Na sua conta de Twitter, o chefe de Estado afirmou que «já são 20 anos de escandalosos abusos no território cubano ilegalmente ocupado na Baía de Guantánamo por parte dos maiores violadores dos direitos humanos no mundo».
Esta terça-feira, passaram 20 anos sobre a chegada dos primeiros presos ao campo prisional que a administração norte-americana criou no enclave militar mais antigo que Washington possui no estrangeiro, ocupado há mais de um século contra a vontade do povo e do governo da maior ilha das Antilhas.
Uma das criaturas, os Talibã, voltou-se contra o criador, na sequência da arrogância e de um erro de cálculo deste. Isto não quer dizer que a lição tenha sido aprendida em Washington e em Bruxelas. A NATO foi expulsa do Afeganistão, derrotada e humilhada. Vinte anos, centenas de milhares de vítimas humanas, 2,23 biliões de dólares depois deixa um país destroçado, o sétimo mais pobre do mundo, com 47% da população abaixo do nível de pobreza e três quartos do orçamento do governo dependente da ajuda internacional; as únicas actividades económicas são a corrupção da elite colaboracionista e a exportação de ópio, responsável por mais de 80% da heroína comercializada ilegalmente no mundo. Para trás ficou uma nação nas mãos da mesma organização em que se encontrava quando se iniciou a invasão ocidental, em Outubro de 2001 – os extremistas islâmicos dos Talibã. Da prometida democracia e do Estado centralizado nem sinais. Ah não, afinal não era isso que estava em causa para lançar a guerra, apesar das justificações dadas então pelo presidente George W. Bush. «A nossa missão no Afeganistão nunca teve como objectivo a construção de uma nação; nunca teve como objectivo a criação de uma democracia unificada e centralizada», explica o presidente norte-americano de agora, Joseph Biden. Queríamos apenas «prevenir um ataque terrorista contra a pátria americana». Estas surpreendentes declarações levaram inclusivamente o jornal Washington Post, um dos ícones da propaganda imperial corporativa, a constatar que «os presidentes dos Estados Unidos» – e foram quatro – «e os dirigentes militares enganaram deliberadamente o público sobre a mais longa guerra americana, conduzida durante duas décadas no Afeganistão». É cedo, muito cedo ainda para se conhecerem os próximos caminhos do Afeganistão depois de os Talibã terem chegado a Cabul vencendo uma guerra de guerrilha em que, inseridos pacientemente na complexa sociedade afegã, puseram em xeque a mais monstruosa máquina de guerra alguma vez reunida no mundo. Verdade seja dita que a NATO perdeu, mas o mesmo não aconteceu com alguns dos seus principais patrocinadores: o valor das acções dos cinco mais importantes negociantes de guerra dos Estados Unidos cresceu 58% em 20 anos. Apesar das alarmantes antevisões catastrofistas em tons coloniais postas a circular pelos tão zelosos defensores dos «valores ocidentais», com destaque para o chefe da política externa da União Europeia, Josep Borrell, é prematuro fazer previsões sobre o que virá efectivamente a ser a actuação de um governo resultante da vitória talibã. Poderá admitir-se, sem grande margem de erro, que não suscitará uma situação pior, em termos de direitos humanos e das mulheres, do que as já existentes, por exemplo, na Arábia Saudita, Qatar, Emirados Árabes Unidos ou mesmo no enclave sírio de Idlib, governado pela al-Qaeda a rogo dos Estados Unidos e da NATO. Sendo que estes casos entre os «nossos aliados» não suscitam tão visível incómodo dos dedicados activistas do atlantismo, de organizações não-governamentais afins e respectivos porta-vozes na comunicação social dominante. É oportuno assinalar, por outro lado, que a génese da situação actual poderia ter sido evitada. É um facto histórico, mas significativamente omitido, que após a formação do primeiro governo colaboracionista em Cabul, logo a seguir ao início da invasão, vários chefes talibã, entre