na Europa, nomeadamente sobre a realização de exercícios operacionais a uma distância acordada da linha de contacto Rússia-NATO; a coordenação da aproximação de navios e aviões de combate, para prevenir actividades militares perigosas, sobretudo nas regiões do Báltico e do Mar Negro; a renovação do diálogo regular entre os ministérios da Defesa nos formatos Rússia-EUA e Rússia-NATO.

Negociações devem começar «imediatamente»

Sobre a conversa telefónica mantida esta segunda-feira entre Vladimir Putin e o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, o gabinete de imprensa do Kremlin refere que a Rússia expôs a necessidade urgente de negociações, que devem ter início «imediato», para estabelecer acordos internacionais que impeçam qualquer expansão adicional do bloco militar.

No decorrer da conversa, Johnson manifestou preocupação com um «alegado movimento de tropas russas em larga escala junto à fronteira com a Ucrânia», a que o chefe de Estado russo respondeu com a sua visão da situação actual no país vizinho, de acordo com a nota do Kremlin, a que a RT faz referência.

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Rússia tomará «medidas adicionais» se a NATO destacar tropas para a Ucrânia

O aviso do Kremlin sobre o reforço das fronteiras russas ocorre depois de Kiev se ter referido à «postura pró-activa» dos EUA no «apoio à soberania» e «restauração da integridade territorial» ucraniana.

Soldados ucranianos (imagem de arquivo) 
A NATO tem vindo a reforçar a sua presença no chamado Flanco Leste Créditos / @14Milimetros

Moscovo alertou que não irá ficar de braços cruzados caso a NATO destaque tropas para a Ucrânia, um passo que «levaria a um novo aumento de tensões perto das fronteiras» e que «requererá medidas adicionais por parte da Rússia para garantir a sua segurança», afirmou esta sexta-feira à imprensa Dmitri Peskov, porta-voz do Kremlin.

Antes disto, revela a RT, o Ministério ucraniano da Defesa emitiu um comunicado sobre a conversa telefónica mantida dia 1 de Abril com o secretário da Defesa dos EUA, Lloyd Austin, que comunicou aos ucranianos a «postura pró-activa» do seu país «no apoio à soberania e aos passos para restaurar a integridade territorial da Ucrânia».

«Os EUA não deixarão a Ucrânia sozinha face à escalada da agressão da Rússia», afirmou o Ministério ucraniano da Defesa, que acusa Moscovo de anexar e ocupar a Crimeia, e de apoiar o movimento de resistência antifascista na região do Donbass, no Leste do país, onde recentemente, lembra a RT, se registaram novos episódios de violência na linha de demarcação com os territórios das repúblicas de Donetsk e Lugansk.

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Secretário-geral da NATO entrevistado na RTP

Fascismo na Ucrânia ou destruição da Líbia? Não, ameaça russa!

Na entrevista que a RTP1 transmitiu esta segunda-feira, Jens Stoltenberg, secretário-geral da NATO, falou dos «muitos desafios complexos» com que a Aliança Atlântica se depara, mas nada do expansionismo militarista e das guerras de rapina que promove.

Em entrevista à RTP, Jens Stoltenberg, secretário-geral da NATO, disse, sem «mea culpa», que a Aliança se depara com «muitos desafios complexos ao mesmo tempo»
Créditos / politico.eu

Quem tiver visto e ouvido, de cabo a rabo, a conversa de Stoltenberg ontem à noite na RTP terá ficado com a impressão de ter acabado de ver e ouvir o cavaleiro branco de uma «santa aliança» pronta a dar cabo dos negrumes do mundo: terrorismo, o Daesh ou chamado Estado Islâmico, as ameaças cibernéticas, a assertividade da Rússia, a proliferação de armas na Coreia do Norte, os conflitos que «existem» no Norte de África, no Médio Oriente, Iraque, Síria, Afeganistão.

Conflitos que por aí «há», que por aí «surgiram», e a que a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN ou NATO, na sigla em inglês) tem de fazer frente.

Apesar de ter passado uma boa parte da entrevista a falar da Rússia, no início o secretário-geral da NATO rejeitou a ideia de que a Aliança Atlântica esteja a «enfatizar a tensão com a Rússia na Europa de Leste», sublinhando que «a maior operação militar de sempre» da NATO decorre no Afeganistão. Não fez, no entanto, qualquer menção ao histórico, mais recente ou afastado, do intervencionismo dos «aliados da NATO» no país da Ásia Central. Também não se esperava que falasse de Reagan e talibans.

Referindo-se à acção global da Aliança Atlântica, disse que esta integra «a coligação global para derrotar o Daesh» e que a NATO «fez muitos progressos nessa coligação, derrotando o Daesh no Iraque e na Síria». Mais à frente, não se quis comprometer em excesso, afirmando que a NATO não está no terreno no Norte da Síria: «Apoiamos a coligação com aviões-radar, mas não estamos no terreno», disse.

«Também não se esperava que falasse de Reagan e talibans.»

Nem «ai», nem «ui» sobre o facto de a coligação internacional que opera na Síria o fazer sem autorização do governo de Damasco e sem um mandato das Nações Unidas. E, aqui, também não houve menção ao esforço da Rússia – ao lado de Damasco.

«A Nato está preparada para defender qualquer aliado, contra qualquer ameaça, é essa a mensagem principal, o ideal principal da NATO», disse, salientando que «a razão pela qual a NATO é forte e unida não é para provocar um conflito, mas sim para evitar um conflito». Percebe-se o ultraje sentido por quem olha para o mundo e vê as guerras de agressão e saque do capitalismo, as operações de desestabilização fomentadas pelos Estados Unidos da América no pátio traseiro global – as de agora e outras mais –, tendo a NATO por braço armado.

O ex-primeiro-ministro norueguês trouxe ainda à tona a ideia da «paz na Europa durante quase 70 anos, um dos mais longos períodos de paz durante séculos na Europa», sem lhe ocorrer a menção da destruição da Jugoslávia e do golpe de 2014 na Ucrânia, com o apoio dos Estados Unidos e da União Europeia (UE), com a guerra subsequente no Donbass, onde a população rejeitou a ameaça fascista e se ergueu em armas.

Diálogo, sim, mas a culpa é da Rússia

Sobre a Rússia, Jens Stoltenberg afirmou que «é possível combinar defesa, dissuasão e diálogo». Ou seja, deu sequência ao discurso do vizinho maléfico que acossa a Europa em paz com os seus bandos de hackers e as suas campanhas de propaganda e desinformação. O secretário-geral da NATO disse mesmo que a Rússia está «mais assertiva». Tão marota que até usa «ferramentas diferentes» e, por isso, a impoluta NATO «está a responder com o reforço das ciberdefesas». A UE também já se precaveu.

«Parceria estratégica» com a Rússia é coisa que não existe – não por falta de tentativa da NATO, frisou, mas porque Moscovo «decidiu tentar reestabelecer esferas de influência e, de certa forma, controlar os seus vizinhos, como vimos na Geórgia, Moldávia e na Ucrânia».

E isto é algo que a NATO, tutelada pelos Estados Unidos da América, carregada de arsenais em prol da paz no mundo e a cavalgar há anos sobre os despojos da União Soviética e amigos, não pode tolerar. Assim, a NATO vai procurar uma forma de dizer que «são firmes», que «são fortes», mas tentando reduzir a tensão, para evitar um conflito e manter um diálogo, disse Stoltenberg.

Já a Rússia não tem nada de se preocupar com o facto de estar rodeada por países que se tornaram membros da NATO, pois foi uma decisão de «nações soberanas e independentes». E, se preocupações tem quanto à existência de uma Frente Leste da Aliança Atlântica, a culpa é sua, «consequência directa das [suas] acções agressivas contra a Ucrânia», justificou Stoltenberg, aludindo à situação no Donbass, no Leste da Ucrânia, e à reintegração da Crimeia na Federação Russa.

O secretário-geral da NATO insiste que a integridade territorial e a soberania da Ucrânia foram violadas na Crimeia e no Donbass, por forças apoiadas pela Rússia e com apoio militar russo, mas, como se estivesse num universos paralelo, não fez uma alusão, ao golpe de 2014 em Kiev, ao fascismo na Ucrânia – ou na Polónia ou na Letónia. Nem se referiu como, em Julho do ano passado, a NATO promoveu os Irmãos da Floresta, que lutaram «contra o Exército Vermelho pelas suas pátrias», no Báltico, e que integravam muitos membros das SS nazis ou colaboradores com as forças nazis invasoras.

EUA reforçam presença militar na Europa

O secretário-geral da NATO afirmou que os EUA têm mostrado que «estão empenhados nos laços transatlânticos», acrescentando que Washington está mesmo a aumentar a presença militar no continente europeu, depois de anos de declínio. «É um compromisso que vemos não são só em palavras, mas também em factos», frisou Stoltenberg.

Não abordando a questão do aprofundamento da militarização da UE, a criação da chamada cooperação estruturada permanente (CEP) e a complementaridade – que já defendeu noutros momentos – entre aquilo a que chama Defesa Europeia e a NATO, o responsável da Aliança Atlântica sempre se referiu à necessidade de cooperar em matéria de defesa na UE para «resolver a fragmentação da indústria de defesa europeia».

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Peskov, por seu lado, sublinhou que a percepção da Rússia como inimigo e adversário é «deslocada» e «inadmissível», uma vez que Moscovo «não ameaça ninguém e nunca o tinha feito», baseando toda a sua política neste principio, informa o portal russo.

Na quinta-feira, em resposta a alertas do lado ucraniano sobre movimentações de tropas russas junto à fronteira, Peskov já tinha afirmado que a transferência de tropas dentro da Federação Russa não devia preocupar ninguém, nem constitui uma ameaça para ninguém, revelou a TASS.

