|América Latina

Lançada campanha «200 anos contra o imperialismo: Bolívar vs. Monroe»

O objectivo da campanha da Alba Movimientos, em conjunto com a Assembleia Internacional dos Povos e outras organizações, é dar visibilidade às consequências da Doutrina Monroe na América Latina e Caraíbas.

Créditos / albamovimientos.net

A Articulación Continental de Movimientos Sociales y Populares hacia el Alba (Alba Movimientos) uniu-se à Assembleia Internacional dos Povos e a diversas redes internacionais para pôr em curso esta campanha de «Bolívar contra Monroe», no âmbito dos 200 anos da proclamação da Doutrina Monroe.

Num documento divulgado em castelhano, português, inglês, francês e haitiano, as organizações promotoras dizem pretender «actualizar e visibilizar», por via de múltiplas mobilizações e acções a nível regional, «a luta anti-imperialista em toda a Nossa América que as organizações já realizam nas suas lutas cotidianas».

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Organizações reunidas em Buenos Aires defendem Celac, integração e soberania

No lançamento da Celac Social, esta segunda-feira, partidos, organizações sociais e sindicatos fizeram a defesa da Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos, da democracia e do anti-imperialismo.

Representantes da Celac Social, a 23 de Janeiro de 2023, em Buenos Aires 
Créditos / Prensa Latina

Representantes de organizações políticas, sindicais, indígenas e agrárias de vários países anunciaram, em Buenos Aires, a criação da Celac Social e denunciaram as agressões dos Estados Unidos contra os povos da região.

Os membros fundadores da Celac Social juntaram-se, ontem, no Museu das Malvinas, onde apresentaram a declaração que vão entregar aos chefes de Estado e membros dos governos dos países que hoje participam na VII Cimeira da Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos (Celac), na capital argentina.

«Com Fidel, com Chávez, com Kirchner, com Lula, com Correa, constituímos uma Celac como uma libertação Organização de Estados Americanos, que é o instrumento do império norte-americano», afirmou o ex-presidente boliviano Evo Morales durante a apresentação.

Em conferência de imprensa, Morales pediu apoio para os «nossos presidentes anti-imperialistas» e para a Celac, um mecanismo com o qual a direita tentou acabar, mas que se reforça novamente com o regresso do Brasil, disse, citado pela Prensa Latina.

«Temos a obrigação de os acompanhar e apoiar. Os Estados Unidos não querem que as pessoas humildes, os trabalhadores, os camponeses e indígenas façam política, mas nós decidimos que é necessário», acrescentou.

«A perseguição judicial à vice-presidente argentina, Cristina Fernández, o golpe no Peru e o que se passou no Brasil uma semana depois da tomada de posse de Lula não são factos isolados nem casuais. Por isso, devemos unir-nos para apoiar a Celac e reforçar a integração», insistiu.

Casa cheia no Museu das Malvinas, em Buenos Aires, no lançamento da Celac Social / Resumen Latinoamericano

Por seu lado, Hugo Godoy, dirigente da Central dos Trabalhadores da Argentina (Autónoma), sublinhou a importância da constituição da Celac Social como instância fundamental e estratégica para a unidade dos povos latino-americanos e caribenhos.

Roberto Baradel, secretário de Relações Internacionais da Central dos Trabalhadores da Argentina, destacou o contributo fundamental da Celac Social para a integração dos povos na América Latina.

Baradel solidarizou-se com os povos do Brasil e do Peru, condenou as agressões dos EUA a Cuba, à Nicarágua e à Venezuela, exigindo respeito pela soberania, e sublinhou que, apesar dos ataques à Celac, a direita nada conseguirá «porque apoiamos os nossos dirigentes».

Mónica Valente, secretária-executiva do Fórum de São Paulo, falou também da importância da integração, da solidariedade e do desenvolvimento, algo que, em seu entender, só pode ser alcançado com uma forte organização popular.

À chefe do Comando Sul dos EUA, Laura Richardson, lembrou que a América Latina não é o seu pátio das traseiras, nem uma quinta para explorar os recursos naturais, reafirmando que «os povos livres da Pátria Grande irão defender a sua soberania».