eles o mullah Abdul Ghani Baradar, recente interlocutor do chefe da CIA numa reunião secreta e chefe da delegação talibã nas negociações do Qatar, propuseram uma plataforma de acordo com o então presidente Hamid Karzai mediante a qual os Talibã poderiam ter reconhecido o regime e integrar-se no sistema político. Não foi Cabul que rejeitou a proposta mas sim George W. Bush, ansioso pelas glórias imperiais da «guerra contra o terror», na sequência da qual acabou por colocar na capital afegã, 20 anos depois, um grupo que faz parte da lista norte-americana e europeia de «organizações terroristas». Bush não queria ouvir falar de outra coisa que não fosse a guerra, aliás já programada cerca de dois meses antes do 11 de Setembro. O resultado está à vista. O que farão os Talibã do poder que conquistaram pelas armas, expulsando o todo-poderoso exército imperial? A discussão sobre se estamos perante o movimento que governou o Emirado Islâmico do Afeganistão entre 1996 e 2001, com o qual a administração Clinton chegou a entender-se pelo menos em negócios petrolíferos, ou perante um «novo Talibã» é ainda académica. Existem indícios de que os Talibã, na verdade uma imensa e complexa associação fluida de senhores da guerra fundamentalistas islâmicos, na linha directa dos que em tempos foram patrocinados pela CIA para combater a presença militar soviética em território afegão, são hoje uma entidade mais inclusiva, integrando sectores tribais que vão para lá da dominante pashtun, designadamente tajiques, usbeques e até xiitas hazara. Estes foram, nos tempos iniciais dos Talibã, na primeira metade da década de noventa, as grandes vítimas dos então conhecidos como «estudantes de teologia», oriundos do Paquistão. Há também indícios comprovados de que os Talibã estão a negociar uma alargada coligação de governo, no mínimo para criar uma situação em que um novo executivo em Cabul seja reconhecido internacionalmente, uma hipótese remota para não ficar sujeito à asfixia financeira preparada pelos Estados Unidos: congelamento dos 9,4 mil milhões de dólares de reservas do Banco Central Afegão, cancelamento de empréstimos do FMI – autêntico instrumento da NATO – incluindo o de 460 milhões de dólares a título do combate à Covid-19, provável esbulho do ouro afegão depositado internacionalmente, como acontece em relação à Venezuela. Os Talibã estão a negociar com Hamid Karzai, o primeiro presidente do regime de ocupação; Abdullah Abdullah, chefe do «Conselho Superior de Reconciliação Nacional» – ambos «aceitáveis» pelos norte-americanos; e ainda com o senhor da guerra Gulbudin Hekmatiar, duas vezes primeiro-ministro, chefe da Irmandade Muçulmana no Afeganistão e um político que, apesar de ter jurado fidelidade à al-Qaeda, concorreu às últimas eleições presidenciais patrocinadas pela NATO. Com esta estratégia de negociação alargada os Talibã pretendem dar corpo à sua promessa de «governo inclusivo» e, ao mesmo tempo, tentar retirar espaço à argumentação norte-americana e dos aliados da NATO sobre o seu irredentismo terrorista. As recentes visitas de delegações talibã à Rússia, à China e ao Irão revelam um esforço no sentido da estabilidade regional através da participação no processo de integração da Ásia Central e do Sul cujo principal veículo é a Organização de Cooperação de Xangai (OCX), entidade que dá corpo aos entendimentos entre Moscovo e Pequim. Os presidentes Putin e Xi Jinping falaram por telefone depois da chegada dos Talibã a Cabul e salientaram a importância da «rapidez em intensificar os esforços contra as ameaças do terrorismo e o tráfico de droga com origem no Afeganistão, a importância de estabelecer a paz e de impedir que a instabilidade passe para países adjacentes». A Rússia preza sobretudo a estabilidade em países vizinhos do Afeganistão como o Usbequistão, o Tajiquistão e o Turquemenistão. A China pretende defender os investimentos que tem