No início deste mês foi divulgado o Boletim Económico pelo Banco de Portugal (BdP) que, todos os anos no mês de Maio, apresenta a análise da instituição da evolução da economia portuguesa.
Todavia, a situação do tecido económico e social português parece contrariar a visão mais optimista que o BdP apresentou em relatório. De facto, 2020 foi um ano afectado fortemente pela crise associada à pandemia, situação grave que se repercute neste ano de 2021, e que se estima que o País terá de enfrentar por mais alguns anos.
Veja-se que, de acordo com as estimativas oficiais, em 2020 registou-se uma queda da actividade de 7,6%, superior à queda de 6,8% na zona euro, o que reflecte essencialmente a forte dependência da economia do País em relação ao turismo.
A desproporção na forma como é repartida a riqueza criada no País torna-se mais clara quando se compara o número de trabalhadores com o número de «donos do capital». Um estudo do economista Eugénio Rosa concluiu que a crise económica e social causada pela pandemia está «a agravar ainda mais as desigualdades» salariais e na repartição da riqueza, que «já eram enormes» em Portugal antes da Covid-19. No trabalho, o investigador – licenciado em Economia e doutorado pelo Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG) – analisa «o aumento da desigualdade na repartição da riqueza criada no País (PIB – Produto Interno Bruto) entre os trabalhadores e os "donos do capital" no período 2008/2019, assim como as profundas desigualdades salariais que existem entre os próprios trabalhadores e trabalhadoras, que não são apenas de género, e que permitem às entidades patronais apropriarem-se de uma parte ainda maior da riqueza criada no país». Saiu recentemente o estudo da Nova SBE, «Portugal, Balanço Social 2020», sobre os efeitos da pandemia. Falamos com economistas, sindicalistas e políticos sobre as formas de combater a crise. Cheila tem 33 anos, trabalhou como bartender em vários bares. Desde o fim do Verão passado que está em casa. «A pandemia obrigou a fechar tudo. O abre não abre, as restrições de funcionamento por motivos de saúde levaram quase todo o sector às cordas. Muitos provavelmente não vão conseguir abrir depois deste segundo confinamento». Os apoios do Estado incidiram sobretudo no lay-off e os outros são muito limitados. Paulo é proprietário de um bar em Lisboa que explora com o seu filho e encontra-se na mesma situação, «por todo e por junto os apoios que me deram, quase num ano, não ultrapassaram os 200 euros.» Em casa, Cheila vai esperando que a pandemia passe para voltar a trabalhar. «Não desisti de ter um espaço meu e de trabalhar, mas para já estou a gastar as economias que amealhei para sobreviver», diz. Stefan é instrutor de artes marciais na Pontinha. O confinamento obrigou-o repetidamente a encerrar provisoriamente o ginásio em que dá treinos e teve o efeito de um tsunami na sua vida. «Este abre e fecha ao longo do ano e os receios de contágio levaram as pessoas a desistir de treinar e a descontinuar os pagamentos. Não há apoios para nós que continuamos a ter que sustentar a família e pagar as rendas. E este é um tipo de actividade que, por muitas aulas zoom que possamos fazer, não nos permite funcionar e ganhar devidamente». Cheila, Paulo e Stefan são três exemplos das muitas pessoas que perderam rendimentos no ano de 2020. Os economistas e cientistas sociais têm a nítida percepção que a crise parou muita gente e que há um crescimento significativo das desigualdades, mas ainda não há dados fidedignos que façam o retrato desta tempestade. Na semana passada, a Universidade Nova lançou o estudo «Portugal, Balanço Social 2020» em que se trabalham e analisam muitos dos dados e estudos parcelares que saíram sobre o crescimento da pobreza e das desigualdades no nosso País, com o intuito de «traçar um retrato socioeconómico das famílias portuguesas, com ênfase nas situações de privação e, quando possível, no acesso às respostas sociais existentes em Portugal». A professora da Nova SBE Susana Peralta é uma das coordenadoras do estudo. «O relatório, que