Declaração em defesa da unidade latino-americana

No texto aprovado, a Celac Social defende a que a unidade regional é uma condição essencial para alcançar a verdadeira independência e consolidar a região como uma zona de paz.

Rejeita qualquer forma de colonialismo na região e denuncia a presença britânica em território argentino, reafirmando os direitos da Argentina sobre as Ilhas Malvinas, Geórgia do Sul, Sandwich do Sul e espaços marítimos circundantes.

Lançamento da Celac Social, em Buenos Aires / Resumen Latinoamericano

Repudia qualquer bloqueio contra qualquer país e exige o fim dos existentes, com a aplicação de mecanismos de reparação para os povos que os sofrem.

Fazendo menção directa ao caso de Cuba, o texto também exige a Washington que retire a Ilha da lista arbitrária de supostos patrocinadores do terrorismo.

As organizações subscritoras solicitam acções coordenadas para exigir o desmantelamento das bases militares instaladas pelos Estados Unidos na América Latina e nas Caraíbas, e rejeitam a ingerência norte-americana, quando se cumprem 200 anos da Doutrina Monroe.

Entre outros pontos, condenam também o golpe de Estado no Peru e a intentona golpista no Brasil, bem como as tentativas recentes de assassinato de Cristina Fernández, na Argentina, e da vice-presidente da Colômbia, Francia Márquez.

VII Cimeira da Celac

Prevê-se que o mecanismo de integração realize a sua VII cimeira, em Buenos Aires, esta terça-feira, com a presença de 16 chefes de Estado da América Latina e das Caraíbas e com delegações de alto nível dos 33 países-membros.

Criada na Cimeira da Unidade da América Latina e do Caribe, em Playa del Carmen (México), em 2010, e definitivamente constituída na Cimeira de Caracas, no ano seguinte, a Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos tem 33 países-membros.

As cimeiras anteriores do organismo tiveram lugar no Chile (2013), em Cuba (2014), na Costa Rica (2015), no Equador (2016), na República Dominicana (2017) e no México (2021).

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Com isso, querem também demonstrar as consequências da Doutrina Monroe na América Latina e nas Caraíbas, nas diferentes dimensões que envolvem – que vão da disputa política à económica, militar, social, cultural, entre outras –, «bem como mostrar a validade do projecto bolivariano como resposta soberana ao avanço imperialista promovido há 200 anos».

A campanha [vídeo], que terá diferentes expressões «artísticas, culturais, comunicacionais e formativas», visa ainda divulgar de forma massiva materiais entre as organizações e movimentos que «se identificam com os mais de 200 anos de luta anti-imperialista que, com a tradição bolivariana, soberana e independentista, tem defendido a nossa Pátria Grande da voracidade imperialista».

Doutrina Monroe e avanço imperialista para a América Latina

Lembrando que, em Dezembro deste ano, passam dois séculos sobre a proclamação do então presidente dos EUA, James Monroe, daquilo que é hoje conhecido como Doutrina Monroe e que na América Latina se designa como «América para os americanos», a plataforma que promove a campanha afirma que, «desde então, os Estados Unidos avançaram sobre o nosso continente com a visão imperialista do seu "destino manifesto"».

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Díaz-Canel: «A alternativa de Cuba nunca será render-se»

O presidente cubano participou numa das comissões do Encontro Internacional de Solidariedade com Cuba e o Anti-Imperialismo, a 200 anos da Doutrina Monroe, que reuniu mais de 1200 delegados em Havana.

Delegados presentes no Palácio das Convenções, em Havana, a 2 de Maio de 2023 
Créditos / @PartidoPCC

«Os desafios de Cuba são grandes, mas a alternativa nunca será rendermo-nos», afirmou Miguel Díaz-Canel, ao participar numa das comissões do Encontro Internacional de Solidariedade com Cuba e o Anti-Imperialismo, a 200 anos da Doutrina Monroe.

O Palácio das Convenções, em Havana, tornou-se esta terça-feira o centro da solidariedade mundial com a Ilha, acolhendo mais de mil delegados provenientes dos cinco continentes e outros 200 nacionais.

