A taxa oficial de desemprego nos EUA registou novo aumento: mais 20.5 milhões de desempregados em Abril, aumentado a taxa para 14.7% (em Fevereiro, a taxa de desemprego oficial era 3.5%). Os sectores do lazer e hotelaria foram os mais afectados, seguindo-se a restauração e alimentação, educação e serviços de saúde, e vendas. Estes números porém baseiam-se nos pedidos de subsídio de desemprego, e portanto não incluem os trabalhadores não elegíveis (como os imigrantes) ou os milhões de desempregados que não conseguiram inscrever-se ou simplesmente desistiram. Os portais de inscrição na internet, assim como os centros de atendimento telefónico, têm estado sobrelotados e efectivamente inacessíveis. Em vários estados, os portais têm problemas técnicos por usarem linguagem de programação desactualizada. Assim, o valor real de desemprego deverá ser ainda mais elevado. O próprio Secretário do Tesouro, Steve Mnuchin, admitiu que poderá já ter atingido os 25%.
«A perda continuada de rendimento, devido à menor actividade económica durante a pandemia, afectando as classes economicamente mais vulneráveis, fez com que cerca de um terço das pessoas não fossem capazes de pagar a renda da casa de Abril»
O pacote de apoio financeiro extraordinário em resposta à pandemia aprovado pelo Congresso em Março – o Coronavirus Aid, Relief and Economic Security (CARES), representando um total de 2 biliões de dólares – aumentou o subsídio em 600 dólares por semana, prolongou a sua duração e reforçou quem é elegível. Mas o CARES deixou aos estados a responsabilidade pela distribuição dos fundos, cada um com o seu sistema e suas regras. Tal tem resultado em grandes disparidades e falhas. Assim, em Março, apenas 29% dos desempregados receberam subsídio, variando entre os estados onde a maioria recebeu o subsídio (no centro-norte e noreste, como Massachusetts, onde 66% receberam o subsídio) e estados onde menos de 15% recebeu subsídio (no Sul, como a Florida, onde apenas 7.6% recebeu subsídio). O montante do subsídio também varia: entre 235 dólares por semana no Mississippi e 823 dólares no Massachusetts.
A perda continuada de rendimento, devido à menor actividade económica durante a pandemia, afectando as classes economicamente mais vulneráveis, fez com que cerca de um terço das pessoas não fossem capazes de pagar a renda da casa de Abril. No primeiro de Maio, milhares de arrendatários nas principais cidades participaram numa greve ao pagamento de renda. A fome mais que duplicou. Um estudo de Abril indica que 40% dos agregados familiares com crianças não tinham comida suficiente, e um sexto das crianças com menos de 12 anos está subalimentada. Particularmente preocupante no seio de uma crise de saúde, 43 milhões de pessoas poderão vir a perder o seu seguro de saúde (cerca de metade dos seguros de saúde está associado ao emprego).
«Mas enquanto o desemprego aumenta, as famílias enfrentam a fome e se encontram sem seguro de saúde em plena crise pandémica, as bolsas de valores recuperam e empresas dão milhões em lucros aos seus accionistas»
Os trabalhadores que continuaram a trabalhar têm também enfrentado dificuldades acrescidas, desde a falta de condições de higienização e segurança pessoal até ataques à contratação colectiva e organização sindical. No primeiro de Maio decorreram várias manifestações de trabalhadores da Amazon, Whole Foods, Instacart, Target, Fedex, entre outras empresas. Os enfermeiros protestaram frente a mais de 130 hospitais em 13 de estados, contra a falta de equipamento de protecção e os castigos de que são alvo quando falam em público sobre os problemas. (Mais de 60 enfermeiros já morreram com a COVID-19.) Uma das maiores empresas no sector de saúde, a Trinity Health, empregando cerca de 125 mil pessoas, recrutou em April dois consultores especialistas em combater os sindicatos. O uso deste tipo de consultores está a aumentar, gastando a empresas mais de 400 milhões de dólares por ano neste tipo de serviço. Várias são as empresas que, perante o trabalho sindical, convocam reuniões anti-sindicais obrigatórias, acusam os trabalhadores que protestam de espalhar o vírus e despedem trabalhadores (incluindo no sector da saúde), e adiam reuniões e eleições sindicais. A «economia pandémica», nomeadamente a elevada taxa de desemprego, tem sido usada frequentemente nestas campanhas anti-sindicais como uma ameaça.
Mas enquanto o desemprego aumenta, as famílias enfrentam a fome e se encontram sem seguro de saúde em plena crise pandémica, as bolsas de valores recuperam e empresas dão milhões em lucros aos seus accionistas. A Caterpillar, por exemplo, distribuiu 500 milhões de dólares aos accionistas em Abril, cerca de duas semanas depois de ter anunciado a suspensão temporária de actividade em várias instalações. A Levi Strauss anunciou que iria distribuir 32 milhões aos accionistas no mesmo dia em que anunciou despedimentos que afectaram cerca de quatro mil trabalhadores. O cenário repete-se para inúmeras outras empresas. Um quarto do pacote de apoio financeiro CARES (500 mil milhões de dólares) são apoios às grandes empresas, em particular as empresas de aviação e transporte aéreo. Mas tal é uma gota no oceano comparado com os mais de 2 biliões dólares que a Reserva Federal pensa injectar nos mercados financeiros. O contraste não poderia ser maior: o Estado como máquina bem oleada, canalizando dinheiro para o Capital, que saltita pela crise distribuindo dividendos; mas que se transforma numa máquina perra e enguiçada quando toca a apoiar e proteger os trabalhadores, que enfrentam o desemprego, a fome e ameaça de doença, enquanto os sindicatos são combatidos de forma tão feroz como o vírus.
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