Com o lema «A Xunta não pode calar todo um país. Altri Não», mais de cem mil pessoas ligaram a Alameda à Praça do Obradoiro.
Era tanta gente que a organização foi obrigada a esvaziar e encher o Obradoiro duas vezes e o manifesto teve de ser lido duas vezes também, indica o diário Nós, lembrando que, quando a praça já estava cheia, parte da mobilização ainda estava na Alameda.
Neste sentido, os organizadores definiram a manifestação de ontem como «histórica» e «à altura da que Compostela acolheu a 1 de Dezembro de 2002 por causa do Prestige».
Em declarações à imprensa antes do começo da marcha, a presidente da Ulloa Viva, Marta Gontá, disse que «este projecto vai contra maioria social da Galiza», acrescentando que deixar para o futuro uma «ria produtiva, terra fértil, ar limpo e água limpa não é negociável».
«Aqui está a sociedade galega que não vai deixar que a calem»
Os organizadores denunciaram a campanha da Xunta da Galiza em defesa da Altri e contra o povo, bem como o PP espanhol e o Partido Popular Europeu, por estes considerarem que se trata de «uma questão que não preocupa a sociedade galega». E responderam: «Aqui está a sociedade galega que não vai deixar que a calem, nem em Santiago nem em Bruxelas.»
Neste contexto, pediram ao PP e à Xunta que deixem que este projecto seja debatido, para que «a sociedade possa decidir livremente», já que, defendem, a Xunta da Galiza não tem legitimidade para «alterar o modelo produtivo deste país».
Todos os «grupos vivos» que andam há quase um ano a trabalhar nos vários concelhos contra a macro-celulose – associações, produtoras, colectivos ecologistas, sindicatos e partidos políticos – encheram Compostela com um «grito em defesa do nosso território, do nosso modelo de país, o nosso passado, presente e futuro», indica o diário Nós.
«Há um ano recebíamos a notícia, a Altri é uma sombra que sobrevoa a terra do meio, e pretende lançar raízes nas nossas comarcas como uma erva daninha e chuchar a nossa água e deitar a sua merda ao rio e à atmosfera para sempre, durante 75 anos», alertaram os organizadores no manifesto que foi lido duas vezes.
Pelo direito a viver e trabalhar dignamente na nossa terra
No documento, recordaram a trajectória de luta, bem como o facto de o PP, há dois meses, ter votado contra a aceitação no Parlamento galego da iniciativa legislativa popular pelo reconhecimento do interesse geral da pesca costeira, da mariscagem e do mexilhão.
O mesmo partido, criticaram, não teve escrúpulos em caracterizar o projecto da Altri como «estratégico», «para assim poder explorar os nossos recursos por via de uma estratégia de extractivismo colonial».
Dizendo à Xunta para não «perder tempo» a tentar calar quem se opõe ao projecto da Altri, os organizadores questionaram os 250 milhões de euros de dinheiro público para o projecto, que «serviria para limpar os estuários e regenerar os bancos de marisco», e alertaram que a poluição da Altri no rio Ulla «afecta a qualidade da água potável que bebem 145 mil habitantes».
Quase no final da leitura do manifesto, os organizadores defenderam que o projecto da Altri se opõe «à criação de emprego digno e à sustentabilidade económica e social», na medida em que «atenta contra todos os sectores económicos e produtivos do mar e do agro que geram riqueza social».
Também deixaram claro que «o grito "Altri Não" será cada vez mais forte». «Defendemos a nossa dignidade e o nosso direito a viver e trabalhar dignamente na nossa terra», declararam.
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