Face à recente autorização da Direcção-Geral de Energia e Geologia, a central a carvão de Sines (Setúbal) encerra esta sexta-feira no âmbito da chamada transição energética, de acordo com os objectivos estipulados por Bruxelas. Já a EDP, cuja decisão se traduz em milhões de euros de recursos públicos para os seus accionistas, justifica a antecipação do encerramento com a «deterioração das condições de mercado» durante o primeiro semestre de 2020.
A eléctrica afirma que está a ser negociado «um conjunto de diferentes opções» com os 107 trabalhadores directos, entre as quais está a passagem à reforma ou pré-reforma e o acesso a «oportunidades de mobilidade dentro do grupo EDP».
Relativamente aos 400 indirectos, remete esclarecimentos para as «empresas prestadoras de serviços com as quais têm contratos», mas é sabido que o despedimento está a ser a medida aplicada a muitos deles, com forte impacto na região. «Cerca de 100 já foram notificados do seu despedimento», alertou recentemente a deputada do PCP no Parlamento Europeu, Sandra Pereira.
Numa pergunta escrita à Comissão Europeia, a eleita indagava sobre os instrumentos que podem vir a ser utilizados para que todos os trabalhadores afectados não sejam colocados no desemprego, «mas em trânsito, garantindo requalificação profissional, rendimentos e reintegração em novas unidades produtivas da EDP, o mais rapidamente possível».
As centrais de Sines e do Pego (Abrantes) são as duas únicas a carvão no nosso país. O encerramento da primeira agrava o desequilíbrio da Rede Eléctrica Nacional no Sul. A segunda, que tem aumentado a sua produção face às necessidades impostas pelas baixas temperaturas, tem fecho anunciado para Novembro.
Apesar do regozijo por parte de alguns ambientalistas, os trabalhadores, admitindo que as centrais a carvão são mais poluentes do que outras alternativas de produção de energia, alertavam em Novembro que o precipitado encerramento das centrais portuguesas não pode levar à importação de energia de outras a carvão, designadamente marroquinas ou alemãs (só na Alemanha existem 80 centrais deste tipo, a última inaugurada há menos de um ano), ou das centrais nucleares espanholas. Caso contrário, realçavam, não há melhorias no ambiente e o País fica mais dependente.
Neste sentido, Sandra Pereira alertava na missiva que, perante o «historial das intervenções» da União Europeia no perfil produtivo de países como Portugal, «o risco de que essa transição venha redundar em encarecimento médio da energia eléctrica e fragilizar a garantia do seu abastecimento, produzir desemprego e destruição das empresas estratégicas para a coesão e o desenvolvimento não é despiciendo».
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