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Frente sindical universitária cumpre novas jornadas de luta na Argentina

As organizações que integram a Frente Sindical de Universidades Nacionais anunciaram o aprofundamento da luta por negociações e salários dignos, denunciando as políticas do executivo de Milei.

Docentes argentinos em luta, em Março de 2024 Créditos / universidadeshoy.com.ar

Trabalhadores filiados na Federação de Docentes Universitários (Conadu), na Conadu Histórica, na Confederação dos Trabalhadores da Educação (Ctera) e noutras organizações sindicais concretizaram esta terça-feira o primeiro de três dias consecutivos de protesto anunciados.

Em Buenos Aires, os trabalhadores concentraram-se ontem frente ao Palácio Pizzurno, também conhecido como Sarmiento e que é a sede da Secretaria da Educação, para ali entregar um documento a exigir negociações.

A este respeito, destacaram a importância de o governo de Milei se sentar à mesa das negociações com os trabalhadores docentes e não docentes das universidades, «já que apenas nos convoca para nos comunicar supostos aumentos definidos de forma unilateral e sem qualquer ralação com a enorme desvalorização salarial que o sector tem vindo a sofrer».

Concentração de trabalhadores docentes e não docentes do Ensino Superior, em Buenos Aires, a 25 de Junho de 2024 // conadu.org.ar

Num comunicado recente, a Frente Sindical de Universidades Nacionais anunciou o aprofundamento do seu plano de luta com três dias de «visibilização do conflito» (25, 26 e 27 de Junho), através de acções por todo o país austral.

«O conflito universitário agudiza-se. Não há universidade de qualidade sem salários dignos», disse a Frente na declaração pública que confirmou a continuidade da luta, depois da Marcha Federal Universitária, que teve lugar a 23 de Abril, e da greve de 48 horas, com grande adesão, levada a cabo a 11 e 12 de Junho.

Neste sentido, a frente sindical critica a decisão do executivo de Milei de adiar uma resposta à «grande crise salarial dos docentes e não docentes», e sublinha que a «situação universitária não se resolve apenas aumentando as despesas de funcionamento (10% do orçamento total)».

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«Lutaremos pela educação que queremos, pela Argentina com que sonhamos»

A Marcha Federal Universitária ultrapassou as expectativas dos organizadores, que apontam para 800 mil manifestantes em Buenos Aires e mais de um milhão em todo o país, em defesa do ensino público.

Em Buenos Aires, mais de 800 mil pessoas mobilizaram-se, esta terça-feira, no âmbito da Marcha Federal Universitária 
Créditos / Página 12

Ruas e praças cheias na Argentina, esta terça-feira, em defesa da universidade e do ensino público. Na Praça de Maio, Carlos de Feo, secretário-geral da Federação Nacional de Docentes Universitários, destacou precisamente os números da oposição às políticas de Milei: 800 mil na capital e mais de um milhão em todo o país.

«Estamos orgulhosos da nossa educação pública. Queremos um país com desenvolvimento, soberania e inclusão», disse, citado pelo Página 12, ao intervir no palco montado nas imediações da Casa Rosada.

«A universidade argentina soube sempre lutar ao lado do povo e dos seus trabalhadores. Mostrou-o dando a vida de milhares de estudantes, docentes e não docentes durante a noite negra da ditadura», afirmou, sublinhando que «essa universidade hoje está em perigo» e acusando o governo de Milei de querer celebrar um excedente orçamental gerado à base de pobreza, miséria e exclusão.

Manifestação em Buenos Aires pela universidade gratuita, de qualidade, sem restrições de acesso, a 23 de Abril de 2024 // Guadalupe Lombardo / Página 12

«Estamos decididos a levar esta luta para a frente. Não é a congelar os nossos salários e a reduzir os orçamentos que nos vão assustar», disse, acrescentando que a mobilização de ontem não era apenas pelo direito à universidade, mas também «para que o povo tenha direito a um futuro melhor, de soberania, com emprego, sem fome e sem exclusão».

Defender o direito a um ensino gratuito, de qualidade e federal

Perante as centenas de milhares de pessoas que se juntaram na Praça de Maio, a presidente da Federação Universitária Argentina, Piera Fernández, defendeu que o ensino público é a base da democracia e do desenvolvimento social.