se chama “Portugal, Balanço Social 2020”, tem uma caracterização bastante cuidada da situação em Portugal. Fizemos esse trabalho com as limitações existentes, porque só é possível fazer uma caracterização dessas passado um ou dois anos, que é quando aparecem os dados representativos daquele período. Nós analisamos os dados do INE que nos permitem fazer uma caracterização representativa e cuidada daquilo que é a situação das famílias em 2019. Mas depois fomos à procura de todas as fontes de informação possíveis, com que tentámos fazer um possível retrato de 2020», assinala Susana Peralta ao AbrilAbril. O estudo demonstra os impactos da pandemia a vários níveis. O efeito que teve a nível da saúde, «em Abril de 2020 foram apenas realizadas 182 cirurgias, face a 13 000 em Abril de 2019», e que essas restrições no campo da saúde não foram iguais para todos. «A pandemia afectou particularmente a saúde (…) dos mais pobres, dos menos escolarizados e dos desempregados». Segundo o relatório, os efeitos da pandemia agravaram também os problemas de desigualdade no ensino, «com o encerramento das escolas, as aulas presenciais foram substituídas pelo ensino à distância. Esta substituição afectou de uma forma mais negativa os alunos das famílias mais pobres», esclarece o documento, que explica que no ano lectivo de 2017/2018, «apenas 62% dos alunos com apoio dos Serviços da Acção Social Escolar (SASE) tinham computador e 52% tinham acesso à internet, o que compara a uma taxa de 71% de acesso à internet e computadores para os alunos sem SASE.» Do ponto de vista do emprego, verificou-se que «as condições no mercado de trabalho alteraram-se profundamente em resposta à pandemia. Dependendo dos sectores, as medidas de confinamento fizeram aumentar a prevalência do teletrabalho, ou levaram ao encerramento das empresas», afirma o documento, contabilizando que «no final de Abril de 2020, o número de trabalhadores em lay-off simplificado era de 1,2 milhões, o que compara com cerca de 70 mil no final de Março». Susana Peralta sublinha ao outro dado importante: «os sectores mais afectados pela crise são aqueles que as pessoas não puderam fazer a migração para o teletrabalho e têm comparativamente os salários mais baixos». Um resultado que confere com outro dado presente nas conclusões do relatório: «estudos não representativos mostram que as pessoas que se identificam com os mais pobres são as que reportam maior perda de rendimento». O título de uma recente entrevista de Susana Peralta ao jornal i, em que supostamente defenderia que era preciso taxar «a burguesia do teletrabalho», levantou uma tempestade nas redes sociais. A economista nega a simplificação, mas reafirma que são precisos recursos para combater o crescimento da pobreza e das desigualdades, e que cabe ao Estado a escolha política de onde ir buscar esse dinheiro. «Eu nunca disse que é para cobrarem apenas às pessoas que estão em teletrabalho. Aquela fórmula da “burguesia do teletrabalho” é uma imagem e pretende transmitir que houve uma determinada “tecnologia” de escapar a esta crise. Tal como a crise anterior tinha a fuga do biscate e do pequeno trabalho, e da emigração; nesta crise, o teletrabalho foi a escapatória», argumenta, acrescentando que «isso protege mais as pessoas com maior rendimento e com maior nível digital. E não faz nenhum sentido que essas pessoas não possam contribuir mais para as que perderam quase tudo». Para a economista, a escolha política não pode prescindir de taxar a totalidade dos rendimentos. Não nega a necessidade de conseguir que o capital pague a sua parte, mas relembra que há uma urgência em conseguir já os recursos necessários para combater os efeitos da crise. «Estamos neste momento numa situação de emergência social, e perante isto há duas formas de agir: ou o Governo se endivida e depois pensa, com tempo, num potencial imposto sobre a riqueza para poder ir buscar recursos aos mais ricos, que não têm estado a contribuir a sua justa parte. Ou usamos agora a máquina que temos para ir buscar dinheiro, que é a máquina dos