Em comunicado emitido esta terça-feira, o Ministério venezuelano dos Negócios Estrangeiros afirma que, «através da coerção e da ameaça», Washington «procura impor o golpismo, não reconhecer as instituições da República, aplicar novas medidas coercivas e desestabilizar a economia venezuelana e o bem-estar do seu povo».
O documento, publicado no Twitter (X) pelo diplomata Yván Gil, rejeita de forma «absoluta e inequívoca o intervencionismo neocolonialista que a partir de Washington se tenta impor contra um país independente que exerce plenamente a sua soberania nacional e que tem direito a escolher o seu próprio destino sem a constante pressão e agressão de um governo cúmplice do massacre e do genocídio em Gaza, com um historial sangrento de violações dos direitos humanos na Nossa América e com prontuário de repressão à sua própria população indígena, afrodescendente e migrante».
Borrell não gostou da inabilitação de Corina Machado, a trumpista que defendia a política de máxima pressão contra o seu país. Caracas refutou de forma categórica as declarações de «ingerência» da UE. Num comunicado emitido ontem, o governo da Venezuela sublinhou que a legalidade e a legitimidade do processo eleitoral no país sul-americano não dependem de nenhum «agente estrangeiro». O documento, partilhado pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, Yván Gil, no Twitter, dirige-se a Josep Borrell, alto representante para os Assuntos Externos e a Política de Segurança da União Europeia (UE), classificando as suas declarações como um «acto de ingerência» em temas que «são da exclusiva competência dos Poderes Públicos venezuelanos». A UE, que «fracassou durante os últimos anos na tentativa de impor um presidente falso ao nosso país», refere o texto em alusão a Juan Guaidó, «hoje continua na mesma senda do fracasso, empenhada numa retórica irracional e colonialista em relação ao governo constitucional». Personalidades da política, da ciência e da cultura figuram entre os primeiros signatários de uma petição lançada quinta-feira instando a UE a respeitar o resultado das eleições parlamentares na Venezuela. «Se a UE [União Europeia] apostasse verdadeiramente em ser um vector de paz num mundo de turbulências, não devia apoiar a via da violência e da confrontação na Venezuela. Por isso lhe pedimos que respeite o resultado eleitoral do próximo dia 6 de Dezembro e apoie a vontade democrática dos venezuelanos», lê-se no texto da petição que circula nas redes sociais. O ex-presidente equatoriano Rafael Correa, o prémio Nobel da Paz Adolfo Pérez Esquivel, o músico britânico Roger Waters, o ex-candidato presidencial francês Jean-Luc Mélenchon, o intelectual argentino Atilio Borón, o jornalista belga Michel Collon e o teólogo brasileiro Frei Betto são alguns dos primeiros signatários da petição enviada a Josep Borrell, alto representante da UE para a Política Externa e de Segurança. A exigência de respeito pela soberania e a autodeterminação do povo venezuelano não deixa passar a denúncia das pressões dos Estados Unidos e o seu objectivo de imposição de uma «mudança de regime» no país sul-americano. «Este alinhamento com a política dos falcões de Washington é um sinal grave da abdicação de uma política exterior independente que se vinha mostrando em numerosos discursos de intenção», alerta o texto, em alusão à atitude da UE relativamente às eleições. Neste sentido, os signatários recordam que o bloco comunitário recusou o convite feito pelo Estado venezuelano «para enviar observadores para garantir o bom desenvolvimento do escrutínio». «Apesar dos seus reiterados apelos ao diálogo na Venezuela, a União Europeia recusou-se a aceitar este novo consenso democrático», denunciam deputados, autarcas, sindicalistas, jornalistas, defensores dos direitos humanos, escritores, académicos, economistas, professores e cineastas de vários países latino-americanos e europeus. Os signatários recordam ainda que, ao longo deste ano, «as discussões entre o governo e a oposição decidida a retomar a senda constitucional levaram ao estabelecimento de novas garantias eleitorais, aceites pelas tendências políticas envolvidas no processo». Cento e sete partidos na liça, e 14 400 candidatos para os 277 assentos parlamentares ilustram «a diversidade de propostas políticas», numas eleições que «representam, sobretudo, uma saída democrática, legal e pacífica da crise política e institucional gerada, em Janeiro de 2019, pela autoproclamação de Juan Guaidó como "presidente interino" da Venezuela», destacam. Na lista de signatários encontram-se ainda o politólogo basco Katu Arkonada, o jornalista argentino Carlos Aznárez, o académico mexicano Fernando Buen Abad, o jornalista colombiano Hernando Calvo Ospina, a jornalista italiana Geraldina Colotti e vários deputados do partido alemão Die Linke. Também a deputada brasileira Gleisi Hoffman (presidente do PT), o ex-deputado espanhol ao Parlamento Europeu (PE) Javier Couso, o cineasta italiano Citto Maselli, os portugueses Miguel Viegas e Sandra Pereira, respectivamente ex-deputado e deputada ao PE (CDU), o sindicalista escocês Philip McGarry e o escritor francês Maxime Vivas, entre muitos outros. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença. O texto refere que há mais de 200 anos os venezuelanos «correram com o imperialismo» da sua terra, tendo começado «a trilhar o caminho da soberania». Neste sentido, o governo da Venezuela sublinha que «não aceita a tutela de nenhuma potência ou grupo de países alinhados com reminiscências imperiais». Sublinhando que, nas eleições venezuelanas, o processo depende «das decisões que o povo toma soberanamente», o documento exige ainda à UE que «se abstenha de proferir declarações intervencionistas, de modo a preservar um relacionamento recíproco respeitoso». O comunicado do governo da República Bolivariana da Venezuela segue-se às preocupações expressas pelo chefe da diplomacia da UE «com as decisões que visam impedir que membros da oposição exerçam os seus direitos políticos fundamentais», tendo-se referido à inabilitação de pré-candidatos pelos órgãos soberanos do país sul-americano. Numa Europa em que se assiste ao crescimento da extrema-direita em vários países, a sucessivas «explosões sociais» em França, ao reforço do militarismo ou a situações de miséria crescente em vários países ricos do continente, como França ou o Reino Unido, o defensor da teoria «Europa jardim vs. resto do mundo selva» referiu-se, em nota oficial, ao caso da trumpista radical María Corinna Machado e sugeriu que as autoridades competentes revissem o caso. Uma delegação da Casa Branca foi a Caracas falar com Maduro e algumas vozes não perderam o ensejo de fazer o velório a «Juanico» Guaidó. Na Venezuela confirma-se uma «agenda positiva», sem alardes. O secretário executivo da Aliança Bolivariana para os Povos da Nossa América, Sacha Llorenti, notou que, se alguma dúvida havia, ficou agora claro que «a agressão dos Estados Unidos contra a Venezuela foi por causa do petróleo». Na sua conta de Twitter, o dirigente do bloco regional destacou ainda, esta quarta-feira, a «vitória da Revolução bolivariana, liderada pelo presidente Nicolás Maduro», como um triunfo da «democracia autêntica» e da «soberania nacional». As afirmações de Llorenti ocorrem depois de, esta segunda-feira, se ter ficado a saber que, no sábado, uma delegação da administração de Biden se deslocou a Caracas, onde manteve um encontro com o chefe de Estado venezuelano. Sobre o encontro, Nicolás Maduro disse que decorreu em ambiente «cordial» e «respeitoso», e que as partes decidiram trabalhar numa «agenda para a frente», virada para o futuro. Investigações mostram o envolvimento de Guaidó e de outros membros do Voluntad Popular na apropriação indevida de fundos e na realização de vários crimes na Colômbia para desestabilizar a Venezuela. Na conferência de imprensa que ontem deu no Palácio de Miraflores, em Caracas, o ministro venezuelano da Comunicação e da Informação, Jorge Rodríguez, lembrou que, no passado dia 23 de Março, o governo do seu país já havia alertado o mundo para a rede de corrupção promovida contra a