O crime que constitui o lançamento de bombas atómicas em Hiroxima e Nagasaki – perpetrado a 6 e 9 de Agosto de 1945, respectivamente – fica na história como um dos mais bárbaros actos de agressão contra populações civis.
A sua dimensão fica desde logo «expressa no número de vítimas e na brutalidade dos seus efeitos: mais de 100 mil mortos no momento das explosões e outros tantos até ao final de 1945, na sequência dos ferimentos», lê-se num comunicado emitido esta quinta-feira pelo Conselho Português para a Paz e Cooperação (CPPC).
«Entre os sobreviventes e seus descendentes, disparou a incidência de malformações e doenças oncológicas, devido à radiação – realidade que se sente ainda hoje, mais de 70 anos depois dos acontecimentos», explica ainda o texto.
Para justificar o crime, os EUA alegaram a necessidade de derrotar o Japão. No entanto, em Agosto de 1945, o militarismo japonês estava à beira da derrota. Neste sentido, o CPPC denuncia que «o facto de estes bombardeamentos terem sido perpetrados sobre um Japão na prática já derrotado e sobre cidades sem importância militar estratégica só aumenta a brutalidade do crime».
Alerta para o futuro
«Na sequência do horror da II Guerra Mundial e dos bárbaros bombardeamentos atómicos, o desarmamento geral, simultâneo e controlado» é «um objectivo central da acção de todos quantos, em Portugal e no mundo, defendem a paz e a segurança internacionais», afirma o organismo português, sublinhando que «recordar Hiroxima e Nagasaki é, acima de tudo, um grito de alerta para os riscos hoje existentes», na medida em que, «pela dimensão e potência dos actuais arsenais nucleares, uma guerra nuclear não se limitaria a replicar o horror vivido» nas duas cidades japonesas, «antes o multiplicaria por muito».
De acordo com o CPPC, existem actualmente cerca de 16 mil ogivas nucleares, a maior parte das quais «muito mais potentes do que as que arrasaram as cidades japonesas em Agosto de 1945».
Quinze mil estão em poder dos Estados Unidos da América e da Federação Russa, e as restantes em poder de França (300), China (270), Grã-Bretanha (215), Paquistão (120-130), Índia (110-120), Israel (80) e República Popular Democrática da Coreia (cerca de dez).
Além disso, outros cinco países – Alemanha, Bélgica, Holanda, Itália e Turquia – acolhem no seu território armas nucleares dos EUA, país que tem «ainda armas nucleares espalhadas pelo mundo, em centenas de bases militares, esquadras navais e bombardeiros».
«Bastaria que fosse utilizada uma pequena parte das bombas nucleares existentes para que toda a vida na Terra ficasse seriamente ameaçada» alerta a nota.
Neste sentido, o CPPC destaca «a necessidade de uma mais forte acção em prol da paz e do desarmamento» e reafirma «a validade da exigência da adesão de Portugal ao Tratado de Proibição de Armas Nucleares».
Estas exigências ganham força num tempo em que «os EUA têm promovido a corrida aos armamentos, incluindo nucleares», têm dado passos como a retirada do Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermédio – que fora assinado em 1987 com a URSS e que ficou hoje mesmo sem efeito, segundo confirmou o Ministério russo dos Negócios Estrangeiros – e em que Donald Trump e outros elementos da sua administração proferem declarações a criticar e a pôr em causa a renovação, em 2021, do Tratado de Redução de Armas Estratégicas (New START).
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