impostos sobre o rendimento. E aí inclui-se o trabalho e capital, em sede de IRS e também de IRC», explica. É essa reforma sempre adiada de taxar devidamente o capital, que o professor auxiliar da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra e investigador do Centro de Estudos Sociais João Rodrigues afirma, ao AbrilAbril, ser cada vez mais necessária. Para isso é preciso conhecimento social e acção política. «O problema da esquerda é que conhece razoavelmente a pobreza, mas muito mal a riqueza para saber como são as formas mais eficientes de a taxar», ironiza. O investigador do CES sublinha a necessidade de uma política justa que possa minimizar os efeitos da crise pandémica. «Vivemos numa sociedade brutalmente desigual, em que há ricos a aforrar e a ver os seus activos valorizarem à boleia da política monetária europeia, que não tem tido direcção orçamental no sentido de aumentar o investimento público e, no fundo, acaba sobretudo por valorizar os activos financeiros. Tudo isto fazendo com que as desigualdades de riqueza estejam a crescer», afirma, juntando que para além de tudo isso, os sucessivos governos têm sido alérgicos a taxar a riqueza e o capital. «O PCP e o BE insistem e bem que é necessário o englobamento de todos os rendimentos, em pé de igualdade, para efeitos de IRS. Para além disso, é preciso pensar na criação de outras formas de impostos que possam onerar aqueles que têm muito património», defende o economista de Coimbra. O deputado comunista Bruno Dias está de acordo: «temos de ter um sistema fiscal que consiga ajudar a redistribuir a riqueza. Neste momento, os estudos internacionais demonstram que há um forte crescimento das desigualdades e da pobreza. Mesmo que só daqui a alguns anos seja possível quantificar o impacto da pandemia na pobreza e desigualdades em Portugal, é indesmentível que ela se tem acentuado». O deputado sublinha, ao AbrilAbril, propostas feitas pelo PCP para atalhar alguns aspectos mais gravosos desta crise, como a falência de muitas micro, pequenas e médias empresas e a defesa dos rendimentos de quem trabalha. Realça ter-se conseguido que, ao contrário do que aconteceu no primeiro confinamento, o lay-off seja igual ao salário do trabalhador, e a importância de garantir que os apoios cheguem atempadamente às pequenas empresas. «Uma coisa é disponibilizar e assegurar uma verba significativa para as micro e pequenas e médias empresas e outra coisa é mostrar o dinheiro e de facto ele chegar a essas empresas. Os apoios são comunicados com pompa e circunstância, mas depois verificou-se que as verbas não chegavam às empresas por dificuldades tremendas de acesso às linhas de apoio e por um conjunto muito grande e crescente de exigências burocráticas. Nós conseguimos aprovar uma medida de não discriminação para as micro, pequenas e médias empresas que permite que mais gente possa ter acesso a esses apoios, infelizmente ainda persistem muitos bloqueios para que se apoiem devidamente as pessoas», alerta. Por seu lado, a dirigente da CGTP-IN Andrea Araújo sublinha, em declarações ao AbrilAbril, a incidência da crise pandémica nas condições de vida de quem trabalhar e a necessidade de haver uma política que aumente os apoios sociais, e que se concentre, sobretudo, na defesa dos postos de trabalho. «As consequências, desta crise, para os trabalhadores e para as suas famílias ainda não estão totalmente calculadas. Mas, por aquilo que conhecemos, podemos dizer que as remunerações de muitos trabalhadores reduziram-se no ano 2020. De acordo com o relatório sobre salários da OIT, Portugal foi, dos 28 países europeus estudados, daqueles em que ocorreram as maiores perdas salariais no segundo trimestre de 2020». Para a sindicalista, a resposta governamental falhou nas prioridades: «desde o início que houve uma clara desproporção entre as medidas anunciadas para as empresas e as medidas tomadas para apoiar os trabalhadores e as famílias, com a agravante de se ter verificado, no que diz respeito às grandes empresas, um grande favorecimento em relação às micro e pequenas empresas. A CGTP-IN defendeu que era preciso actuar para preservar os postos de trabalho. O Governo deveria ter proibido todos os despedimentos e não o fez, o que levou a que nos primeiros meses fossem despedidos milhares de trabalhadores que se viram a braços com uma situação muito complicada, até porque mais de metade desses trabalhadores nem sequer tinha direito a prestações e apoios sociais. Tinha sido fundamental que o Estado exigisse às empresas que está a apoiar que não fizesse despedimentos». Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença. «É este contexto de enormes desigualdades que já existiam antes da pandemia que torna mais grave a situação actual», sustenta o economista. Tendo por base os dados das contas nacionais divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), o investigador avança que a diferença entre os salários recebidos pelos trabalhadores e o Excedente Bruto de Exploração recebido pelos «donos do capital» aumentou 75,6% entre 2008 e 2019, de 7 303 milhões para 12 828 milhões de euros. «Entre 2008/2019, o total de "ordenados e salários" recebidos pelos trabalhadores foi inferior ao Excedente Bruto de Exploração recebido pelos "donos do capital" em 149 957 milhões de euros, o que agravou enormemente a repartição da riqueza criada no nosso país», sustenta, precisando que, nesse período, «a parte do "trabalho" no PIB diminuiu de 36,5% para 35% e a do "capital" aumentou de 40,6% para 41%». Segundo Eugénio Rosa, «esta desproporção na forma como é repartida a riqueza criada no País (PIB) ainda se torna mais clara quando se compara o número de trabalhadores com o número de "donos do capital"». No fim do ano de 2020, os patrões seriam, segundo o INE, 222,6 mil (4,6% do emprego total) e apropriavam-se de 41% da riqueza nacional, enquanto o número de trabalhadores por conta de outrem eram 4 044 800 (83,2% do emprego total), e recebiam apenas 35% da riqueza. Um estudo publicado em 2017 de uma equipa que inclui o economista francês Gabriel Zucman concluiu que o valor colocado em paraísos fiscais equivalia a 10% do PIB mundial. As desigualdades na distribuição da riqueza são menos conhecidas que as relativas ao rendimento. Devemos no entanto separar «riqueza» de «rendimento», muito embora não sejam realidades estanques. Mostra-o o facto de as pessoas ricas serem também, em geral, pessoas com rendimento elevado. Mas são realidades diferentes. A riqueza é estatisticamente medida pelos activos que as famílias possuem. Estes activos (ou património) podem ser reais, como casas de habitação, terrenos, objectos de arte, automóveis, etc., incluindo-se também os negócios por conta própria. E podem ser financeiros, como depósitos bancários, acções cotadas, títulos de dívida transacionáveis, etc. Já no rendimento, as categorias mais correntes são os salários e as pensões, embora também abranjam outras fontes, como os subsídios, as rendas e os juros. No que respeita à divulgação de informação, o foco tem sido posto no rendimento, o que se compreende, pois há menos estatísticas sobre a riqueza. Apesar disso, o INE e o Banco de Portugal (BP) efectuam de três em três anos um Inquérito à Situação Financeira das Famílias (ISFF), o qual, por se enquadrar num projecto europeu, permite a comparabilidade com outros países. O ISFF teve três edições (2010, 2013 e 2017) estando prevista a realização de um novo inquérito este ano. Este inquérito permite conhecer a evolução da riqueza líquida (isto é, descontada das dívidas), a sua composição e o endividamento, incluindo o serviço da dívida e as restrições no acesso ao crédito. Permite também conhecer a desigualdade na distribuição da riqueza, bem como compará-la com a do rendimento, aspectos essenciais do ponto de vista deste artigo1. Fonte: INE e BP, ISFF Este quadro espelha a profunda desigualdade na distribuição da riqueza. O topo (os 10% mais ricos) detém mais de metade da riqueza em 2017 e a tendência de concentração acentuou-se relativamente a 2010. O coeficiente de Gini é menos fácil de interpretar mas é uma medida de concentração que varia