O Presidente da United Health Care foi assassinado há uns dias nos EUA. Nas balas, estariam escritas palavras como «Negar», «Defender», «Depor», o que tendo em conta a situação concreta dos EUA levou de imediato a imprensa norte-americana (e, consequentemente, a portuguesa) a relacionar esse assassinato com a prática dos seguros de saúde no país.
Aconteceu o que se poderia chamar «uma falha na Matrix», que já estará a ser reparada, mas a verdade é que durante um dia lá tivemos direito a ser informados do que são – de facto – os seguros de saúde e os planos macabros para o nosso futuro que ocupam as meninges dos queques da IL, e dos menos queques, mas igualmente liberais do CH, do PS, do PSD e do CDS.
A UnitedHealthcare pertence ao UnitedHealth Group, que é uma das maiores empresas dos Estados Unidos, e vende planos de saúde privada a 29 milhões de pessoas. O UnitedHealth Group tem uma capitalização bolsista de 556 mil milhões de euros (o dobro do PIB português). Prevê um conjunto de receitas para 2025 de 430 mil milhões de euros e projecta distribuir um dividendo anual de 27,6 mil milhões de euros. Devagarinho, para não haver enganos: vinte e sete mil e seiscentos milhões de euros em dividendos aos accionistas.
Lemos nestes dias: «Nos Estados Unidos não há serviço nacional de saúde universal, pelo que muitos norte-americanos são obrigados a subscrever seguros de saúde no sector privado para assegurar cuidados médicos e as seguradoras são com frequência acusadas de negarem injustamente a sua cobertura e apoio aos clientes.» E, apetece-nos acrescentar: e cada seguro de saúde custou, em média, 780 euros em 2023. Também de devagarinho para ajudar a assimilar: setecentos e oitenta euros por mês.
«O UnitedHealth Group tem uma capitalização bolsista de 556 mil milhões de euros (o dobro do PIB português). Prevê um conjunto de receitas para 2025 de 430 mil milhões de euros e projecta distribuir um dividendo anual de 27,6 mil milhões de euros.»
Lemos também: «Para melhorar os seus lucros, as companhias de seguros atrasam o pagamento de sinistros justificados, negam completamente o pagamento e defendem as suas acções, forçando os requerentes a entrarem em litígio». E isto fazem aos que têm seguro... aos que não têm seguro fazem ainda pior.
Lemos ainda: «A insatisfação tem sido generalizada nos Estados Unidos, nomeadamente no que diz respeito ao atendimento a clientes, que se queixam da negação de cuidados por parte da seguradora e também do atraso no pagamento por parte da UnitedHealthCare. O próprio governo de Joe Biden chegou a pressionar, já este ano, Brian Thompson [o CEO assassinado] para fazer mais no que diz respeito aos pagamentos aos clientes...».
Lemos: «Dizem os rumores que a empresa tem em atraso mais de dois mil milhões de euros para pagar aos seus clientes, processos na ordem dos dez mil milhões e semanalmente protestos nas ruas.» E pensamos: rumores de protestos nas ruas? E as fotos usadas agora para ilustrar esta notícia sobre a morte de um CEO, com manifestantes segurando cartazes, como «Healthcare for all» (Cuidados de Saúde para Todos) e «Care over costs» (Os cuidados de saúde são mais importantes que os custos), também são rumores fotografados?
Lemos finalmente: «Pagamos milhares por ano para ter uma consulta anos depois. Somos obrigados a ter um plano de saúde, mas na realidade ele não existe. A United não responde aos pedidos, pagamos do nosso dinheiro, mas depois não recebemos nada».
Um sistema de saúde apenas para os que podem pagar, que absorve de quem paga 780 euros/mês, e que mesmo assim não funciona para quem o paga, e a única coisa que faz é engordar o património dos ricos e principalmente dos muito ricos? Os financiadores da IL, do CH, do PS, do PSD e do CDS que fiquem com ele, que nós percebemos. Para o povo português, não, nem obrigados.
Contribui para uma boa ideia
Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz.
O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.
Contribui aqui