vindo a fazer no Afeganistão, nomeadamente na actividade mineira, na construção da autoestrada que vence a mítica passagem do Khyber, e na extensão ao território afegão do eixo entre o território chinês e o Paquistão integrado na Iniciativa Cintura e Estrada (ICE) ou nova Rota da Seda. Um oleoduto entre o Irão e território chinês é outro objectivo a ser equacionado, neste caso no âmbito do volumoso acordo económico estabelecido recentemente entra a China e Teerão. Pequim deseja igualmente que o novo governo afegão vede em absoluto as tentativas de incursões terroristas contra o território uigur do Xijiang. Não faltam mercenários uigures no Isis e na al-Qaida, manobrados por mãos norte-americanas e turcas. Perante a eventualidade deste novo quadro regional e no âmbito da estratégia para cercar a Rússia e isolar a China, os Estados Unidos não podem ver com bons olhos um caminho assim contrário aos objectivos ocidentais de globalismo e unilateralismo. A chamada «ordem internacional baseada em regras». Não surpreenderá, portanto, que o objectivo actual de Washington seja a continuação da guerra através da sabotagem de todos os esforços para estabilizar a situação afegã. Além da complexidade da estrutura tribal e étnica da sociedade do Afeganistão, onde frequentemente pontificam os senhores da guerra muito sensíveis a quem dá mais, e onde o conceito de nação é muito frágil, Washington poderá recorrer também às suas conhecidas ligações com o Isis, Daesh ou Estado Islâmico – no caso afegão o Isis-Khorasan – e com a al-Qaida, que mantém uma relação ambígua com os Talibã. Trata-se, no fundo, da tentativa de engendrar no Afeganistão uma situação ingovernável como a deixada pela NATO depois de desmantelar a Líbia, igualmente em aliança com mercenários extremistas islâmicos. É o tipo de quadro, caracterizado pelos domínios locais de feudos e milícias, muito a jeito das transnacionais e do seu poder para corromper. E o Afeganistão é um fabuloso depósito de metais terras raras e também de lítio, riquezas essenciais para as novas tecnologias. Os recentes atentados em Cabul são sinais de uma estratégia que pretende demonstrar a incapacidade talibã para fazer funcionar o país com estabilidade. Este quadro revela a importância e o perigo dos instrumentos de desestabilização e de desgaste continuado do país. O Isis-Khorasan ou Isis-K apenas se tornou uma verdadeira realidade no Afeganistão a partir de 2015 e depois da derrota do «califado» do Isis em torno de Raqqa, na Síria. Datam dessa época as notícias segundo as quais os Estados Unidos e o Reino Unido procederam, através da CIA, à transferência de mercenários do Isis e respectivas famílias da Síria para o Leste do Afeganistão. Mais recentemente tem-se falado muito do fenómeno «Daesh Airlines», a ponte aérea patrocinada pela Turquia que procede à transferência de terroristas do Isis de Idleb, na Síria, para o Afeganistão, a exemplo do movimento que também existiu em direcção à Líbia. Outro negócio de grande porte e que terá certamente influência nos caminhos a seguir pelo Afeganistão é o da produção e comércio de ópio, essencial para o abastecimento global de heroína, papel que o Afeganistão da NATO assumiu com um papel de quase-monopólio em volumes jamais atingidos. Segundo os dados de Washington, foram investidos 10 mil milhões de dólares em operações anti-droga durante a ocupação do Afeganistão. Esse foi o período, no entanto, em que a área de produção de ópio no país quadriplicou, não sendo segredo que o narcotráfico é um expediente através do qual a CIA financia as suas operações clandestinas. Como a criação e gestão do seu «exército sombra» no Afeganistão. «Exército sombra». Uma estrutura terrorista clandestina ramificada e infiltrada que funciona no Afeganistão sob a tutela da CIA no âmbito da ocupação e que ganhou maior incremento a partir da «Operação Ómega», iniciativa da administração de Barack