Venezuela a partir de Cúcuta, na Colômbia, e coordenada sobretudo pelo autoproclamado presidente interino Juan Guaidó, que se estava «a apropriar de recursos, dinheiro e bens que pertencem aos venezuelanos», informam a VTV e a AVN. Na sequência das investigações realizadas, foram mostradas conversas mantidas entre Roberto Marrero, que era o coordenador administrativo e político de toda a rede de corrupção e roubo de fundos da Venezuela directamente para Juan Guaidó, e Rossana Barrero – conhecida como «Rossana de Cúcuta». Foram também exibidas conversas, mantidas por telemóvel, de Guaidó com Rossana Barrero e Kevin Rojas, ambos militantes do partido de extrema-direita Voluntad Popular, e que lidavam com «fundos roubados ao povo venezuelano para financiar a entrada no país de mercenários provenientes de El Salvador, das Honduras e da Colômbia para perpetrar acções terroristas». A este propósito, Jorge Rodríguez explicou que Rossana Barrera e Kevin Rojas substituíram na «rede» Gaby Arellano e José Manuel Olivares, os anteriores responsáveis na cidade colombiana de Cúcuta pela «coordenação das acções de terrorismo, sicariato e agressão na fronteira, bem como pela organização dos militares desertores». Sobre o modus operandi de Guaidó, precisou que «é roubar os recursos de qualquer organismo ou empresa venezuelana no estrangeiro com a cumplicidade dos governos da Colômbia, dos Estados Unidos, da Argentina, entre outros». Acrescentou que «criam ONG falsas e, quando conseguem algum tipo de depósitos que pertencem à Venezuela para a compra de alimentos, medicamentos, realização de intervenções cirúrgicas, [estes] são transferidos para contas pessoais». «É uma rede gigantesca e podre de corrupção para levar o dinheiro que serve para as nossas crianças doentes, para comprar comida, para comprar medicamentos e desviá-los para pagar álcool, prostitutas, [produtos em] lojas caras, hotéis de luxo», denunciou Rodríguez, sublinhando que «fica claro que não tinham qualquer intenção de levar ajuda humanitária a lado algum» e que «a verdadeira intenção era violar a fronteira [venezuelana], invadir, roubar», indicam AVN e VTV. O ministro da Comunicação disse ainda que os juros dos 800 milhões de dólares depositados em bancos norte-americanos ou de outro continente que pertencem à Citgo, filial norte-americana da empresa estatal petrolífera venezuelana PDVSA, estão a ser transferidos para contas pessoais – da confiança de Juan Guaidó. Disse ainda ter dados recentes de acordo com os quais é provável que o Departamento de Justiça do EUA investigue o conselho de administração que o golpista Juan Guaidó nomeou para a Citgo, por alteração da contabilidade. Ao que parece, o beneficiado no processo fraudulento – no valor de 70 milhões de dólares – é Carlos Vecchio, representante político da extrema-direita venezuelana, foragido à Justiça no seu país e que Guaidó «nomeou» como embaixador da Venezuela em Washington. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença. Ociel Alí López, num artigo ontem publicado no portal do Resumen Latinoamericano, destacou que, entre outras coisas, a «visita evidencia que o governo paralelo de Juan Guaidó é coisa do passado, não já pela sua força real, que sempre foi escassa, mas por ter saído do único lugar onde era forte: o repertório discursivo de Washington». Ainda a bicar o golpismo e Guaidó, que em Janeiro de 2019 se autoproclamou presidente interino da Venezuela, a mando de Washington e com o apoio dos aliados, o escritor argentino Atilio Borón diz que os seus restos políticos «são velados em Madrid, depois de uma oração fúnebre de Leopoldo López, Corina Machado, Julio Borges, Mariano Rajoy e Mario Vargas Llosa». Em Caracas, as autoridades mostram certa cautela, enquanto valorizam o diálogo e manifestam vontade de avançar nas negociações com Washington, no sentido de pôr fim ao cerco que asfixia o país. Um sinal disso foi a libertação de dois cidadãos norte-americanos presos no país sul-americano, ex-dirigentes da Citgo (filial da Petróleos de Venezuela), acusados de corrupção. Uma das razões para a cautela venezuelana, como sublinham analistas, reside na continuidade das chantagens e das pressões. Dezenas de pessoas exigiram, em Londres, que o Banco de Inglaterra devolva à Venezuela o ouro retido nas suas instalações, com o pretexto de que o Reino Unido não reconhece o governo de Nicolás Maduro. A mobilização, convocada no âmbito da campanha «Viva Venezuela!», do Revolutionary Communist Group (RCG; Grupo Revolucionário Comunista), decorreu este sábado frente à sede da instituição bancária na City londrina, por entre palavras de ordem como «Viva Venezuela», «Viva Maduro» e «Hands off Venezuela». Ao intervirem na acção de protesto, diversos oradores acusaram o Banco de Inglaterra de violar a soberania do país sul-americano e de atentar contra o direito internacional, revelou o RCG num comunicado a que a agência Prensa Latina teve acesso. Denunciaram igualmente a «hipocrisia» e o «comportamento antidemocrático» patenteados pela «classe dominante britânica», bem como a «cumplicidade» dos órgãos de comunicação dominantes, tendo ainda sublinhado as conquistas da Revolução Bolivariana. O Banco Central da Venezuela (BCV) instarou um processo contra o Banco de Inglaterra pelo facto de esta entidade se recusar a entregar-lhe o ouro venezuelano ali depositado, num valor estimado superior a 1200 milhões de dólares e de que o país sul-americano necessita para financiar a luta contra a Covid-19. No entanto, no dia 2 de Julho deste ano, o Tribunal Superior de Londres decidiu contra o BCV, tendo o juiz Nigel Teare alegado que as reservas de ouro deviam ser entregues à junta designada por Juan Guaidó, deputado da oposição de extrema-direita, golpista e autoproclamado presidente da Venezuela a mando de Washington reconhecido pelo governo britânico em 2019. Os advogados do BCV, que apelaram da sentença, argumentam que Londres jamais rompeu as relações diplomáticas com o governo do presidente legítimo e constitucional venezuelano, Nicolás Maduro, e que ambos os países mantêm as seus respectivos embaixadores acreditados em Londres e Caracas. O julgamento do recurso da sentença de Teare ficou marcado para finais de Setembro próximo, para ver se se põe fim ao «acto de pirataria que atenta contra o direito à saúde e à vida do povo venezuelano» – palavras com que o que o Ministério venezuelano dos Negócios Estrangeiros denunciou a decisão judicial de Julho último. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença. Poucos dias antes da viagem da delegação norte-americana a Caracas, Biden renovou o decreto que qualifica a Venezuela – que tem sido apoiada pela Rússia e a China – como «ameaça invulgar e extraordinária à segurança nacional e à política externa dos Estados Unidos». O decreto, originalmente firmado por Barack Obama em 9 de Março de 2015, foi sendo repetidamente prorrogado, instaurando um férreo bloqueio comercial e financeiro, bem como o congelamento de activos venezuelanos em território norte-americano. Num texto publicado esta quarta-feira no portal almayadeen.net, o jornalista Omar Rafael García Lazo destaca que «o conflito militar induzido russo-ucraniano e a guerra económica lançada pelos Estados Unidos e seus aliados contra a Rússia, em conjunto com as consequências económicas geradas pela pandemia de Covid-19, provocou uma crise global com resultados imprevisíveis». Em seu entender, «Washington empenhou-se em evitar por todos os meios a criação de um bloco económico euro-asiático que significasse a "desconexão" entre a Europa e os Estados Unidos, a obsolescência da NATO e o fim da hegemonia norte-americana». A aplicação de sanções ou medidas coercivas unilaterais foi questionada nas Nações Unidas, num contexto em que no Ocidente aumentam as ameaças de imposição dessas medidas, nomeadamente contra a Rússia. Com o pretexto da alegada intenção da Rússia de invadir a Ucrânia, os Estados Unidos e os seus aliados têm reiterado a ameaça de sanções contra o governo russo – de que são exemplo, em Portugal, as declarações de Augusto Santos Silva à imprensa. Enquanto os países da NATO