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Mais de 200 mil ocuparam Brasília para exigir renúncia de Temer

A mobilização desta quarta-feira superou, pela sua dimensão, as expectativas da organização e ficou marcada pela violência da Polícia Militar, que atacou os manifestantes com balas de borracha e gás lacrimogéneo.

Manifestação em Brasília pela demissão de Michel Temer (que ocupa a Presidência da República) e pela convocação de eleições gerais. Brasília, Brasil, 24 de Maio de 2017.
CréditosDaniela Orofino / Mídia Ninja

Vindos de todo o país, os manifestantes juntaram-se nas imediações do Estádio Mané Garrincha, na capital federal do Brasil, e iniciaram uma marcha pela Esplanada dos Ministérios em direcção ao Congresso Nacional. Os promotores da «Ocupa Brasília» sublinharam que se tratou da maior acção de oposição ao governo golpista na capital, com uma adesão – 200 mil pessoas – que deixa clara a exigência da deposição de Michel Temer e o desejo popular de realização de eleições directas, revela o Brasil de Fato.

A mobilização popular, organizada por diversas centrais sindicais e pelas frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo, tinha sido convocada inicialmente para denunciar as reformas laboral e da previdência promovidas pelo governo de Michel Temer. Sem perder essa dimensão de base, a acção «Ocupa Brasília» centrou-se, sobretudo, na exigência da renúncia do presidente golpista e de eleições directas no imediato.

Esta luta ganhou ímpeto nos últimos dias, na sequência da revelação de denúncias que envolvem Michel Temer em casos de corrupção e do subsequente aprofundamento da crise política no Brasil.

A este propósito, Alexandre Conceição, do Movimento Sem Terra (MST), disse ao Brasil de Fato: «O governo Temer já acabou, tanto que a própria imprensa golpista jogou ele na lata do lixo, mas agora está tentando dar o golpe dentro do golpe, o que é mais perigoso ainda, porque tende a aprofundar a retirada de direitos da classe trabalhadora. (...) Ele não tem moral nenhum para aprovar qualquer lei.»

Cenário de guerra

A Polícia Militar (PM) reprimiu com violência a mobilização. Recorrendo à cavalaria, a gás lacrimogéneo, a bombas atordoantes e a balas de borracha, atacou os manifestantes de forma incessante, procurando dispersá-los. De acordo com a Secretaria de Segurança Pública, o número de participantes na mobilização rondava os 35 mil.

Grupos de manifestantes atacaram e incendiaram edifícios governamentais, nomeadamente o Ministério da Agricultura e da Fazenda, e o presidente brasileiro em exercício ordenou a intervenção do Exército, assinando um decreto que autoriza o uso das Forças Armadas no Distrito Federal até dia 31 de Maio, informa o Brasil de Fato. A decisão foi contestada de imediato e está a ser classificada como «autoritária» e «inconstitucional». O decreto foi entretanto revogado.

«Fraqueza de Temer»

A Frente Brasil Popular (FBP) emitiu uma nota em que repudia veementemente a repressão policial e o recurso às Forças Armadas, que agrediram milhares de pessoas entre «as 200 mil que participaram na Marcha da Classe Trabalhadora».

Considerando que a repressão «demonstra a actual fraqueza do governo de Michel Temer e seus aliados», a FPB denuncia o rebaixamento do papel das Forças Armadas, «ao servir de instrumento político de um governo moribundo».

Depois da grande manifestação de ontem, em que exigiu «a saída do presidente, eleições directas e a retirada das reformas da previdência e trabalhista», a FPB sublinha que as ruas continuarão a ser o seu espaço de luta.

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