Os participantes na comissão n.º 1, dedicada à Unidade Anti-Imperialista vs. Doutrina Monroe, proferiram intervenções sobre essa unidade, o socialismo a construir, a forma de enfrentar a colonização cultural, a situação difícil do povo cubano, a guerra mediática, o papel dos jovens na mudança social ou a decadência do imperialismo, refere o diário Granma.

Delegados no Palácio das Convenções, em Havana / @PartidoPCC

Depois de ouvir oradores de vários pontos do mundo, o presidente cubano enalteceu os valores que engrandecem o seu povo, que dia após dia dá lições de criatividade, resistência, dignidade e heroísmo.

A lógica imperialista aplica-se ao mundo para impor hegemonia e dominação, e esse não é o mundo que queremos, explicou Díaz-Canel, que deu grande ênfase ao plano de colonização cultural executado pelo imperialismo, que visa «acabar com a história e a identidade nacional».

Sobre a Doutrina Monroe – fundada há dois séculos incluindo o lema «América para os americanos» –, o presidente de Cuba disse que é uma das argumentações ainda latentes nas estratégias do imperialismo na actualidade.

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Mais de 150 jovens norte-americanos em Cuba, a unir os povos

Cerca de centena e meia de jovens dos EUA estão na Ilha para participar nas celebrações do Primeiro de Maio e contactar com sindicatos, organizações juvenis, artistas e autoridades cubanas.

Os jovens com a diplomata Johana Tablada, em Havana 
Créditos / @CubaMINREX

Ontem à tarde, a Brigada Primeiro de Maio (May Day Brigade) visitou a Escola Latino-Americana de Medicina (ELAM), um projecto de formação de médicos criado pela Revolução Cubana, de onde saíram mais de 30 mil profissionais da saúde de todo o mundo.

Manolo de los Santos, co-director executivo de The People’s Forum, e Kate Gonzales, coordenadora editorial da 1804 Books, explicam que esta brigada é a maior a dirigir-se a Cuba em décadas e que representa «uma intervenção nas tentativas incessantes dos Estados Unidos para silenciar e estrangular os êxitos do projecto socialista cubano».

Dizem ainda que a iniciativa partiu da International Peoples’ Assembly, que convidou jovens militantes de base da diversidade de lutas nos EUA a participar num «intercâmbio crucial em Cuba, uma experiência de que eles e a sua geração foram privados por 60 anos de bloqueio».

O grupo visitou a ELAM // @ldejesusreyes

Com uma agenda intensa e apertada, já participaram num encontro-debate sobre direitos humanos, no Centro Cultural Yoruba, em que se abordaram questões como igualdade de género, direito à habitação ou luta contra o racismo.

Zuleica Romay, directora do programa de Estudos Afro-Americanos na Casa das Américas, lembrou que «Cuba também é uma vítima do seu êxito». Por seu lado, o presidente da instituição, Abel Prieto, afirmou que a administração norte-americana nunca entendeu que em Cuba foi plantada uma coisa, «o princípio da justiça social, da democracia popular, da igualdade, da participação popular no processo político», e que isso «nunca foi enfraquecido».

Na quarta-feira, os jovens norte-americanos, que representam diversos movimentos e organizações sociais, dialogaram com representantes do Ministério dos Negócios Estrangeiros, tendo sido recebidos por Johana Tablada, subdirectora para os Estados Unidos do ministério.

Tablada agradeceu aos presentes a sua empatia e amizade, que reforçam a esperança de melhoria das relações entre Cuba e o vizinho a norte, «compensando a dor causada pelo bloqueio». «A vossa amizade é uma prenda para Cuba», destacou a diplomata.

Tablada aproveitou a ocasião para falar aos jovens sobre a história das relações bilaterais e da luta permanente do povo cubano pela soberania e dignidade face à agressão do imperialismo.

Jovem durante o encontro com Johana Tablada, no Ministério dos Negócios Estrangeiros // @PeoplesForumNYC

A delegação de jovens norte-americanos, que se encontra na Ilha desde 24 de Abril, foi saudada pelo chefe de Estado, Díaz-Canel, que lhe deu as boas-vindas na sua conta de Twitter.

«Acreditamos no povo norte-americano, diverso e solidário, que nos respeita e entende; é o que vocês representam. Vemo-nos no Primeiro de Maio», escreveu o presidente.

