Tendo em conta a situação complexa que hoje se vive na região Norte do departamento colombiano do Cauca, com conflitos territoriais constantes, «que provocaram a morte» de vários indígenas, representantes do Conselho Regional Indígena do Cauca (CRIC) deram uma conferência de imprensa na cidade de Cáli, esta quarta-feira, no decorrer da qual sublinharam que as comunidades se encontram em estado de «alerta máximo».
Na ocasião, os porta-vozes do CRIC explicaram que o problema que vivem nos seus territórios não se relaciona apenas com a questão do narcotráfico e da exploração mineira, tratando-se antes de uma questão estrutural: «há uma disputa com a agro-indústria da cana, as multinacionais e o narcotráfico, o que conduz à existência de um interesse pelo controlo territorial nas comunidades», frisaram.
«Este território pertence aos afrodescendentes, camponeses e indígenas, pelo que nos compete defendê-lo em conjunto para as próximas gerações», afirmaram, segundo revela o portal do organismo indígena, cric-colombia.org.
Exigindo «a presença do governo nacional para que dê resposta à emergência humanitária e ao genocídio em curso contra camponeses, indígenas e afrodescendentes», sublinharam que o governo de Iván Duque «não pode usar o discurso do narcotráfico para militarizar os territórios e ocultar o abandono estatal dos mesmos». «Não é a militarização a saída para acabar com o conflito», insistiram.
Acrescentaram que estão a lutar numa guerra que não é a sua: «Nós estamos em defesa da água, do território e dos páramos [territórios tropicais de montanha, nas regiões andinas].»
«Emergência humanitária»
Recentemente, na sequência da onda de assassinatos ocorridos em comunidades indígenas, a Organização Nacional Indígena da Colômbia (ONIC) declarou o estado de «emergência humanitária, social e económica em todas as localidades indígenas» do país andino-amazónico.
De acordo com a ONIC, que registou mais de 158 assassinatos de indígenas desde a assinatura do acordo de paz, em Novembro de 2016, entre a FARC-EP e o governo da Colômbia, os povos originários enfrentam naquele país «um genocídio físico e cultural». Pelo menos 94 foram mortos desde que Iván Duque chegou ao poder, há pouco mais de um ano.
O Instituto de Estudos para o Desenvolvimento e a Paz (Indepaz) registou, desde 1 de Janeiro de 2016, o assassinato de mais de 750 dirigentes sociais e defensores dos direitos humanos na Colômbia. Por seu lado, o partido Força Alternativa Revolucionária do Comum (FARC) alertou, em meados de Julho, para a existência de um «plano de extermínio» dos ex-combatentes das FARC-EP, tendo afirmado que mais 140 foram assassinados.
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