|Itália

Itália: mobilizações em defesa dos migrantes, contra o racismo e a exploração

Roma e Nápoles foram duas cidades com manifestações e concentrações recentes; outras estão anunciadas. O caso do imigrante indiano Satnam Singh, trabalhador agrícola falecido há dias, esteve em destaque.

Milhares de pessoas manifestaram-se em Nápoles contra o racismo e a exploração, a 22 de Junho de 2024 Créditos / contropiano.org

Milhares de pessoas responderam ao apelo do Movimento Migrantes e Refugiados de Nápoles, sobretudo trabalhadores e imigrantes, manifestando-se pelas ruas da capital da Campânia «contra o racismo e a exploração», no sábado, poucos dias depois da morte brutal de Satnam Singh, trabalhador agrícola nos campos de Latina (Lácio).

O Potere al Popolo, que participou na iniciativa, denunciou fortemente o caso da morte do imigrante indiano, que ficou sem um braço, apanhado por uma máquina enquanto trabalhava, e acabou por morrer, esvaindo-se em sangue.

No seu portal, sublinhou que aquilo de facto se passou com Singh é «a ponta do icebergue daquilo que acontece todos os dias nas zonas rurais, nas fábricas e nos estaleiros de construção italianos».

«Milhares de trabalhadores, sobretudo imigrantes, são obrigados a trabalhar ilegalmente, sem contrato, férias, baixa, direitos, por salários de fome, em condições perigosas ou degradantes, deitados fora como lixo assim que o seu corpo já não tem condições de funcionar, espancados assim que tentam protestar», denuncia a organização política de esquerda.

Concentração em Roma, junto ao Ministério do Trabalho, em protesto contra a exploração e os acidentes laborais mortais, a 21 de Junho de 2024 // usb.it

Em simultâneo, sublinha a existência de todo um sistema em cadeia, à cabeça do qual estão os gigantes do comércio retalhista, que lucram impondo preços muito baixos à produção, e no qual as empresas agrícolas procuram alicerçar o lucro nos trabalhadores, «evitando fazer contratos regulares, evitando qualquer centro de emprego e usando os gangsters para impor condições de semi-escravidão».

O Potere al Popolo denuncia as responsabilidades da social-democracia, nas suas variantes mais inclinadas à direita e à esquerda, e do governo de Meloni por esta «condição estrutural» de trabalho «dócil e mal pago», e por um clima de propaganda tóxica que leva os cidadãos italianos a culpar não quem está acima deles, mas os que estão ainda em piores condições.

Mortes resultantes de um sistema que se alimenta da precariedade e da exploração

A mesma formação política participou, juntamente com organizações estudantis, na concentração organizada pelo sindicato USB, dia 21, frente ao Ministério do Trabalho, em Roma, na qual se denunciou o caso de Satnam Singh e o de outros trabalhadores, migrantes e italianos, recentemente mortos em acidentes de trabalho, como Pierpaolo Bodini, de 18 anos, em Lodi.

De acordo com o USB (Unione Sindacale di Base), mais de cem pessoas participaram na iniciativa, em que a delegação recebida pelo ministro reafirmou que estas mortes no local de trabalho são o resultado de «uma estrutura produtiva que se alimenta da precariedade» e de «leis contra os trabalhadores migrantes».

Anúncio da mobilização de hoje, 25 de Junho, em Latina, onde o trabalhador agrícola Satnam Singh perdeu a vida de forma brutal // usb.it

No final, foi feito um apelo à mobilização que hoje tem lugar em Latina, por iniciativa da Comunidade Indiana no Lácio, que quer lembrar Satnam e expressar a «raiva contra quem explora» e «comete estas barbáries».

A organização anunciou que pretende ser recebida pelo presidente do Município de Latina, a quem entregará uma carta aberta, e a USB, tal como outras organizações, disse que esta terça-feira, às 15h, estará ao lado dos trabalhadores indianos, de todos os trabalhadores migrantes e italianos que «todos os dias sacrificam a própria vida, a própria saúde, a própria dignidade por patrões sem escrúpulos».

«O massacre diário que ocorre no nosso país é hoje o indicador de um sistema económico e social que não funciona e que está a condenar a maioria da população a um empobrecimento gradual, constante e irreversível, com aumento dos riscos para a saúde e a segurança social», frisa o USB, afirmando que é a hora de os trabalhadores se unirem.

Tópico

Contribui para uma boa ideia

Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz.

O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.

Contribui aqui