mobilizam tropas e armamento para junto das fronteiras russas, o país euro-asiático defende o seu direito a realizar manobras e mover as suas tropas no seu território nacional como bem entender. Neste contexto, teve ontem lugar uma reunião no Conselho de Segurança das Nações Unidas para abordar os efeitos negativos das medidas coercivas unilaterais, nomeadamente a nível humanitário. Os representantes da Rússia e da China rejeitaram a aplicação destes mecanismos de coerção, que acabam por afectar o desenvolvimento dos povos. Ambos os países, membros permanentes do Conselho de Segurança, alertaram para as consequências humanitárias das sanções, refere a agência Prensa Latina. EUA e UE decretaram novas sanções contra Moscovo no âmbito do «caso Navalny», depois de o blogger da oposição ter sido condenado por fraude empresarial. As autoridades russas afirmaram que irão responder. A União Europeia (UE) impôs novas sanções a quatro cidadãos russos, altos funcionários relacionados com o encarceramento de Alexei Navalny. Trata-se do procurador-geral Igor Krasnov, do chefe da Comissão de Investigação Russa, Alexander Bastrykin, do chefe do Serviço Penitenciário Federal, Alexander Kalashnikov, e do director da Guarda Nacional, Viktor Zolotov, que, refere a agência TASS, ficam proibidos de entrar no espaço da UE e ter fundos nos bancos dos países-membros do bloco. Estas sanções foram decretadas no âmbito de um mecanismo da UE que visa «violações e abusos graves dos direitos humanos», segundo o Diário Oficial da União Europeia, que publicou a medida. Pouco depois, informa a RT, os EUA anunciaram a imposição de um conjunto de sanções individuais, bem como restrições comerciais e de vistos contra a Rússia, relacionadas com o «caso Navalny». Estas medidas, que surgem como resposta ao alegado envenenamento e ao encarceramento do blogger da oposição, dirigem-se contra sete funcionários governamentais russos e contra 14 entidades presumivelmente envolvidas na produção de agentes biológicos, segundo a administração de Joe Biden. De acordo com um fonte norte-americana referida pela RT, as medidas desta terça-feira, articuladas com Bruxelas, serão as primeiras de várias da Casa Branca para responder a uma série de alegadas «acções desestabilizadoras» de Moscovo. Moscovo já prometeu responder às medidas impostas pela UE e os EUA, com o ministro dos Negócios Estrangeiros, Sergei Lavrov, a sublinhar que a «reciprocidade será a chave da resposta». Por seu lado, o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros, Alexander Grushko, destacou que a decisão da UE não é uma surpresa para a Rússia e criticou estas acções como um caminho sem saída, que mina as relações bilaterais e é contrário aos interesses dos países europeus, indica a TASS. Konstantin Kosachov, presidente do Comité de Assuntos Internacionais do Conselho da Federação Russa, qualificou a decisão da UE e dos EUA como «manipulação clássica», frisando que o Ocidente utiliza a situação de Navalny como «pretexto para difamar as autoridades russas». Na mesma linha, o presidente do Comité de Relações Internacionais da Duma Estatal da Rússia, Leonid Slutski, classificou a decisão de Bruxelas como «absolutamente ilegal, além de inútil», advertindo que dará «outro golpe na cooperação» entre Rússia e UE. Slutski destacou que Moscovo «irá responder, sem dúvida, de forma adequada a todos os ataques de sanções», refere a RT. O Ocidente tem usado reiteradamente a figura do blogger pró-ocidental Alexei Navalny para atacar a Rússia. [Ver vídeo] A figura da oposição regressou ao seu país em 17 de Janeiro, depois de ter estado na Alemanha a receber tratamento hospitalar, alegadamente, por causa de um envenenamento pelo qual, acusa o Ocidente, os russos foram responsáveis. Navalny foi detido num aeroporto de Moscovo por ter violado os termos de uma pena suspensa a que fora condenado em 2014, por lavagem de dinheiro. No dia 2 de Fevereiro, um tribunal de Moscovo condenou-o a uma pena efectiva de três anos e meio de cadeia, que, após recurso e desconto do tempo passado em prisão domiciliária, foi reduzida para cerca de dois anos e meio. Ainda em Fevereiro e tendo em conta a agitação movida pelos países ocidentais – com os mass media a toda a carga –, o Ministério russo dos Negócios Estrangeiros classificou como «categoricamente inaceitáveis» as «exigências ilegais e absurdas» de libertar Navalny. Acrescentou que o blogger da oposição foi condenado «por crimes económicos por um tribunal russo em território da Rússia em conformidade com a legislação» do país, informa a RT. «Na prática internacional isto chama-se interferência nos assuntos internos de um Estado soberano», frisou. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença. O vice-representante permanente da Rússia junto das Nações Unidas, Dmitry Polyanskiy, denunciou o modo como as medidas unilaterais dificultam a manutenção da paz e são uma ingerência na soberania dos estados. É o que ocorre, por exemplo, em países como Síria, Bielorrússia, Cuba, Venezuela, Irão, Afeganistão e Mali, que vivem grandes dificuldades por causa das sanções, referiu. Em seu entender, apenas as sanções decretadas pelo Conselho de Segurança são legais, constituindo uma ferramenta importante que permite reagir a certas ameaças. Por seu lado, o embaixador chinês, Zhang Jun, afirmou que as sanções unilaterais são uma fonte de grande preocupação e exacerbam as «posições de força». Neste sentido, defendeu o levantamento dessas medidas coercivas, tendo referido como na República Popular Democrática da Coreia as sanções têm graves consequências humanitárias para a população civil. Enquanto Moscovo e Pequim advogaram o alívio destes mecanismos de pressão, a representação norte-americana negou tal custo humanitário, reafirmando o seu apoio à imposição de sanções. O director do Hospital Nacional de as-Suqaylabiyah (Hama) destaca, numa entrevista, os efeitos nefastos das sanções impostas pelas potências ocidentais – que se sentem bem na unidade hospitalar que dirige. A entrevista, concedida à jornalista e escritora britânica Vanessa Beeley foi publicada no passado dia 20 no portal thewallwillfall.org – no qual Beeley tem vindo a divulgar uma série de reportagens sobre a guerra de agressão à Síria. Issam Hawsheh é director do Hospital Nacional de as-Suqaylabiyah, localizado no Norte da província de Hama, junto à planície do Ghab, e que serve uma população de 300 mil pessoas, entre Masyaf, a sul, e Jisr as-Shughur, a norte (já na província de Idlib). A cidade de as-Suqaylabiyah fica precisamente junto à fronteira da província de Idlib e muito perto de áreas controladas por grupos terroristas, pelo que a sua população é alvo de ataques quase diários por parte desses grupos, que lançam mísseis e morteiros «fabricados no Ocidente, pagos com o dinheiro dos estados do Golfo e fornecidos pela Turquia», diz Beeley na introdução à entrevista. A anteceder as declarações do director hospitalar, Beeley lembra ainda que os civis desta cidade têm sido alvo de bandos extremistas, que crianças foram assassinadas quando brincavam nas ruas, nas escolas e mesmo quando procuravam refúgio no mosteiro da cidade. «Nenhum local é seguro», alerta. Durante cerca de dez minutos, Issam Hawsheh fala – em árabe, com legendas em inglês – sobre o impacto das sanções impostas à Síria no sector da Saúde e, em particular, na unidade hospitalar que dirige. Num hospital com capacidade para 200 camas, só 120 estão disponíveis – devido às sanções. Algum equipamento hospitalar – incluindo máquinas de diálise, máquinas de suporte de vida na unidade de emergências – também deixou de deixou de funcionar, devido às sanções, uma vez que foi importado da Europa, as peças são europeias e a manutenção era feita por empresas europeias. Issam Hawsheh destacou também as grandes perdas ao nível do pessoal médico, que se devem aos ataques terroristas lançados sobre o hospital diariamente. Além disso, alguns funcionários, que tinham as suas casas ou as das suas famílias em áreas controladas pelos terroristas, sofreram diversos tipos de ameaças e coacções, para que não continuassem a trabalhar para