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Milhões de inquilinos em risco de despejo nos EUA

O Congresso norte-americano não aprovou o prolongamento da moratória sobre os despejos que estava em vigor desde Setembro e que expirava no dia 31. Milhões estão em risco de ser expulsos de suas casas.

Créditos / Lund News

O Partido Republicano bloqueou, na sexta-feira passada, o prolongamento até 18 de Outubro da moratória sobre os despejos que o Centro para o Controlo e Prevenção da Doença lançou em Setembro do ano passado.

A administração liderada por Biden tinha anunciado na quinta-feira, dia 29, que iria permitir o fim da proibição dos despejos a nível nacional, afirmando que a queria ver prolongada, devido ao número crescente de infecções por coronavírus, mas que tinha as mãos atadas, depois de o Supremo Tribunal ter apontado, em Junho, que a moratória sobre os despejos não poderia ser prolongada para lá de Julho sem a intervenção do Congresso, indica a Associated Press.

Neste sentido, as forças progressistas culparam pelo «falhanço» não apenas os republicanos, mas também a actual administração na Casa Branca, por não ter «agido a tempo», tendo acusado Biden de se ter pronunciado apenas três dias antes do fim da moratória e não ter dialogado com o Congresso.

Como resultado desta situação, milhões de pessoas poderão ser despejadas de suas casas. De acordo com estimativas avançadas pelo Peoples Dispatch, pelo menos 3,6 milhões de inquilinos em todo o país afirmaram estar em risco de despejo nos próximos dois meses por causa de pagamentos de renda em atraso. Mais de 15 milhões de inquilinos em cerca de 6,5 milhões de casas disseram também estar a dever a renda por causa dos efeitos da situação de pandemia.

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A pandemia é um bom negócio para os multimilionários nos Estados Unidos

Entre 18 de Março e 5 de Agosto, a riqueza total dos multimilionários norte-americanos aumentou 685 mil milhões de dólares, revelou a actualização do relatório emitido pelo organismo inequality.org.

Cartaz colado na baixa de Seattle, estado de Washington, EUA, pede a suspensão do pagamento de rendas, a 26 de Março de 2020. O desemprego disparou nos EUA devido ao encerramento de empresas causado pela actual pandemia e deixou na pobreza milhões de trabalhadores
CréditosEPA/STEPHEN BRASHEAR / LUSA

«A crise dupla – de saúde pública e económica – devastou a vida de milhões, mas, para uns quantos multimilionários, a pandemia foi um bom negócio nos Estados Unidos», destaca o diário Granma numa peça ontem publicada.

Segundo a actualização recente dos dados revelados pelo inequality.org, um projecto do Institute for Policy Studies (IPS), entre 18 de Março e os primeiros dias de Agosto, a riqueza total dos multimilionários norte-americanos (os que possuem fortunas superiores a mil milhões de dólares) cresceu 685 mil milhões de dólares.

O mesmo estudo refere que, actualmente, os multimilionários norte-americanos têm uma riqueza total acumulada de 3,65 milhões de milhões de dólares e que, no período referido, 467 multimilionários viram aumentar a sua riqueza nos EUA.

Entre os que mais beneficiaram nesta fase, contam-se Jeff Bezos (director-executivo da Amazon) com um aumento de riqueza líquida de 71 mil milhões; Mark Zuckerberg (co-fundador do Facebook), com um aumento de 38 mil milhões na sua fortuna pessoal; Elon Musk (director-executivo da Tesla e da SpaceX), com 46 mil milhões; e Bill Gates, com 14 mil milhões, enumera o Granma.


Nesse período, mais de cinco milhões de pessoas infectaram-se com a Covid-19 e cerca de 160 mil morreram devido à doença nos EUA. Cerca de 30 milhões, segundo dados do inequality.org, continuam a receber subsídio de desemprego – números em que não entram todos aqueles que não têm direito a esse tipo de apoio, como os imigrantes sem papéis e as suas famílias.

Além disso, segundo informou a Bloomberg, estima-se que um terço dos inquilinos nos Estados Unidos não consiga pagar a renda da casa ao longo deste mês.

Sanders quer taxar aumento destas fortunas, mas não dar cabo do sistema

O senador democrata Bernie Sanders está a promover um projecto de lei com vista a taxar o aumento destas fortunas durante o período da pandemia em 60%, o que, segundo o Granma, poderia gerar mais de 400 mil milhões de dólares de receitas, que seriam destinadas às despesas médicas dos mais necessitados.

O senador Sanders, o candidato Biden, o Partido Democrata não querem mudar o sistema pela raiz e arrasar o capitalismo, e tanto assim é que, confrontados com o «caos» de Donald Trump, os guardiães de Wall Street até parecem estar a apostar mais – ou seja, a dar mais milhões de dólares à campanha – de Joe Biden, segundo dados divulgados pelo Center for Responsive Politics e apontados pelo Granma.

De acordo com o projecto de Sanders, ninguém com menos de mil milhões de dólares pagaria um cêntimo em impostos e multimilionários que até perderam dinheiro na pandemia ficariam isentos. E mesmo os que pagam ficam muito ricos. Portanto, Sanders garante que a desigualdade fica bem composta no país da águia que esteve para ser um peru.

Em todo o caso, Chuck Collins, director do programa de desigualdade do IPS, considera que o projecto de lei e o imposto não deixam de ser importantes, uma vez que «uma parte da extrema riqueza – agora não taxada – seria destinada a abordar a crise de Covid-19».

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Walter Smolarek, editor do Liberation News, ligado ao Partido pelo Socialismo e Libertação, disse ao Peoples Dispatch que o fim da moratória sobre os despejos «constitui uma enorme crise para os trabalhadores» nos Estados Unidos. «Não só milhões de pessoas estão em risco de ver negado o seu direito fundamental à habitação, como o fim da moratória ocorre quando as infecções por Covid-19 estão a aumentar», sublinhou.

Embora tenha referido que as moratórias estaduais e locais vão continuar em vigor por agora, Smolarek afirmou que em zonas dominadas pela direita a «onda de despejos pode ser ainda maior e mais brutal». Também referiu que as ajudas federais destinadas aos senhorios não foram atribuídas.

De acordo com os números oficiais, apenas três mil milhões dos 46,5 mil milhões de dólares aprovados pelo Congresso como ajuda, em Dezembro de 2020, chegaram aos senhorios.

A luta crucial que se avizinha

«A luta contra os despejos é uma frente fulcral da luta de classes nos Estados Unidos», destacou Smolarek, acrescentando que o movimento de base no terreno está a organizar-se para lutar contra os despejos e repor a moratória a nível federal.

«Mesmo com a legislação em vigor, os senhorios conseguiam descobrir lacunas ou então violavam a lei às claras e efectuavam os despejos. As pessoas têm-se organizado em associações de inquilinos e redes de resposta para impedir as autoridades de as expulsar das suas casas», disse.

A congressista democrata Cori Bush tem estado a participar num protesto, nas escadas do Capitólio, em Washington, DC, desde 31 de Julho, para exigir ao Congresso que se reúna para evitar a crise.

Bush, que já foi uma sem-abrigo, quando era mãe solteira, muito antes de se tornar congressista, tem sido uma das vozes mais destacadas na exigência do prolongamento da moratória e do cancelamento do pagamento de todas as rendas.

E criticou os seus colegas congressistas, também do seu partido, por terem saído da capital federal para gozar as férias, ignorando a crise em curso e a que se avizinha.

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