Na segunda-feira, a presidente golpista da Bolívia, Jeanine Áñez, emitiu um decreto que consumava a demissão de Luis López Julio do cargo de ministro da Defesa do chamado governo de facto, na sequência do voto de censura que sofrera na Assembleia Legislativa Plurinacional na sexta-feira da semana passada.
Mas ontem a presidente autoproclamada «mudou de opinião» e, menos de 24 horas depois da demissão, López Julio tomou novamente posse como ministro da Defesa, numa cerimónia que teve lugar no Palacio Quemado, em La Paz.
Na ocasião, Áñez agradeceu a López Julio «o trabalho e o patriotismo» que demonstrou, e lançou ataques contra o Parlamento – onde o Movimento para o Socialismo (MAS) detém dois terços dos assentos –, afirmando que a destituição ali aprovada respondia a uma «jogada política de Evo Morales e do seu candidato, Luis Arce Catacora».
No entanto, garantiu que nem o presidente deposto, nem o candidato pelo MAS às próximas eleições gerais alcançariam os objectivos de «gerar o caos e confronto» através da «manipulação dos procedimentos legislativos, escondendo-se por trás dos deputados do MAS», revela a TeleSur.
Com estes termos, com a «lealdade» do ministro e o seu «compromisso com a democracia», Jeanine Áñez deu o dito por não dito e deixou mais às claras a falta de respeito pelas decisões parlamentares, em consonância com o poder golpista.
A presidente da Assembleia, Eva Copa, lembrou que a Constituição da Bolívia não contempla a possibilidade de restituição de um cargo a um ministro que foi alvo de «censura» no Parlamento e sublinhou que, apesar da cerimónia promovida pela autoproclamada, López Julio continua a ser um «ex-ministro» e um «usurpador».
O «ministro da morte»
A destituição de López Julio, conhecido como o «ministro da morte» e apontado como um dos responsáveis pelos massacres de Senkata (em El Alto) e Sacaba (Cochabamba), foi aprovada, sexta-feira passada, na Assembleia Legislativa Purinacional, depois de este órgão ter convocado o ministro da Defesa a comparecer em três ocasiões, sem sucesso.
Os deputados queriam questionar López sobre os massacres em Sacaba e Senkata, em Novembro do ano passado – com um saldo de mais de 30 mortos –, e sobre a saída dos militares para as ruas nos dias que antecederam 22 de Janeiro, quando o mandato inconstitucional de Áñez foi prolongado até às próximas eleições gerais.
O Parlamento quer ouvir outros ministros do governo golpista, segundo a Prensa Latina. Na lista estão Arturo Murillo (Interior), Iván Arias (Obras Públicas), Isabel Flores (Comunicação), Milton Navarro (Desporto), Elva Pinckert (Meio Ambiente) e Karen Longic (Negócios Estrangeiros).
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