O funcionário do Kremlin reafirmou que «as tropas russas nunca participaram, nem estão a participar agora em conflitos armados em solo ucraniano», acrescentando, citado pela mesma fonte, que «nem a Rússia, nem os países europeus, nem outros países do mundo gostariam de ver a guerra civil na Ucrânia incendiar-se outra vez como resultado das provocações e dos passos provocadores dos militares ucranianos».

«A realidade na linha de contacto é bastante aterradora»

No Donbass, região do Leste da Ucrânia de maioria russa, onde as populações se insurgiram contra o golpe de Estado fascista de Maidan que depôs Viktor Yanukovich, em 2014, patrocinado pela União Europeia e os Estados Unidos, e onde foram autoproclamadas as repúblicas populares de Donetsk e Lugansk, a situação agudizou-se no passado dia 26 de Março, segundo a RT, com a morte de quatro soldados das Forças Armadas ucranianas, perto da localidade de Shumy, embora outras fontes assinalem, já há algum tempo, a violação repetida do cessar-fogo por parte das tropas ucranianas.

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Resistência antifascista em Donbass

O novo governo, imposto sem eleições, permitiu que grupos paramilitares fascistas dessem rédeas ao ódio anti-russo e anti-comunista. Milhares de mulheres e homens deram corpo à resistência.

Igreja destruída junto ao aeroporto de Donetsk
Créditos / Bruno Carvalho

Quando se cumpriam quatro anos da rebelião antifascista que se espalhou como pólvora por todo o leste da Ucrânia, atravessei a fronteira através da Rússia num autocarro onde viajavam meia centena de antifascistas de vários países.

Respondendo ao apelo do grupo musical italiano Banda Bassotti, que tocou duas vezes em Portugal na Festa do «Avante!», percorreram durante uma semana os territórios em resistência visitando orfanatos, hospitais, fábricas, sindicatos e autarquias.

No primeiro dia, entre Rostov-sobre-o-Don, cidade russa no Norte do Cáucaso, e a fronteira com a auto-proclamada República Popular de Lugansk (RPL), atravessámos cerca de uma centena de quilómetros de estepe.

Enquanto viajávamos por terras de cossacos, Mitya Dezhnev explicava-me como teve de fugir da sua terra para a Rússia e de como não podíamos deixar esquecer os comunistas que todavia resistiam na Ucrânia controlada por Kiev. «Queres ouvir uma canção que era muito popular no tempo da União Soviética?», perguntou-me em inglês antes de começar num quase perfeito português a cantar o «Avante, camarada!». 

Foi em 2014, uma semana depois do massacre que vitimou cerca de meia centena de pessoas em Odessa, na Ucrânia, que as populações do leste do país se insurgiram contra o golpe de Estado patrocinado pela União Europeia e pelos Estados Unidos que depôs Viktor Yanukovich.

O novo governo, imposto sem eleições, permitiu que grupos paramilitares fascistas dessem rédeas ao ódio anti-russo e anti-comunista. Sem qualquer protecção e ante a ofensiva fascista, milhares de mulheres e homens concentraram-se nas principais praças das localidades insurrectas e deram corpo à resistência.

Primeiro, tomaram as instituições e desarmaram as forças de segurança e, depois, organizaram-se militarmente constituindo milícias antifascistas. Nessa semana, as principais regiões da industrial Bacia do rio Don, conhecida como Donbass, declararam a independência e constituíram-se em dois países: a República Popular de Donetsk (RPD) e a RPL. Depois de pesados bombardeamentos que vitimaram milhares de pessoas, o apoio militar russo foi decisivo para evitar a barbárie e a conquista destes territórios por Kiev.

O cessar-fogo que formalmente se mantém é desmentido na prática pelos sucessivos confrontos na linha da frente. As sucessivas provocações patrocinadas pela NATO continuam a causar vítimas entre os civis que moram em localidades ao alcance da artilharia ucraniana. Empurrados, primeiro pelas perseguições e depois pela guerra, dezenas de milhares de ucranianos continuam exilados na Rússia ou nas zonas sob controlo das forças democráticas.

Neli Zadiraka foi outra das pessoas que conheci nessa condição. É uma das deputadas da sede do poder legislativo da RPL, o Conselho Popular de Lugansk. Foi obrigada a abandonar a sua casa em Rubezhnoe, território da região ocupado pela Ucrânia.

Foi ela que, em 2014, leu a declaração de independência da RPL e, por essa razão, é considerada terrorista pelo governo ucraniano. Neli apontou para a estrela vermelha do brasão da jovem república e explicou-me que se inspira nos símbolos e valores da União Soviética.

Esse foi, aliás, um elemento presente em toda a viagem. Para além da preservação e do respeito pelos monumentos e símbolos, a presença da foice e do martelo é constante. Em conversa com vários habitantes de Lugansk e Donetsk, a chegada do fascismo ao poder na Ucrânia veio reforçar as convicções políticas dos cidadãos de ambas as repúblicas. Mas não é algo recente. Em 2012, nas últimas eleições antes do golpe fascista, o Partido Comunista da Ucrânia conquistou 13,2% dos votos em todo o país.

Em Kiev, obteve somente 7,23% e no ocidente houve regiões em que aquele partido não superou os 2%. Mas no oriente, sobretudo, nas regiões de Donbass, os valores oscilaram entre os 18% de Odessa e os 29,46% de Sebastopol, na Crimeia. Em Donetsk, os comunistas chegaram aos 18,85% e, em Lugansk, atingiram os 25,14% dos votos.

Em Makeeva, cidade vizinha de Donetsk, a organização local do Partido Comunista da RPD organizou uma iniciativa cultural que envolveu centenas de pessoas para receber gente de tantos países, numa cerimónia em que se entregaram os cartões a dois combatentes especiais. Um miliciano vindo do Texas e outro da Colômbia que escolheram atravessar o mundo para abraçar a causa antifascista ao lado dos soldados desta região.

O colombiano decidiu baptizar-se com o nome de guerra Alfonso Cano em homenagem ao comandante histórico das FARC e contou-me que decidiu voluntarizar-se para combater o fascismo em Donbass como parte das suas convicções políticas. São muitos os combatentes internacionalistas que participam nos exércitos das duas repúblicas.

Na companhia de Boris Litvinov, Primeiro Secretário do Partido Comunista da RPD, que foi, aliás, o primeiro a encabeçar o Soviete Supremo da RPD, o novo órgão legislativo daquele país, conhecemos um dos corações industriais da Europa.

Antes de chegarmos a uma das mais importantes minas de carvão da Europa, erguia-se um muro escrito recentemente com spray: «Somos cidadãos da União Soviética». Em 2013, antes do golpe, a Ucrânia produzia 84,8 milhões de toneladas. Três anos depois, esses números baixaram para menos de metade: 41,8.

O objectivo do imperialismo, quando interveio na Ucrânia, não foi apenas levar mais longe as fronteiras da NATO, violando uma vez mais os compromissos assumidos com os últimos dirigentes soviéticos. Foi também controlar um país com importantes recursos, sobretudo na região que agora resiste ao avanço das forças apoiadas pelos Estados Unidos e União Europeia.

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No que respeita à Crimeia, o governo russo considera a sua integração no país um facto consumado e inteiramente legítimo. A Ucrânia nunca reconheceu os resultados do referendo realizado em Março de 2014, pouco depois do golpe de Estado em Kiev, em que a maioria esmagadora da população do território se pronunciou a favor da reintegração na Rússia.

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Putin deu exemplos concretos de decisões tomadas por Kiev com o objectivo de desmantelar os acordos de Minsk, com vista a encontrar uma solução para o conflito no Leste da Ucrânia, e acusou as autoridades de Kiev de estarem a agravar a situação no Donbass, recorrendo a armamento pesado e drones de ataque, e de discriminarem a população russo-falante no país.

O Kremlin acusa também o Ocidente de estar a utilizar como pretexto a situação na Ucrânia, um país onde «se empenhou no incentivo à russofobia e em justificar as acções do regime de Kiev para minar os acordos de Minsk [de 2015] e se preparar para um cenário militar no Donbass».

«Os países da NATO estão a empurrar Kiev para medidas agressivas. A militarização do território da Ucrânia e o fornecimento de armas estão em curso», lê-se na nota emitida dia 10, na qual a Rússia advoga que a Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) não deve estar à margem das discussões que dizem respeito à segurança no continente.

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O relatório da Rand refere-se a um eventual «acordo de paz desvantajoso» e Sterling questiona para quem é que a paz traria desvantagens, lembrando a perda de vidas na Ucrânia por causa do conflito, agora, e as mais de 14 mil no Donbass, desde o golpe de 2014.

Em seu entender, um acordo de paz que garantisse os direitos fundamentais de todos os ucranianos e a neutralidade do país seria «vantajoso para a maioria dos ucranianos».

Aqueles que «não tirariam vantagens» seriam o complexo industrial mediático-militar dos EUA e os ultra-nacionalistas na Ucrânia, afirma o jornalista.

O relatório da Rand Corporation «mostra como a política dos Estados Unidos se centra em acções para prejudicar a Rússia e manipula a terceiros países (Ucrânia) com vista a essa tarefa», sublinha.

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De acordo com o jornal, que se refere a fontes da aliança militar, alguns membros são «particularmente cautelosos» no que respeita a dar «ao presidente da Rússia, Vladimir Putin, qualquer aparência de vitória».

Neste sentido, comenta o jornalista Ben Norton, num artigo agora publicado em english.almayadeen.net, para alcançar os seus objectivos a NATO está mais que disposta a manter os ucranianos na «picadora».