o Estado sírio. Ao ser questionado sobre a «propaganda dos órgãos de comunicação ocidental», que diz que o governo sírio bombardeia hospitais em Idlib, Hawsheh sublinhou que «os cidadãos em Idlib são cidadãos sírios que estão a ser mantidos como reféns por grupos armados». «Se pudessem escolher, nenhum deles ficaria mais um minuto em áreas controladas pelos terroristas», acrescentou, frisando que «é impossível que o governo bombardeasse infra-estruturas depois de trabalhar 40 anos na sua construção, incluindo hospitais e escolas». Questionado sobre o modo como a imprensa ocidental se referiu aos terroristas que assassinaram crianças ali, recentemente, o director hospitalar afirmou que, «se uma pedra a abrigar um terrorista fosse atingida, o mundo ficaria escandalizado». Outro critério parecem ter sobre «as crianças que são privadas de educação todos os dias, de cuidados de saúde, que não podem ir para os parques por causa dos mísseis fabricados na Europa – na França, nos EUA, na Turquia e noutros países que reivindicam os princípios humanitários e valores democráticos», denunciou. Sobre os Capacetes Brancos, afirmou que se trata de uma «organização falsa» criada pelos serviços secretos britânicos, «actores que aderiram à ideologia terrorista, que influenciam os media ocidentais, enganam as pessoas no Ocidente, fazendo aumentar a pressão sobre o governo sírio». «Não são uma organização humanitária, uma organização que significa "cuidados médicos" e humanidade, de forma alguma», sublinhou. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença. Por seu lado, o coordenador das Nações Unidas para Assuntos Humanitários, Martin Griffiths, sublinhou que as sanções afectam directa ou indirectamente muitas operações de ajuda do organismo internacional. A ONU defende que as medidas de pressão aprovadas pelo Conselho de Segurança são «mais selectivas», sendo concebidas para «limitar consequências não desejadas». Actualmente, estão vigentes 14 tipos de sanções com o apoio do Conselho. Apesar dos apelos da ONU e de países-membros no sentido de se pôr fim às medidas coercivas unilaterais, sobretudo desde o início da pandemia de Covid-19, os EUA têm mantido a sua política de acosso e coerção contra estados soberanos como Cuba e Venezuela. Recentemente, informa a Prensa Latina, o representante permanente de Cuba junto das Nações Unidas, Pedro Luis Pedroso, refutou o bloqueio ilegal que os EUA impõem à Ilha, a 60 anos da oficialização – 3 de Fevereiro de 1962. Realiza-se esta segunda-feira, às 18h, junto à Embaixada de Cuba em Portugal, um acto público de solidariedade com o país caribenho e o seu povo, para reafirmar a exigência do fim do bloqueio. Sob o lema «Fim ao bloqueio dos EUA! Cuba vencerá!», a iniciativa tem lugar na Rua Pero da Covilhã, em Lisboa, e visa também reclamar às autoridades portuguesas «uma acção determinada» em prol da soberania e do direito do povo cubano ao desenvolvimento. Deste modo, as organizações promotoras e todos aqueles que se associarem ao evento irão demonstrar mais uma vez que «Cuba e o seu povo não estão sós» – destaca o Conselho Português para a Paz e Cooperação (CPPC) na nota de divulgação do acto solidário. «O bloqueio económico, comercial e financeiro imposto a Cuba pelos Estados Unidos da América é criminoso, ilegal e ilegítimo», sublinha o texto, lembrando que o cerco, imposto há mais de 60 anos e por diversas vezes agravado, «procura atingir directamente as condições de vida do povo cubano e direitos tão fundamentais como a saúde, a alimentação ou o desenvolvimento». Só entre Abril e Dezembro do ano passado – precisa a nota publicada na página de Facebook do CPPC –, o bloqueio provocou prejuízos superiores a 3,5 mil milhões de dólares à economia cubana, tendo ainda, no contexto da pandemia, dificultado o acesso do povo cubano a medicamentos e equipamentos médicos. António Filipe, um dos vice-presidentes da Assembleia da República, condenou o bloqueio económico, comercial e financeiro dos EUA contra Cuba, que tem sido intensificado apesar da Covid-19. Numa entrevista concedida ao jornalista Frank González, da Prensa Latina, António Filipe disse que, num momento em que «todos deviam estar unidos no combate à pandemia», Washington intensificou as medidas coercivas unilaterais contra a Ilha e «prejudicou muito gravemente o esforço comum que é preciso realizar sobre este assunto». O jurista e professor universitário de 58 anos, deputado eleito pelo Partido Comunista Português (PCP) desde 1989, enalteceu a ajuda internacional prestada pelo país caribenho durante a emergência sanitária, algo que, disse, não só mostrou ao mundo a medicina cubana, mas também o trabalho solidário de Cuba para com muitos países. «Ao nível dos profissionais da saúde, vimos que há situações de calamidade em países que necessitam de apoio médico e Cuba está na primeira linha, não apenas em países subdesenvolvidos, mas também em países europeus, como é o caso de Itália», referiu. «O esforço de Cuba para combater a pandemia de Covid-19 com o desenvolvimento de vacinas próprias deve ser valorizado e não ser condenado ao ostracismo», disse António Filipe ao referir-se ao recrudescimento do acosso ao país antilhano por parte dos últimos governos norte-americanos. «O esforço de Cuba para combater a pandemia de Covid-19 com o desenvolvimento de vacinas próprias deve ser valorizado e não ser condenado ao ostracismo» Na conversa que manteve com a agência cubana na Assembleia da República, o deputado, que preside ao Grupo Parlamentar de Amizade Portugal-Cuba, afirmou que a agressividade do imperialismo com todos os países não alinhados com o seu domínio é imensa, e reclamou da União Europeia (UE) uma maior desvinculação relativamente à política dos Estados Unidos. Recordou que os países-membros da UE votam contra o bloqueio na Assembleia Geral das Nações Unidas e que empresas europeias mantêm relações económicas e comerciais com Cuba. No entanto, insistiu, a UE deve ter uma maior autonomia política relativamente aos interesses norte-americanos na América Latina, o que favoreceria «um melhor desenvolvimento das relações de amizade e cooperação» com essa região. No que respeita aos laços entre Portugal e Cuba, disse que o país europeu manteve uma política de abertura e cooperação em relação à Ilha, à margem de divergências políticas, e destacou como «um passo importante» a visita realizada a Havana pelo Presidente da República em 2017. «É sempre um grande prazer poder falar para Cuba e dizer-lhe que não está sozinha aqui, em Portugal» Sublinhou, além disso, o bom estado das relações entre os parlamentos dos dois países, o que reflecte a relação de amizade existente entre os diferentes partidos políticos portugueses e Cuba, não apenas do PCP, apesar da diversidade de opiniões sobre o país caribenho e a sua vida política. António Filipe enviou «um forte abraço de solidariedade e amizade para Cuba», que, no meio de «um cruel bloqueio», continua a ser uma grande referência para os progressistas de todo o planeta, que aspiram a um mundo mais justo e fraterno. «É sempre um grande prazer poder falar para Cuba e dizer-lhe que não está sozinha aqui, em Portugal, onde tem amigos que farão todo o possível para continuar a lutar contra o bloqueio imposto pelos Estados Unidos», frisou. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença. O bloqueio, denunciam as organizações promotoras, é um instrumento que os EUA utilizam na sua política de imposição de uma "mudança de regime" em Cuba». Essa política, «ilegal à luz do direito internacional», passa igualmente pela sistemática ingerência e campanha de desinformação, por tentativas de desestabilização, de impedir a acção das brigadas médicas internacionais cubanas ou de limitar a solidariedade internacional a Cuba, explica a nota. «O bloqueio é uma forma particularmente cruel de agressão a que urge pôr cobro», defendem os promotores da iniciativa solidária que amanhã se realiza em Lisboa. Nesse sentido, lembram que essa «justa exigência» tem vindo a ser afirmada há três décadas pela grande maioria dos países em sucessivas votações na Assembleia Geral das Nações Unidas. Na mais recente, este ano, 184 países votaram a favor do levantamento do bloqueio, EUA e Israel votaram contra e apenas três países se abstiveram. «Cuba, sempre solidária, necessita da nossa solidariedade», afirmam os promotores, que, por isso, clamam: «Não faltaremos!» Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença. Na sua conta de Twitter, o embaixador partilhou um link para um conjunto de documentos desclassificados do Arquivo de Segurança Nacional dos Estados Unidos, que registam as origens, a justificação e a evolução inicial das sanções punitivas de Washington contra Cuba após o triunfo da Revolução. Os arquivos mostram que, no início, a pressão económica visava criar «dificuldades» e «desencanto» entre a população cubana, criar dificuldades económicas, provocar fome, desespero e levar ao derrube do governo. No entanto, um estudo da Agência Central de Inteligência (CIA) sobre o bloqueio, escrito 20 anos depois da sua imposição, concluiu que as sanções «não tinham cumprido nenhum dos seus objectivos». Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença. Para García Lazo, «depois de conseguir o objectivo de que as armas entrassem em cena, Washington procura não perder tempo na consolidação do cerco económico a Moscovo» e, nesse sentido, começou a mover-se na América Latina, região onde a sua influência decresce e a presença da China e da Rússia são cada mais sensíveis. Por isso, entende que a visita de uma delegação de alto nível a Caracas visa avaliar até que ponto os interesses norte-americanos e da Venezuela se cruzam no actual contexto – descartando Guaidó e reconhecendo a legitimidade do governo legítimo. Tanto o artigo de García Lazo como algumas notícias da imprensa referem o «prosaísmo» das movimentações de Washington. A produção petrolífera nos Estados Unidos não chega para a procura interna e a proibição da importação de petróleo da Rússia, associada à vaga de sanções, tem impacto nos preços da gasolina e de outros bens. Ainda antes de o preço da gasolina atingir os 4,17 dólares por galão (3,7 litros), a administração de Biden não hesitou em abordar outros quadrantes, inclusive inimigos multi-sancionados como a Venezuela e o Irão, para assegurar a «segurança energética». Para Novembro, estão previstas eleições legislativas e, de acordo com a imprensa norte-americana, os republicanos, que fizeram pressão no sentido de vetar a compra de petróleo à Rússia, culpam agora Biden pela subida dos preços, procurando tirar dividendos eleitorais. O Departamento de Justiça dos EUA anunciou esta quinta-feira que Washington vendeu mais de um milhão de barris de petróleo refinado, retirado de quatro navios em alto mar que se dirigiam para a Venezuela. Ao ser confrontado com uma ordem decretada por um tribunal do Distrito de Colúmbia, «o proprietário dos navios transferiu o petróleo para o governo e agora podemos anunciar que os Estados Unidos venderam e entregaram esse petróleo», disse o subsecretário da Justiça, John Demers, em comunicado de imprensa. Com o pretexto de que o dinheiro da venda do petróleo do Irão a Caracas se destinava aos Guardiães da Revolução Islâmica – considerada uma «organização terrorista» pelos EUA –, a administração de Donald Trump congratulou-se com a apreensão dos fundos e afirma estar a «expandir a sua caixa de ferramentas para combater o mau comportamento do Irão». A Venezuela tem enfrentado problemas de abastecimento de gasolina, em virtude das medidas coercivas unilaterais impostas pelos Estados Unidos, que afectam a sua indústria petrolífera. Neste contexto, o governo de Nicolás Maduro chegou a um acordo com o Irão com vista à compra de combustível – apesar das sanções a que ambos os países estão sujeitos e das ameaças reiteradas, por parte dos EUA, de deter o avanço dos barcos iranianos com destino ao país sul-americano. A 23 de Maio deste ano, chegou a águas territoriais venezuelanas o primeiro dos petroleiros provenientes do Irão. «É tempo de solidariedade», disse então o ministro da Defesa, Vladimir Padrino. Quase três meses mais tarde, a 14 de Agosto, o Departamento de Justiça norte-americano informou que Washington tinha conseguido «a maior apreensão de carregamentos de combustível do Irão», 1116 milhões de barris de petróleo no total, que a Venezuela já tinha pago. Na quarta-feira passada, Nicolás Maduro referiu-se à acção norte-americana como um «golpe duro» para o seu país. Os «EUA empenharam-se em perseguir a gasolina que estávamos a importar. Inclusive roubaram-nos três milhões de barris [de petróleo] em Agosto», disse o chefe de Estado, citado pela RT. De acordo com as estimativas do governo venezuelano, o país caribenho tem reservas de gasolina para 20 dias, eventualmente 30, uma vez que está a produzir 30% acima daquilo que consome e também graças à importação de crude de diversas regiões. Esta terça-feira, as instalações da principal refinaria do país, Amuay (localizadas no estado de Falcón), foram atacadas por um míssil, que, segundo as investigações do governo, foi «lançado por um drone ou a partir de uma embarcação». A refinaria encontrava-se em fase de «manutenção preventiva», estando previsto o arranque da sua operação para os próximos dias, de modo a reforçar a produção de gasolina na Venezuela. O ministro do Petróleo, Tareck El Aissami, afirmou tratar-se de uma «acto terrorista deliberado, devidamente planeado», que visou «provocar danos em objectivos estratégicos». Por seu lado, Nicolás Maduro acusou o governo colombiano e os serviços secretos norte-americanos de estarem por trás do ataque. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença. O presidente norte-americano tenta passar as culpas do aumento dos preços para Putin, procurando obviar as responsabilidades fundamentais do seu país e da NATO no actual cenário mundial – não apenas na Europa de Leste. A Rússia e a «ameaça russa» vão sendo as «culpadas» da inflação, do que se passa nos bolsos do povo norte-americano, para tentar evitar um descalabro nas eleições. Prosaicamente, negoceia-se com Nicolás Maduro a segurança energética e põe-se de lado o golpismo anunciado aos microfones. Maduro sabe que muito se joga no actual contexto mundial, e tem alertado para os riscos da guerra e da instabilidade crescente, que «asfixia países e regiões». Além disso, por experiência bem vincada, o povo venezuelano sabe que no imperialismo não se confia nada. Ainda assim, e sem que se vislumbre qualquer ruptura com os seus aliados, a Venezuela já se dispôs a vender petróleo aos EUA – algo de que o país sul-americano muito necessita – e tem tudo a ganhar nas negociações futuras, para recuperar dos danos da estratégia golpista concebida por Washington e melhorar a qualidade de vida do seu povo. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença. Corina Machado foi inabilatada para o exercício de cargos públicos por 15 anos, com base em irregularidades alegadamente cometidas quando era deputada, refere a agência AFP. Corina Machado pertence ao Vente Venezuela e é considerada, mesmo entre os meios da oposição, um membro da «ala radical». Recorde-se que, em 2019, defendeu abertamente a política de máxima pressão contra a Venezuela proposta por Donald Trump, os falcões de Washington e gusanos de Miami. Em Junho de 2020, Corina Machado defendeu inclusive a legitimidade da «obrigação de intervir e o Direito a Proteger (R2P)», ou seja, a intervenção militar norte-americana no seu país e o fim da «usurpação» – forma como os da direita caprilesca e afins se referiam ao governo legítimo da Venezuela – pela força, lembra o portal Misión Verdad. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.Internacional|
Governo da Venezuela rejeita a ingerência da UE
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Eleições e pressões internas nos EUA
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O governo de Caracas apelou à união e mobilização do povo venezuelano em defesa da «soberania nacional» e à solidariedade internacional, «para repudiar esta arremetida intervencionista de apoio a sectores da oligarquia […] ligados a apelos passados à imposição de sanções ilegais».
