|El Salvador

Protestos em El Salvador contra «ataque à democracia»

Na sessão inaugural da nova legislatura, foram destituídos dois juízes do Supremo Tribunal de Justiça e o procurador-geral. A FMLN denuncia um golpe ao Estado de direito.

Parlamento salvadorenho, onde o governo de Bukele detém uma maioria de dois terços, é acusado de ataque à democracia e á separação de poderes 
Créditos / br.sputniknews.com

Este domingo, cerca de 300 manifestantes, de diversas organizações, concentraram-se junto ao Monumento à Constituição, em São Salvador, em protesto contra o que qualificam como «um golpe ao Estado de direito e um ataque à democracia».

Com pancartas e palavras de ordem, refere a Prensa Latina, os presentes disseram «sim» à convocatória do movimento Salvadorenhos contra o Autoritarismo para repudiar a destituição de dois juízes da Câmara Constitucional do Supremo Tribunal de Justiça e do procurador-geral do Ministério Público, Raúl Melara, proposta pelo partido Nuevas Ideas, do presidente Nayib Bukele, e aprovada na sessão de abertura da nova legislatura da Assembleia Legislativa.

Para justificar a proposta de destituição, o Nuevas Ideas acusou os magistrados de terem posto em risco a população com as decisões que tomaram durante a quarentena decretada para conter a propagação da Covid-19, e alegou que Melara responde aos interesses do partido Alianza Republicana Nacionalista (oposição de direita).

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Supremo salvadorenho proíbe Bukele de usar Exército para fins inconstitucionais

A Justiça salvadorenha ordenou ao presidente do país, Nayib Bukele, que não use as Forças Armadas para fins inconstitucionais, depois da invasão da Assembleia Legislativa, perpetrada no domingo.

A Sala Azul da Assembleia Legislativa de El Salvador, invadida por militares e polícias, a mando do presidente da República, Nayib Bukele, um fiel aliado de Washington
Créditos / América Digital

Além de ter ordenado a Bukele que se abstenha de utilizar indevidamente as Forças Armadas do país, fora do quadro constitucional, num auto divulgado esta segunda-feira o Supremo Tribunal de Justiça do país centro-americano ordenou também ao ministro da Defesa, René Merino, e ao director da Polícia Nacional Civil, Mauricio Arriaza, que evitem exercer «funções e actividades diferentes daquelas a que estão obrigados constitucional e legalmente».

O auto deixa ainda sem efeito a convocatória, por parte do Conselho de Ministros, de uma sessão extraordinária da Assembleia Legislativa, para a obrigar a aprovar a negociação de um crédito de 109 milhões de dólares, destinados a um plano de segurança promovido pelo presidente da República, Nayib Bukele.

Desta forma, o órgão máximo de justiça salvadorenho dá provimento à queixa de inconstitucionalidade apresentada por um grupo de cidadãos depois de, no domingo passado, Nayib Bukele ter invadido a Sala Azul da Assembleia Legislativa, acompanhado por efectivos militares e policiais.

Bukele, ao conhecer a decisão do Supremo, afirmou nas redes sociais: «O sistema autoprotege-se.» Por seu lado, a Assembleia emitiu uma nota de condenação unânime dos factos ocorridos no domingo.

«Crise» e invasão do Parlamento

A «crise» tinha começado na quinta-feira anterior, dia 6, quando Bukele invocou o artigo 167.º da Constituição salvadorenha para convocar uma sessão extraordinária da Assembleia, com vista à aprovação de um empréstimo internacional para o seu plano de «Controlo Territorial».

Como a Assembleia considerou que a convocatória não era legal, o presidente salvadorenho ameaçou os deputados, afirmando que estes podiam incorrer numa situação de «desobediência» e que o povo se podia amparar também na Constituição para levar a cabo uma «insurreição».

No domingo, Bukele sentou-se na cadeira do presidente da Assembleia, Mario Ponce, rezou e saiu, vindo depois dizer às cerca de 5000 pesssoas que se concentravam junto ao Parlamento que «Deus lhe recomendara paciência» e que dava mais uma semana aos deputados para aprovar a negociação do empréstimo que deseja, informam a Prensa Latina e a TeleSur.

FMLN alerta para manipulação e golpismo

Em declarações à Prensa Latina, a deputada salvadorenha Cristina Cornejo, da Frente Farabundo Martí para a Libertação Nacional (FMLN), alertou para a manipulação de massas levada a cabo por Nayib Bukele, um aliado de Washington.

A deputada apontou também a «natureza autoritária e militarista» do presidente da República, que, em menos de um ano de mandato, «quase destruiu a institucionalidade democrática que tanto custou aos salvadorenhos».

Também a Comissão Política e o grupo parlamentar da FMLN repudiaram «as acções golpistas disfarçadas de insurreição feitas» por Nayib Bukele, segundo revelou Oscar Ortiz, secretário-geral da Frente.

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Ambas as medidas, aprovadas sem qualquer problema, uma vez que a aliança que sustenta o governo detém uma maioria de dois terços no Parlamento, não foram bem acolhidas por sectores da oposição e da sociedade, que alertam para a falta de separação de poderes e para a perda de independência do poder judicial.

Na concentração deste domingo, foram feitos apelos «ao diálogo e à transparência na gestão pública», entre alertas para «o risco da perda da liberdade» pelos cidadãos, por mais que o presidente da República, Nayib Bukele, defenda estas primeiras medidas da legislatura afirmando que elas «cumprem a vontade do povo, expressa nas urnas».

FMLN denuncia ataque ao Estado de direito em El Salvador

Em comunicado emitido este sábado, a Frente Farabundo Martí para a Libertação Nacional (FMLN) acusou a Assembleia Legislativa de «aberta e descarada intromissão noutros órgãos do Estado», pondo em risco «a segurança jurídica e o Estado de direito» no país centro-americano.

Para a FMLN, a decisã0 agora aprovada representa uma «intenção manifesta de controlo absoluto dos poderes do Estado, colocando-os todos ao serviço de quem exerce o poder executivo».

Chamando a atenção da comunidade internacional para «a extrema gravidade» destas medidas, a Frente qualifica-as como «um golpe de Estado à incipiente democracia», consumado por via legislativa e violando as regras essenciais e constitucionais vigentes desde os acordos de paz de 1992.

Neste contexto, pede à comunidade internacional que denuncie a situação e defenda as liberdades democráticas «abertamente ameaçadas e violadas por este grupo de poder».

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