Ainda sobre as negociações, o conselheiro de segurança nacional dos EUA, Jake Sullivan, referiu que a equipa de Zelensky mantinha uma estreita coordenação com Washington e que estava em «contacto quase diário» com funcionários da Casa Branca. Para Norton, isto deixa bem claro quem é que de facto manda.

WaPo, Bezos e administração dos EUA

Ben Norton destaca a estreita relação existente entre The Washington Post, propriedade do multimilionário Jeff Bezos – também conhecido como presidente executivo da Amazon –, que tem contratos no valor de milhares de milhões de dólares com a CIA, o FBI, o Pentágono, o Serviço de Imigração e Controlo de Fronteiras (ICE) e outras agências governamentais norte-americanas.

«Se The Washington Post está a revelar estas informações sobre a NATO, com citações de altos funcionários da Casa Branca, é óbvio que tem luz verde dos seus responsáveis em Washington», afirma Norton.

Para o jornalista norte-americano, editor do portal multipolarista.com e colaborador em diversos projectos de linha anti-imperialista, a peça publicada dia 5 no WaPo é «uma confirmação semi-oficial de que a NATO vê os ucranianos como carne para canhão na sua guerra imperialista por procuração contra a Rússia», algo que, lembra, alguns representantes ocidentais já afirmaram abertamente.

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Situação na Ucrânia é «guerra por procuração», admite ex-funcionário da Casa Branca

Um ex-funcionário do Departamento de Estado afirmou que existe uma «guerra por procuração» da NATO com a Rússia e que os soldados russos têm de «se render ou morrer» – «quantos mais e mais depressa, melhor».

Créditos / multipolarista.com

Eliot Cohen, que foi conselheiro de Condoleezza Rice entre 2007 e 2009, no Departamento de Estado da administração de George W. Bush, é conhecido como elemento da chamada «linha dura» entre os conservadores, tendo defendido a guerra contra o Irão e as agressões norte-americanas no Iraque e no Afeganistão.

Num artigo publicado dia 14 na revista The Atlantic, Cohen louva a administração liderada pelo actual presidente norte-americano, Joe Biden, pelo «trabalho admirável» que realizou até agora em diversas frentes, nomeadamente ao «vencer a guerra de informação, mobilizar os aliados da NATO e impor sanções incapacitantes (embora incompletas) à economia russa».

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NATO e nazismo, uma irmandade

Irmãos da Floresta, regimento Azov, Abdelhakim Belhadj, o Estado Islâmico e o terrorismo «moderado», fornecimento clandestino de armamento sofisticado. A associação entre a NATO e os nazi-fascismos é um facto.

O batalhão Azov, apoiado pela NATO e pelas lideranças da UE e dos EUA, e tratado pelos mainstream media ocidentais como «nacionalistas ucranianos» ou «admiradores de Stepan Bandera», usa o símbolo nazi Wolfsangel na sua bandeira e uma das tropas de choque preferidas do governo de Kiev, no Leste como no resto do país.
Créditos / twitter

Que haverá de comum entre um grupo armado formado por membros das Waffen SS em Estados bálticos, designado Irmãos da Floresta, o regimento Azov da Guarda Nacional ucraniana, o emir do Daesh no Magrebe, de seu nome Abdelhakim Belhadj, e o mistério do armamento sofisticado descoberto recentemente num santuário neonazi em Turim, Itália?

Por muito que seja considerada inadmissível pela comunicação mainstream e seus fiéis seguidores, a resposta é: NATO – Organização do Tratado do Atlântico Norte.

«Que haverá de comum entre um grupo armado formado por membros das Waffen SS em Estados bálticos, designado Irmãos da Floresta, o regimento Azov da Guarda Nacional ucraniana, o emir do Daesh no Magrebe, de seu nome Abdelhakim Belhadj, e o mistério do armamento sofisticado descoberto recentemente num santuário neonazi em Turim, Itália? Por muito que seja considerada inadmissível pela comunicação mainstream e seus fiéis seguidores, a resposta é: NATO – Organização do Tratado do Atlântico Norte»

É a linguagem objectiva dos factos. E se contra factos pode haver quantos argumentos quiserem, todos eles serão rejeitados pela mais transparente realidade. As circunstâncias citadas têm em comum, sem dúvida, o culto do nazi-fascismo e, de uma maneira ou de outra, estão igualmente interligadas pela acção, protecção ou propaganda da NATO.

Vamos então a factos.

Os Irmãos da Floresta

A Segunda Guerra Mundial entrava na sua fase final quando foram criados os Irmãos da Floresta, grupos armados anticomunistas nascidos na Estónia, Letónia e Lituânia. Os membros, na sua maioria, foram recrutados entre os destacamentos locais das Waffen SS, integrados no aparelho de guerra hitleriano que tentou ocupar a União Soviética. Na Estónia, por exemplo, estes terroristas faziam juramento de fidelidade ao Fuhrer1.

Com a cumplicidade de serviços de espionagem de países ocidentais – nessa altura, formalmente em aliança com o lado soviético – os Irmãos da Floresta, ex-Waffen SS, foram reciclados como tampões contra o avanço do Exército Vermelho para Oeste depois de este ter vergado o nazismo na decisiva e sangrenta batalha de Estalinegrado.

Em suma, os Irmãos da Floresta, tal como os destacamentos bálticos das Waffen SS, tinham como missão, de facto, impedir que os soviéticos esmagassem completamente os nazis – o que também significava travar a libertação dos seres humanos que ainda sobreviviam nos campos da morte hitlerianos2.

«é pena que os propagandistas da aliança não tenham podido dedicar um segundo sequer às origens hitlerianas e terroristas da gloriosa irmandade – certamente por falta de tempo. Que outras razões haveria para esconder uma matriz tão inspiradora?»

Pois os Irmãos da Floresta são agora glorificados como heróis de uma gesta democrática, através de um documentário da NATO inserido no seu espaço de propaganda no YouTube. São oito minutos e alguns segundos de pura heroicidade ao melhor estilo de Hollywood, durante os quais os feitos dos Irmãos da Floresta são apresentados como inspiradores das forças especiais das repúblicas bálticas que agora «estão na linha da frente» contra a temível «ameaça russa». Afinal, hoje como ontem, explica-nos a NATO.

Só é pena que os propagandistas da aliança não tenham podido dedicar um segundo sequer às origens hitlerianas e terroristas da gloriosa irmandade – certamente por falta de tempo. Que outras razões haveria para esconder uma matriz tão inspiradora?3

O regimento Azov

Dos Estados bálticos para a Ucrânia, dos Irmãos da Floresta dos anos quarenta para o actual e activo regimento Azov, um bastião da «pureza rácica» ucraniana, como estipula o seu fundador, Andriy Biletski, aliás o «Fuhrer Branco». Pretende assim que os genes dos seus compatriotas «não se misturem com os de raças inferiores», cumprindo «a sua missão histórica de comandar a Raça Branca mundial na sua cruzada final pela sobrevivência».

Ao contrário do que possam pensar, isto não é folclore nem delírio sob efeito de qualquer fumo. O grupo nazi designado Batalhão Azov, e outros do género, receberam treino de instrutores norte-americanos e da NATO e foram decisivos no êxito do golpe «democrático» de 2014 na Praça Maidan, em Kiev. Depois disso, foram transformados em regimentos integrados na Guarda Nacional, o novo corpo militar nascido da «revolução» e que se tornou a guarda pretoriana do regime fascista patrocinado pela Aliança Atlântica, os Estados Unidos e a União Europeia4 .

O regimento Azov e outros grupos neonazis, inspirados pela figura de Stepan Bandera, um executor do genocídio hitleriano contra as populações ucranianas, tornaram-se corpos fundamentais na agressão do actual regime contra as populações ucranianas russófonas da região de Donbass.

Os membros do regimento Azov orgulham-se de posar com as bandeiras nazi e da NATO, dando-se assim a conhecer ao mundo.

A gratidão é uma atitude que nunca fica mal. Mesmo aos nazis.

Sob o regime actual em Kiev, a Ucrânia tornou-se, de facto, membro da NATO. Trata-se, como nos Estados bálticos, de combater a terrível «ameaça russa». Para executar tão nobre missão até o nazismo engrossa as hostes da «democracia».

Abdelhakim Belhadj

Embora desempenhando, desde 2015, a tarefa mais recatada e menos mediática de emir do Daesh, ou Estado Islâmico, no Magrebe, Abdelhakim Belhadj não desapareceu como figura de referência das transformações «libertadoras» que galoparam pelo Médio Oriente e Norte de África sob as exaltantes bandeiras das «primaveras árabes».

Abdelhakim Belhadj, para quem não se recorda, foi um dos chefes terroristas islâmicos que contribuíram, em aliança com a NATO, para «libertar a Líbia» do regime de Khaddafi. Houve-se tão bem da missão que a aliança fez dele «governador militar de Tripoli» logo que as hordas fundamentalistas tomaram a capital líbia.

Quando ainda mal aquecera o lugar, a tutela atlantista enviou-o para a Síria formar o «Exército Livre», o grupo terrorista «moderado» no qual os Estados Unidos e os seus principais parceiros da NATO apostaram inicialmente todas as fichas com o objectivo de «libertar Damasco».

Abdelhakim Belhadj recebeu honrarias dos Estados Unidos, outorgadas pelo embaixador na Líbia e pelo falecido senador McCain, então movendo-se febrilmente entre a Líbia, a Síria e a Ucrânia, onde foi um dos principais timoneiros do golpe de Maidan e das suas frentes nazis.

A partir de 2015, segundo a Interpol, Belhadj tornou-se emir do Daesh – o tão proscrito Estado Islâmico – no Magrebe.

