Forças de esquerda e grupos de defesa da paz na Irlanda promoveram esta semana a realização de um protesto em Dublin, junto ao Ministério dos Negócios Estrangeiros, para denunciar a posição do governo de coligação (Fine Gael-Fianna Fail-Verdes) no que respeita ao envolvimento do país na guerra em curso na Ucrânia entre a NATO e a Rússia.
Activistas do Partido Comunista da Irlanda (PCI) e da Aliança Paz e Neutralidade (PANA) participaram na mobilização, criticando o governo pela decisão de facultar treino com armas a recrutas do Exército ucraniano e exigindo que se mantenha a tradicional política irlandesa de neutralidade em conflitos internacionais, indica o Peoples Dispatch.
Mais de 200 organizações apoiaram a manifestação deste sábado, em Washington, contra a «máquina de guerra» dos EUA e da NATO, quando passam 20 anos sobre a invasão norte-americana do Iraque. Milhares de pessoas manifestaram-se ontem na capital federal dos Estados Unidos, exigindo que as enormes verbas que o país destina à guerra sejam direccionadas para «as necessidades das pessoas» – mais emprego, melhor educação e saúde, entre outros sectores. Pelo centro da cidade, muitos manifestantes exibiram cartazes em que se lia «Alimentar o povo, não o Pentágono», «Financiar as necessidades das pessoas, não a máquina de guerra», «Dissolução da NATO», «Não à NATO, sim à Paz» ou «Não à guerra com a China». Em discursos que precederam a marcha e ao longo da manifestação, foi central a denúncia do belicismo norte-americano, tendo-se ouvido vozes a exigir à Casa Branca que defenda a paz e o diálogo, em vez de prestar ajuda militar à Ucrânia, e a criticar Washington por não querer saber do futuro dos ucranianos, «apenas manter a sua hegemonia». Além de reivindicarem repetidamente a dissolução da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO) e o encerramento das mais de 700 bases militares que EUA e NATO têm pelo mundo fora, os manifestantes denunciaram o militarismo norte-americano e lembraram que o Pentágono «não aprende com os próprios erros». Para o mostrar, alguns manifestantes exibiram bandeiras e caixões com bandeiras dos países que foram vítimas do intervencionismo norte-americano, também por via da aplicação de sanções. Na sua conta de Twitter, a Answer Coalition, uma das promotoras da mobilização, afirmava a propósito: «Lembrem-se do Iraque! Basta de guerras assentes em mentiras! No 20.º aniversário da invasão criminosa do Iraque pelos EUA [20 de Março de 2003], manifestámo-nos em Washington para exigir paz na Ucrânia e dizer Não à campanha de guerra norte-americana, Não à guerra infindável e Não à austeridade!» Outro ponto em destaque este sábado na capital dos EUA foi a denúncia do papel assumido pela comunicação social dominante, que foi acusada de fabricar inimigos e atiçar os conflitos. Brian Becker, director da Answer Coalition, foi um dos que abordaram a questão, afirmando que a «comunicação social dominante decidiu boicotar o povo norte-americano quando se posiciona contra a máquina de guerra». Apontou o dedo a grandes cadeias de TV e jornais, que acusou de serem «apenas câmaras de ressonância do Pentágono». Answer Coalition, The People's Forum, Codepink, Black Alliance for Peace, United National Anti-War Coalition, Veterans for Peace, Roger Waters, Cuba and Venezuela Solidarity Committee, Samidoun Palestinian Prisoner Solidarity Network são algumas das mais de 200 organizações que subscreveram o manifesto subjacente à mobilização. Nele, também se diz «não» a uma eventual guerra com a China; pede-se o fim do apoio dos EUA ao «regime de apartheid» israelita, o fim da ingerência no Haiti e o fim do AFRICOM – Comando dos Estados Unidos para África; exige-se o fim do racismo e da discriminação nos EUA, bem como a libertação de todos os presos políticos, incluindo Mumia Abu-Jamal e Julian Assange. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.Internacional|
Milhares em Washington pela paz e contra «as guerras intermináveis» dos EUA
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Os manifestantes – entre os quais se encontravam militantes do Partido dos Trabalhadores da Irlanda, da Liga da Neutralidade Irlandesa e da Acção Anti-Imperialista (Irlanda) – também instaram os líderes políticos da Rússia e da Ucrânia a chegarem a um acordo sobre conversações de paz e um cessar-fogo imediato.
