O Conselho Nacional do PEV, que se reuniu este sábado na Casa do Alentejo, em Lisboa, considera que as respostas previstas no documento do Governo, além de «insuficientes», ignoram «literalmente» os contributos dados pelo partido. Por outro lado, alerta para a necessidade de o Executivo concretizar «muitas das medidas» aprovadas no anterior Orçamento e que ficaram por executar.
No que toca à proposta para o próximo ano, o PEV critica que o mínimo de existência, fundamental para as famílias com os rendimentos mais baixos, não tenha qualquer aumento, e que os escalões de IRS não acompanhem a inflação.
No âmbito das alterações climáticas, «constatamos que não há qualquer esforço no sentido de avançar para a progressiva gratuitidade dos transportes públicos, nem medidas para se proceder ao alargamento da oferta a todo o País», lê-se num comunicado saído da reunião do Conselho Nacional.
Quanto ao novo aeroporto, «Os Verdes» vão continuar a exigir uma Avaliação Ambiental Estratégica, «expurgada da opção Montijo». «É inconcebível que tal infra-estrutura seja implementada em zona sensível, potencialmente inundável, face à subida do nível médio das águas do mar, entre tantas outras consequências já conhecidas», denunciam.
A proposta de Orçamento prevê um crescimento económico de 5,5%, mas com o Governo a fugir a compromissos fundamentais para o desenvolvimento do País, como o aumento dos salários e a valorização das carreiras. Na apresentação da proposta de Orçamento do Estado (OE), esta manhã, o ministro das Finanças enumerou «cinco grandes áreas de acção» na resposta ao pós-epidemia, entre as quais o rendimento das famílias, o aumento de salários na Administração Pública e o relançamento das empresas. Porém, o documento revela estar muito aquém do que o País precisa para superar problemas estruturais. De acordo com a proposta, os baixos salários continuam a ser a tónica, com o Governo a propor uns míseros 0,9% de aumento para os trabalhadores da Administração Pública, a que se associa a contínua perda do poder de compra dos pensionistas e os cortes nas pensões, inclusive dos que somam mais de 40 anos de carreira contributiva. Uma situação insustentável, tanto a nível económico como social. Numa altura em que o País dá sinais de sair de uma pandemia que pôs a nu a necessidade de um Serviço Nacional de Saúde (SNS) robusto, o Governo desleixa a valorização das carreiras e dos salários de quem o assegura diariamente, não conseguindo garantir a sua fixação e correndo o risco da sangria de profissionais para o sector privado ou mesmo para o estrangeiro. Em matéria fiscal, e apesar das pistas que vieram a público nas últimas semanas, o Executivo de António Costa não apresenta um progressivo desagravamento dos rendimentos de trabalho mais baixos e intermédios e dos impostos indirectos. Na prática, os rendimentos até 1000 euros brutos não são alcançados pelo desdobramento dos escalões do IRS. Entre outras matérias, o Governo não dá resposta ao agravamento dos problemas da habitação e da energia, tal como não propõe medidas para um fortalecimento dos serviços públicos. Mantendo-se amarrado ao «equilíbrio» do défice e da dívida, a proposta de Orçamento estima um crescimento da riqueza criada de 5,5%, no próximo ano, sendo certo (se nada se alterar) que não serão os trabalhadores a aproveitá-lo. O documento detalhado esta manhã pelo ministro das Finanças foi merecendo críticas ao longo do dia, e ninguém admite comprometer-se com a proposta conforme está. Se à direita se critica o «peso do Estado» e a falta da «iniciativa privada», sendo esta uma das queixas do CDS-PP, à esquerda as críticas recaem no facto de se continuarem a adiar soluções para os problemas estruturais que o País vive. Segundo admitiu a deputada Mariana Mortágua, a proposta de OE «não inclui nem as prioridades do BE, nem as medidas negociadas» por este partido, admitindo votar contra se o Governo não se mostrar disponível para negociar. A proposta de Orçamento construída pelo Governo merece também o voto contra do PCP. Numa conferência ao fim da tarde, João Oliveira, líder da bancada comunista, denunciou que o Orçamento «não se insere» no sentido geral de resposta aos problemas do País, ao mesmo tempo que «o Governo não dá sinais de querer assumir esse caminho». O PCP entende que o documento «está longe» de estar no rumo que o País precisa, designadamente no que toca ao aumento dos salários e das pensões, considerando que, até à votação na generalidade, ainda há tempo de encontrar soluções. Pelo PEV, a deputada Mariana Silva mostrou preocupação com a falta de medidas para o combate à pobreza no IRS, desde logo, pelo facto de o Governo não ter aumentado o mínimo de existência. Também Isabel Camarinha, secretária-geral da CGTP-IN, considerou que a proposta de OE2022 «não responde às necessidades» do País, e que o Governo «tem de perceber que não pode continuar refém do défice e da dívida pública». Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.Nacional|
OE2022: Quem aproveita o crescimento económico previsto pelo Governo?
«Não responde às necessidades do País»
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Entre outras medidas, «Os Verdes» defendem que os investimentos previstos ao nível dos serviços públicos «ficam muito longe do necessário», e que a prioridade da produção nacional, nomeadamente no que toca à agricultura familiar e biológica, «foi completamente» ignorada.
Os ecologistas entendem que, «mais importante» do que pressões ou dramatizações «é perceber que, apesar de a economia estar a crescer, este Orçamento mostra-se incapaz de fazer sentir esse crescimento na vida das pessoas e na qualidade dos serviços públicos».
Não se revendo na proposta do Governo, o Conselho Nacional do PEV considera, no entanto, que ainda há tempo para procurar soluções até à votação na generalidade, desde que o Governo e o PS manifestem sinais nesse sentido.
Ainda sobre o que ficou por fazer, o PEV lamenta que a proposta vertida no OE de 2021, de apoio financeiro aos pequenos proprietários e produtores florestais, às autarquias e às entidades gestoras dos baldios para o arranque e controlo de eucaliptos de crescimento espontâneo nas áreas que foram percorridas pelos incêndios de 2017 não tenha sido efectivamente executada.
A fuga de João Rendeiro foi outro dos temas a merecer a atenção do Conselho Nacional do PEV. A estrutura defende que este processo «não se pode desligar» de um problema estrutural da Justiça e da sua morosidade, «contribuindo para uma descredibilização do Estado de Direito e das suas instituições».
Exemplos como este e o dos Pandora Papers levam o PEV a recordar a iniciativa, da sua autoria, aprovada na Assembleia da República e a reivindicar que o Governo dê seguimento a essa resolução, «no sentido de se envolver activamente junto das organizações internacionais de que faz parte, com vista a eliminar os paraísos fiscais».
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