Ao ler um documento elaborado pelas organizações convocantes, Fernández referiu-se aos cortes profundos sofridos pelas universidades argentinas em termos reais e disse que o aumento de 70% das verbas orçamentadas, no mês passado, juntamente com o anúncio de outros 70% constituem um aliciante, «embora insuficiente, na medida em que a inflação foi 300% no mesmo período».

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Alerta na Argentina para as consequências de «destruir a ciência»

Investigadores, académicos, laureados com o Prémio Nobel de dezenas de países uniram-se num «abraço mundial à ciência argentina» e alertaram Milei para as consequências de a destruir.

A entrega das cartas internacionais em apoio à ciência argentina teve lugar, esta quarta-feira, no Pólo Científico de Buenos Aires 
CréditosLeandro Teysseire / Página 12

No âmbito das mobilizações que as áreas da ciência e do Ensino Superior estão a realizar, no país austral, contra as políticas levadas a cabo pelo actual governo na matéria, esta quarta-feira, cientistas, bolseiros, membros da comunidade académica e trabalhadores administrativos entregaram ao Conselho Nacional de Investigações Científicas e Técnicas (Conicet) mais de mil cartas de investigadores estrangeiros em apoio à ciência argentina.

Com a iniciativa, realizada em Buenos Aires sob o lema «Abraço mundial à ciência argentina» e dinamizada pela Rede de Autoridades de Institutos de Ciência e Tecnologia, pretendeu-se dar visibilidade a uma situação de «asfixia orçamental» sem precedentes no sector.

Com o «alerta internacional», refere o Página 12, os trabalhadores das áreas da ciência e das universidades esperam que o executivo de Milei convoque uma mesa de negociação.

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Gigantesca manifestação em Buenos Aires contra as políticas de Milei

No âmbito da greve geral convocada pela CGT, uma multidão juntou-se frente ao Congresso argentino, onde os dirigentes sindicais afirmaram que «não vão dar um passo atrás».

Enorme manifestação até ao Congresso, em Buenos Aires, no contexto da jornada de greve geral de 24 de Janeiro de 2024 
Créditos / @esfotografia7

Buenos Aires, a capital, não foi o único local de mobilização do país austral, já que a greve geral, convocada pela Confederação Geral do Trabalho (CGT), com apoio de dezenas de sindicatos, partidos e movimentos sociais, teve impacto em todas as províncias do país, segundo refere a agência Télam.

Frente à multidão que se juntou nas imediações do Congresso, Héctor Daer e Pablo Moyano, dirigentes da CGT, pediram a deputados e senadores que não aprovem o decreto de necessidade e urgência (DNU), que desregula a economia, e o projecto de lei de «Bases», também promovido pelo executivo de Javier Milei, que o replica e amplia. «Vamos continuar a lutar e não vamos dar um passo atrás», afirmaram.

Falando para a multidão no acto central da jornada de greve e mobilização, Pablo Moyano, também dirigente do Sindicato dos Camionistas, pediu aos deputados e senadores do país que «não traiam os trabalhadores e a doutrina do peronismo que é defender os laburantes [trabalhadores], os que menos têm e os reformados», afirmou.

Télam

Alertou ainda que a política do actual governo atenta contra a soberania nacional e criticou a intenção de reestabelecer o imposto sobre os lucros que foi eliminado em 2023 pelo então ministro da Economia, Sergio Massa.

«Se são tão bons, aumentem os impostos às grandes fortunas, mas não aos trabalhadores», disse.

Vincou, além disso, a sua oposição às privatizações de empresas públicas. «Não se podem privatizar as empresas do Estado como Aerolíneas Argentinas, Télam, Banco Nación, Radio Nacional», afirmou, alertando que «milhares de trabalhadores vão ser postos na rua» e que «as vão entregar aos amigos».

Moyano também criticou a reforma laboral que o executivo de Milei pretende levar por diante, tendo afirmado que «a pátria não se vende, defende-se».

Télam

Por seu lado, o secretário-geral da CGT e dirigente sindical da Federação das Associações de Saúde, Héctor Daer, disse: «Viemos com a Constituição na mão; diz claramente que os direitos são progressivos e não se pode voltar atrás.»

«Querem destruir os sindicatos, os direitos individuais e colectivos e a liberdade de acção», acusou, sublinhando: «Continuaremos na luta até que caiam essas medidas.»

O dirigente sindical destacou ainda a grande unidade sindical, bem como a presença na mobilização das organizações de base, dos cientistas, da cultura, do desporto, dos inquilinos ou dos reformados.