De acordo com The Irish Times, as tropas irlandesas deverão fornecer treino com armas aos novos recrutas das Forças Armadas da Ucrânia. Isto, apesar das repetidas garantias dadas pelo governo de Dublin quanto à manutenção da neutralidade irlandesa e de que forneceria apenas ajuda «não letal» à Ucrânia.
No âmbito da Missão de Assistência Militar da União Europeia de apoio à Ucrânia (Eumam), a Irlanda tem vindo a prestar ajuda ao país europeu ao nível de medicamentos, desminagem e engenharia.
«Dizemos "não" à guerra, "não" à NATO, "sim" à paz e "sim" à neutralidade»
Ao intervir na mobilização, Roger Cole, da PANA, defendeu um cessar-fogo imediato na Ucrânia, pois, de outra forma, «a situação irá a evoluir para uma guerra nuclear». Numa sondagem recente realizada pela PANA na Irlanda, 87% dos inquiridos defenderam um cessar-fogo e a negociações para pôr fim à guerra na Ucrânia, refere o Peoples Dispatch.
O «retiro» do executivo de Trudeau em Hamilton, na província de Ontário, ficou marcado por protestos na segunda-feira, um dos quais a exigir ao governo do Canadá a saída da NATO. Membros da Hamilton Coalition to Stop The War realizaram uma concentração frente à Art Gallery local, esta segunda-feira, exibindo cartazes em que se lia «Não aos novos caças, não aos novos navios de guerra para a NATO» e «STOP à guerra por procuração na Ucrânia». O grupo, revela o portal cbc.ca, criticou a resposta do governo de Justin Trudeau à guerra na Ucrânia, bem como a decisão do governo de Otava de comprar 88 novos caças F-35 à norte-americana Lockeed Martin, que irão custar mais de 14 mil milhões de dólares. Doug Brown, co-presidente da Coligação de Hamilton contra a guerra, disse que a compra dos F-35 «é um desperdício terrível do dinheiro dos contribuintes», que devia ser direccionado para outras áreas, prioritárias. Em seu entender, quando o orçamento com as despesas militares aumenta, os outros, que garantiriam «segurança económica, ambiental e de saúde» aos canadianos, encolhem. Brown frisou ainda que o objectivo primeiro da compra não é defender o Canadá, mas «atar o país a uma estrutura militar comandada pelos EUA, para as operações ofensivas da NATO no estrangeiro». A este propósito, lembrou que foi assim, «desta forma destrutiva», que os F-18 canadianos actuaram na ex-Jugoslávia e na Líbia. Por seu lado, Ken Stone, também membro da Coligação anti-guerra, disse que a mobilização se enquadrava numa «semana de protestos na América do Norte contra as guerras da NATO». «No Canadá, nos Estados Unidos e também nalguns pontos da Europa, tem havido manifestações que se opõem às guerras dos EUA pelo mundo, incluindo a guerra por procuração da NATO na Ucrânia», disse. Para Stone, as origens da actual guerra na Ucrânia remontam à expansão da NATO para o Leste da Europa e ao incumprimento das promessas feitas à URSS; passam ainda pelo golpe de Maidan, pelo ataque às populações do Donbass e pelo não respeito pelos Acordos de Minsk. Com a guerra a arrastar-se, Ken Stone defendeu que Trudeau devia participar nos esforços diplomáticos com vista a acalmar o conflito e a encontrar uma solução negociada para ele, em vez de mandar mais armas e tanques para a Ucrânia. Na semana passada, a ministra canadiana da Defesa, Anita Anand, visitou Kiev, onde anunciou que o seu país ia enviar 200 veículos blindados para a Ucrânia. «O Canadá precisa de uma política externa independente. Devemos sair da NATO», destacou Ken Stone. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.Internacional|
Protesto no Canadá contra política militarista de Trudeau e pela saída da NATO
Participar na diplomacia, não enviar mais armamento
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Por seu lado, o secretário-geral do PCI, Jimmy Corcoran, condenou a decisão de fornecer treino com armas como «outro ataque calculado à neutralidade irlandesa». Numa carta lida no protesto, Corcoran afirmou que a política foi «projectada para garantir que a guerra continue, com o aumento de mortes e de destruição daí resultante».
Também o Partido dos Trabalhadores da Irlanda condenou a violação da política de neutralidade, ao arrepio das declarações antes feitas pelo actual governo de coligação.
«O governo deseja claramente alinhar-se com os belicistas em Washington e bajular a NATO. Ao contrário deles, e em linha com a opinião do povo irlandês, dizemos "não" à guerra, "não" à NATO, "sim" à paz e "sim" à neutralidade», afirmou o partido de esquerda.
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