Membros do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) denunciaram que agentes da Polícia Militar (PM) entraram em dois dos seus acampamentos no estado de Minas Gerais, onde montaram uma base, na terça-feira.
De acordo com uma nota do movimento, os moradores nos acampamentos Pátria Livre e Zequinha, localizados em São Joaquim de Bicas, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, viveram «um clima de constrangimento e terror» depois de a PM ter aparecido ali, pelas 13h de dia 17, com «tropa de choque», cães e e helicópteros.
Segundo os relatos, a PM tentou interrogar alguns moradores e assediou algumas mulheres com «comentários degradantes». Em declarações ao Brasil de Fato, a agricultora Alessandra Andrade, que vive no acampamento Zequinha há um ano e meio, mostrou-se revoltada com a atitude da PM. «A polícia está agindo como se tivesse bandido aqui dentro. E aqui não tem bandido, tem trabalhador, gente honesta com a mão cheia de calo igual a minha, de tanto trabalhar e lutar pela terra», disse.
PM alegou prevenção de crimes como pretexto para a invasão
O tenente-coronel Itabirano, responsável pela operação, disse que o motivo da entrada da Polícia Militar era realizar «policiamento ostensivo» para evitar crimes, «assim como a gente faz policiamento nos bairros». Acrescentou que a PM ficaria no local até ser necessário.
Mirinha Muniz, da direcção do MST em Minas Gerais, discordou dos motivos apontados pela Polícia. «Eles dizem que estão ali para garantir a segurança das famílias, que existem denúncias de que ali tem criminosos, mas não apresentam quem são esses criminosos, não apresentam plano de trabalho. Ao contrário, fazem filmagens das famílias o tempo todo e a gente fica se sentindo extremamente violado», criticou.
A dirigente do MST denunciou ainda que a Polícia montou uma base no local e exigiu a retirada imediata da PM dos acampamentos, «pois as famílias não se sentem seguras com a presença dela», frisou.
A situação de «invasão» foi denunciada pela Igreja católica em Minas Gerais e por partidos políticos, que questionaram o governador do estado, Romeu Zema (Partido Novo, de direita), pela acção, e, já esta manhã, o MST anunciou na sua conta oficial de Twitter que, «depois de duas noites de ameaças e violência, a PM de MG desmont[ou] o aparato repressivo», denunciando o «estado de sítio e excepção que ataca as famílias sem-terra».
Juntos, o Acampamento Pátria Livre e o Acampamento Zequinha abrigam cerca de 1200 famílias, segundo o MST. As duas áreas são propriedade do empresário Eike Batista, preso por corrupção activa e lavagem de dinheiro, e encontravam-se abandonadas quando foram ocupadas, informa o Brasil de Fato.
Para dia 21 de Janeiro está marcada uma vistoria do juiz Walter Zwicker Esbaille Jr. e, dois dias depois, terá lugar uma «audiência de conciliação» sobre a negociação entre o antigo proprietário e as famílias acampadas. O MST afirma que essa é a única intimação jurídica relativa à área.
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