entre zero e 100: zero indica uma concentração mínima e 100 uma concentração máxima (por exemplo, uma família possuir toda a riqueza). A riqueza diminuiu entre 2010 e 2013 devido à crise económica. Nem todos os ricos terão ficados imunes à crise, mas não temos notícia de algum se ter atirado pela janela dos edifícios, como ocorreu nos EUA na crise de 1929. Além de que o valor médio de 162,3 mil euros em 2017 já não está muito distante do verificado em 2010. Mas trata-se de um valor médio: este atinge 876,6 mil euros nos 10% do topo e 0,8 mil euros nos 20% da base. Os ISFF mostram também que riqueza e rendimento estão associados. Os mais ricos têm mais poupanças e activos mais diversificados, o que lhes permite obter mais rendimentos. Os activos possuídos variam com as classes de riqueza. Nas famílias menos ricas, o activo real típico é a residência principal enquanto o depósito à ordem constitui o activo financeiro típico. Já nas mais ricas existe maior heterogeneidade. Quanto à concentração, há dois aspectos a realçar. Primeiro, a riqueza está mais concentrada que o rendimento. Segundo, a riqueza está fortemente concentrada nos 10% do topo. Estes detêm cerca de 30% do valor total das residências principais das famílias, cerca de 70% do valor dos outros imóveis e 90% do valor dos negócios; e possuem 50% dos depósitos a prazo e 80% do total dos activos transacionáveis. Independentemente do valor destas estatísticas, será que nos contam toda a história? Possivelmente não, se admitirmos que os muitos ricos tendem a esconder a riqueza. Pense-se no recurso a paraísos fiscais. Um estudo publicado em 2017 de uma equipa que inclui o economista francês Gabriel Zucman concluiu que o valor colocado em paraísos fiscais equivalia a 10% do PIB mundial; Portugal surge com um valor relativo, expresso em % do PIB, superior à média global. Outros dados indicam que cerca de 80% dos valores colocados em paraísos fiscais pertencem aos 0,1% mais ricos. Um estudo recente da Comissão Europeia, abrangendo o período entre 2001 e 2016, conduziu a conclusões consistentes com as de Zucman e indicou ser Portugal o terceiro país da União Europeia com mais riqueza transferida para paraísos fiscais. Concluindo, é provável que as desigualdades na distribuição da riqueza sejam ainda maiores. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença. Eugénio Rosa compara também os rendimentos dos trabalhadores, os ganhos anuais mais elevados (9.º decil) com os ganhos anuais mais baixos (1.º decil), concluindo que «o ganho mais elevado dos homens é 3,7 vezes superior ao dos homens com ganho mais baixo» e «o ganho das mulheres que recebem mais é 3,6 vezes superior ao das que ganham menos». Já comparando os ganhos dos homens com os das mulheres, o investigador dá conta de «desigualdades enormes»: no escalão mais baixo, o ganho do homem é superior ao da mulher em 381 euros por ano, enquanto no escalão mais alto este diferencial ascende a 6127 euros por ano. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.Nacional|
Pandemia agravou desigualdades na repartição da riqueza em Portugal
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Quando a pandemia ataca sobretudo quem trabalha
Uma crise que produz desigualdades
Buscar dinheiro a quem o tem
É preciso defender quem trabalha
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Profundas desigualdades na distribuição da riqueza
2010 2013 2017 Riqueza líquida (10³ euros) 172,8 143,3 162,3 % da RL detida por: 10% das famílias mais ricas 51,6 53,0 53,9 50% das famílias menos ricas 8,7 7,2 8,1 Coeficiente de Gini 66,0 68,4 67,9 Contribui para uma boa ideia
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Segundo o BdP, as medidas de apoio às empresas e famílias minoraram o impacto na nossa economia do choque provocado pela crise associada à pandemia. Também as linhas de crédito com garantias públicas e o regime de moratórias terão permitido apoiar as empresas e as famílias na redução das suas necessidades de liquidez. Sobretudo tendo em conta que a concessão de crédito cresceu em 2020.