Obama que se caracterizou pela transferência de forças especiais das forças armadas para os serviços secretos. Aqui tiveram a possibilidade de criar e formar redes de terror para fazer trabalhos sujos que são «incompatíveis» com organizações «civilizadas» como a NATO, por exemplo a tortura, os assassínios selectivos e as actividades próprias dos esquadrões da morte. Khost Protective Force (KPF) e a Direcção de Segurança Nacional (DNS) são dois corpos terroristas tutelados por forças especiais transferidas das forças regulares para a CIA e constituídos por colaboracionistas afegãos que se dedicaram a perseguir, torturar e assinar opositores à ocupação. Estas milícias, constituídas por mais de dez mil operacionais, actuaram como esquadrões da morte através do país e também em Cabul. O prestigiado jornalista Seymour Hersh teve oportunidade de demonstrar que a CIA financiou as actividades do KPF através de receitas do tráfico de heroína. Admite-se como possível que o Isis-K, tendo em conta os seus antecedentes e as suas ligações internas a senhores de guerra actuando em conjunto com os norte-americanos, seja um outro e mais recente corpo do «exército sombra» da CIA, mais orientado para a fase que se segue. A primeira das estruturas terroristas deste tipo a ser criada foi, há cerca de 10 anos, o Counter-Terrorism Pursuit Team (CTPT), um esquadrão da morte com mais de três mil membros. Um relatório da Missão das Nações Unidas no Afeganistão (UNAMA) considerou os grupos terroristas secretos como «actores militares internacionais» actuando «fora da cadeia de comando de governo», existindo «relatos constantes» de que o KPF «praticou abusos de direitos humanos matando intencionalmente civis, detendo indivíduos ilegalmente, além de danificar e queimar intencionalmente propriedades civis durante operações de busca e ataques nocturnos». Estes grupos terroristas, que certamente continuarão infiltrados apesar da nova situação, guiam-se por listas de pessoas a matar e a capturar, a chamada «Lista Conjunta de Efeitos Prioritários»; nos últimos anos aderiram à «dronificação da violência» banalizando a cadeia de mortes em série e a individualização de alvos. Através da transferência de activos das forças regulares para a CIA diluíram-se os rastos que pudessem conduzir até aos mais altos responsáveis por estas chacinas, certamente alguém agindo secretamente e à margem de quaisquer regras, Ao entrar em Cabul, os Talibã apoderaram-se das listas de operacionais do KPF e da DNS. Não é de estranhar, portanto, o afã de muitos destes colaboracionistas para abandonarem apressadamente o território afegão atrás dos seus chefes. Talvez isso explique também a razão pela qual tantos governos europeus avessos à aceitação de refugiados se mostraram recentemente tão disponíveis para acolher afegãos em fuga, afinal verdadeiros exércitos de «tradutores», a acreditar nas explicações oficiais, e que talvez sejam a versão moderna dos pides que apenas carimbavam passaportes. Não estranhemos que entre eles cheguem indivíduos responsáveis por actos de terror ao serviço de corpos como o KPF e a DNS e ao mesmo tempo considerados cidadãos de bem a título dos serviços prestados aos ocupantes da NATO. O apreço por estes refugiados de primeira contrasta com o destino degradante que a União Europeia reserva para milhares de refugiados afegãos e de muitas outras nacionalidades penando nos campos de concentração na Líbia, financiados por Bruxelas, ou que se sujeitam às selvajarias do Frontex e da Guarda Costeira grega quando pretendem entrar no território da Grécia. A União Europeia paga milhares de milhões de euros para que essas pessoas fiquem longe dos territórios europeus, mesmo que se afoguem em águas jónicas e mediterrânicas. Existem indícios de que tratamentos semelhantes estão guardados para as novas vagas de afegãos que pretendem deixar o país mas que, por azar o seu, não integram