«A Venezuela não cederá perante nenhuma chantagem. As suas instituições continuarão a cumprir as leis e a Constituição nacional, de acordo com o mandato recebido do povo», afirma o texto.
EUA a defenderem os seus aliados da direita extrema na Venezuela
A resposta de Caracas segue-se ao anúncio do Departamento do Tesouro norte-americano de que iria alterar a licença 43, de 18 de Outubro de 2023, que autorizava a empresa mineira venezuelana a realizar transacções da produção e comercialização de ouro.
Por via desta alteração, os Estados Unidos «voltam a impor as sanções ao sector do ouro da Venezuela» e proíbem as operações da Compañía General de Minería, que haviam sido autorizadas através da licença 43.
William Castillo, vice-ministro venezuelano da Economia e Finanças, explicou que se trata da resposta de Washington à confirmação, pelo Supremo Tribunal de Justiça (STJ), da inabilitação de María Corina Machado, o que, em seu entender, «prova sem dúvida alguma» que «é a mulher de Washington e que a pretendem impor à ponta de sanções».
O Parlamento Europeu (PE) atribuiu esta quinta-feira o Prémio Sakharov à chamada «oposição democrática na Venezuela», valorizando a sua «luta pela liberdade», mas sem mencionar a campanha de violência que promoveu contra pessoas e bens, com um saldo de mais de cem mortos e danos de valor incalculável. A decisão foi tomada esta manhã pela Conferência de Presidentes do PE – em que participam o presidente da instituição e os líderes dos vários grupos políticos –, tendo a proposta de atribuição à oposição venezuelana do Prémio Sakharov para a Liberdade de Pensamento partido dos grupos do Partido Popular Europeu (PPE) e Liberal (ALDE). O «prémio irá contribuir para a restauração da liberdade, da democracia, da paz, dos direitos humanos e do primado da lei na Venezuela», afirmou José Ignacio Salafranca, membro do Partido Popular espanhol e representante do PPE, que assim deu eco aos lamentos habituais da extrema-direita venezuelana e replicou um discurso de ingerência que se podia ouvir em Madrid, Bruxelas, Washington ou Miami. Na apresentação da decisão, Antonio Tajani, presidente do PE, não foi original, afirmando que «a ditadura de Maduro roubou os cidadãos venezuelanos dos seus direitos fundamentais, tornando-se numa espiral de crises: económica, social, institucional e humanitária». Tajani, figura conhecida pela hostilidade para com a Revolução Bolivariana, referia-se a um país que, desde o processo de transformação social, tem uma das mais elevadas taxas de escolarização e de educação universitária, e é um dos que mais investem em políticas sociais, nomeadamente ao nível da Saúde e da Habitação (1,8 milhões de casas foram entregues a famílias no âmbito do programa Gran Misión Vivienda). Em Maio deste ano, o discurso de boas-vindas que proferiu na abertura da sessão solene da Assembleia Parlamentar Euro-Latino-Americana (EuroLat), em Florença, mereceu uma «Resposta à Agressão do Presidente do Parlamento Europeu, Sr. Antonio Tajani, à República Bolivariana da Venezuela». No texto, subscrito por deputados da Esquerda Unitária Europeia/Esquerda Nórdica Verde e por deputados da Venezuela, Cuba, Bolívia, Nicarágua, Uruguai, Argentina e Honduras que integram a EuroLat, afirmava-se que Tajani «ofendera e agredira uma vez mais o governo e o povo venezuelano, com um discurso intervencionista e colonialista», acusando-o de seguir «o mesmo guião promovido pelo imperialismo que, aliado à direita internacional, gera uma escalada de violência na Venezuela destinada a justificar uma intervenção estrangeira e o derrube do governo democraticamente eleito do presidente Nicolás Maduro». Ao solicitar a abertura de corredores humanitários «para levar ajuda à população» e apelar a um processo de «transição democrática na Venezuela», o discurso de Tajani sobre a atribuição do Prémio Sakharov 2017 à chamada «oposição democrática venezuelana» fez lembrar os de outras figuras políticas, do espectro europeu e americano, que abertamente se imiscuem nos assuntos da Venezuela e obviam o facto de neste país se terem realizado 22 actos eleitorais nos últimos 18 anos, sendo que os mais recentes – eleição da Assembleia Nacional Constituinte e dos governadores dos estados – constituíram uma legitimação popular importante do chavismo, com ou sem a participação da oposição. A atribuição do prémio ocorre num momento em que se notam fissuras no seio da chamada Mesa da Unidade Democrática (MUD), com algumas das suas principais figuras a acatarem a derrota nas eleições regionais e a expressarem a vontade de diálogo com o governo de Nicolás Maduro. Outras rejeitam-no e já anunciaram a saída da MUD, como Henrique Capriles. Com um valor de 50 mil euros, o prémio será entregue na sessão plenária de Dezembro. Na lista de visados pela «liberdade do pensamento» encontram-se Julio Borges, que tem corrido mundo a denegrir o seu país e é acusado pelo governo de Maduro de ter apoiado as sanções norte-americanas contra a Venezuela, como demonstram documentos dos seus assessores, de Agosto deste ano, em que se recomenda o bloqueio à petrolífera estatal venezuelana. Leopoldo López, condenado a quase 14 anos de cadeia por incitamento à violência nos protestos contra Maduro que, em 2014, causaram mais de 40 vítimas mortais, e Antonio Ledezma, detido em Fevereiro de 2015, acusado de conspiração e de associação criminosa, são outros dois «presos políticos» destacados na lista de premiados pelo PE. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.Internacional|
Intervencionismo na Venezuela mais à vista com Prémio Sakharov
Ingerência nos assuntos internos da Venezuela
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Recorde-se que Corina Machado foi inabilatada para o exercício de cargos públicos por 15 anos, com base em irregularidades alegadamente cometidas quando era deputada – levando Josep Borrell, alto representante para os Assuntos Externos e a Política de Segurança da União Europeia, a armar-se de imediato em seu paladino defensor.
Corina Machado é considerada, mesmo entre os meios da oposição, um membro da «ala radical». Recorde-se que, em 2019, defendeu abertamente a política de máxima pressão contra a Venezuela proposta por Donald Trump, os falcões de Washington e gusanos de Miami.
Em Junho de 2020, Corina Machado defendeu inclusive a legitimidade da «obrigação de intervir e o Direito a Proteger (R2P)», ou seja, a intervenção militar norte-americana no seu país e o fim da «usurpação» – forma como os da direita caprilesca e afins se referiam ao governo legítimo da Venezuela – pela força, lembra o portal Misión Verdad.
