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Nicarágua: «A principal política dos EUA é a guerra de agressão»

«A principal e permanente política do governo dos EUA é a guerra de agressão, com o complexo militar-industrial à frente», afirmou Denis Moncada, no âmbito de uma declaração em prol da soberania dos povos.

A comissão mista, integrada por três elementos do governo e três da oposição, fez um apelo ao fim imediato da violência na Nicarágua
A Nicarágua sofreu uma tentativa de golpe de Estado entre Abril e Julho de 2018; a participação da NED e da USAID foram amplamente denunciadas Créditos / noticiasvenezuela.org

Numa declaração à imprensa transmitida pela TV nacional na segunda-feira à noite, o ministro nicaraguense dos Negócios Estrangeiros, Denis Moncada, condenou «as acções intervencionistas norte-americanas contra países soberanos» através da Fundação Nacional para a Democracia (NED, na sigla em inglês), criada durante a presidência de Ronald Reagan (1981-1989) e conhecida pelo amplo historial de desestabilização em estados que não seguem os ditames de Washington.

Neste sentido, Moncada referiu-se às «operações de falsa bandeira para mudar governos democraticamente eleitos pela vontade popular» e deu como exemplo a tentativa de golpe de Estado de 2018 na Nicarágua, «na qual a NED financiou com dezenas de milhões de dólares organismos da chamada sociedade civil, ONG, direitos humanos, meios de comunicação da extrema-direita e grupos terroristas para derrubar» o governo sandinista.

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A trama do golpe: os milhões da NED e «estudantes» a pedir apoio em Washington

O jornalista Max Blumenthal trouxe mais luz sobre a ingerência norte-americana na Nicarágua, centrando-se na ajuda de NED-USAID à «insurreição» e no giro de dirigentes estudantis do golpe em Washington.

Onda de violência alimentada pela oposição de direita com o apoio dos EUA já provocou quase 200 mortos na Nicarágua, desde 18 de Abril
Créditos / annurtv.com

No artigo intitulado «Máquina intervencionista da administração norte-americana vangloria-se de "preparar o terreno para a insurreição" na Nicarágua», publicado recentemente pelo jornalista norte-americano Max Blumenthal em The Gray Zone Project, as teorias conspirativas do golpe com apoio gringo – para o qual o governo sandinista tem chamado a atenção – ganham densidade.

«Se alguma imprensa mainstream tem procurado retratar o violento movimento de protesto na Nicarágua como uma corrente progressista de base, os líderes estudantis do país deixaram entender outra coisa», afirma-se no texto, que lembra como, no início deste mês, os líderes estudantis nicaraguenses, com papel destacado no movimento de oposição a Daniel Ortega, se deslocaram a Washington, sendo acolhidos pela Freedom House, ONG de direita que financiou a sua viagem, e procurando o apoio no seio da administração dos EUA e da fina flor da extrema-direita intervencionista – vide Ted Cruz ou Mark Rubio –, com quem se reuniram e posaram para a fotografia.

Também foram recebidos por altos funcionários do Departamento de Estado e por Mark Green, presidente da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID, na sigla em inglês), caracterizada por Blumenthal como a organização do soft power da administração norte-americana.

Maradiaga na OEA

Na mesma altura, a investir contra a «ditadura de Ortega», fez-se representar na Assembleia Geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), em Washington, uma delegação da oposição liderada por Félix Maradiaga, presidente do Instituto de Estudos Estratégicos e Políticas Públicas (IEEPP) de Manágua, que, segundo Blumenthal, recebeu pelo menos 260 mil dólares da Fundação Nacional para a Democracia (NED, na sigla em inglês) desde 2014.

As subvenções destinavam-se a apoiar o trabalho do IEEPP na área da educação de activistas, com vista «a fomentar o debate e gerar informação sobre segurança e violência». O financiamento também se destinava a cobrir os esforços para monitorizar a «presença crescente da Rússia e da China na região», refere-se no texto.

Sobre Maradiaga, Max Blumenthal afirma que a sua agenda veio à tona mal se iniciaram os protestos violentos na Nicarágua contra Ortega. «Ex-líder do Young World Forum, educado em Yale e Harvard, foi elogiado por La Prensa por "suar, sangrar e chorar ao pé dos jovens estudantes que lideraram os protestos na Nicarágua"», que, de acordo com a informação ontem divulgada pela Comissão da Verdade, Justiça e Paz, já provocaram 194 vítimas mortais.

Enquanto Maradiaga estava em Washington, a Polícia nicaraguense acusou-o de supervisionar uma rede criminiosa organizada que assassinou várias pessoas durante os ataques violentos no país centro-americano. Maradiaga afirmou ser vítima de uma «perseguição política» e classificou as acusações como «ridículas», mas, entretanto, adiou o regresso à Nicarágua, recebendo total apoio do Departamento de Estado dos EUA.

O grupo Hagamos Democracia é o que mais fundos recebe da NED – 525 mil dólares desde 2014. De acordo com Blumenthal, o presidente do grupo, Luciano García, que supervisiona uma rede de repórteres e activistas, declarou que Ortega transformou a Nicarágua num «Estado falido», tendo exigido a «sua demissão imediata».