Explica-se ainda que o custo das medidas de apoio sociais e económicos por parte das administrações públicas (que suportaram cerca de 85% das perdas verificadas) atingiu, em 2020, o montante de cerca de 3% do Produto Interno Bruto (PIB).
Também fica patente, no documento, que o impacto da pandemia nas empresas foi muito diferenciado entre sectores de actividade, tendo sido muito acentuada a queda na produção dos sectores das artes e cultura, alojamento e restauração, transportes e armazenagem e serviços prestados. Pelo contrário, sectores como a construção ou as actividades de informação e comunicação contaram com um aumento de actividade. Por seu turno, a indústria, que registou uma quebra inicial, acabou por recuperar na segunda metade do ano passado.
O Boletim afirma ainda que as medidas de salvaguarda do emprego contribuíram para conter a sua redução em 2%. Ao mesmo tempo, observou-se uma diminuição, sem precedentes, no número de horas efectivamente trabalhadas (9,2%), o que se traduziu num aumento da produtividade aparente por hora trabalhada. Das medidas destinadas à preservação do emprego, destaca-se o lay-off simplificado, que atingiu cerca de 25% do emprego por conta de outrem.
A queda de 7,6% verificada no ano passado não tem paralelo na série estatística do Instituto Nacional de Estatística (INE) e confluiu com a crise mundial, associada à pandemia. A estimativa avançada pelo INE anuncia que o produto interno bruto (PIB) português sofreu, em 2020, uma quebra de 7,6%. Pese embora o quarto trimestre do ano ter registado um crescimento em cadeia (0,4%), isso não foi suficiente para atenuar mais a queda. A crise, de escala mundial, traduz-se numa recessão profunda, fruto da contracção acentuada das exportações e do consumo, com consequências severas em sectores como o turismo, comércio e restauração. Recorde-se que, no período em que a troika esteve no País, a quebra do PIB foi de perto de 8%, em quatro anos. Esta quebra de 7,6% em 2020 ocorre depois de um crescimento de 2,2% verificado em 2019, e é «a mais intensa da actual série de Contas Nacionais, reflectindo os efeitos marcadamente adversos da pandemia Covid-19 na actividade económica», explica a nota do INE. Pese embora a estimativa rápida do INE não detalhar as variações das diferentes componentes do PIB, explica que «o contributo da procura externa líquida foi mais negativo em 2020, verificando-se reduções intensas das exportações e importações de bens e de serviços, com destaque particular para a diminuição sem precedente das exportações de turismo». Ao que acresce que a procura interna «apresentou um expressivo contributo negativo para a variação anual do PIB, após ter sido positivo em 2019, devido, sobretudo, à contracção do consumo privado». Tendo em conta o novo em confinamento decretado, as previsões para 2021 são incertas e há já economistas que prevêem uma nova quebra do PIB este ano, sendo certo que o PIB do primeiro trimestre sofrerá uma nova contracção homóloga. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.Nacional|
2020: o País regista queda histórica do PIB
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Faz-se ainda referência, no documento, ao facto de que as remunerações médias por trabalhador terem aumentado 3% em 2020. Todavia, este resultado decorre de um fenómeno que se observa habitualmente em períodos recessivos, isto é, o aumento do desemprego é mais acentuado junto dos trabalhadores menos qualificados e com salários mais baixos, ou seja, estes deixam de contar para a média. Também contribuiu para esta questão o aumento do salário mínimo nacional.
Todavia, importa ter em conta que nada é dito sobre os impactos que a aplicação do lay-off simplificado teve em 2020 sobre os salários de muitos trabalhadores – ao contrário do que acontece em 2021, em que os trabalhadores têm os seus salários pagos a 100%, por proposta do PCP inscrita no Orçamento do Estado.
