Indiferente ao surto do novo coronavírus e à denúncia apresentada à Organização das Nações Unidas (ONU), a Polícia Militar executou o mandado de reintegração de posse da área do acampamento Quilombo Campo Grande, no sul de Minas Gerais, esta sexta-feira.
O MST, citado pelo Brasil de Fato, revelou que as casas e as plantações foram destruídas, tal como a Escola Popular Eduardo Galeano, «onde crianças, jovens e adultos eram alfabetizados».
Durante três dias, as famílias do acampamento tentaram resistir a serem despejadas do local que ocupam há 22 anos. Segundo o online, cerca de 450 famílias vivem na área da antiga fábrica Ariadnópolis, da Companhia Agropecuária Irmãos Azevedo (Capia), cuja laboração encerrou em 1996.
Desde então, acrescenta, os agricultores «estão em constante disputa com os proprietários da Companhia, que reivindicam [a] posse do local recuperado ao longo dos anos pelos sem-terra, desde a ocupação e revitalização das terras a partir de 1998».
Estas famílias são responsáveis pela produção do Café Guaií e cultivam também milho, feijão, mel, hortaliças, verduras, legumes, galinhas, gado e leite.
Só no último ano, de acordo com o MST, as famílias produziram 8,5 mil sacas de café e cultivaram 1100 hectares sem o uso de agrotóxicos.
Numa entrevista ao Brasil de Fato, Esther Hoffmann, da coordenação nacional do MST, definiu a reintegração como ilegal, pelo facto de as famílias já terem abandonado a área prevista na decisão judicial.
«A polícia continua ameaçando avançar para além da decisão judicial, que são os lotes familiares, que não estão contidos dentro do processo dessa liminar de despejo. O que eles querem é despejar ilegalmente as famílias que produzem, moram, tem suas construções e famílias nessa área há mais de 20 anos», afirmou.
«Ilegal, arbitrário e desumano» foi também desta forma que o PT caracterizou o despejo do acampamento Quilombo Campo Grande. No pedido de suspensão dirigido ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Edson Fachin, lembrou que o mesmo contrariava uma decisão tomada em Maio pelo ministro do STF, de suspender todos os processos judiciais de reintegração de posse e de anulação de demarcações de terras indígenas durante o surto do novo coronavírus.
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