Faz hoje dez anos que a Galp Energia entrava na Bolsa de Lisboa, culminando sucessivos processos de privatização iniciados com a constituição da empresa, em 1999. Na altura, o encaixe para o Estado com a quarta fase de privatização da petrolífera foi de 1,1 mil milhões de euros, elevando o total embolsado com a privatização da empresa para perto dos 1,6 mil milhões.
Em sete anos – entre 1999 e 2006 – a participação pública na Galp ficou reduzida a 7%. A partir daí, os lucros acumulados até 2015 chegaram aos 3,4 mil milhões de euros e os accionistas receberam quase 2,5 mil milhões em dividendos. São mais 824 milhões de euros do que os cofres públicos receberam pela perda de uma das maiores empresas portuguesas, com o controlo sobre um sector estratégico para o País.
2468 milhões
Valor distribuído em dividendos pela Galp Energia desde 2006
Os milhares de milhões em dividendos entraram para as contas de grandes grupos económicos, portugueses e estrangeiros, como a Amorim Energia (grupo Amorim e Sonangol), ENI (italiana), Iberdrola (espanhola). Dez anos depois desse dia 24 de Outubro de 2006, em que a Galp Energia passou a ser negociada em bolsa, os accionistas da empresa encaixaram quase 73% dos lucros. Mesmo nos anos em que os dividendos distribuídos foram mais baixos (entre 2009 e 2011), o valor superou os 165 milhões de euros. No ano passado, foram 344 milhões de euros.
Como alienar um dos mais importantes e estratégicos activos do País
A Galp Energia foi criada em 1999, pelo governo do PS com António Guterres como primeiro-ministro, com o propósito de privatizar a totalidade dos sectores do petróleo e do gás natural, integrando a Petrogal e a Gás de Portugal.
A Petrogal já tinha sido alvo de um processo de privatização, no início dos anos 1990, com Cavaco Silva e o PSD no governo, ganho por um consórcio que juntava os grupos Mello, Espírito Santo, Champalimaud e Amorim com a francesa Total. Após a saída da petrolífera francesa, é constituída a Petrocontrol, que agrega os restantes.
A constituição da Galp Energia implicou um pagamento de uma indemnização à Petrogal de cerca de 173 milhões de euros. A empresa era detida em 45% pela Petrocontrol, que ganha ainda direito a ficar com 33% da nova empresa pública, através da subscrição da maior parte de um aumento de capital de 327 milhões. No total, 39,4% do capital social da nova empresa sai da posse do Estado.
1644 milhões
Valor recebido pelo Estado pelas quatro fases de privatização da Galp Energia (1999-2006)
Um ano depois é a vez da ENI e da Iberdrola, energéticas italiana e espanhola, comprarem 15% da Galp a troco de 433,5 milhões de euros. Os italianos ficam com 11% e os espanhóis com 4%. O ministro das Finanças da época viria a tornar-se administrador da Iberdrola pouco depois de sair do governo.
Em 2003, já com Durão Barroso à frente do executivo de coligação do PSD com o CDS-PP, avança a terceira fase de privatização da Galp Energia. A REN, que já tinha sido parcialmente privatizada, incorpora 18,3% do capital social da empresa, pagando 110,4 milhões de euros.
A última fase chega já com o PS de volta ao governo, nesse Outubro de 2006. Depois da entrada em bolsa, o Estado ainda mantém uma participação de 7% na Galp, que virá a ser alienada através da emissão de obrigações convertíveis em acção, no valor de 900 milhões de euros.
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