Para além disso, fica por analisar quantas micro, pequenas e médias empresas foram forçadas a encerrar por lhes faltarem ou tardarem os apoios anunciados pelo Governo.
A análise que é feita sobre a situação do desemprego em Portugal em 2020 também não é suficientemente clara, como, de resto, o próprio Instituto Nacional de Estatística (INE) tem vindo a reconhecer nos seus inquéritos. A situação marcada pela crise associada à pandemia fez com que, nomeadamente, o número de desempregados não tenha reflectido a realidade vivida, porque, nos termos do próprio INE, a «evolução da taxa de desemprego observada no segundo trimestre de 2020, e calculada de acordo com o conceito adoptado pela OIT [Organização Internacional do Trabalho], não pode ser assim dissociada do aumento da taxa de inactividade».
As Estatísticas de Rendimento e Condições de Vida divulgadas recentemente pelo INE são um instrumento essencial para conhecer realidades sociais como a pobreza, a exclusão social e as desigualdades. O Instituto Nacional de Estatística (INE) divulgou recentemente as Estatísticas de Rendimento e Condições de Vida, um instrumento essencial para conhecer realidades sociais como a pobreza, a exclusão social e as desigualdades. Os dados têm como referência principal o ano de 2019, pelo que não conhecemos ainda, para todos os indicadores, o efeito da crise pandémica. Mas o INE, tendo certamente em conta a crise sanitária, divulgou na mesma publicação, dados relativos ao estado de saúde e ao acesso aos serviços de saúde. A impressão geral colhida da leitura desta informação é a de um país que, sem deixar de fazer progressos, manteve um nível de pobreza elevado e desigualdades sociais profundas. A informação publicada, ou disponibilizada no sítio do INE, é extensa, complexa e passível de várias leituras, pelo que nos limitamos a três dos aspectos que consideramos mais significativos. O primeiro respeita à diminuição da população pobre ou excluída (ou, em termos formais, em risco de pobreza ou de exclusão social). Este indicador combina a pobreza monetária (digamos, de modo simplificado, os que vivem com um rendimento inferior a 540 euros, o limiar de pobreza de 2019) com o não dispor de um certo conjunto de bens (por exemplo, não poder ter a casa convenientemente aquecida) e com a pertença a famílias com uma relação ténue com o mercado de trabalho. Mais de dois milhões de pessoas continuam a viver nestas circunstâncias (uma em cada cinco). É muito, até porque muitos dos pobres são muito pobres – os seus rendimentos estão claramente abaixo do limiar de pobreza. Apesar disso, se olharmos para a evolução no decurso de uma década (gráfico) constatamos que houve mais de 800 mil pessoas que deixaram de ser pobres ou excluídos comparativamente a 2013. Deviam reflectir sobre estes números aqueles que pensam que teremos de pagar com austeridade e dor uma dívida pública agravada com a pandemia. O segundo refere-se a uma pobreza laboral alta (compreendendo-se aqui a pobreza dos desempregados e a dos empregados) e a um valor líquido do salário mínimo que está próximo do limiar de pobreza. A pobreza dos desempregados manteve-se acima dos 40% em 2019, embora seja de assinalar uma descida significativa face aos 47,5% do ano anterior. Uma descida cuja magnitude pode surpreender, até porque em 2019 o valor médio mensal das prestações de desemprego (498 euros) foi inferior ao valor de 2018 (511 euros). Trata-se, porém, de indicadores diferentes. A pobreza laboral reduziu-se de 10,8% em 2018 para 9,6% em 2019. Manteve-se, no entanto, em valores na vizinhança de 10% em toda a década passada. Com um salário mínimo de 600 euros nesse ano, vem-nos que, retirado o que o trabalhador paga de contribuições para a Segurança Social, sobra 534 euros. É apressado concluir que o salário mínimo é inferior ao limiar de pobreza porque este é calculado