De acordo com o programa previsto, a comitiva deve permanecer em Cuba até 3 de Maio, conhecendo bairros em transformação em Havana, instituições científicas e o Centro Fidel Castro, dedicado a preservar o legado do líder histórico da Revolução.

Também está prevista uma visita à cidade de Santa Clara, onde os jovens norte-americanos vão manter um encontro com jovens cubanos e prestar homenagem a Ernesto Che Guevara e aos seus companheiros de luta, no mausoléu.

Segundo indica a Prensa Latina, o grupo participará, em Havana, nos festejos populares do Dia Internacional do Trabalhador, e, a 2 de Maio, fará parte do encontro de solidariedade com Cuba que terá lugar no Palácio das Convenções.

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Referiu-se a tal política como uma expressão de prepotência, de desprezo pelos povos. «Essa Doutrina não é solidária porque não se trata de partilhar experiências para o desenvolvimento igualitário de todos os países, mas de saquear os recursos naturais e extrair as riquezas aos países do Sul», disse, aludindo à natureza agressiva, expansionista e predadora da Doutrina Monroe.

Nas outras quatro comissões debateram-se os direitos dos jovens trabalhadores e a integração mundial em defesa da paz e da soberania; mulheres do mundo pela paz e a solidariedade entre os povos; desafios dos trabalhadores no mundo contemporâneo, e lutas dos movimentos de solidariedade, sociais e populares.

O mundo poderá contar sempre com Cuba

«A comunidade internacional poderá contar com a luta permanente de Cuba face à injustiça, às desigualdades, ao subdesenvolvimento e pela criação de uma ordem internacional mais justa e equitativa, no centro da qual esteja o ser humano, a sua dignidade e bem-estar», afirmou Ulises Guilarte de Nacimiento, secretário-geral da Central dos Trabalhadores de Cuba (CTC).

Na sessão de abertura do encontro, organizado pela CTC e o Instituto Cubano de Amizade com os Povos (ICAP), o dirigente sindical disse que, «sem deixar de reconhecer insuficiências na gestão administrativa, a causa fundamental dos nossos problemas resulta da persistência de um bloqueio desapiedado e unilateral, económico, comercial e financeiro».

Sessão de abertura do Encontro Internacional de Solidariedade com Cuba e o Anti-Imperialismo / @PartidoPCC

Ao dar as boas-vindas aos delegados no Palácio das Convenções, agradeceu a presença de tantos amigos em Havana, desafiando precisamente o bloqueio imposto pelos EUA ao povo cubano há mais de 60 anos.

Também na sessão de abertura, interveio a vice-ministra dos Negócios Estrangeiros, Anayansi Rodríguez Camejo, para dar a conhecer aos presentes o modo como o bloqueio afecta o país e o seu povo, e sublinhar que, apesar das dificuldades criadas por essa política, «Cuba não se rende nem se verga».

«O nosso povo resiste e avança, e continuaremos a distribuir solidariedade ao mundo e a apoiar as causas justas», disse Rodríguez, que vincou a solidariedade do seu país com a causa palestiniana.

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«A história até os dias de hoje tem mostrado a inexorável contradição entre, por um lado, o projecto da Doutrina Monroe, que procurava instalar o pan-americanismo na nossa região como um lugar de expansão, influência e subjugação da região aos interesses dos EUA, e, por outro lado, Simón Bolívar e as centenas de libertadores da nossa Pátria Grande, com o seu projecto de repúblicas americanas, unidade continental com um princípio fundamental de soberania e integração anti-imperialista», destaca o texto.

O documento, que se encontra acessível no portal da Alba Movimientos ou no do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra, sublinha como, até à actualidade, os EUA «prosseguiram o processo de expansão imperialista com expressões materiais concretas».

Estas incluem a militarização dos territórios latino-americanos; o violento deslocamento forçado de comunidades indígenas e camponesas; o endividamento das economias da região; ou os actuais projectos do Comando Sul dos Estados Unidos, «como o seu interesse expresso nas reservas de lítio, gás, ouro, petróleo e outros bens comuns de nossa região», afirmam.

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