Porém, cada vez que algum jornalista a sério mexe em acontecimentos da história recente arrisca-se a encontrar-se com a figura de Belhadj. Foi o que sucedeu com profissionais do jornal espanhol Publico: ao investigarem o envolvimento dos serviços de informações de Madrid (CNI) no atentado terrorista de 11 de Março de 2004, que provocou 200 mortos, depararam com outras situações que dizem muito sobre o tipo de «democracia» em que vivemos.

Segundo o próprio chefe do governo espanhol da época, José María Aznar – invasão do Iraque, lembram-se? –, Abdelhakim Belhadj foi um dos estrategos do atentado, embora nunca tenha sido preso nem julgado.

O curioso é que o atentado começou por ser atribuído à ETA e depois à al-Qaida; e que a maior parte dos operacionais detidos eram informadores dos serviços secretos espanhóis.

Mais curioso ainda é o facto de o tema do exercício europeu CMX 2004 da NATO, que decorreu de 4 a 10 de Março, tenha sido precisamente o da simulação de um atentado com as características do que aconteceu em 11 de Março na capital espanhola. «A semelhança do cenário elaborado pela NATO com os acontecimentos ocorridos em Madrid provoca calafrios na espinha e impressionou os diplomatas, militares e serviços de informações que participaram no exercício apenas algumas horas antes», escreveu o jornal El Mundo, inconformado com a tese que acabou por ficar para a história: atentado cometido por uma rede islamita sem ligações à al-Qaida.

Entre as névoas do caso avultam, porém, algumas circunstâncias que é possível focar: a declaração de Aznar envolvendo Abdelhakim Belhadj, que se revelou vir a ser uma aposta da NATO antes de ter ascendido ao topo do Estado Islâmico no Magrebe; e os dons proféticos desta mesma NATO, concebendo um tema para exercícios que se tornou realidade menos de 24 horas depois.

O santuário nazi de Turim

Há poucos dias, a polícia italiana descobriu um arsenal de armamento num santuário nazi em Turim, Itália.

O que à primeira vista poderia ser mais um armazém de velhas e nostálgicas recordações dos fãs do Fuhrer mudou de figura quando foram desembalados alguns sofisticados mísseis que não costumam estar ao alcance de pequenos e médios traficantes de armas.

Diz a imprensa italiana que os investigadores do caso seguiram pistas que conduziam até aos grupos nazis ucranianos mas não obtiveram dados consistentes. E provavelmente não encontrarão esses e outros elementos: a verdade é que as notícias sobre o assunto quase desapareceram. O caso é um nado-morto.

Já as redes clandestinas formadas pela NATO, do tipo Gládio, não estarão mortas, desafiando todas as propagandas, como recordaram alguns jornalistas italianos.

A história do arsenal está mal contada e, previsivelmente, será arquivada com celeridade; já o apoio da NATO aos grupos nazis ucranianos não suscita dúvidas: os próprios beneficiários o confessam. Porém, não é um auxílio que deva ser feito aos olhos de todos, tratando-se da NATO, uma aliança que existe para «defender a democracia» – a NATO só defende, nunca ataca, como se sabe. A verdade é que desde que passou de batalhão a regimento da Guarda Nacional o grupo terrorista Azov foi equipado com armas pesadas, incluindo tanques, que chegaram de algum lado. Talvez agora seja a hora dos mísseis, quem sabe? Ainda recentemente as forças policiais italianas e o regimento Azov assinaram um acordo de cooperação desbravando novos caminhos.

É provável que todas estas relações dêem os seus frutos; é improvável, porém, que cheguem ao conhecimento dos cidadãos comuns, tal como o desfecho do mistério dos mísseis nazis de Turim.

A grande irmandade

Irmãos da Floresta, regimento Azov, Abdelhakim Belhadj, o Estado Islâmico e o terrorismo «moderado», fornecimento clandestino de armamento sofisticado. Não é necessário escavar muito estas histórias, casos e mistérios para tropeçarmos na associação entre a NATO e os nazi-fascismos, duas correntes que, a acreditar na propaganda oficial, deveriam ser como a água e o azeite.

Afinal não. Trata-se de uma fluida cooperação nos tempos em que se fala no risco de uma nova guerra mundial e que traz raízes consolidadas na altura em que o anterior conflito ainda não tinha acabado.

É, como se percebe, uma grande e frutífera irmandade. Factos são factos.

  • 1. Note-se que os teóricos nazis atribuíam desde os anos 30, na sua propaganda, o estatuto de «raça superior» aos povos estónio e letão, facilitando a formação dos sanguinários esquadrões da morte bálticos integrados nas Waffen SS, tão ou mais temidos pelos povos e etnias que viviam no território soviético ocupado pela Alemanha nazi do que os próprios alemães.
  • 2. No período posterior à derrota hitleriana no Báltico os Irmãos da Floresta mantiveram-se activos até meados da década de 50. Actualmente, os próprios admiradores destes colaboradores nazis no Báltico reciclados reconhecem o carácter terrorista dos seus heróis, como é fácil de confirmar através do volume de baixas soviéticas nos anos de 1944-1958 no Báltico: mais de 25 mil civis foram assassinados e muitos torturados antes de executados, enquanto os polícias que combatiam os Irmãos da Floresta tiveram quatro mil baixas. Outro pormenor menos ventilado é que o maior apoio interno daquelas organizações provinha dos poderosos e ricos latifundiários da região, que tinham um profundo ódio aos camponeses que os tinham expropriado durante os anos da Revolução Russa. Após a deportação para a Sibéria, no final dos anos 40, da maioria dos grandes proprietários de terras no Báltico, a actividade dos Irmãos da Floresta decaiu consideravelmente, apesar de todos os esforços da CIA e dos serviços secretos britânicos para reactivá-los. O golpe final foi dado após a amnistia concedida pelas autoridades soviéticas após a morte de José Estaline, em 1953. O leitor terá de procurar em língua russa (mesmo que em sítios como a insuspeita Rádio Liberdade, financiada pelo governo americano) as fontes documentais sobre este assunto, visto os websites do Ocidente serem consideravelmente parcos a respeito destes dados e optarem habitualmente por uma visão puramente apologética dos Irmãos da Floresta, escondendo a sua verdadeira natureza.
  • 3. Neonazis e veteranos da Waffen-SS voltaram a marchar em Riga em Março de 2019, como denunciou o AbrilAbril em artigo publicado na altura.
  • 4. O regimento Azov [ou «Batalhão Azov», ou muito simplesmente «Azov»] é uma organização paramilitar criada em 2014, durante os protestos da praça Euromaidan e do golpe de Estado que lhe foi subsequente. É enquadrado e remunerado pelo Ministério do Interior da Ucrânia como um dos membros da chamada Guarda Nacional, que confere poderes estatais a este e outros grupos fascistas ucranianos. Originalmente fundado como um grupo paramilitar voluntário, é acusado de ser uma organização neonazi e neofascista, além de estar envolvido em vários casos de abusos de direitos humanos e crimes de guerra leste da Ucrânia, principalmente em casos de torturas, estupros, saques, limpeza étnica e perseguição de minorias como homossexuais, judeus e russos. O Azov tem ligações a grupos nazi-fascistas internacionais, como em Itália ou no Brasil onde recruta combatentes na guerra que move contra as populações do Donbass, no leste da Ucrânia.
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E admite claramente que a NATO trava na Ucrânia uma «guerra por procuração», buscada pela Casa Branca. No entanto, critica a actual administração por não fazer o suficiente, defendendo que deve promover ainda mais a escalada do conflito.

Segundo refere o portal multipolarista.com, tendo por base informações divulgadas na imprensa dominante, a administração de Biden enviou para a Ucrânia mais de 17 mil armas anti-tanque, incluindo mísseis Javelin, e 2000 mísseis anti-aéreos Stinger – alguns dos quais foram parar directamente às forças neonazis do Batalhão Azov.

A mesma fonte indica que, depois de ter enviado para a Ucrânia, no final de Fevereiro, armas no valor de 350 milhões de dólares, a Casa Branca aprovou uma pacote de ajuda adicional no valor de 13,6 mil milhões de dólares, em Março, incluindo 6,5 mil milhões em apoio militar.

Uma «inundação» de armas

Para Eliot Cohen, isto não basta. «O fluxo de armas que entra na Ucrânia tem de ser uma inundação», escreveu em The Atlantic.

«Os Estados Unidos e os seus aliados da NATO estão envolvidos numa guerra por procuração com a Rússia», disse. «Estão a fornecer milhares de munições e, esperemos, fazendo muito mais – partilhando inteligência, por exemplo – com o objectivo de matar soldados russos».

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Activistas norte-americanos protestam contra o negócio da guerra

Um grupo de pessoas manifestou-se, esta segunda-feira, na sede da empresa de armamento norte-americana Raytheon Technologies, em Cambridge, Massachusetts, contra o negócio da guerra.

Acção contra o negócio da guerra na sede da Raytheon, em Cambridge, Massachusetts 
Créditos@resist_abolish

No cimo da sede da Raytheon, cinco pessoas penduraram panos em que pediam o fim de todos os conflitos bélicos e denunciavam que a empresa em causa, um dos gigantes da indústria do armamento, lucra com a morte no Iémen, na Palestina e na Ucrânia [vídeo].

Outras, mais abaixo, mostraram faixas em que denunciavam o lucro da empresa com o «genocídio» e que os seus «mísseis matam civis».

De acordo com a informação divulgada na conta de Twitter da organização Resist and Abolish the Military Industrial Complex (RAM INC), a Polícia deteve as pessoas envolvidas na acção de protesto – que foram mais tarde libertadas.

Por um protesto realizado o ano passado à entrada das instalações da Raytheon em Portsmouth, no estado norte-americano de Rhode Island, a organização enfrenta uma multa de 3000 dólares, segundo informa na mesma rede social.

A Raytheon, que o ano passado anunciou vendas no valor de 64,4 mil milhões de dólares, tem entre os seus clientes a Arábia Saudita, o Catar e os Emirados Árabes Unidos.