Matthew Miller a defender «democracia americana» na Venezuela e Rodríguez a dizer «não» ao ultimato
Matthew Miller, porta-voz do Departamento de Estado norte-americano, também veio ao terreiro do Twitter (X) bater-se pela «democracia» na Venezuela, confirmar a re-imposição das sanções ao ouro venezuelano e ameaçar com mais medidas de coerção caso Caracas insista em não aceitar os parâmetros da «democracia» gringa, ou seja, em não aceitar os candidatos da extrema-direita amigos de Washington.
A 23 de Janeiro, o país assistiu ao espectáculo surreal do líder da oposição Juan Guaidó a autoproclamar-se «presidente interino»; mais de quatro meses depois, o golpe arrasta-se, necessitando de todo o apoio dos seus patrocinadores para manter-se relevante. Um dos elementos constantes durante os 20 anos da Revolução Bolivariana tem sido a permanente hostilidade por parte do imperialismo norte-americano e das elites venezuelanas, que regularmente transborda em tentativas violentas e inconstitucionais de derrubar o governo eleito. A 23 de Janeiro o país assistiu ao espectáculo surreal do líder da oposição Juan Guaidó a autoproclamar-se «presidente interino», recebendo o apoio imediato de Washington e dos seus aliados. A administração Trump e os grandes meios de comunicação social vaticinavam o fim do governo de Maduro e o regresso da «democracia», já que os EUA também se autoproclamaram guardiães da «liberdade» e da «democracia» em todo o mundo. No entanto, mais de quatro meses depois, o golpe arrasta-se, necessitando de todo o apoio dos seus patrocinadores para manter-se relevante. Neste artigo percorremos alguns dos episódios recentes, examinamos de onde vem Guaidó e os efeitos devastadores das sanções, bem como as razões pelas quais o golpe não teve sucesso. Provavelmente a pergunta correcta seria «porquê Juan Guaidó?». Os grandes meios de comunicação relatam em uníssono que Guaidó «foi eleito» presidente da Assembleia Nacional1. Tecnicamente, é verdade, mas Guaidó não foi «eleito» porque os demais deputados pensavam que ele era a pessoa indicada para liderar a agenda da oposição. Simplesmente, era a sua vez. Quando a coligação opositora (MUD) obteve maioria parlamentar nas eleições de Dezembro de 2015, revelando a eterna desconfiança que reina nas suas fileiras, decidiu rodar a presidência da Assembleia Nacional entre os seus principais partidos. No primeiro ano foi Ramos Allup (Acción Democrática), no ano seguinte Julio Borges (Primero Justicia), em seguida Manuel Barboza (Un Nuevo Tiempo) e a seguir era a vez da Voluntad Popular. Com Leopoldo López em prisão domiciliária pela sua responsabilidade nos protestos violentos de 2014 e Freddy Guevara refugiado na Embaixada do Chile para não responder pelas suas responsabilidades nos protestos violentos de 2017, Juan Guaidó era o que se seguia na cadeia de comando. O «verniz» de unidade que a oposição aparentou no momento da auto-proclamação de Guaidó não convenceu ninguém que tenha acompanhado a política venezuelana nos últimos tempos. E com razão. Rapidamente apareceram notícias, em jornais e agências ocidentais como Associated Press ou The Washington Post, revelando que a decisão de autoproclamar-se reunia consenso em Washington D.C., mas não tanto no seio da oposição. Henrique Capriles, um dos principais líderes opositores, duas vezes derrotado em eleições presidenciais, admitiu numa entrevista que ele e os outros principais líderes da oposição não faziam ideia de que Guaidó ia dar um passo tão irreversível e sem precedentes a 23 de Janeiro. O clima nestes dias entre os meios de comunicação, líderes norte-americanos e a base dura de apoio da oposição era de euforia, como se estivesse por fim à vista a queda do «regime» (termo reservado para governos pouco inclinados a receber ordens do Departamento de Estado). No entanto, a vitória cantada não chegou. O chavismo cerrou fileiras e muito rapidamente as mobilizações opositoras tinham as suas rivais encarnadas. Diosdado Cabello, talvez a figura mais importante do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), percorreu o país de lés a lés, liderando manifestações contra o golpe quase todos os dias. Independentemente de tudo o resto, o PSUV continua a ser uma máquina com uma capacidade de mobilização tremenda. Neutralizada qualquer potencial vantagem nas ruas, ficou a nu que o golpe estava preso por um único elemento: as forças armadas. E isto é por demais evidente em todos os discursos de Guaidó, bem como nos de figuras como John Bolton e Marco Rubio. Apesar de todas as referências à «liberdade» e «democracia», o tema central era sempre o mesmo: um apelo a que as forças armadas dessem um golpe e colocassem Guaidó em Miraflores. Os principais oficiais e, em particular, o ministro da defesa, Vladimir Padrino, foram pouco convencidos pelos apelos e menos ainda pelas ameaças. A incapacidade de ganhar o mínimo terreno nas forças armadas forçou Guaidó e a oposição, perdendo credibilidade num ápice devido às suas promessas irrealistas, a tentar gerar cenários de confronto com potencial para gerar caos, mortes, que lhes pudessem dar a iniciativa ou provocar uma ruptura no Exército. A primeira tentativa foi um triste espectáculo na fronteira entre a Venezuela e a Colômbia a 23 de Fevereiro. A oposição tentou forçar uma mísera «ajuda humanitária» recolhida às três pancadas pela agência americana USAID através da fronteira, para com isso tentar gerar uma ruptura nas forças armadas. O circo, na ponte Simón Bolívar e nos meios de comunicação, fracassou rotundamente, com apenas um pequeno grupo de soldados a saltar para o outro lado da barricada. O episódio marcante foi o incêndio de um dos camiões de «ajuda», pelo qual todos os meios de comunicação se apressaram a culpar o governo venezuelano. No entanto, semanas mais tarde o New York Times revelou imagens que provavam que tinha sido efectivamente um cocktail Molotov opositor a pegar fogo ao camião. Enquanto a (falsa) alegação inicial do «ditador» que queimava ajuda humanitária teve direito a manchetes, a verdade teve, na melhor das hipóteses, direito a uma nota de rodapé. O ar do balão opositor começou a esvaziar-se ainda mais rapidamente depois deste episódio. O mês de Março foi marcado por graves problemas na rede eléctrica, alegadamente provocados por actos de sabotagem, física e cibernética, até que Guaidó anunciou a ambígua «Operação Liberdade». Sempre parca em detalhes, a operação consistia em «organizar cada canto do país», e de repente já se estava na segunda fase da operação sem que ninguém se tivesse apercebido da primeira. Perdendo apoio e credibilidade com o passar do tempo, Guaidó tentou um audaz golpe militar a 30 de Abril. Flanqueado por Leopoldo López, escapado da prisão domiciliária, e meia dúzia de soldados, Guaidó apelou a uma rebelião militar e a que os seus apoiantes viessem para a base aérea La Carlota. No entanto, na mensagem do autoproclamado «presidente interino» faltou um pequeno detalhe. Guaidó, López e os militares não estavam realmente na base, senão no viaduto Altamira, ao lado da base. «Quatro meses depois da surreal autoproclamação, Guaidó está cinco milímetros mais próximo da presidência do que quando começou.» Este detalhe daria o mote para a farsa que se seguiu. Os apelos de Guaidó não convenceram ninguém, e boa parte dos militares que estavam no viaduto de madrugada abandonaram o local ao descobrir que tinham sido enganados e arrastados para uma tentativa de golpe de Estado. Leopoldo López percebeu como ia terminar a partida e fugiu para uma embaixada, enquanto Guaidó tentou liderar uma marcha a partir do Leste de Caracas (base de apoio da oposição) para o Oeste (zona maioritariamente chavista, onde se encontram edifícios governamentais), mas não conseguiu passar de Chacaíto, zona de classe média, a mais de dez quilómetros do Palácio de Miraflores. Os milhares de apoiantes opositores que saíram às ruas quando ouviram que tinha chegado o «fim do regime» regressaram a casa mais frustrados que nunca, enquanto Guaidó tentava pintar uma tentativa de golpe