a elite dos «tradutores». É nítido que os ministros europeus do Interior estão já a desenvolver esforços de modo a que Bruxelas pague aos países vizinhos do Afeganistão para que fiquem com esses refugiados de segunda. O Afeganistão resultante da ocupação e debandada da NATO é um mar de incógnitas. Para memória futura, porém, é importante lembrar a génese dos problemas, de modo a tentar entender os seus desenvolvimentos actuais e as eventuais soluções. Os Talibã que tomaram Cabul e estão a tentar formar governo são um resultado natural da «Operação Ciclone», através da qual os presidentes norte-americanos James Carter e Ronald Regan, a conselho de figuras sinistras da conspiração como Henry Kissinger e Zbigniew Brzezinski, resolveram há cerca de 40 anos mobilizar e militarizar o extremismo islâmico e lançá-lo contra as tropas soviéticas presentes no território afegão para defender a República Democrática do Afeganistão – único e curto período em que, por exemplo, as mulheres afegãs tiveram plenos direitos cívicos. A criação das milícias dos mujahidines afegãos, com mentalidade e modos de actuar verdadeiramente medievais, representou uma viragem histórica na situação internacional com repercussões trágicas, década após década, um pouco por todo o mundo, principalmente no Médio Oriente, em África, na Ásia e até na Europa – cenário de gravíssimos atentados terroristas. Dos mujahidines nasceram os Bin Ladens, as al-Qaidas, os Talibã, os Isis e todos os seus heterónimos transnacionais que não poucas vezes voltam a ser utilizados como instrumentos de acções agressivas e guerras conduzidas pelos Estados Unidos e a NATO, como acontece no Afeganistão, na Síria, na Líbia, no Iraque, no Iémen. Por alguma razão os criminosos mujahidines foram qualificados como «combatentes da liberdade» e assim recebidos solenemente na Casa Branca pelo presidente Ronald Reagan. Aconteceu agora que uma das criaturas, os Talibã, se voltou contra o criador, na sequência da arrogância e de um erro de cálculo deste. Isto não quer dizer que a lição tenha sido aprendida em Washington e em Bruxelas. Estejamos certos de que, no magma de incertezas em que o Afeganistão está mergulhado, não faltarão esforços, iniciativas e conspirações para restaurar velhas cumplicidades ou reaproveitar as que continuam plenamente activas. José Goulão, Exclusivo O Lado Oculto/AbrilAbril Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.Opinião|
Dos talibã aos talibã – a obra sangrenta da NATO
A «guerra contra o terror» e o «terror» ao poder
O caminho dos Talibã
Instabilidade como continuação da guerra
Disseram «direitos humanos»?
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A administração liderada por Joe Biden afirma estar comprometida com o encerramento do centro prisional, onde permanecem 39 prisioneiros, na sua maioria sem acusações. No entanto, para além da declaração de intenções e da libertação de alguns presos, pouco mais fez para fechar um espaço criticado a nível internacional pelas arbitrariedades e a prática da tortura.
Os primeiros presos chegaram ao campo de Guantánamo a 11 de Janeiro de 2002, por ordem do então presidente George W. Bush, já em plena invasão do Afeganistão e com a «guerra contra o terror» a todo o vapor, depois dos atentados de 11 de Setembro de 2001.
Guantánamo: «um capítulo feio de violações incessantes dos direitos humanos»
Num comunicado emitido dia 10, um grupo de relatores independentes das Nações Unidas repudiam «20 anos de detenções arbitrárias sem julgamento, acompanhadas por torturas ou maus-tratos», e afirmam que isso é «inaceitável para qualquer governo, particularmente um governo que alega proteger os direitos humanos».
Os relatores, que denunciam a impunidade de que gozam os responsáveis por estes abusos, pedem a Washington que encerre o centro prisional, faça regressar os detidos a suas casas ou os entregue a terceiros países seguros.
