Mais de mil pessoas repudiam criminalização do MST

O acto deste sábado «contra a criminalização dos movimentos sociais» e «em solidariedade com a Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF)», do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), reuniu cerca de mil pessoas em Guararema (São Paulo).

Após a intervenção policial de sexta-feira, a Escola Nacional Florestan Fernandes, do MST, foi palco de um acto solidário com o movimento
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A iniciativa de sábado passado surgiu em resposta à violenta intervenção de polícias civis, que, no dia anterior, invadiram a ENFF, dispararam fogo real contra estudantes e militantes do MST, e prenderam dois membros da escola.

O acto contou com a participação de líderes políticos, deputados, representantes de movimentos populares, sindicatos e uma ampla representação internacional, que incluiu membros de organizações de 36 países, como África do Sul, Canadá, Egipto, Nigéria, Estados Unidos, Gana, Índia, Marrocos, Nepal, Síria, Tunísia, Venezuela, Cuba e Palestina, informa o MST no seu portal.

O ex-presidente Lula da Silva interveio na iniciativa, tendo alertado que a acção de sexta-feira contra o MST faz parte de um processo contínuo que visa reprimir movimentos populares em todo o país. «Eu alertei em Dezembro de 2014 que há um processo de criminalização da esquerda em andamento neste país», disse.

«Rousseff considerou um "precedente grave" a invasão da Escola Nacional Florestan Fernandes e tachou de inaceitável a criminalização do MST»

A presidente afastada Dilma Rousseff foi uma de inúmeras pessoas e organizações que enviaram notas solidárias ao MST. Em seu entender, é assustador que o retrocesso no Brasil, que teve início com o golpe, caminhe para a construção de um «Estado de excepção no país». Rousseff considerou um «precedente grave» a invasão da Escola Nacional Florestan Fernandes e tachou de inaceitável a criminalização do MST.

Por seu lado, o deputado federal Ivan Valente, do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), deixou patente a sua indignação com a repressão policial sobre os movimentos populares. Para Valente, aquilo que se passou na sexta-feira na ENFF é «um momento muito sério na política brasileira», refere o Brasil de Fato. «É muita ousadia do conservadorismo brasileiro atacar um símbolo da resistência à ditadura militar e da luta pela Reforma Agrária, pular a cerca dando tiros. A nossa resposta tem que ser: nós não aceitaremos repressão no Brasil! Nós vamos lutar de cabeça erguida!», clamou.

Mais que solidariedade

Rosana Fernandes, membro da Direcção Nacional do MST e da coordenação da ENFF, acompanhou toda a acção da Polícia na sexta-feira. No acto de sábado, a dirigente do MST sublinhou a importância da classe trabalhadora: «Muito mais do que prestar solidariedade, este é o momento de dizer que a classe trabalhadora está viva. Nesse lugar simbólico da classe trabalhadora, reafirmamos o nosso compromisso e afirmamos que estamos resistentes, esperançosos e solidários com a causa maior: a libertação da classe trabalhadora em todas as dimensões», disse.

Criminalização e invasão violenta

Na sexta-feira de manhã, agentes da Polícia civil de Mogi das Cruzes e Guararema cercaram a ENFF, entraram pela janela da recepção dando tiros para o ar, tal como se pode verificar nas imagens gravadas pelas câmaras de segurança do local. Os militantes do MST presentes afirmaram que os estilhaços, que acertaram numa mulher, eram de balas letais e não de borracha.

De acordo com uma nota emitida dia 4 pelo MST, a invasão do espaço está relacionada com a criminalização de líderes de acampamentos em Quedas do Iguaçu, no estado do Paraná (Sul do Brasil), onde há muito se registam disputas entre camponeses e a empresa madeireira Araupel.

«O MST actua de "forma organizada e pacífica para que a Reforma Agrária avance", para "que a terra cumpra a sua função social

Na nota, o MST recorda o histórico de acções violentas a que as famílias de camponeses têm sido sujeitas no estado do Paraná, nomeadamente por parte de pistoleiros a mando do grande latifúndio, do agronegócio e da madeireira Araupel, com a conivência da Polícia Militar.

Para o MST, que denuncia «a escalada de repressão contra a luta pela terra», a acção de sexta-feira integra-se numa tentativa de criminalizar a organização e dá «continuidade ao processo histórico de perseguição e violência que o movimento vem sofrendo em vários estados e no Paraná».

Em simultâneo, o MST lembra que actua de «forma organizada e pacífica para que a Reforma Agrária avance», reivindicando «que a terra cumpra a sua função social». Continuando a lutar pelos seus direitos, os trabalhadores rurais sem terra associam-se aos «que lutam por educação, saúde, moradia e mais direitos e mais democracia», lê-se na nota.

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