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Empresas de armamento lucram com o trabalho dos reclusos nos EUA

«Reclusos que ganham centavos fabricam armas multimilionárias», revela o MintPress News. As maiores empresas de armas dos EUA encontram novas formas de tirar proveito do complexo industrial das prisões.

Um grupo de reclusos regressa aos dormitórios, no regresso do trabalho, na Prisão Estatal de Louisiana, em Angola, EUA 
CréditosGerald Herbert / innocenceproject.org

Um estudo do MintPress News indica que, «em muitos casos, as armas de guerra são fabricadas directamente com recurso a trabalho penitenciário sob coacção».

Centrada nas cem maiores empresas privadas contratadas pelo Departamento da Defesa norte-americano, a investigação mostra que 37% também lucram com norte-americanos reclusos, tanto em prisões como nos campos do Serviço de Imigração e Controlo de Fronteiras (ICE).

Entre os 25 maiores fabricantes de armas, 16 beneficiam do trabalho dos reclusos. A lista completa das 37 empresas que lucram com o «encarceramento massivo» pode ser consultada aqui (apresentada por ordem do valor dos contratos recebidos do Departamento da Defesa).

A lista, explica o jornalista Alan MacLeod, foi criada com base na recolha de dados do portal da administração norte-americana usaspending.gov. Os dados relativos às cem maiores empresas militares privadas contratadas no último ano fiscal completo foram comparados com uma base de dados de agentes do sector privado da indústria prisional, organizada pelo grupo Worth Rises, que defende o desmantelamento da indústria das prisões e o fim da exploração que ela implica.

«"historicamente, o governo federal atribuiu subsídios para testar nas prisões a tecnologia que está a ser desenvolvida para a luta contra o terrorismo"»

Chris Hedges, jornalista e professor no sistema prisional a quem foi pedido um comentário, não ficou chocado com o facto de quase dois terços dos maiores agentes da indústria da defesa estarem bastante envolvidos no negócio das prisões. «O tecido da indústria da defesa, o Estado carcerário, a indústria da inteligência, está tudo interligado. E acho que estas descobertas o provam», disse.

O MintPress falou igualmente com a fundadora e directora executiva da Worth Rises, Bianca Tylek, que também não se mostrou surpreendida.

«Há uma sobreposição considerável entre as duas indústrias, o que não é surpreendente; são indústrias controversas. As empresas que operam numa indústria controversa não temem participar noutra. Onde vemos uma sobreposição particular é na tecnologia de segurança e vigilância. Na verdade, historicamente, o governo federal atribuiu subsídios para testar nas prisões a tecnologia que está a ser desenvolvida para a luta contra o terrorismo», disse.

Não é uma indústria artesanal

Uma dessas empresas «controversas» é a Raytheon, que o ano passado anunciou vendas no valor de 64,4 mil milhões de dólares e que também recorre à vasta população prisional dos Estados Unidos como mão-de-obra barata quase infinita para fabricar alguns dos seus produtos mais caros.

Os reclusos, refere o texto, são obrigados a trabalhar por apenas 23 centavos por hora (menos impostos e outras taxas) para empresas subcontratadas que fabricam peças para mísseis Patriot que custam até 5,9 milhões de dólares (cada um), o que significa que um preso teria de trabalhar quase 3000 anos, 24 horas por dia, para ser capaz de pagar o que está a fazer.

«As armas da Raytheon têm sido cruciais para os bombardeamentos levados a cabo pela coligação liderada pelos sauditas no Iémen»

A administração norte-americana autoriza a Raytheon e outros a venderem os seus produtos a alguns dos governos que mais violam os direitos humanos, afirma o MintPress News, incluindo nessa lista os da Arábia Saudita, do Catar e dos Emirados Árabes Unidos.

As armas da Raytheon têm sido cruciais para os bombardeamentos levados a cabo pela coligação liderada pelos sauditas no Iémen, criando aquilo que as Nações Unidas classificam como «a pior crise humanitária do mundo».

Desde o início da guerra de agressão, a Raytheon vendeu a Riade equipamento pelo menos no valor de 3,3 mil milhões de dólares. Em 2018, a aviação saudita usou um míssil fabricado pela Raytheon para fazer explodir um autocarro cheio de crianças iemenitas, provocando a morte a 51 pessoas. «Se esta história foi notícia, há seguramente muitos outros casos semelhantes que nunca chegam ao público ocidental», frisa o portal.

Reclusos na Prisão Estatal de San Quentin, Califórnia (EUA) / VCG / CGTN

Exemplos de «promiscuidade» entre Defesa e sistema prisional

Reclusos nos EUA fabricam equipamentos electrónicos, ópticos e arneses para a BAE Systems, incluindo para o seu veículo de combate Bradley, um pilar do Exército norte-americano. Por este trabalho, os presos recebem cerca de 100 dólares por mês, segundo informação divulgada.

Várias subsidiárias da BAE Systems – incluindo o fabricante de equipamentos militares e policiais Armor Holdings (que fabrica a maioria das mochilas do Exército dos EUA) e a empresa de tecnologia de câmaras, segurança e espionagem Fairchild Imaging – também aparecem na lista de empresas que vendem para a indústria prisional, elaborada pela Worth Rises.

«Há diversas grandes empresas contratadas pela Defesa que também operam na indústria prisional.»

BAE Systems, General Dynamics e Lockheed Martin estão entre as empresas que mais lucram com o trabalho prisional, segundo a Worth Rises, que as marca com «nota máxima» no índice de danos.

Há diversas grandes empresas contratadas pela Defesa que também operam na indústria prisional. Um dos exemplos apontados pelo MintPress News é o da General Electric e das suas subsidiárias, envolvidas na construção e no equipamento das prisões, no fornecimento de alimentos e na supervisão dos cuidados de saúde.

Porventura, o agente mais importante na ligação da indústria prisional à militar é empresa estatal Unicor (também conhecida como Federal Prison Industries). Empregando 16 mil reclusos a nível nacional em 2021, a Unicor anunciou receitas de 528 milhões de dólares o ano passado.

Fabricando de tudo – desde têxteis até equipamentos de escritório e electrónicos –, a empresa presta um serviço vital ao complexo industrial militar, fornecendo-lhe um fluxo quase interminável de mão-de-obra cativa e praticamente gratuita para explorar, destaca o portal.

Ao contrário da Raytheon e da Lockheed Martin, que mantêm em silêncio a ligação a esta fonte controversa de trabalho, a Unicor parece orgulhar-se dela, ostentando-a na sua página de Internet.

Conversa progressista até falar o dinheiro

Muitas das 37 empresas listadas são conhecidas como fabricantes de armas, mas outras poderão não ser associadas à indústria das armas. A CACI International, por exemplo, está longe de ser um nome familiar, apesar de empregar mais de 22 mil pessoas em todo o mundo.

O principal cliente da CACI é o governo dos EUA, a quem fornece uma vasta gama de serviços profissionais e de tecnologias da informação. Localizada no Norte da Virgínia, é uma das muitas empresas que se banqueteiam com os contratos de guerra do Iraque e do Afeganistão.

«O ano passado, o director executivo da CACI, John Mengucci, referiu-se à retirada do Afeganistão como má para o negócio.»

A CACI promove-se a si mesma como um «empregador progressista», e o seu portal está cheio de conversa sobre «diversidade» e «inclusividade», além de se vangloriar de estar na lista da Forbes do «top mais» das empresas «amigas das mulheres».

Mas esta conversa «progressista» dura até que o dinheiro fale. Em 2016, revela o MintPress, a CACI lançou uma oferta e ganhou um contrato de 93 milhões de dólares com o Serviço de Imigração e Controlo de Fronteiras para fazer a manutenção dos seus centros de detenção – edifícios que foram amplamente descritos como campos de concentração.

O ano passado, o director executivo da CACI, John Mengucci, referiu-se à retirada do Afeganistão como má para o negócio. E tinha razão: em 2019, a CACI assegurou um contrato de 907 milhões de dólares, por um período de cinco anos, para «fornecer operações de inteligência e apoio analítico» às forças dos EUA no Afeganistão.

Além disso, em 2021, o Supremo Tribunal dos EUA rejeitou o recurso da CACI relativo ao processo instaurado por um grupo de iraquianos pelo alegado envolvimento da empresa em tortura e agressão sexual, na célebre prisão de Abu Ghraib.

Neoliberalismo e exploração nos cárceres

As condições prisionais nos Estados Unidos estão entre as piores do mundo desenvolvido, denuncia o MintPress News. A maior parte dos estados exige que os reclusos recebam uma compensação financeira pelo seu trabalho, mas os salários podem ser embargados para pagamento de pensões de alimentos, restituições à vítima e até alojamento e alimentação. Em cinco estados – Texas, Arkansas, Alabama, Geórgia e Florida – os reclusos são obrigados a trabalhar sem qualquer pagamento.

«Isto é trabalho em condições de servidão; não se pode organizar; não pode fazer greve; não pode protestar pelas más condições. O pagamento está muito abaixo do salário mínimo», disse Hedges ao MintPress.

Assim, a enorme população prisional satisfaz as necessidades das empresas norte-americanas de duas formas: primeiro, fornece uma gigantesca reserva de mão-de-obra barata e disciplinada para explorar, ajudando-as a competir com «fábricas de miséria» na Ásia; em segundo lugar, actua como uma ferramenta disciplinadora do «trabalho livre», ajudando a acabar com os sindicatos e a reduzir os salários e as condições de trabalho em todo o país.

A Worth Rises faz parte de um conjunto de organizações que consideram que parte do trabalho prisional se assemelha à escravidão, pelo que tem feito campanha para alterar a 13.ª Emenda, que permite que a escravidão seja usada como forma de punição de um crime.