Sublinhou também o grande apoio internacional à jornada de luta no país sul-americano, inclusive com mobilizações no estrangeiro. Segundo revelou, foram mais de 100 as organizações que, pelo mundo fora, expressaram apoio à luta dos trabalhadores argentinos.

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Quatro meses depois da tomada de posse do governo «libertário», a situação no sector é «insustentável», afirmam. Sobre a iniciativa de ontem, Valeria Levi, vice-decana da Faculdade de Ciências Exactas e Naturais da Universidade de Buenos Aires (UBA), explicou que foram entregues mais de mil cartas de investigadores e associações científicas internacionais nas quais se solicita a diversas autoridades do país que «não continuem este caminho de destruição da ciência argentina».

Denúncia de despedimentos e alerta para a situação nos institutos

A mobilização de ontem, igualmente convocada pela Associação de Trabalhadores do Estado (ATE), serviu também para condenar o despedimento de 140 trabalhadores do Conicet ou a redução das bolsas de doutoramento atribuídas.

Alertou-se ainda para a grave situação que vários institutos e centros de investigação enfrentam, ao não terem meios para efectuar pagamentos, bem como para o risco de uma nova fuga de cérebros e a paralisação de projectos estratégicos a nível nacional.

Sobre as cartas que chegaram de mais de 50 países, Jorge Geffner, imunólogo do Conicet e um dos convocantes da mobilização, disse que «se trata de apoios internacionais de especialistas que simpatizam com as nossas reivindicações».

«Tem a ver com dizer "Não aos despedimentos", com a recuperação dos salários, a execução do orçamento da ciência e técnica. Em suma, solidariedade contra o estrangulamento do sector», acrescentou.

Entretanto, as universidades argentinas, coordenadas pela Frente Sindical Universitária e o Conselho Inter-universitário Nacional (CIN), agendaram para o próximo dia 23 uma manifestação em defesa do ensino público e de uma actualização orçamental que lhes permita existir.

Afirmam que, no caso de não se verificar essa actualização, poderiam ter de fechar portas em Maio, sublinhando que o governo manteve para 2024 o mesmo orçamento de 2023, num contexto de inflação inter-anual superior a 270%.

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Além disso, alertou que as obras que o Programa Nacional de Infra-estrutura Universitária possibilitava se encontram paradas, sem que haja certezas ou informação relativamente à sua continuidade.

Sem salários dignos, a universidade pública é inviável

A dirigente estudantil denunciou também que, nos últimos meses, o salário dos trabalhadores do sector perdeu 50% do seu poder de compra. «Uma deterioração salarial que se irmana com os demais sectores do mundo do trabalho», disse, acrescentando: «Isso leva-nos a retomar palavras de ordem de há mais de 20 anos: "Nenhum trabalhador das universidades nacionais abaixo da linha da pobreza!"»

Criticando as políticas de cortes promovidas pelo executivo de Milei, Fernández destacou que a educação é um direito humano fundamental e vincou a importância de manter as bolsas de estudo, que estão a ser reduzidas de forma alarmante.

«Não queremos que nos arrebatem os nossos sonhos: o nosso futuro não lhes pertence. Somos orgulhosos filhos da universidade argentina, pública, gratuita e sem restrições no ingresso, de excelência, com liberdade e equidade. Por isso, lutaremos, numa resistência democrática e luta pacífica irrenunciável, pela educação que queremos, pelo país com que sonhamos», acrescentou.

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Além da falta de valorização salarial de trabalhadores docentes e não docentes, apontam ainda a questão das bolsas, na medida em que «permitem aos estudantes manter-se na universidade e formar-se», refere o portal universidadeshoy.com.ar.

Por seu lado, a Conadu denuncia que o conflito universitário nacional prossegue devido à decisão do governo de congelar 90% do orçamento, correspondente «aos salários de quem trabalha nas universidades».

«Sem salários dignos e com 60% dos trabalhadores docentes abaixo da linha da pobreza não há universidade pública possível», declara no seu portal.

Valorizando a resposta dos trabalhadores às greves convocadas, a organização sindical criticou ainda o Ministério do Capital Humano, liderado por Sandra Pettovello, pela «crueldade e incompetência» manifestadas no «escandaloso tratamento» da questão da distribuição de alimentos aos refeitórios populares.

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