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Pandemia aumenta casos de violência doméstica

Os dados resultam do estudo elaborado pela Escola Nacional de Saúde Pública e revelam que foram os mais jovens, os menos escolarizados e pessoas com dificuldades económicas que apresentaram mais queixas.

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Créditos / BragaTV

Através de um inquérito online, concluiu-se que 15% de inquiridos vivenciou episódios de violência doméstica entre Abril e Outubro do ano passado. Sendo que 34% das pessoas inquiridas sofreu de violência doméstica pela primeira vez durante a pandemia e 72% das vítimas não denunciou os abusos.

Os dados reportam-se na sua maioria a mulheres (77,8%), entre os 25 e os 54 anos, e com ensino superior (82,1%). A amostra conta com 1062 participantes, e não é representativa da população, pois teve como objectivo analisar a violência doméstica auto-reportada durante o período de medidas restritivas de combate à pandemia.

Sónia Dias, professora na Escola Nacional de Saúde Pública, e coordenadora do estudo, revela ao Público que «todos os dados parecem indicar que o contexto da pandemia acaba por agravar os factores associados à violência doméstica».

Para a investigadora factores como a obrigatoriedade do confinamento e a diminuição de condições económicas podem contribuir para o agravamento destas situações de violência. Ainda que o registo de novos episódios de violência doméstica tenha ocorrido sobretudo entre pessoas com formação superior e sem dificuldades económicas.

Verifica-se também que 51% das vítimas pode não ter consciência de ter experienciado episódios de violência, porque pese embora respondam que sofreram de violência, afirmam não terem sido vítimas.

Os dados revelam ainda que quem mais queixa fez foram os mais jovens, os menos escolarizados, as pessoas com dificuldades económicas, e os pedidos de ajuda são sobretudo junto de profissionais de saúde mental.

As conclusões, segundo Sónia Dias, vão no sentido do que já existe noutros países, isto é, a diminuição de denúncias não se traduz numa diminuição do fenómeno. E são apontados diversos motivos para não denunciar, como a consideração de que a ajuda é desnecessária, de que não alteraria a situação, a ideia de que o abuso não foi grave ou que as autoridades não fariam nada.

Os últimos dados trimestrais, publicados sobre o Governo, sobre o crime de violência doméstica, e que se reportam de Julho a Setembro de 2020, revelam que o número de queixas à PSP e GNR foi praticamente o mesmo do que o registado no período homólogo.

Recorde-se que, em Julho de 2020, as vítimas de violência doméstica passaram, por proposta do PCP, a poder requerer que a sua morada seja ocultada nas notificações das autoridades dirigidas ao agressor.

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