«Pessoas nas ruas de Detroit, Newark ou no Leste de Nova Iorque não valem nada aos olhos do Estado corporativo. Mas, se forem fechadas numa gaiola, têm capacidade para gerar 50 ou 60 mil dólares por ano para essas empresas.»

Tendo em conta que a economia foi esvaziada e os empregos foram transferidos para o estrangeiro, grande parte da população trabalhadora do país tornou-se, aos olhos das empresas norte-americanas, excedentária em relação às necessidades económicas, afirma o MintPress News.

Já não são necessários para trabalhar nas fábricas e são efectivamente inúteis para gerar lucros para outros. Hedges encara a ascensão do complexo industrial prisional como uma resposta a isto.

«Pessoas nas ruas de Detroit, Newark ou no Leste de Nova Iorque não valem nada aos olhos do Estado corporativo. Mas, se forem fechadas numa gaiola, têm capacidade para gerar 50 ou 60 mil dólares por ano para essas empresas. Então, nesse sentido, é um continuum completo [desde a escravidão]», disse.

Com quase 2,3 milhões de pessoas atrás das grades numa rede de mais de 7000 instalações, os Estados Unidos têm de longe a taxa mais elevada de encarceramento do mundo, encarcerando os seus cidadãos a uma taxa dez vezes superior à de países europeus como a Suécia ou a Dinamarca e 17 vezes mais elevada que a do Japão.

A explosão da população prisional dos EUA reflecte de perto a ascensão do neoliberalismo como a ideologia dominante, afirma o portal, precisando que, antes da administração Reagan, os números das prisões norte-americanas eram comparáveis aos da Europa. No entanto, entre 1984 e 2005, uma nova cadeia foi construída, em média, a cada 8,5 dias, atingindo o pico em 2009.

Tylek, da Worth Rises, criticou fortemente o custo e o desperdício do empreendimento. «Em muitos lugares, as populações prisionais caíram nos últimos anos. E, no entanto, os orçamentos dessas agências continuam a aumentar. Nada o justifica», disse.

A indústria prisional «para lá dos limites» tornou-se tão normalizada que é objecto de entretenimento ligeiro. Em 2020, um novo jogo, chamado «Prison Empire Tycoon», tornou-se viral, convertendo-se no jogo de estratégia número um na App Store da Apple.

O objectivo do jogo é supervisionar e administrar uma prisão com fins lucrativos. Durante o tutorial, no início, um guarda empunhando um bastão instrui os jogadores, dizendo-lhes que «o Estado paga bom dinheiro» para lidar com os «criminosos».

Reclusos na Prisão Estatal de Louisiana, em Angola (EUA) / Gerald Herbert / MintPress News

A pagar a dívida?

Uma forma de gerar mais lucro, tanto no jogo como na realidade, é transferir os custos para os próprios reclusos. As pessoas encarceradas agora têm de pagar regularmente artigos essenciais como sabão, pasta de dentes e champô, bem como chamadas para os seus entes queridos. A outros exigem-lhes co-pagamentos para consultar um médico ou para despesas de alojamento, a serem descontadas dos salários ganhos.

«Corporações financeiras como a JPay e a JP Morgan Chase fazem parcerias com instituições penitenciárias para garantir o melhor negócio para eles – e o pior negócio para os presos.»

Muitas vezes, apenas o facto de se ser enviado para um estabelecimento prisional implica uma «taxa de processamento» de 100 dólares, que os reclusos têm de pagar, enquanto aos visitantes são cobradas regularmente quantias por verificações de antecedentes. Amigos e familiares dos presos transferem 1,8 mil milhões de dólares para estabelecimentos prisionais todos os anos.

Sem outra opção, são forçados a aceitar taxas de transferência de dinheiro até 45%. Corporações financeiras como a JPay e a JP Morgan Chase fazem parcerias com instituições penitenciárias para garantir o melhor negócio para eles – e o pior negócio para os presos. Tylek disse ao MintPress: «Estar preso é muito caro. É tão caro que endivida muitas famílias que apoiam pessoas que estão encarceradas.»

Trazer as guerras para casa

Hedges, que passou muito tempo a ensinar no sistema penitenciário de New Jersey, também observou as semelhanças entre as prisões e os militares, comentando que os guardas são frequentemente recrutados nas Forças Armadas ou na Guarda Nacional. Cada vez mais, os guardas parecem-se com as equipas SWAT, com armas letais de alta tecnologia. «Tudo é militarizado», disse Hedges. E acrescentou:

«Dirigem-se a ti pelo teu número, não pelo teu nome. És obrigado a andar em fila indiana pelos corredores. Qualquer infracção […] pode fazer com que acabes por ser espancado ou atirado para a solitária e despojado dos poucos privilégios que tens. É o microcosmo perfeito do Estado totalitário.»

«À medida que os impérios decaem (...), muitas vezes trazem de volta a repressão que infligem no estrangeiro»

Por seu lado, Tylek disse que, «em muitos casos, o governo está a reagir ao crime a nível nacional da mesma forma que responde à guerra internacional. E isto deve-se ao facto de que muitos dos mesmos fornecedores estão a facultar equipamento tecnológico para esses dois ambientes».

À medida que os impérios decaem – argumentou Hedges –, muitas vezes trazem de volta a repressão que infligem no estrangeiro, usando na população nacional tácticas aprimoradas para reprimir a dissidência estrangeira.

Hoje, as comunidades pobres nos EUA estão a ser governadas de uma forma cada vez mais militarizada, nota o MintPress News, enquanto os oprimidos pelo complexo industrial prisional no país são coagidos a fornecer o seu trabalho para reforçar o complexo industrial militar no estrangeiro. E, a cada passo, as empresas norte-americanas continuam a lucrar.

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As suas armas têm sido fundamentais para os bombardeamentos levados a cabo pela coligação liderada pelos sauditas no Iémen, ajudando a criar aquilo que as Nações Unidas classificam como «a pior crise humanitária do mundo».

Desde o início da guerra de agressão, a Raytheon vendeu a Riade equipamento pelo menos no valor de 3,3 mil milhões de dólares, segundo refere o MintPress News.

Em 2018, a aviação saudita usou um míssil fabricado pela Raytheon para fazer explodir um autocarro cheio de crianças iemenitas, provocando a morte a 51 pessoas.

A indústria de armamento dos EUA também tem lucrado bastante com a actual situação na Ucrânia, tendo como base os contratos celebrados com países ocidentais que estão a aumentar as suas despesas na área da defesa.

Segundo revelou o diário The Hill na semana passada, o valor das acções da Lockheed Martin disparou quase 25% desde o início do ano, enquanto o de outras empresas do sector como Raytheon, General Dynamics e Northrop Grumman subiu cerca de 12%, cada qual.

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«Para vergar a vontade da Rússia e libertar a Ucrânia da conquista e da subjugação, muitos soldados russos têm de fugir, render-se ou morrer, e, quantos mais e mais depressa, melhor», acrescentou o apoiante das invasões do Iraque e do Afeganistão, que também pedia a guerra com o Irão.

Embora não esteja directamente no governo, Cohen trabalha para o think tank neoconservador Center for Strategic and International Studies (CSIS), que recebe fundos do governo, da indústria de armamento e das empresas de combustíveis fósseis.

De acordo com o portal norte-americano, a «perspectiva ultra-belicosa de Cohen é bastante representativa dos falcões [da guerra] em Washington» e «o seu artigo em The Atlantic permite vislumbrar de forma honesta como os planificadores imperialistas norte-americanos encaram a crise na Ucrânia: uma oportunidade para usar o povo ucraniano como carne para canhão numa guerra por procuração» contra a Rússia.

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O ex-funcionário do Departamento de Estado Eliot Cohen, falcão da guerra da direita, afirmou na revista The Atlantic que os EUA e os seus aliados estão envolvidos numa «guerra por procuração» com a Rússia e que os soldados russos têm de «se render ou morrer» – «quantos mais e mais depressa, melhor».

O conselheiro de Condoleeza Rice entre 2007 e 2009 defendeu que «o fluxo de armas que entra na Ucrânia tem de ser uma inundação», e isso, sublinha Norton, é exactamente o que os estados-membros da NATO estão a fazer: inundar o país vizinho da Rússia com armamento.

Em vez de apoio às conversações de paz, mais armamento

Os Estados Unidos e a União Europeia têm estado a promover activamente a escalada da guerra, afirma Norton, que destaca o envio para a Ucrânia de armas no valor de milhares de milhões de dólares.

«Aquilo que não se diz é como as empresas de armamento norte-americanas e europeias têm beneficiado enormemente com a guerra», denuncia, acrescentando que as acções dos contratistas militares privados dispararam depois de tropas russas terem invadido a Ucrânia, a 24 de Fevereiro, enquanto os governos ocidentais se comprometiam a aumentar substancialmente as suas despesas militares.

Nos passados dias 6 e 7 de Abril, os ministros dos Negócios Estrangeiros da NATO reuniram-se na sede da aliança, em Bruxelas, tendo-se comprometido a intensificar ainda mais a guerra na Ucrânia.

Representantes de países que não pertencem à NATO também estiveram presentes, como Japão, Coreia do Sul, Austrália, Nova Zelândia, Geórgia, Finlândia e Suécia.

Dmytro Kuleba, ministro ucraniano dos Negócios Estrangeiros, dissipou em Bruxelas qualquer dúvida sobre o que estava em causa na reunião da NATO: «Vim aqui hoje para discutir três coisas muito importantes: armas, armas e armas», disse.

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NATO e nazismo, uma irmandade

Irmãos da Floresta, regimento Azov, Abdelhakim Belhadj, o Estado Islâmico e o terrorismo «moderado», fornecimento clandestino de armamento sofisticado. A associação entre a NATO e os nazi-fascismos é um facto.

