Os dados preliminares, a que o jornalista Francisco Arias Fernández se refere numa peça publicada no Granma, foram divulgados pelo Centro para o Controlo e a Prevenção de Doenças (CDC) norte-americano.
Entretanto, a tendência parece ser de agravamento já este ano, «com o aumento da mistura letal de cocaína com fentanil, um opióide sintético que pode ser 50 vezes mais destrutivo que a heroína e cem vezes mais que a morfina».
Trata-se de um medicamento que se produz nos laboratórios, para pacientes com dor severa. Há-os na forma de comprimidos, injectáveis ou adesivos.
«O ano passado, a média de mortes diárias por overdose foi superior a 250. No contexto da pandemia, referem as autoridades sanitárias norte-americanas, 227 pessoas morrem diariamente por essa causa.»
«Máfias internacionais e locais abastecem os distribuidores que inundam as ruas do país norte-americano, adulteram as drogas com esse fármaco para ter maior lucro e misturam com este objectivo todo o tipo de substâncias», afirma Arias Fernández, sublinhando que isso é encarado como uma «mudança perigosa no mercado de rua de estupefacientes não apenas nos EUA», afectando viciados crónicos e pessoas que não sobrevivem ao primeiro consumo.
O ano passado, a média de mortes diárias por overdose foi superior a 250. No contexto da pandemia, referem as autoridades sanitárias norte-americanas, 227 pessoas morrem diariamente por essa causa.
O Departamento Federal de Investigação (FBI, na sigla em inglês) reconheceu, no início deste ano, que os cartéis da droga tinham vencido as restrições da crise sanitária e continuaram a distribuir estupefacientes e drogas para a dor altamente viciantes no mercado negro, aponta o periódico cubano. De acordo com a ONU, os opióides provocam dez vezes mais mortes nos EUA que nos países da União Europeia.
A epidemia dos opióides, que tornou centenas de milhares de norte-americanos viciados nos comprimidos receitados com prescripção médica, no combate à dor, atinge todo o território dos EUA, com o consumo a multiplicar-se nos tempos da pandemia de Covid-19 e a funcionar como grande negócio para farmacêuticos e narcotraficantes, que gozam com as leis ou pagam para continuar a matar, denuncia o Granma.
«A epidemia dos opióides, que tornou centenas de milhares de norte-americanos viciados nos comprimidos receitados com prescripção médica, no combate à dor, atinge todo o território dos EUA»
De acordo com The New York Times, a mistura de cocaína e outras substâncias adulteradas para fazer milhões e matar a dezenas de milhares esteve na origem de processos judiciais e acusações contra os promotores do negócio. No entanto, essas acções judiciais acabaram por se mostrar «insuficientes ou inoperantes».
Neste âmbito, refere Fernández, empórios farmacêuticos, distribuidores e abastecedores de fentanil tiveram de desembolsar mil milhões de dólares, como parte de um acordo judicial com o estado de Nova Iorque para «mitigar os danos resultantes do opióide na epidemia que abala a sociedade norte-americana juntamente com a pandemia».
O veneno mais económico
Actualmente, os opióides sintéticos, incluindo o fentanil, são as drogas mais comummente associadas às mortes por overdose nos EUA. Em 2017, informa o Granma, esse fármaco esteve envolvido em 59% dos casos de vítimas mortais relacionadas com os opióides.
A potência desta droga, extremamente viciante, leva a que uma pequena quantidade provoque um efeito rápido e de elevado impacto, o que a torna uma «opção económica» no mundo do consumo de estupefacientes e de extremo risco para a saúde, devido à letalidade associada ao seu abuso e ao facto de estar misturada com outras substâncias, «sem que os consumidores o saibam», para dar mais lucro.
O Instituto Nacional sobre o Abuso de Drogas e o Departamento da Saúde e Serviços Humanos dos EUA referem que, «quando o cérebro se adapta aos opióides e a sua sensibilidade diminui, dificilmente o indivíduo sente prazer com outra coisa que não seja o narcótico».
As overdoses com fentanil ocorrem quando a respiração se torna muito lenta ou pára por completo, levando a uma redução da quantidade de oxigénio que chega ao cérebro (hipoxia), podendo conduzir ao estado de coma, provocar danos irreversíveis no sistema nervoso central ou à morte.
O Relatório Mundial sobre Drogas 2021, publicado em Junho último, alerta para o crescimento das mortes por overdose de fentanil nos EUA, que aumentaram 100 % relativamente aos números de há uma década.
«o consumo multiplicou-se nos tempos da pandemia de Covid-19 e funcionou como grande negócio para farmacêuticos e narcotraficantes, que gozam com as leis ou pagam para continuar a matar»
A apreensão desta substância e derivados disparou globalmente 60% em 2019, com grandes quantidades na América do Norte. E, embora seja apreendida uma quantidade muito maior de outros opióides que de fentanil, quando se contabiliza em doses diárias, essa droga sintética representou 63% de todos os opióides farmacêuticos apreendidos em 2019, refere a EFE.
As Nações Unidas alertam que, com a velocidade a que surgem e mudam as drogas sintéticas – mais de mil novas substâncias na última década –, o seu controlo pelo sistema de fiscalização internacional é praticamente impossível, o que complica a prevenção e os cuidados por parte das instituições de saúde.
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