considerando 12 pagamentos enquanto o salário mínimo é pago 14 vezes, contabilizando os subsídios de férias e de Natal. Ainda assim, existe uma proximidade que é reveladora da insuficiência do salário mínimo para assegurar condições de vida dignas. O terceiro aspecto que se salienta respeita aos indicadores de desigualdades na saúde, divulgados pelo INE, a que juntámos as condições de habitação. A distribuição de três indicadores relevantes do estado de saúde (a autoapreciação do estado de saúde, a morbilidade crónica e a limitação na realização de actividades diárias por motivos de saúde) por níveis de escolaridade revela a profundidade das desigualdades existentes. Enquanto, por exemplo, a incidência da morbilidade crónica nas pessoas sem um nível de escolaridade completo atinge 81% (52% no Ensino Básico) é muito menor no Ensino Superior. Por sua vez, a desigualdade nas condições de habitação é ilustrada com o recurso a três indicadores também relevantes. Considerando pobres as pessoas do primeiro quintil, isto é, as que se classificam nos 20% com menor rendimento, constatamos que: vivem em espaços sobrelotados; uma em cada cinco famílias gasta mais de 40% do rendimento disponível em despesas com habitação; 10% das famílias vive em condições severas de habitação onde a sobrelotação se conjuga com outros elementos de privação habitacional (a falta de instalações sanitárias, por exemplo). Esta situação contrasta vivamente com as condições de habitação nos 20% de maior rendimento. Um país desigual, em suma. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.Opinião|
Rendimento e condições de vida: um país desigual
Total Nenhum Básico Secundário Superior Estado de saúde: bom ou muito bom 51,3 10,1 36,5 69,8 75,5 Morbilidade crónica 43,2 80,6 51,6 29,2 29,9 Limitação na realização de actividades 32,1 76,2 41,1 17,1 17,1 Total 1º quintil 2º quintil 3º quintil 4º quintil 5º quintil Sobrelotação 9,5 18,0 11,9 9,5 5,5 2,5 Sobrecarga de despesas 5,7 20,7 5,1 2,1 0,6 0,3 Privação severa 4,1 10,1 4,5 3,8 1,4 0,7 Contribui para uma boa ideia
O INE veio deste modo clarificar que a taxa de desemprego actual se aproxima mais do que nunca do conceito de taxa de desemprego em sentido real, a que agora chama taxa de subutilização do trabalho (que inclui o desemprego em sentido estrito, o subemprego de trabalhadores a tempo parcial e os inactivos à procura de emprego mas não disponíveis e os inactivos disponíveis mas que não procuram emprego). Todos estes elementos analisados fazem concluir que a taxa de desemprego real, em 2020, terá atingido os 14%, afectando 750 mil trabalhadores.
A análise do BdP não apresenta qualquer comparação com outros países quanto à percentagem do PIB disponibilizada pelo Governo em medidas de mitigação e combate à pandemia.
Veja-se que uma análise comparativa efectuada pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) no início deste ano nos mostra que, enquanto Portugal fez um esforço orçamental em despesas adicionais ou receitas perdidas em 2020 para enfrentar a pandemia de cerca de 4,7% do PIB, a França gastou 7,6%, a Alemanha 11%, a Itália 8,5%, o Reino Unido 16,2%, a Espanha 7,6%, a Grécia 13,7%, a Bélgica 8%, o Japão 15,9% e os EUA 25,5%, só para dar alguns exemplos.
Números que permitem concluir que o esforço orçamental do País foi claramente inferior ao realizado por grande parte dos países que são nossos parceiros comerciais.
Assim, para contrariar as dificuldades económicas e sociais vividas pelas populações será determinante, por um lado, o Governo executar de forma plena as medidas inscritas no Orçamento do Estado, que respondem a algumas destas necessidades. Por outro lado, deve assumir e aprofundar medidas políticas que permitam combater eficazmente a pandemia, ao mesmo tempo que se defende a economia e as populações.
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