|Colômbia

Semana de grande violência contra dirigentes sociais na Colômbia

Ao vencer as eleições, Gustavo Petro definiu a paz como objectivo primordial de um mandato marcado pelo diálogo. Mas o Indepaz continua a lançar alertas contra os níveis de violência.

Créditos / aa.com.tr

De acordo com os dados do Instituto para o Desenvolvimento e a Paz (Indepaz), só na semana passada foram assassinados cinco dirigentes sociais e perpetrados dois massacres no país sul-americano.

Depois de, no dia 28, elementos de um grupo armado terem sequestrado e matado cinco pessoas no departamento de Chocó, ontem foram assassinados três indígenas do povo Awá UNIPA, no departamento de Nariño.

Trata-se do 49.º massacre perpetrado na Colômbia este ano, refere o Indepaz na sua conta de Twitter, acrescentando que uma das pessoas assassinadas foi Juan Orlando Moreano, que tinha o cargo de governador suplente na zona indígena Awá Inda Sabaleta, no município de Tumaco.

Ao longo da semana, além de Moreano, foram mortos pelo menos outros quatro dirigentes sociais. Libardo Perdomo Molano, de 46 anos, foi assassinado no passado dia 29 de Junho, na vereda San Agustín, no município de Planadas (departamento de Tolima).

O Indepaz, que divulgou o facto no dia 1 de Julho, afirma que se trata de um dirigente social reconhecido, que tinha assumido o cargo de presidente da Junta de Acção Comunal do espaço referido.

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Gustavo Petro quer escrever uma «história nova» para a Colômbia

A candidatura do Pacto Histórico, coligação de forças progressistas e de esquerda, venceu as eleições presidenciais na Colômbia. Petro definiu o triunfo como «histórico» e defendeu a aposta na paz.

Gustavo Petro e Francia Márquez, do Pacto Histórico, celebrando o triunfo nas eleições presidenciais na Colômbia 
Créditos / @petrogustavo

Com a totalidade dos votos escrutinados, a candidatura do Pacto Histórico, integrada por Gustavo Petro e Francia Márquez, obteve 11 281 013 votos (50,44%) na segunda volta das eleições presidenciais, celebradas este domingo.

Já a candidatura apoiada pelas forças de direita, composta por Rodolfo Hernández e Marelen Castillo, alcançou 10 580 412 votos (47,31% dos votos válidos), informaram as autoridades eleitorais colombianas.

Conhecidos os resultados, Petro e Francia Márquez dirigiram-se para o coliseu Movistar Arena, em Bogotá, onde se juntaram a milhares de apoiantes que ali festejavam o triunfo do Pacto Histórico, num país onde os governos, por norma, são conservadores de direita e extrema-direita.

«É história aquilo que estamos a escrever neste momento, uma história nova para a Colômbia, para a América Latina, para o mundo», disse o novo presidente eleito, sublinhando que aquilo que aí vem é «uma mudança real» e que não irá trair o eleitorado que «gritou ao país, à história, que a partir de hoje a Colômbia muda».

Num discurso conciliador, Gustavo Petro afirmou que não se trata de uma «mudança para nos vingarmos, uma mudança para construir mais ódios, uma mudança para aprofundar o sectarismo na sociedade colombiana».

O chefe do novo governo, que tomará posse a 7 de Agosto, destacou ainda que a força expressa pelo povo nas urnas vem de longe, de gerações que já não estão, porque as forças que contribuíram para o triunfo do Pacto são um acumulado de cinco séculos de resistência e rebeldia contra a injustiça, a discriminação e a desigualdade.

A paz como aposta central

Num coliseu em festa, Gustavo Petro sublinhou que o objectivo primordial do seu mandato é a paz. «Significa que não vamos, a partir deste governo, utilizar o poder em função de destruir o oponente. Significa que nos perdoamos. Significa que a oposição que teremos […] será sempre bem-vinda ao Palácio de Nariño para dialogar sobre os problemas da Colômbia», afirmou, citado pela Prensa Latina.

Falando para milhares de pessoas, Petro disse que «não pode continuar o clima político que acompanha os colombianos neste século de ódios, de confrontos, literalmente de morte, de perseguições, de isolamento».

Com o governo que irá liderar, acaba-se a perseguição política, a perseguição jurídica, «haverá apenas respeito e diálogo», disse, insistindo na criação de um grande pacto, que deve abranger toda a sociedade.

«Alcançámos um governo do povo»

Francia Márquez, vice-presidente eleita da Colômbia, saudou todos os sectores que tornaram possível o triunfo do Pacto Histórico, tendo afirmado que, ao cabo de 214 anos, se deu um passo muito importante: «alcançámos um governo do povo.»

«Vamos reconciliar este país, pela paz, sem medo, pela vida, pelas mulheres, pelos direitos da comunidade diversa LGTBQI+, pelos direitos da Mãe Terra, para erradicar o racismo estrutural», afirmou.

Lembrando todos aqueles que sofrem a violência e desigualdade no país, teve ainda palavras de reconhecimento para quem perdeu a vida nas lutas da Colômbia.

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No departamento de Arauca, foram mortos a tiro, por elementos a soldo, Carlos Alberto Hernández (em Arauquita, dia 30 de Junho) e Leonardo Mora Calderón (em Saravena, dia 27).

O primeiro era um dirigente político e social, deputado pelo departamento de Arauca e membro do Conselho Directivo da Confederação de Deputados da Colômbia. Já Mora Calderón era soldador de profissão e actual vice-presidente da Associação de Soldadores de Arauca.

Também no dia 27, foi assassinado no município de Granada (Antioquia) Julián David Ochoa Rueda, um jovem dirigente comunitário, conhecido como defensor do ambiente e como apoiante da coligação Pacto Histórico – a plataforma progressista e de esquerda em que se integrou a candidatura de Gustavo Petro e Francia Márquez à presidência da Colômbia.

O organismo de defesa da paz registou, este ano, a ocorrência de 49 massacres e o assassinato de 96 dirigentes sociais na Colômbia; desde a assinatura do acordo de paz, em Novembro de 2016, foram mortos 1323.

Nos últimos tempos, o Indepaz denunciou grande presença de grupos armados no departamento no Cauca, que estão a acossar comunidades indígenas e a raptar menores para os integrarem nas suas fileiras.

Denunciou igualmente a ocorrência de ataques armados, no departamento de Nariño, contra ex-guerrilheiros das FARC-EP, que subscreveram o acordo de paz.

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