«Existe porventura uma prioridade humanitária primordial e isso é travar a fome», disse esta semana Martin Griffiths, actual Subsecretário-Geral para Assuntos Humanitários e Coordenador de Assistência de Emergência das Nações Unidas.
«Hoje, cerca de cinco milhões de pessoas estão a apenas um passo de sucumbir à fome e às doenças que a acompanham. Mais dez milhões estão logo atrás delas», acrescentou Griffiths, ex-enviado especial das Nações Unidas para o Iémen.
A fome, disse, era um sintoma do colapso mais profundo do país. «De muitas maneiras, são todos os problemas do Iémen juntos num só e isso exige uma resposta abrangente», sublinhou Griffiths, citado pela PressTV.
«Uma criança morre a cada dez minutos»
Estas declarações ocorrem num momento em que a meta de financiamento humanitário traçada pela ONU – 4 mil milhões de dólares – nem sequer chegou a metade, e em que o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) afirma que a situação das crianças iemenitas é particularmente terrível.
«No Iémen, uma criança morre a cada dez minutos de causas evitáveis, incluindo má-nutrição e doenças evitáveis por vacinas», disse a directora executiva do organismo, Henrietta Fore, numa reunião do Conselho de Segurança da ONU na segunda-feira.
Ao impedir os petroleiros de abastecer o Iémen, a Arábia Saudita está a esvaziar as bombas de gasolina e a deixar hospitais, estações de captação de água e agricultores em situação precária. De acordo com a Empresa Petrolífera do Iémen (Yemen Petroleum Company; YPC), a Arábia Saudita, aliada dos Estados Unidos, apreendeu ilegalmente 72 petroleiros com destino ao país no ano passado, o que diminuiu em 45% a quantidade de combustível que chega aos portos iemenitas. O director-general YPC, Ammar al-Adrai, disse ao portal MintPress News que pelo menos nove petroleiros ficaram presos no Porto de Jizan, na Costa Ocidental da Arábia Saudita, muito perto da fronteira com o Iémen. Al-Adrai explicou que os petroleiros ficaram retidos apesar de os sauditas e a ONU os terem inspeccionado e lhes terem concedido as autorizações devidas. Alguns estão retidos há mais de nove meses, provocando um forte impacto num país cujas infra-estruturas foram em grande medida destruídas pela guerra de agressão que dura há quase seis anos. O bloqueio reduziu para metade a capacidade operacional daquilo que resiste da indústria, da saúde, do comércio e dos serviços. A falta de combustível levou à escassez de bens essenciais e os preços dos alimentos e dos medicamentos aumentaram brutalmente, refere o portal venezuelano Misión Verdad. Este facto também decorre da impossibilidade de cultivar os campos com que se vêem confrontados muitos agricultores, uma vez que não conseguem fazer funcionar as bombas necessárias à rega. De acordo com as Nações Unidas, pelo menos 80% da população iemenita (24 milhões de pessoas) dependem de ajuda para sobreviver, e é provável que os problemas no sector agrícola façam aumentar esse número. A situação no Iémen foi classificada pela ONU como a pior crise humanitária do mundo. Para o Misión Verdad, a crise petrolífera fabricada pela Arábia Saudita visa fomentar o caos político e gerar o descontentamento popular contra as empresas petrolíferas nacionais, muitas das quais dirigidas pela resistência Huti. O bloqueio conseguiu incapacitar o Porto de Hudaydah, também sob controlo dos Hutis, aumentando desta forma a pobreza e o desemprego. Milhares de iemenitas vêem-se obrigados a estar em longas filas nas bombas de gasolina, e as bombas de captação de água ficaram sem combustível, assim como os geradores dos hospitais e as estações de tratamento de água, o que levou ao aumento de casos de esquistossomose, uma doença parasitária causada pelo consumo de água não potável. Um número considerável de refugiados sobrevive com a água que trazem os camiões alimentados a dísel. A YPC estima os danos económicos decorrentes do bloqueio naval saudita em milhares de milhões de dólares. Em simultâneo, revela o Misión Verdad, a coligação liderada pelos sauditas leva a cabo o roubo do petróleo iemenita nas províncias de Marib e Shabwah. Recentemente, a Arábia Saudita trouxe equipamento pesado de perfuração para aprofundar os poços de petróleo existentes na província vizinha de Hadhramaut, para ali aumentar os níveis de extracção de petróleo. Os efeitos do bloqueio ao Iémen são agudos, mesmo quando comparados com os de outros países que sofrem o terrorismo económico dos Estados Unidos, como o Irão, a Síria e a Venezuela, onde os governos conseguem arranjar alguma forma de fazer chegar o combustível à população. Já o Iémen está completamente à mercê da Arábia Saudita, sublinha o portal, obrigando o Exército iemenita, apoiado pelo movimento Huti Ansarullah, a intensificar a guerra pelo petróleo contra os sauditas no Mar Vermelho e a pôr em risco instalações petrolíferas importantes em território saudita. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.Internacional|
Bloqueio naval saudita agrava crise humanitária no Iémen
Longas filas e graves danos
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A Unicef estima que quase 21 milhões de iemenitas necessitem de ajuda humanitária para sobreviver. Metade deles são crianças, das quais 2,3 milhões sofrem de má-nutrição severa. Perto de 400 mil crianças com menos de cinco anos de idade sofrem de má-nutrição severa aguda e estão em risco de morte iminente.
O Iémen é alvo de uma intensa agressão militar desde Março de 2015, liderada pela Arábia Saudita, com o apoio dos EUA, do Reino Unido e de outras potências ocidentais e regionais.
A guerra – que tinha por objectivo suprimir a resistência do movimento Huti Ansarullah e recolocar no poder o antigo presidente Abd Rabbuh Mansur Hadi, aliado de Riade – provocou milhares de mortos, feridos e deslocados, destruiu a infra-estrutura do país árabe e esteve na origem da mais grave crise humanitária dos tempos modernos, segundo as Nações Unidas.
Além disso, o Iémen tem sido submetido a um bloqueio imposto pelas forças agressoras – reiteradamente condenado por organizações de apoio humanitário, que o apontam como responsável pelo aprofundamento das severas carências de que a população sofre.
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