O batalhão Azov, apoiado pela NATO e pelas lideranças da UE e dos EUA, e tratado pelos mainstream media ocidentais como «nacionalistas ucranianos» ou «admiradores de Stepan Bandera», usa o símbolo nazi Wolfsangel na sua bandeira e uma das tropas de choque preferidas do governo de Kiev, no Leste como no resto do país.
Créditos / twitter

Que haverá de comum entre um grupo armado formado por membros das Waffen SS em Estados bálticos, designado Irmãos da Floresta, o regimento Azov da Guarda Nacional ucraniana, o emir do Daesh no Magrebe, de seu nome Abdelhakim Belhadj, e o mistério do armamento sofisticado descoberto recentemente num santuário neonazi em Turim, Itália?

Por muito que seja considerada inadmissível pela comunicação mainstream e seus fiéis seguidores, a resposta é: NATO – Organização do Tratado do Atlântico Norte.

«Que haverá de comum entre um grupo armado formado por membros das Waffen SS em Estados bálticos, designado Irmãos da Floresta, o regimento Azov da Guarda Nacional ucraniana, o emir do Daesh no Magrebe, de seu nome Abdelhakim Belhadj, e o mistério do armamento sofisticado descoberto recentemente num santuário neonazi em Turim, Itália? Por muito que seja considerada inadmissível pela comunicação mainstream e seus fiéis seguidores, a resposta é: NATO – Organização do Tratado do Atlântico Norte»

É a linguagem objectiva dos factos. E se contra factos pode haver quantos argumentos quiserem, todos eles serão rejeitados pela mais transparente realidade. As circunstâncias citadas têm em comum, sem dúvida, o culto do nazi-fascismo e, de uma maneira ou de outra, estão igualmente interligadas pela acção, protecção ou propaganda da NATO.

Vamos então a factos.

Os Irmãos da Floresta

A Segunda Guerra Mundial entrava na sua fase final quando foram criados os Irmãos da Floresta, grupos armados anticomunistas nascidos na Estónia, Letónia e Lituânia. Os membros, na sua maioria, foram recrutados entre os destacamentos locais das Waffen SS, integrados no aparelho de guerra hitleriano que tentou ocupar a União Soviética. Na Estónia, por exemplo, estes terroristas faziam juramento de fidelidade ao Fuhrer1.

Com a cumplicidade de serviços de espionagem de países ocidentais – nessa altura, formalmente em aliança com o lado soviético – os Irmãos da Floresta, ex-Waffen SS, foram reciclados como tampões contra o avanço do Exército Vermelho para Oeste depois de este ter vergado o nazismo na decisiva e sangrenta batalha de Estalinegrado.

Em suma, os Irmãos da Floresta, tal como os destacamentos bálticos das Waffen SS, tinham como missão, de facto, impedir que os soviéticos esmagassem completamente os nazis – o que também significava travar a libertação dos seres humanos que ainda sobreviviam nos campos da morte hitlerianos2.

«é pena que os propagandistas da aliança não tenham podido dedicar um segundo sequer às origens hitlerianas e terroristas da gloriosa irmandade – certamente por falta de tempo. Que outras razões haveria para esconder uma matriz tão inspiradora?»

Pois os Irmãos da Floresta são agora glorificados como heróis de uma gesta democrática, através de um documentário da NATO inserido no seu espaço de propaganda no YouTube. São oito minutos e alguns segundos de pura heroicidade ao melhor estilo de Hollywood, durante os quais os feitos dos Irmãos da Floresta são apresentados como inspiradores das forças especiais das repúblicas bálticas que agora «estão na linha da frente» contra a temível «ameaça russa». Afinal, hoje como ontem, explica-nos a NATO.

Só é pena que os propagandistas da aliança não tenham podido dedicar um segundo sequer às origens hitlerianas e terroristas da gloriosa irmandade – certamente por falta de tempo. Que outras razões haveria para esconder uma matriz tão inspiradora?3

O regimento Azov

Dos Estados bálticos para a Ucrânia, dos Irmãos da Floresta dos anos quarenta para o actual e activo regimento Azov, um bastião da «pureza rácica» ucraniana, como estipula o seu fundador, Andriy Biletski, aliás o «Fuhrer Branco». Pretende assim que os genes dos seus compatriotas «não se misturem com os de raças inferiores», cumprindo «a sua missão histórica de comandar a Raça Branca mundial na sua cruzada final pela sobrevivência».

Ao contrário do que possam pensar, isto não é folclore nem delírio sob efeito de qualquer fumo. O grupo nazi designado Batalhão Azov, e outros do género, receberam treino de instrutores norte-americanos e da NATO e foram decisivos no êxito do golpe «democrático» de 2014 na Praça Maidan, em Kiev. Depois disso, foram transformados em regimentos integrados na Guarda Nacional, o novo corpo militar nascido da «revolução» e que se tornou a guarda pretoriana do regime fascista patrocinado pela Aliança Atlântica, os Estados Unidos e a União Europeia4 .

O regimento Azov e outros grupos neonazis, inspirados pela figura de Stepan Bandera, um executor do genocídio hitleriano contra as populações ucranianas, tornaram-se corpos fundamentais na agressão do actual regime contra as populações ucranianas russófonas da região de Donbass.

Os membros do regimento Azov orgulham-se de posar com as bandeiras nazi e da NATO, dando-se assim a conhecer ao mundo.

A gratidão é uma atitude que nunca fica mal. Mesmo aos nazis.

Sob o regime actual em Kiev, a Ucrânia tornou-se, de facto, membro da NATO. Trata-se, como nos Estados bálticos, de combater a terrível «ameaça russa». Para executar tão nobre missão até o nazismo engrossa as hostes da «democracia».

Abdelhakim Belhadj

Embora desempenhando, desde 2015, a tarefa mais recatada e menos mediática de emir do Daesh, ou Estado Islâmico, no Magrebe, Abdelhakim Belhadj não desapareceu como figura de referência das transformações «libertadoras» que galoparam pelo Médio Oriente e Norte de África sob as exaltantes bandeiras das «primaveras árabes».

Abdelhakim Belhadj, para quem não se recorda, foi um dos chefes terroristas islâmicos que contribuíram, em aliança com a NATO, para «libertar a Líbia» do regime de Khaddafi. Houve-se tão bem da missão que a aliança fez dele «governador militar de Tripoli» logo que as hordas fundamentalistas tomaram a capital líbia.

Quando ainda mal aquecera o lugar, a tutela atlantista enviou-o para a Síria formar o «Exército Livre», o grupo terrorista «moderado» no qual os Estados Unidos e os seus principais parceiros da NATO apostaram inicialmente todas as fichas com o objectivo de «libertar Damasco».

Abdelhakim Belhadj recebeu honrarias dos Estados Unidos, outorgadas pelo embaixador na Líbia e pelo falecido senador McCain, então movendo-se febrilmente entre a Líbia, a Síria e a Ucrânia, onde foi um dos principais timoneiros do golpe de Maidan e das suas frentes nazis.

A partir de 2015, segundo a Interpol, Belhadj tornou-se emir do Daesh – o tão proscrito Estado Islâmico – no Magrebe.

Porém, cada vez que algum jornalista a sério mexe em acontecimentos da história recente arrisca-se a encontrar-se com a figura de Belhadj. Foi o que sucedeu com profissionais do jornal espanhol Publico: ao investigarem o envolvimento dos serviços de informações de Madrid (CNI) no atentado terrorista de 11 de Março de 2004, que provocou 200 mortos, depararam com outras situações que dizem muito sobre o tipo de «democracia» em que vivemos.

Segundo o próprio chefe do governo espanhol da época, José María Aznar – invasão do Iraque, lembram-se? –, Abdelhakim Belhadj foi um dos estrategos do atentado, embora nunca tenha sido preso nem julgado.

O curioso é que o atentado começou por ser atribuído à ETA e depois à al-Qaida; e que a maior parte dos operacionais detidos eram informadores dos serviços secretos espanhóis.

Mais curioso ainda é o facto de o tema do exercício europeu CMX 2004 da NATO, que decorreu de 4 a 10 de Março, tenha sido precisamente o da simulação de um atentado com as características do que aconteceu em 11 de Março na capital espanhola. «A semelhança do cenário elaborado pela NATO com os acontecimentos ocorridos em Madrid provoca calafrios na espinha e impressionou os diplomatas, militares e serviços de informações que participaram no exercício apenas algumas horas antes», escreveu o jornal El Mundo, inconformado com a tese que acabou por ficar para a história: atentado cometido por uma rede islamita sem ligações à al-Qaida.

Entre as névoas do caso avultam, porém, algumas circunstâncias que é possível focar: a declaração de Aznar envolvendo Abdelhakim Belhadj, que se revelou vir a ser uma aposta da NATO antes de ter ascendido ao topo do Estado Islâmico no Magrebe; e os dons proféticos desta mesma NATO, concebendo um tema para exercícios que se tornou realidade menos de 24 horas depois.

O santuário nazi de Turim

Há poucos dias, a polícia italiana descobriu um arsenal de armamento num santuário nazi em Turim, Itália.

O que à primeira vista poderia ser mais um armazém de velhas e nostálgicas recordações dos fãs do Fuhrer mudou de figura quando foram desembalados alguns sofisticados mísseis que não costumam estar ao alcance de pequenos e médios traficantes de armas.

Diz a imprensa italiana que os investigadores do caso seguiram pistas que conduziam até aos grupos nazis ucranianos mas não obtiveram dados consistentes. E provavelmente não encontrarão esses e outros elementos: a verdade é que as notícias sobre o assunto quase desapareceram. O caso é um nado-morto.