O autor afirma que a NED procurou esconder bem a identidade das organizações que financiava para alimentar a oposição a Daniel Ortega, mas estas eram bem conhecidas na Nicarágua. No entanto, quem mais dinheiro «investe» contra os governos de «orientação socialista na América Latina» é a USAID. Só na Nicarágua, o orçamento desta organismo centrado na ingerência, no intervencionismo e na desestabilização «ultrapassou os 5,2 milhões de dólares em 2018», na sua maioria destinados ao «treino da sociedade civil e de meios de comunicação social».

A ingerência, dita sem rodeios

No dia 1 de Maio, cerca de um mês antes do giro da direita em Washington, Benjamin Waddell, director académico da School for International Training in Nicaragua, afirmou sem rodeios numa publicação financiada pela NED que «organizações apoiadas pela NED passaram anos e milhões de dólares a "criar as bases para a insurreição" na Nicarágua».

Publicado no Global Americans – um portal noticioso centrado na América Latina –, o artigo de Waddell «vangloria-se abertamente da ingerência dos EUA», afirma Blumenthal, que sublinha o carácter «francamente sincero da avaliação do impacto dos investimentos realizados pela NED» na sociedade nicaraguense.

De «forma inadvertida», as conclusões do autor fazem eco das do presidente sandinista Daniel Ortega e seus apoiantes, que «enquadraram os protestos no âmbito de um golpe cuidadosamente montado e apoiado até aos dentes por Washington», frisa Blumenthal.

Numa publicação financiada pela NED, Benjamin Waddell salienta o «engano» da imprensa internacional ao descrever a «rápida escalada de distúrbios» na Nicarágua «como uma explosão espontânea de descontentamento colectivo», desencadeada, entre outros factores, pelas mudanças do governo no sistema de Segurança Social. Waddell esclarece: «Se é verdade que havia causas subjacentes à confusão enraizadas na má administração e na corrupção do governo, é cada vez mais claro que o apoio dos Estados Unidos teve um papel no fomento dos levantamentos actuais.»

Noutra passagem igualmente esclarecedora e «sem rodeios», destacada por Blumenthal, Waddell afirma que «o actual envolvimento da NED na alimentação de grupos da sociedade civil na Nicarágua deita luz sobre o poder do financiamento transnacional de influir nos resultados políticos no século XXI».

Waddell defende os resultados da NED e nem se esquece do seu papel nas Primaveras Árabes... Ainda em relação à Nicarágua, afirma que o organismo intervencionista norte-americano gastou 4,1 millhões de dólares entre 2014 e 2017, financiando 54 «projectos» para «criar as bases para a insurreição» – a «mudança», em versão posterior, alterada do texto.

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O diplomata destacou o facto de os Estados Unidos e países que designou como «seus aliados subordinados» estarem a ver em perigo «o domínio unipolar», com o surgimento de países emergentes que alargam e consolidam um mundo multipolar.

«Perante essa realidade preferem destruir o mundo, exterminar povos e governos que não alinham com Washington, pondo em acção os seus instrumentos de agressão», em que se inclui a NED, disse Moncada, citado pelo portal el19digital.com.

Elencando vários países que resistiram às campanhas de desestabilização, a golpes de Estado e revoluções coloridas «financiadas, armadas e dirigidas pelo governo dos Estados Unidos através da NED e outros organismos norte-americanos», o ministro nicaraguense recordou que a NED interfere desde os anos 80 do século passado com os assuntos internos de diversos países do mundo, tendo destinado verbas multimilionárias para a criação de condições de desestabilização e golpistas, e para sabotar a acção de governos soberanos e legítimos.

«A NED é conhecida como a segunda CIA (Agência Central de Inteligência) e foi um instrumento dos Estados Unidos para realizar acções terroristas, criminosas e golpistas em países da Ásia, África, América Latina, Caraíbas, Médio Oriente e Europa de Leste», acrescentou.

Ao condenar o intervencionismo dos EUA, também por via da NED, Moncada elencou vários países que sofreram acções golpistas e de desestabilização por não alinharem com os ditames de Washington; também se referiu ao genocídio do povo palestiniano e à actual tentativa de desestabilizar a China // Jefrey Poveda / el19digital.com 

«O governo da Nicarágua denuncia e condena o governo dos Estados Unidos e as potências ocidentais que transgridem o direito internacional e a convivência pacífica para impor governos neofascistas e neocoloniais», afirmou, para insistir que Washington recorre à NED para implementar acções terroristas e desestabilizadoras, que têm como alvo «os governos constitucionais, as democracias populares directas e participativas que avançam contra a pobreza, [pelo] bem comum e a paz».

Ao ler a declaração, Moncada fez igualmente referência ao «genocídio e crimes contra a humanidade cometidos pelo governo de Israel, o sionismo internacional e os seus aliados contra o povo palestiniano».

Nesse sentido, afirmou que «o Ocidente colectivo ameaça e põe em crise a existência pacífica dos povos e governos independentes, dignos e soberanos, a segurança e a paz internacional», e sublinhou que «a diversidade humana e o respeito mútuo devem continuar a ser defendidos pelos povos e governos que amam a paz, o progresso, o futuro de convivência e o bem comum partilhado pela humanidade que exige o fim do genocídio na Palestina e o reconhecimento dos estados em convivência pacífica».

O diplomata frisou ainda que actualmente a NED, enquanto braço intervencionista dos Estados Unidos, destina grandes verbas ao financiamento de programas contra a China, nomeadamente na execução de actividades separatistas e na promoção de acções para minar a segurança política e a estabilidade social em províncias e regiões autónomas do país asiático.

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