Segundo o relatório Produção da Extracção Vegetal e da Silvicultura 2017, divulgado na semana passada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil possui 9 850 000 hectares de florestas plantadas, sendo que mais de três quartos desse território se destinam à produção de eucalipto.
A maior parte das florestas plantadas concentra-se nas regiões Sul (36%) e Sudeste (25%) e, de acordo com o relatório do IBGE, o estado brasileiro líder no cultivo de eucalipto é o Paraná (Sul), seguido por Minas Gerais (Sudeste) e por Santa Catarina (Sul).
Em conversa com o Brasil de Fato, João Dagoberto dos Santos, investigador da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo disse que, embora a área destinada às florestas plantadas seja mais pequena do que a dedicada a outros tipos de cultivo, o forte impacto sócio-ambiental das florestas advém do seu alto nível de concentração.
«O empreendimento do agronegócio de árvores é extremamente pequeno, se comparado aos milhões de hectares de cultivo agrícola tradicional, [como] soja, milho e algodão. O problema do impacto [do agronegócio de árvores] é a concentração. [...] Então, o impacto na dinâmica dos territórios onde actuam é muito forte», frisou.
Referindo-se às florestas de eucalipto, Dagoberto dos Santos explicou que estas «têm um domínio muito grande sobre o consumo de água onde estão instaladas», provocando «uma homogenização da paisagem, uma absorção muito grande de nutrientes a longo prazo» e impossibilitando «a utilização do solo de uma maneira muito drástica», com «impactos ambientais e sociais muito graves».
Ao contrário do que acontece com outras monoculturas, as florestas de eucalipto inviabilizam o solo para outros tipos de cultivo, afectando as famílias de pequenos agricultores, alertou.
Estado, accionista do sector florestal
O Brasil chegou a esta realidade «graças a uma relação de simbiose entre o Estado e as empresas que dominam o sector», acusa o investigador, acrescentando que o Estado se tem comportado como «um sócio» da produção da celulose, «um accionista do sector florestal», sobretudo por via do financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Económico e Social (BNDES).
Por seu lado, Kelli Mafort, da direcção nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), afirmou que os dados do IBGE «revelam mais uma vez o domínio do agronegócio sobre o campo brasileiro».
Que o Brasil tenha «75% das florestas plantadas com eucalipto é revelador de como o campo brasileiro» está dominado «por esse modelo do agronegócio, das transnacionais, das grandes empresas», declarou ao Brasil de Fato.
Com o eucalipto transgénico a situação piora
Kelli Mafort explica que o Brasil é um dos poucos países do mundo que autorizam o cultivo de eucalipto transgénico, que «reduz de sete para até quatro anos o crescimento de uma árvore».
Isto significa que haverá mais cortes, aumento de produção e, como o eucalipto consome muita água, maior impacto sobre as bacias hidrográficas, alertou.
Tendo em conta os impactos graves do chamado «deserto verde», Mafort sublinha a necessidade de colocar o tema das agroflorestas no centro do debate, procurando ultrapassar «o modelo predatório aplicado pelo agronegócio em conluio com a bancada ruralista» [do Congresso].
Em tempo de campanha eleitoral, a dirigente do MST destaca a importância de «derrotar as forças conservadoras», de «derrotar as forças golpistas», exigindo aos candidatos democratas que tenham «um plano de defesa da reforma agrária, da agricultura familiar, da agroecologia e das agroflorestas».
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