Diversos meios de comunicação ocidentais difundiram, a partir de sábado, dia 7 de Abril, a existência de um «ataque químico» contra a cidade de Douma – o último bastião dos radicais islâmicos em Ghouta Oriental.
A agência LUSA noticia que «pelo menos 40 pessoas morreram num ataque químico» e «centenas de pessoas foram afectadas», citando uma organização não-governamental (ONG) «de resgate de vítimas», os «Capacetes Brancos» – que apenas funciona em regiões sob controlo de grupos ligados à Al-Quaeda e ao Daesh.
A fotografia que ilustra a referida peça, datada também de 7 de Abril, e que reproduzimos na presente notícia, refere-se não à actividade da organização referida – como poderia supor-se – mas à do Crescente Vermelho Sírio (correspondente à Cruz Vermelha Portuguesa), uma ONG legalizada pelo governo sírio, cujo pessoal é retratado a socorrer habitantes de Damasco vítimas dos tiros de morteiros disparados a partir de Douma, Ghouta Oriental, pelos jihadistas do Exército do Islão (Jaish al-islam), ligado à Al-Queda, que causaram sete mortos e 36 feridos entre a população civil – informação omitida tanto na notícia da LUSA como na imagem que a ilustra, mas que reproduzimos aqui com a legenda original fornecida pela SANA (Damasco).
Outros meios de informação – citamos apenas três exemplos – servem-se das mesmas fontes e divergem nos resultados: «70 mortos e centenas de feridos», para a Aljazeera, «80 mortos», para o Le Monde, e «dezenas de mortos», «podendo ultrapassar 100» para a Deustche Welle. Onde voltam a convergir é no silenciamento do ataque aos bairros civis de Damasco por parte dos militantes cercados em Douma e na atribuição de responsabilidades às tropas de Assad pelo «ataque com armas químicas», que a Deustche Welle, servindo-se da mesma duvidosa fonte, afirma ter sido feito a partir de um helicóptero que terá deixado cair «uma bomba barril repleta de químicos».
Damasco responde
«A agência oficial síria, SANA, negou qualquer responsabilidade das forças sírias» no ataque, segundo a LUSA, mas uma visita ao sítio da SANA revela uma resposta mais concludente. A fonte oficial, citada pela agência noticiosa síria, afirmou que «os terroristas do Exército do Islão» se encontram num «dramático estado de colapso» e que essas alegações servem para «procurar travar o avanço do Exército Árabe Sírio».
Quanto às alegações de uso de «armas químicas na cidade de Douma», esclarece, o exército «está a progredir de forma rápida e determinada», e «não precisa de usar qualquer tipo de materiais químicos». A ofensiva do exército desencadeou-se depois de o Exército do Islão (Al-queda) «ter quebrado as tréguas e atacado com morteiros e rockets áreas residenciais de Damasco», causando dezenas de baixas, entre mortos e feridos – a tal informação silenciada pelos meios ocidentais.
Repórteres no terreno – do Muraselon/The Syrian Reporters, uma equipa de jornalistas sírios que se afirmam «independentes de grupos ou de partidos» – confirmaram que as tropas governamentais abriram uma brecha nas posições defensivas do Exército do Islão e que «tanques governamentais» tinham obtido «um substancial avanço nos subúrbios a Sul e a Leste de Douma», apoiadas por «disparos de artilharia e de rockets» e «dezenas de ataques aéreos». A mesma equipa explica o ataque terrorista a Damasco com a rebelião de militantes do Exército do islão contra os seus chefes, quando estes negociavam com os representantes do Ministério da Defesa Russo (MDR) as condições para a evacuação de Douma.
Washington condena, Moscovo previne
Em comunicado, a porta-voz do Departamento de Estado americano, Heather Nauert, acusou a Rússia de «ter violado os compromissos» para com as Nações Unidas e de «ter atraiçoado» a convenção sobre armas químicas, exigindo à Rússia o fim da «protecção incondicional ao regime de Assad», vista a «sua incapacidade para impedir o uso de armas químicas na Síria». Com o seu «inquestionável apoio ao regime» – cita a LUSA, em peça ilustrada por nova fotografia não legendada do bombardeamento terrorista a Damasco, que também reproduzimos –, Nauert responsabiliza «em última instância» a Rússia por estes «ataques brutais que atingiram vários civis e sufocaram comunidades vulneráveis da Síria com armas químicas».
O presidente Donald Trump afirmou que «o Presidente Putin, a Rússia e o Irão são responsáveis por apoiarem o Animal Assad» e que «haverá um alto preço a pagar», naquele que foi considerado pela Reuters como «um raro passo de crítica ao presidente da Rússia». A agência diz que a Casa Branca não clarificou em que estava o presidente americano a pensar, mas faz notar que os Estados Unidos atacaram com mísseis de cruzeiro uma base aérea síria depois de um «ataque químico» com gás sarin ter sido atribuído a Assad.
Um comunicado do Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE) da Rússia, cuja versão integral, até ao momento, apenas estava disponível em russo1, repudia com firmeza «informações fabricadas» e «sem qualquer fundamento», cujo objectivo considera ser o de «proteger os terroristas» da derrota inevitável e próxima no terreno, desqualificando a ONG «Capacetes Brancos» como «tendo sido repetidamente apanhada em concluio com terroristas», tál como outras organizações do género «baseadas nos Estados Unidos ou na Grã-Bretanha».
O MNE russo afirma «ter alertado anteriormente para este tipo de provocações» e considera necessário alertar «uma vez mais», que uma «intervenção militar na Síria», onde militares russos estão colocados «a pedido de um governo legítimo», é «absolutamente inaceitável» e pode ter «as mais sérias consequências».
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