Socorro Gomes, presidente do Conselho Mundial da Paz, apelou à solidariedade com a Venezuela e alertou para as «ameaças crescentes» à paz no mundo, como consequência do intervencionismo dos EUA. O VI Seminário pela Paz e a Abolição das Bases Militares Estrangeiras, que decorre em Guantánamo desde o sábado passado, termina hoje, estando previsto que os mais de 100 delegados e convidados participantes no evento prossigam esta segunda-feira com os debates em torno da política intervencionista e agressiva dos Estados Unidos e seus aliados, e sobre os perigos que pendem sobre a paz no mundo. De acordo com a Prensa Latina, a delegação norte-americana de defensores da paz irá apresentar ao plenário a posição de alguns sectores da sociedade que se opõem à administração de Donald Trump, em virtude das medidas coercitivas impostas e ameaças proferidas contra países como Cuba, Venezuela e Nicarágua. Para hoje estão ainda previstas a discussão e a aprovação da Declaração Final, que será apresentada num acto público na Praça 24 de Fevereiro, na referida cidade do Oriente cubano, onde terá lugar a sessão de encerramento do seminário. Num encontro que serviu também para denunciar o imperialismo e chamar a atenção para o perigo que representam as bases militares estrangeiras, Samer Saad, adido da Embaixada da Síria em Cuba, explicou a batalha que o seu país trava contra o terrorismo e as razões da vitória do Exército Árabe Sírio, sublinhando que a presença ilegal de tropas estrangeiras no país faz parte da estratégia imperialista dos EUA e de Israel para desestabilizar a região e controlar os recursos do Médio Oriente. Sobre a situação da Nicarágua falou o vice-presidente das Relações Internacionais da Frente Sandinista, Carlos Fonseca, que destacou que a direita não conta, no seu país, com apoio interno, sendo a «sua escassa força assente no apoio que lhe é dado por Washington». Outro aspecto realçado por Fonseca foram as «sofisticadas técnicas de manipulação mediática e psicológica» a que a oposição recorreu para poder influenciar uma parte da população na violenta crise que o país viveu, a partir de meados de Abril do ano passado. «Chegaram a declarar à opinião pública um número de mortos e feridos que nunca existiu, e incluindo nos falecidos militantes sandinistas assassinados por eles, delinquentes comuns, mortos por acidente ou por outras causas, mas a verdade vem sempre à tona», frisou, citado pela Prensa Latina. A questão da Venezuela foi abordada de forma recorrente nas intervenções dos vários delegados. Maria do Socorro Gomes, que preside ao Conselho Mundial da Paz (CMP), disse ser uma obrigação de todos os revolucionários do mundo apoiar o povo venezuelano e o presidente Nicolás Maduro. Alertando para os riscos crescentes para a paz no mundo, decorrentes da política intervencionista norte-americana, a dirigente do CMP reclamou o fim do bloqueio imperialista a Cuba e da base naval ilegal imposta contra a vontade do povo cubano, segundo refere a TeleSur. Os delegados do VI Seminário pela Paz e a Abolição das Bases Militares Estrangeiras deslocaram-se, este domingo, até ao cemitério de Santa Ifigénia, na cidade de Santiago de Cuba, para ali renderem tributo à figura do líder da Revolução cubana, Fidel Castro. Ao desfilarem junto ao monumento que guarda os restos mortais do «Comandante eterno», delegados e convidados colocaram flores vermelhas no local, como «sinal de respeito e admiração» por «uma das figuras mais influentes do século XX, cujos ideiais revolucionários prevaleceram», num contexto de agressões imperialistas. Ainda ontem, os participantes no seminário tiveram oportunidade de se deslocar ao município de Caimanera, território limítrofe com a base naval ilegal norte-americana, onde falaram com habitantes e autoridades locais. Do miradouro do hotel dessa localidade, puderam ver o enclave militar mais antigo que os EUA possuem no estrangeiro, ocupado há mais de um século contra a vontade do povo e do governo da maior ilha das Antilhas. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.Internacional|
VI Seminário pela Paz termina, em Cuba, com alertas para «ameaças crescentes»
Síria, Nicarágua e Venezuela no centro dos debates
Homenagem a Fidel Castro
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De acordo com o documento, em 2003 as instalações tinham 700 pessoas detidas e, 20 anos depois, permanecem lá 39. Apenas nove foram acusadas ou condenadas por crimes e nove morreram atrás das grades – sete suicidaram-se e duas faleceram de causas naturais –, nenhuma das quais acusada ou condenada.
Os especialistas manifestaram-se preocupados com o facto de a população prisional existente na base de Guantánamo estar «envelhecida e doente».
Muitos destes presos, afirmam, foram submetidos a tortura e carecem de assistência médica adequada, bem como de tratamentos de recuperação da tortura, tal como exige o direito internacional.
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