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Receios de descaracterização no Montepio Geral adensam-se

Montepio abre negociações com a Santa Casa

As negociações para a entrada da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa no Montepio Geral foram anunciadas na passada sexta-feira. A Associação Mutualista injectou 250 milhões no banco.

Tomás Correia (direita), presidente da Montepio Geral – Associação Mutualista, e Pedro Santana Lopes (centro), provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, com o ex-ministro da Segurança Social do anterior governo, Pedro Mota Soares
CréditosJoão Relvas / Agência LUSA

A Montepio Geral – Associação Mutualista (AM), a dona da Caixa Económica Montepio Geral, anunciou em comunicado enviado à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) que iniciou negociações com a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML) para a sua entrada no capital do banco.

A hipótese de abertura do capital da Caixa Económica vinha ganhando força nos últimos meses, com a SCML como a instituição mais falada. A intenção de restringir, pelo menos numa primeira fase, o envolvimento no banco do Montepio a instituições da chamada «economia social» foi determinante nessa opção, tendo em conta as necessidades do banco e a capacidade financeira da SCML.

O Estado entregou o monopólio dos jogos sociais à Santa Casa de Lisboa em 1893, primeiro através da Lotaria, depois com o Totobola, em 1961, e com o Totoloto, em 1985. Em 2016, a SCML recebeu 181 milhões de euros dos 664 milhões das receitas dos jogos sociais, contribuindo para um resulto líquido positivo de 21 milhões de euros.

A ser concretizada, esta será uma alteração radical na estrutura accionista da Caixa Económica, que, desde 1844, é detida pela Montepio Geral – AM. A hipótese de descaracterização da Caixa Económica e o risco de desvalorização da participação da AM no banco, o maior activo e onde está investida a maior fatia das poupanças dos associados, tem sido apontada por alguns dos membros dos seus órgãos sociais.

Numa recente informação aos associados da Montepio Geral, o candidato à presidência da AM nas últimas eleições Eugénio Rosa, de 5 de Maio, denunciava «a intenção de transformar a Caixa Económica num banco de empresas, violando o ADN do Montepio, o que [já] levou a enormes prejuízos». Tomás Correia, presidente da AM desde 2008, é arguido em processos judiciais por suspeitas de branqueamento de capitais e corrupção.

Eugénio Rosa alerta ainda para a «má gestão» das equipas de Correia, que, até 2015, acumulou a presidência da AM com a da Caixa Económica. Entre 2011 e a sua saída, o banco acumulou imparidades e outras perdas no valor de 1,77 mil milhões de euros. No mesmo período, a Associação Mutualista injectou 1,17 milhões de euros, a que agora se somam 250 milhões de euros, anunciados na última sexta-feira.

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