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Nikki Haley recusa saída americana da Síria

A embaixadora dos Estados Unidos nas Nações Unidas afirmou a televisões do seu país, durante uma entrevista, que as tropas norte-americanas «não sairão da Síria sem que os objectivos sejam cumpridos».

Embaixadora norte-americana às Nações Unidas, Nikki Haley
CréditosMICHAEL REYNOLDS / EPA

A embaixadora dos Estados Unidos nas Nações Unidas, Nikki Haley, afirmou durante uma entrevista a televisões do seu país que as tropas norte-americanas «não sairão da Síria sem que os objectivos da sua presença sejam alcançados». As palavras de Haley contradizem o anúncio feito há poucos dias pelo presidente Donald Trump de que iria retirar os militares da Síria, admitindo, sobretudo, mais uma vez a presença de forças armadas norte-americanas num país soberano e sem autorização das autoridades deste, o que expõe mais uma violação grosseira do direito internacional.

Os Estados Unidos têm cerca de dois mil militares na Síria, a que devem acrescentar-se pelo menos outros tantos mercenários contratados por empresas privadas de segurança. Esta presença traduz tecnicamente uma invasão, seguida de ocupação e interferência, pela força, nos assuntos sírios.

De acordo com Nikki Haley, os objectivos que os Estados Unidos deverão atingir antes de retirar as tropas são: garantir que armas químicas não sejam usadas «de uma maneira nociva aos interesses norte-americanos»; que «o Estado Islâmico seja derrotado» – enquanto, segundo numerosas fontes, os meios militares norte-americanos no terreno estão ocupados em pôr a salvo e reciclar os mercenários deste grupo; e garantir «uma posição de vantagem» de maneira a verificar as actividades do Irão.

A região de Ghouta Oriental é uma zona livre de terroristas desde a noite de sábado, dia 14, de acordo com uma declaração oficial das forças armadas sírias. O derradeiro grupo de «rebeldes armados» abandonou a cidade de Douma, o último bastião em poder dos grupos enquadrados pela Al-Qaeda e apoiados pelas mesmas potências ocidentais que, menos de 24 horas antes, bombardearam Damasco e Homs.

Douma é a cidade onde se registou o suposto ataque com armas químicas no dia 7 de Abril e que vai ser investigado por uma delegação da Organização para a Proibição de Armas Químicas (OPAQ) que já está em território sírio.

Segundo fontes do Ministério russo da Defesa, o contingente evacuado envolve 21 mil pessoas, incluindo membros operacionais e respectivas famílias. De acordo com o major general Yuri Yevtuchenko, presidente do Centro Russo de Reconciliação para a Síria, foram evacuadas 67680 pessoas de Ghouta Oriental, um vasto subúrbio de Damasco – anulando-se assim uma situação ameaça que durante mais de seis anos proporcionou bombardeamentos constantes contra a capital síria.

A primeira-ministra britânica enfrenta uma tempestade política no seu país devido a dois factos coincidentes e convergentes: ter mandado bombardear a Síria sem o assunto ter sido debatido no Parlamento e os resultados de análises feitas por um prestigiado e independente laboratório suíço terem invalidado as suas teses sobre o envolvimento russo na tentativa de assassínio do espião reformado Serguei Skripal.

«Cavalgar nas abas do casaco de um errático presidente dos Estados Unidos não se substituí a um mandato da Câmara dos Comuns», declarou o presidente dos liberais-democratas, Vince Calve.

Também o presidente do Partido Trabalhista, Jeremy Corbyn, acusou Theresa May de «andar a reboque» de Donald Trump e sublinhou que «as bombas não salvam vidas nem trazem a paz».

«May espezinhou a democracia», acusam os co-presidentes dos Verdes; «a primeira-ministra obedece aos desejos do presidente norte-americano», denuncia Nicola Sturgeon, primeiro-ministro escocês.

Theresa May confessou que no, sábado à tarde, conversou telefonicamente com os presidentes francês e norte-americano, Emmanuel Macron e Donald Trump, chegando os três à conclusão de que a agressão contra a Síria «foi um êxito».

A China foi o primeiro país entre os que não estão directamente envolvidos no conflito sírio a condenar a agressão militar cometida pela coligação formada por Estados Unidos, França e Reino Unido.

«Qualquer acção militar unilateral viola a Carta das Nações Unidas e os seus princípios, a legalidade internacional e os seus princípios», declarou o porta-voz do Ministério chinês da Defesa, Hua Chunying.

Posteriormente, a China juntou o seu voto aos da Rússia e da Bolívia na proposta de resolução condenando o ataque, apresentada por Moscovo no Conselho de Segurança da ONU e rejeitada pelos próprios agressores. Nos círculos diplomáticos aguardava-se uma abstenção da China, o seu comportamento mais comum tratando-se de uma resolução que estaria rejeitada à partida.

Entretanto, um editorial no jornal estatal Global Times revela um tom de condenação acima do que é habitual a propósito dos mais polémicos temas internacionais. O editorialista considera que o pretexto para o «ataque ilegal» não tem qualquer validade, «pois não se sabe se existiu ataque químico em Douma, nem se foram as forças sírias a cometê-lo». Além disso, sublinha, «Os Estados Unidos batem o recorde de ataques com base em razões enganosas». Lembra o Global Times, a propósito, a invasão do Iraque assente na suposta posse de armas de extermínio por Saddam Hussein, um facto que «tanto Washington como Londres admitiram posteriormente basear-se em informações falsas transmitidas pelos serviços secretos».

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