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A Voz do Operário: 142 anos na defesa dos direitos dos trabalhadores

A Sociedade de Instrução e Beneficência A Voz do Operário em Lisboa comemora hoje mais um ano de história. A sessão solene acontecerá no próximo 22 de Fevereiro, com jantar, momento cultural e uma homenagem ao escritor António Modesto Navarro.

No contexto da recusa de alguns títulos jornalísticos do final do século XIX em denunciar os abusos sofridos pelos tabaqueiros, o operário do sector Custódio Gomes afirma: «soubesse eu escrever que não estava com demoras. Já há muito que tínhamos um jornal. Bem ou mal, o que lá se disser é o que é verdade. Amanhã reúne a nossa Associação, e hei-de propor que se publique um periódico, que nos defenda a todos, e mesmo aos companheiros de outras classes». O ímpeto da luta que funda o jornal A Voz do Operário, também move a criação da Sociedade de Instrução e Beneficência de mesmo nome quatro anos depois, a 13 de Fevereiro de 1883.

A Voz do Operário é hoje uma instituição polivalente que serviu de refúgio da resistência ao fascismo e por onde já passaram milhares de crianças instruídas desde a creche até o Ensino Secundário. A instituição é um importante organismo para a defesa dos direitos dos trabalhadores, fruição cultural e serviços sociais nas comunidades onde está instalada cada uma de suas sete sedes, entre Lisboa, Almada e Barreiro.

Homenagem a António Modesto Navarro

Seguindo a tradição de aniversário da instituição, onde se aproveita a celebração da data para homenagear uma personalidade de mérito reconhecido, a figura a receber o título de sócio honorário em 2025 será o escritor António Modesto Navarro, «pela importantíssima obra publicada, em que a defesa das causas dos trabalhadores e do povo são bem vincadas, bem como pela sua atividade cívica em prol dessas causas».

A vida de Modesto Navarro foi marcada por uma intensa intervenção política e associativa. Em 1958 participou da campanha de Humberto Delgado, em 1965 na campanha da Comissão Democrática Eleitoral (CDE). Na década seguinte torna-se militante do PCP «pelas mãos» de José Saramago, o qual já lhe havia prefaciado o seu livro de estreia Libelo acusatório. Em vésperas do 25 de Abril foi preso pela PIDE, história relatada em seu livro Prisão e isolamento em Caxias. A sua obra literária conta com mais quatro dezenas de publicações, «sempre numa perspectiva de denúncia da exploração, relatando as difíceis condições de sobrevivência, a prepotência dos ricos e poderosos, tendo sempre como horizonte a construção de uma sociedade melhor», o que fez com que, durante o regime fascista, dois de seus livros chegaram a ser apreendidos.

O escritor, foi presidente da direcção d’A Voz do Operário entre 2007 e 2010, participou também na fundação, nomeadamente, da Associação Conquistas da Revolução, da Associação Portuguesa de Escritores e da Associação do Nordeste Transmontano.

A cerimónia

A sessão solene de comemoração dos 142 anos da sociedade será na sede da Graça, no dia 22 de Fevereiro, a partir das 19h. O salão de festas receberá o Grupo de Adufeiras e Alguidares, as crianças d'A Voz do Operário e o grupo Dabke Handala, seguindo-se a homenagem a António Modesto Navarro.

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