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Um mar de gente contra o fascismo na Argentina

Centenas de milhares de pessoas mobilizaram-se em Buenos Aires e por todo o país contra o ódio e a violência da extrema-direita, no âmbito da Marcha Federal do Orgulho Antifascista e Anti-racista. [PRIMEIRO]

Créditos / Resumen Latinoamericano

Mesmo sob intenso calor estival e um sol sem dó, cerca de 500 mil pessoas, membros de organizações de direitos humanos, feministas, LGTBIQ+, juvenis, estudantis, sociais, sindicais, partidárias e cidadãos a título individual, marcharam na capital argentina, este sábado, desde o Congresso até à Praça de Maio, unidas pela defesa da democracia e contra o executivo de Javier Milei, ao qual chamaram «lixo» e «ditadura».

A enorme mobilização de Buenos Aires teve «réplicas» pelo país fora, onde o Tiempo Argentino estima que se tenham manifestado mais de um milhão e meio de pessoas, e também em vários pontos do mundo.

Como denominador comum, o repúdio pelas políticas do actual governo argentino e pelas declarações do presidente Milei contra as mulheres, os homossexuais e pessoas LGBTIQ+, pronunciadas no Fórum Económico de Davos.

Manifestação em Buenos Aires, a 1 de Fevereiro de 2025 / PL

As organizações promotoras da Marcha consideram alarmante a intenção do executivo de excluir o assassinato de mulheres («feminicídio») do Código Penal, tendo alertado também que estão em risco leis para prevenir e erradicar a violência contra as mulheres, para promover a educação sexual, combater a discriminação e garantir o acesso de todas as pessoas a um posto de trabalho.

Em comunicado, a Frente Nacional Orgulho e Luta exigiu que os grupos parlamentares se comprometam a não votar contra as conquistas alcançadas nos últimos anos pelas mulheres e grupos discriminados.

«O discurso de Milei não só reforça o desmantelamento das políticas de género, diversidade, étnico-raciais e de Memória, Verdade e Justiça, mas também fomenta o ódio num contexto de crise económica que agrava a falta de acesso a direitos básicos», alerta a Frente.

«Se o presidente se exprime em termos prejudiciais, a convivência social é afectada. Não devemos normalizar isso. Se o fizermos, quando a perseguição e a violência se intensificarem, será tarde demais», acrescenta.

Defender direitos conquistados, dizer «basta» ao ódio

No final da mobilização, María Rachid, presidente da Federación Argentina de Lesbianas, Gays, Bisexuales y Trans (FALGBT), declarou que «a marcha foi enorme» e que «é expressão de uma sociedade que não vai renunciar à diversidade e à igualdade».

Manifestação em Buenos Aires, a 1 de Fevereiro de 2025 / Resumen Latinoamericano

«Al fascismo nunca más. Basta con la motosierra: no a los discursos de odio», «Cansados pero jamás derrotados», «Por jubilaciones y pensiones dignas», «La Argentina nunca será fascista» ou «Mariconazos sí, mariconazis no» foram algumas dos lemas patenteados na marcha, que Ricardo Vallarino, um dos representantes da Frente Nacional Orgulho e Luta, classificou como «a marcha das nossas vidas», acrescentando que «o fascismo não passará».

Os manifestantes reclamaram igualmente o respeito por direitos fundamentais como a saúde, a educação, a inclusão social ou a reforma. «Não podemos ficar indiferentes. Os discursos de ódio geram violência. Vim com a minha família e amigos defender os nossos direitos», disse uma das participantes na marcha, não identificada.

Por seu lado, René, salvadorenho residente há oito anos em Buenos Aires, vincou a necessidade de defender os direitos dos migrantes, lembrando como estes se tornam bodes expiatórios e como os discursos de ódio crescem em toda a América Latina.

Já Brian, argentino de 25 anos, disse que se mobilizou porque está preocupado com «o retrocesso que significa o discurso de ódio de Milei». E acrescentou: «Dias depois do seu discurso [em Davos], um homem ateou fogo à casa de duas lésbicas.»

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