Falar deste equipamento e perceber o porquê da sua existência neste concelho alentejano obrigam-nos inevitavelmente a um regresso ao passado. A tarefa fica facilitada pela conversa com o presidente do município, Luís Simão.
Ao «porquê» inicial, o edil responde que o museu, tratando-se de um «sonho antigo da autarquia», só surgiu ali porque há cem anos que são feitas escavações no concelho de Mora. Mais propriamente em Pavia. Foi precisamente das escavações realizadas por Vergílio Correia, que entre outras actividades foi investigador e arqueólogo, em 1914, que nasceu a obra El Neolítico de Pavía.
Entretanto, as pesquisas no concelho prosseguem através de investigadores da Universidade de Évora, e salienta Luís Simão: «Todos os anos descobrem coisas novas.»
«Posso dizer que há uns anos foi descoberto um alinhamento em Anta da Cruz, numa herdade perto da freguesia de Brotas. Mas Cruz porquê? Porque havia lá aquela coisa em cruz mas ninguém sabia que era um alinhamento. Quando os arqueólogos exploraram, chegaram à conclusão de que se tratava de um monumento megalítico, único na Europa, o qual foi inclusivamente alvo de reportagem da National Geographic», descreve.
«Todos estes factos levaram a que quiséssemos ter em Mora um local onde pudéssemos mostrar às pessoas aquilo que existiu em tempos no concelho, as peças que foram aqui descobertas. Fazia todo o sentido construir o museu», acrescenta o edil.
Serve esta introdução para explicar, segundo a autarquia, a pertinência do equipamento que hoje comemora um ano da sua abertura ao público.
A missão de valorizar e divulgar o património megalítico do concelho de Mora foi desde início apoiada pela Universidade de Évora, a quem coube a responsabilidade pela parte científica do museu. E também pelo Museu Nacional de Arqueologia, que cedeu algumas das peças.
Salienta Luís Simão que «houve esse apoio do Museu Nacional de Arqueologia, de outra forma não fazia sentido, tal como não faz sentido que estejam lá peças espectaculares encaixotadas e que as pessoas não possam usufruir delas. Tenho a esperança que um dia mais tarde algumas dessas peças venham para cá».
Actualmente, a colecção presente no Museu do Megalitismo contém à volta de 1500 peças. Mas nem só da apresentação destas peças ao vivo se faz este museu. Luís Simão admite que este «não é um museu tradicional» e que as pessoas que o visitam transmitem essa surpresa.
«O que me surpreende é perceber, através do inquérito feito aos visitantes, que aquilo que viram foi também uma surpresa para eles, porque de facto o museu não é um museu tradicional em que as pessoas só encontram as peças, não é nada disso», frisa.
Num espaço de 750 metros quadrados, a tecnologia é uma marca envolvente. Logo à entrada, a projecção de um filme em 3D – os óculos são fornecidos pelo museu – conduz os visitantes numa viagem ao período do Neolítico, onde se retrata a vida naquela época.
A vida nas pedras
Ao longo do percurso, sempre guiado pelos técnicos do museu, existem mesas interactivas que apresentam, em português e inglês, novas peças do Neolítico e um espaço de entretenimento com jogos didácticos interactivos, dedicados não apenas às crianças mas também aos mais crescidos.
Os interessados em arqueologia podem ficar a saber ainda como são feitas as escavações e as zonas mais importantes a nível nacional em termos de megalitismo, entre outras curiosidades.
Além das peças provenientes do concelho de Mora, no Museu do Megalitismo é possível observar também peças de outras partes do País, designadamente da zona de Alter do Chão, no distrito de Portalegre, e de Sesimbra, em Setúbal. «Estamos a falar de peças que serviriam para o mesmo efeito, algumas delas, mas com um design completamente diferente», revela Luís Simão.
Entre os vários exemplos, o edil destaca a placa de xisto. «Era uma peça colocada ao pescoço das pessoas quando morriam. Mas o desenho das peças feitas aqui não tem a ver com o das peças de Alter do Chão, nem com o das da zona de Sesimbra».
A requalificação que veio com a arte
Paralelamente aos aspectos cultural e artístico, o projecto do museu teve a vantagem de permitir a requalificação do edifício da estação, que estava completamente degradado, tendo a autarquia construído ainda um edifício que serve de bar de apoio.
O presidente realça que «toda a zona em frente da estação foi requalificada» e que este espaço vai adquirir em breve uma nova centralidade pelo facto de a Câmara de Mora estar a construir ao lado o Parque Urbano de Mora.
Mais de dez mil visitantes, alguns do outro lado da fronteira
Até ao momento, o museu contabiliza a passagem de mais de dez mil pessoas, na sua maioria da Área Metropolitana de Lisboa, mas também oriundas do outro lado da fronteira. «Felizmente já vamos registando muitos espanhóis por aqui, cerca de 5 a 10%, e escolas espanholas que vêm visitar o fluviário e o museu».
Acrescenta que o número de visitantes está a crescer de mês para mês e que para o actual ano lectivo já estão várias visitas de estudo marcadas. «Estamos a atingir os objectivos», realça, optimista. O feito resulta da campanha promocional realizada pela autarquia e da colaboração existente com o Turismo do Alentejo e Ribatejo, que faz chegar às escolas informação sobre as atracções do concelho, entre as quais está o famoso Fluviário de Mora.
Luís Simão revela que o projecto do Museu do Megalitismo complementa a oferta turística de Mora, que até ao ano passado tinha no fluviário um alicerce fundamental. Considerado o maior da Europa, representa outro projecto da Câmara Municipal, embora não deste Executivo.
«Em dez anos já visitaram o fluviário cerca de 60 mil pessoas. À parte de monumentos dispersos pelo concelho, os visitantes não tinham aqui outros pontos de interesse, pelo que achámos que era importante, além de complementar a oferta turística, reforçar a projecção do concelho através deste equipamento», conclui.
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