militar como um dia de trabalho com qualquer outro. As autoridades venezuelanas decidiram que não haveria impunidade, avançando com processos contra uma série de deputados opositores que teriam estado envolvidos na aventura. Guaidó já perdeu a sua imunidade parlamentar, mas o governo até agora tem tido cuidado. Uma figura desgastada como o líder opositor poderia ganhar um segundo fôlego como «vítima», e os EUA, do alto da sua arrogância imperial, ameaçaram com consequências caso as autoridades judiciais caíssem no erro de tentar aplicar a lei. Quatro meses depois da surreal autoproclamação, Guaidó está cinco milímetros mais próximo da presidência do que quando começou. Recentemente, foi anunciada uma nova iniciativa de diálogo entre governo e oposição, mediada pela Noruega, o que pode significar que os demais partidos da oposição se preparam para descartar Guaidó antes que esta quimera os aniquile completamente do mapa político. Em paralelo com o fracasso da autoproclamação e tudo o que se seguiu, os EUA apostaram a dobrar na sua arma principal: sanções. Apesar de a comunicação social ignorar as sanções ou as apresentar desonestamente como visando apenas figuras de alto nível do governo, a verdade é que elas estão a cumprir o seu propósito: estrangular a economia venezuelana. Incapaz de impor o «seu» governo, os EUA estão determinados em provocar a toda a uma população o sofrimento que seja necessário para derrubar de uma vez por todas a Revolução Bolivariana. As medidas coercivas do Departamento do Tesouro funcionam essencialmente em três frentes. Por um lado, indirectamente, fazem com que bancos e agências financeiras se recusem a funcionar como intermediários para transacções que envolvam entidades do Estado venezuelano, por medo de ser alvo de sanções. A consequência disto é que até as transacções mais simples, como importações de comida ou medicamentos, se tornam muito mais complicadas (e caras). Por outro lado, cumprindo ordens de Washington ou demonstrando excesso de zelo, várias entidades bloquearam activos venezuelanos no estrangeiro. O caso mais flagrante é a Citgo, filial norte-americana da companhia petrolífera estatal PDVSA. Mas não é um caso único, com milhares de milhões de dólares pertencentes a todos os venezuelanos actualmente congelados nos cofres do Banco de Inglaterra ou na agência Euroclear. E por fim as sanções também atingem directamente o Estado venezuelano e entidades estatais, impedindo renegociações e emissões de dívida, cortando acesso a mercados, proibindo empresas americanas de ter relações comerciais e até ameaçando empresas de outros países. O alvo central tem sido a empresa petrolífera PDVSA, com um embargo petrolífero imposto em finais de Janeiro que cortou por completo as exportações para os EUA. O objectivo é atingir a principal fonte de divisas do governo, exacerbando as dificuldades na importação de comida, medicamentos, equipamento, etc. «O objectivo das sanções é estrangular o povo venezuelano ao ponto de provocar uma explosão social ou uma rendição do governo. O problema é que esta operação e a operação Guaidó não estão exactamente sincronizadas.» O próprio John Bolton, conselheiro da administração Trump, estimou que o embargo ia custar cerca de 11 mil milhões de dólares aos cofres venezuelanos em 2019. Isto equivale a cerca de 30 milhões diários. Para comparação, a «ajuda» que os EUA queriam forçar a 23 de Fevereiro era de 20 milhões de dólares. Ou seja, a generosa doação americana era menor que os danos causados apenas pelas mais recentes sanções contra o sector petrolífero venezuelano em apenas um dia! Um estudo recente realizado pelo think tank CEPR estimou que as sanções causaram 40 mil mortes desde 2017, com outras centenas de milhares em risco. Para além disso, foram determinantes para a caída da produção petrolífera e também para a crise no sector eléctrico. Por causa das sanções, tornou-se impossível para o governo fazer uma manutenção adequada da rede eléctrica, e o embargo americano bloqueou também a exportação de diluentes dos EUA para a Venezuela, gerando uma escassez de combustível que impediu a activação de centrais termoeléctricas de reserva. O objectivo das sanções é estrangular o povo venezuelano ao ponto de provocar uma explosão social ou uma rendição do governo. O problema é que esta operação e a operação Guaidó não estão exactamente sincronizadas. Por outras palavras, Guaidó não tem sido capaz de ganhar capital político com a deterioração das condições de vida, e o seu desafio é manter-se minimamente relevante enquanto os EUA tentam por todas as vias asfixiar a Venezuela. Apesar de tudo o que esta continuada tentativa de golpe tem de novo e de descarado, o fracasso no plano geral e nos episódios especiais (23 de Fevereiro e 30 de Abril) deve-se ao erro «clássico» da oposição (e dos Estados Unidos): a sua profunda incompreensão do que é o chavismo. As estratégias da oposição para tentar regressar ao poder nos últimos 20 anos foram variadas, mas os fracassos giraram sempre em torno deste princípio. A liderança da oposição, oriunda das elites históricas da Venezuela, sempre actuou como se governar a seu bel-prazer, repartindo as riquezas do país como uma herança familiar, fosse um direito divino. A sua atitude em relação a Chávez e ao chavismo sempre foi de um visceral ódio de classe (e racismo), vivendo num estado de negação que se recusava, e recusa, a reconhecer que subiu ao palco uma massa de gente até então invisível. «Mas todos os golpes até agora chocaram contra essa força formidável, e até agora invencível, que é o chavismo.» O cálculo dos estrategas norte-americanos e opositores foi que a terrível crise económica, agravada cada vez mais pelas sanções, seria suficiente para destruir de uma vez por todas a Revolução Bolivariana e o chavismo. Sem ignorar a séria deterioração das condições de vida, a verdade é que as classes populares que puderam pela primeira vez ser protagonistas da sua própria história vêem a oposição venezuelana e os seus patrocinadores nortenhos com justificada desconfiança e rejeição. Essa é a verdadeira ameaça ao imperialismo norte-americano. Mais além das reservas de petróleo, ouro e outros minerais que fazem salivar as companhias multinacionais, o que realmente faz da Venezuela um alvo é a perspectiva de «terra e homens livres»2. A Revolução Bolivariana teve méritos históricos no que diz respeito à melhoria das condições de vida da população e à procura de uma nova geometria de poder na arena internacional. Mas o mais revolucionário e, como tal, «perigoso» foi o surgimento desta massa crítica que, pese a todas as dificuldades, abraçou e mantém o socialismo como horizonte histórico. Não há garantias de vitória, principalmente com os efeitos cada vez mais devastadores das sanções e do bloqueio norte-americanos, e um rumo político marcado por indefinições e opções questionáveis. Mas todos os golpes até agora chocaram contra essa força formidável, e até agora invencível, que é o chavismo. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. 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Venezuela: autoproclamações, sanções e resistência
Quem é Juan Guaidó?
Golpes de teatro
Sanções
Invisíveis e invencíveis
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Além de Corina Machado, também Henrique Capriles, outro da «ala radical» da direita e criminoso foragido a quem Espanha deu guarida, viu confirmada pelo STJ a inabilatação de 15 anos que lhe havia sido imposta.
Tal como a chancelaria, a Assembleia Nacional da Venezuela pronunciou-se contra as acções de ingerência dos EUA, nomeadamente pela voz do presidente do Parlamento, Jorge Rodríguez.
«Nenhum Estado pode envolver-se ou imiscuir-se nos assuntos que correspondem a outro Estado», disse Rodríguez, acrescentando que os EUA procuram gerar danos económicos.
Em seu entender, a resposta a este ultimato deve passar pela elaboração de um calendário eleitoral, para reafirmar que na Venezuela «é o povo que toma as decisões».
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