A greve no sector da Saúde da província canadiana foi convocada pela Fédération interprofessionnelle de la santé du Québec (FIQ), com os trabalhadores a reafirmarem a reivindicação, colocada no final de Outubro, de um «acordo justo» e a expressarem a vontade de manter a pressão até que sejam alcançados avanços significativos.
No decorrer das negociações que tiveram lugar entre as parte desde que o convénio colectivo do sector expirou, a 31 de Março último, o governo do Quebeque não conseguiu responder às principais preocupações dos profissionais, em que se incluem enfermeiros, terapeutas respiratórios e perfusionistas clínicos, indica o portal Peoples Dispatch.
«Numa altura em que a rede de saúde se está a desmoronar, em que os profissionais sacrificam a sua saúde física e mental para prestar cuidados aos pacientes e em que a qualidade do atendimento está em risco, a proposta demonstra a falta de respeito do governo pelos trabalhadores, que são sobretudo mulheres», afirmou Julie Bouchard, presidente da FIQ, em declarações à Public Services International antes do início da greve.
Enquanto os trabalhadores exigiam melhores rácios profissionais/pacientes e uma maior valorização do trabalho por turnos, o governo apresentou propostas que permitiriam que os profissionais da Saúde fossem colocados em diferentes locais de trabalho, independentemente da sua vontade.
Para o sindicato, isto seria mais um ataque ao equilíbrio entre vida pessoal e trabalho, que já se encontra sob pressão devido à carga de trabalho e, nalguns casos, ao facto de os trabalhadores serem confrontados com a necessidade de trabalhar em mais do que um emprego para chegar ao fim do mês.
A organização sindical destacou que a questão não é estritamente a escassez de profissionais da Saúde, uma vez que existem actualmente mais de 80 mil enfermeiros, 4500 terapeutas respiratórios e cerca de uma centena de perfusionistas clínicos na região do Quebeque. O problema está relacionado com as más condições de trabalho no sector público, «suficientemente más para empurrar os profissionais» para fora do sector.
São necessárias medidas sistémicas e de fundo, não paliativas
Este ano, o próprio governo regional assumiu o problema, ao publicar dados que mostram que mais de 20 mil funcionários da Saúde abandonaram o sistema em menos de dois anos, colocando uma enorme pressão sobre os hospitais, que encerraram centenas de camas e aumentaram os tempos de espera para determinadas cirurgias.
A resposta do governo regional centrou-se na contratação de enfermeiros de países francófonos do Norte de África, Médio Oriente e Caraíbas, num contexto em que o sindicato alertou que o «êxodo» estava relacionado com as condições de trabalho e o cansaço extremo (burnout), questões que exigem não medidas paliativas, mas melhorias de fundo e sistémicas.
Neste sentido, representantes da FIQ afirmaram em repetidas ocasiões que, sem uma mudança de atitude governamental, não haveria melhorias nas actuais tendências de degradação das condições de trabalho e da qualidade do atendimento.
A greve dos trabalhadores da Saúde dá continuidade a uma onda de paralisações no sector público da província, que exige uma resposta adequada ao aumento do custo de vida.
Na segunda-feira passada, mais de 400 mil trabalhadores do sector público, incluindo os da Educação e dos Serviços Sociais, fizeram greve, convocada pela United Front.
Considerando que as propostas do governo regional são insuficientes e desprezam o sector público, os sindicatos já anunciaram uma nova onda de paralisações na terceira semana deste mês. No caso da Saúde, a FIQ anunciou uma greve de 48 horas a 23 e 24.
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