Já as redes clandestinas formadas pela NATO, do tipo Gládio, não estarão mortas, desafiando todas as propagandas, como recordaram alguns jornalistas italianos.

A história do arsenal está mal contada e, previsivelmente, será arquivada com celeridade; já o apoio da NATO aos grupos nazis ucranianos não suscita dúvidas: os próprios beneficiários o confessam. Porém, não é um auxílio que deva ser feito aos olhos de todos, tratando-se da NATO, uma aliança que existe para «defender a democracia» – a NATO só defende, nunca ataca, como se sabe. A verdade é que desde que passou de batalhão a regimento da Guarda Nacional o grupo terrorista Azov foi equipado com armas pesadas, incluindo tanques, que chegaram de algum lado. Talvez agora seja a hora dos mísseis, quem sabe? Ainda recentemente as forças policiais italianas e o regimento Azov assinaram um acordo de cooperação desbravando novos caminhos.

É provável que todas estas relações dêem os seus frutos; é improvável, porém, que cheguem ao conhecimento dos cidadãos comuns, tal como o desfecho do mistério dos mísseis nazis de Turim.

A grande irmandade

Irmãos da Floresta, regimento Azov, Abdelhakim Belhadj, o Estado Islâmico e o terrorismo «moderado», fornecimento clandestino de armamento sofisticado. Não é necessário escavar muito estas histórias, casos e mistérios para tropeçarmos na associação entre a NATO e os nazi-fascismos, duas correntes que, a acreditar na propaganda oficial, deveriam ser como a água e o azeite.

Afinal não. Trata-se de uma fluida cooperação nos tempos em que se fala no risco de uma nova guerra mundial e que traz raízes consolidadas na altura em que o anterior conflito ainda não tinha acabado.

É, como se percebe, uma grande e frutífera irmandade. Factos são factos.

  • 1. Note-se que os teóricos nazis atribuíam desde os anos 30, na sua propaganda, o estatuto de «raça superior» aos povos estónio e letão, facilitando a formação dos sanguinários esquadrões da morte bálticos integrados nas Waffen SS, tão ou mais temidos pelos povos e etnias que viviam no território soviético ocupado pela Alemanha nazi do que os próprios alemães.
  • 2. No período posterior à derrota hitleriana no Báltico os Irmãos da Floresta mantiveram-se activos até meados da década de 50. Actualmente, os próprios admiradores destes colaboradores nazis no Báltico reciclados reconhecem o carácter terrorista dos seus heróis, como é fácil de confirmar através do volume de baixas soviéticas nos anos de 1944-1958 no Báltico: mais de 25 mil civis foram assassinados e muitos torturados antes de executados, enquanto os polícias que combatiam os Irmãos da Floresta tiveram quatro mil baixas. Outro pormenor menos ventilado é que o maior apoio interno daquelas organizações provinha dos poderosos e ricos latifundiários da região, que tinham um profundo ódio aos camponeses que os tinham expropriado durante os anos da Revolução Russa. Após a deportação para a Sibéria, no final dos anos 40, da maioria dos grandes proprietários de terras no Báltico, a actividade dos Irmãos da Floresta decaiu consideravelmente, apesar de todos os esforços da CIA e dos serviços secretos britânicos para reactivá-los. O golpe final foi dado após a amnistia concedida pelas autoridades soviéticas após a morte de José Estaline, em 1953. O leitor terá de procurar em língua russa (mesmo que em sítios como a insuspeita Rádio Liberdade, financiada pelo governo americano) as fontes documentais sobre este assunto, visto os websites do Ocidente serem consideravelmente parcos a respeito destes dados e optarem habitualmente por uma visão puramente apologética dos Irmãos da Floresta, escondendo a sua verdadeira natureza.
  • 3. Neonazis e veteranos da Waffen-SS voltaram a marchar em Riga em Março de 2019, como denunciou o AbrilAbril em artigo publicado na altura.
  • 4. O regimento Azov [ou «Batalhão Azov», ou muito simplesmente «Azov»] é uma organização paramilitar criada em 2014, durante os protestos da praça Euromaidan e do golpe de Estado que lhe foi subsequente. É enquadrado e remunerado pelo Ministério do Interior da Ucrânia como um dos membros da chamada Guarda Nacional, que confere poderes estatais a este e outros grupos fascistas ucranianos. Originalmente fundado como um grupo paramilitar voluntário, é acusado de ser uma organização neonazi e neofascista, além de estar envolvido em vários casos de abusos de direitos humanos e crimes de guerra leste da Ucrânia, principalmente em casos de torturas, estupros, saques, limpeza étnica e perseguição de minorias como homossexuais, judeus e russos. O Azov tem ligações a grupos nazi-fascistas internacionais, como em Itália ou no Brasil onde recruta combatentes na guerra que move contra as populações do Donbass, no leste da Ucrânia.
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As declarações de Jens Stoltenberg, secretário-geral da NATO, não o devem ter desanimado: «Depois da invasão, os aliados intensificaram o apoio militar adicional, com mais equipamento militar, e a reunião de hoje deixou a mensagem clara de que os aliados devem fazer mais e estão prontos a fazer mais para proporcionar mais equipamento, e entendem e reconhecem a urgência.»

Na mesma ocasião, Stoltenberg não hesitou em afirmar que o apoio militar directo da NATO à Ucrânia remonta a 2014 e que dezenas de milhares de soldados ucranianos foram treinados pela aliança nos últimos oito anos, muito antes de tropas russas terem invadido a Ucrânia.

Nem defensiva, nem democrática

«Com a esperança de enfraquecer e desestabilizar a Rússia, a NATO prefere, de forma transparente, que os ucranianos continuem a sacrificar as suas vidas», afirma Ben Norton, destacando como toda esta «extrema violência e belicismo» chocam de frente com a pretensão da NATO de ser uma aliança «defensiva».

«A verdade é que a NATO nunca se dedicou à defesa e muito menos à democracia», afirma o jornalista, lembrando que entre os membros fundadores da aliança militar, em 1949, estava Portugal, uma ditadura fascista.

«As ruínas da Líbia, do Afeganistão e da antiga Jugoslávia mostram aquilo que a NATO realmente oferece ao mundo», alerta.

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A forma de alcançar um cessar-fogo célere no conflito em curso na Ucrânia e o avanço nas negociações de paz, tendo como base as preocupações legítimas das partes, serão discutidos pelos países-membros, notou.

Outras questões na agenda serão a energia global, a segurança alimentar, bem como os Objectivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU 2030.

Os membros do bloco devem também responder aos anseios de países que o querem integrar, e devem debater se apoiam a expansão da plataforma, discutindo os princípios, padrões e procedimentos para esse efeito, disse ainda Zhu Tianxiang.

Com mais de 40% da população mundial, os países do BRICS, sublinha o Global Times, representam 24% do PIB mundial e 16% do comércio global.

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«A China trabalhará com outros países para aprofundar ainda mais a cooperação na iniciativa de desenvolvimento global, promover o desenvolvimento global, reformar a Organização Mundial do Comércio e resolver conjuntamente problemas comuns, melhorando a vida das pessoas em todo o mundo», sublinhou o representante chinês.

«A hegemonia não está no ADN da China», destacou Xi, que fez questão de deixar claro que o seu país não está empenhado numa «competição entre grandes potências», «mas permanece firmemente no lado certo da história», em prol dos «interesses comuns dos países emergentes», refere a Xinhua.

Com a celebração do Fórum Empresarial, esta terça-feira, teve início a XV Cimeira de chefes de Estado e de governo do grupo BRICS, que se prolonga até amanhã, dia 24, no Centro de Convenções de Sandton, em Joanesburgo, com o lema ««BRICS e África: Parceria para um Crescimento Mutuamente Acelerado, Desenvolvimento Sustentável e Multilateralismo Inclusivo».

As decisões tomadas e os acordos alcançados ao longo da cimeira, em que participam dezenas de chefes de Estado, irão integrar a chamada Declaração de Joanesburgo.

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Segundo revela o portal tvbrics.com, «espera-se que os seis países que foram convidados para a associação possam estar presentes enquanto participantes plenos». Trata-se de Argentina, Egipto, Etiópia, Irão, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos.

No entanto, o novo presidente argentino, Javier Milei, e membros do seu executivo deram indicações de que o país austral «não entrará no BRICS».

Em Cazã são esperados 26 líderes de diversos países, indica o portal, acrescentando que a lista de países-candidatos a tornarem-se novos parceiros do grupo será aprovada na cimeira de associação de Outubro.

Em declarações recolhidas pelo tvbrics.com, Pavel Knyazev, representante da Rússia no grupo, disse que não arrisca agora fazer qualquer prognóstico. «A cimeira de Joanesburgo incumbiu os líderes de elaborarem as modalidades da nova categoria de parceiros, além de chegarem a um acordo sobre a lista de candidatos para essa categoria», acrescentou.

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«Celebraram-se as primeiras reuniões de ministros dos Transportes, de chefes de serviços geológicos e o primeiro fórum BRICS sobre medicina nuclear», afirmou Iúri Ushakov, destacando também o desenvolvimento activo nas áreas cultural e humanitária da cooperação.

Recorde-se que a Rússia assumiu a 1 de Janeiro último a presidência rotativa do grupo BRICS para 2024, tendo previsto organizar cerca de 250 eventos em 11 regiões, no contexto desta presidência.

Inicialmente composto por África do Sul, Brasil, China, Índia e Rússia, o bloco alargou-se este ano com as entradas de Arábia Saudita, Egipto, Emirados Árabes Unidos, Etiópia e Irão.

Agora – lembram a TeleSur e a Prensa Latina –, o BRICS representa quase metade da população mundial, 40 % da produção mundial de petróleo e aproximadamente 25% da exportação de bens.

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