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Peniche: Memorial homenageia presos políticos

«Alto significado político e justiça histórica», assim caracterizou Domingos Abrantes, na presença de António Costa, a inauguração do Memorial em homenagem aos presos políticos do Forte de Peniche.

Inauguração do Memorial em Homenagem aos Presos Políticos, na Fortaleza de Peniche
CréditosCarlos Barroso / LUSA

O primeiro-ministro, António Costa, e Domingos Abrantes, ex-preso político em Peniche e actual membro do Conselho de Estado, intervieram, ao fim da tarde deste dia 25 de Abril, na inauguração do Memorial em homenagem aos presos políticos do Forte de Peniche e da exposição «Por Teu Livre Pensamento».

Um acto público com a participação de largas centenas de pessoas, nomeadamente ex-presos políticos e familiares, incluindo militares de Abril e personalidades de diversos quadrantes políticos, deputados, membros do Governo, autarcas, dirigentes sindicais e das associações militares.

A inauguração do monumento deu-se ao som do hino nacional entoado pelo Coral Stella Maris, de Peniche, após o que se iniciaram as intervenções.

Na intervenção de abertura, Domingos Abrantes referiu que esta inauguração se destina «a perpetuar o nome e a memória dos mais de 2500 presos aqui encarcerados ao longo de 40 anos», sublinhando que se tratava de «gente com rosto, seres comuns: operários, camponeses, pescadores, militares, religiosos, estudantes e intelectuais. Portugueses, africanos e indianos, pessoas de opções ideológicas diferentes, mas todos irmanados na causa comum contra o fascismo. Todos obreiros da liberdade».

Domingos Abrantes, depois de lembrar que este momento marca também «o início da primeira fase da instalação do Museu Nacional da Resistência e da Liberdade», chamou a atenção para «tantos anos de políticas de esquecimento do que foi a opressão fascista e a luta pela liberdade», nomeadamente em relação aos manuais escolares, onde, «de ano para ano, vão desaparecendo as referências à ditadura e à sua natureza, assim como à resistência» e à destruição «de um após outro dos principais símbolos da repressão fascista, da tortura e do assassínio».

Depois de referir que as paredes do Forte de Peniche não falam só de violências e de privação da liberdade, mas falam também de exemplos de coragem, de firmes convicções, «de audaciosas fugas, que foram pesadas derrotas para o regime e vitórias de toda a oposição democrática», Domingos Abrantes alertou para «os tempos preocupantes e incertos que vivemos», considerando que «o fascismo não está morto e não se combate com gritos de alma», antes exige medidas concretas «para que o sacrifício de tantas vidas não tenha sido em vão».

A finalizar, António Costa revisitou o dia 25 de Abril de 1974, a «extinção da PIDE, da Legião», para relembrar as «intermináveis horas de espera dos presos de Peniche, os últimos a serem libertados». O primeiro-ministro sublinhou a «consistência da coragem dos presos neste lugar sinistro», como «testemunhas de acusação e heróis da luta contra a ditadura».

Tendo evocado presos do Tarrafal, do Aljube e de Caxias, e destacado o papel dos militares de Abril, o primeiro-ministro disse ainda que, «em nome do futuro do 25 de Abril, nunca se poderá esquecer o passado de resistência dos que sacrificaram família, património, liberdade e a própria vida», símbolos da «nossa homenagem e exemplos de luta».

Este acto público ficará completo no próximo sábado, dia 27, data em que se assinala os 45 anos da libertação dos últimos presos políticos com uma festa popular no Largo da Fortaleza, com a participação de Gisela João, Fernando Tordo, Coro Lopes Graça e intervenções de Domingos Abrantes e Graça Fonseca, ministra da Cultura.

Da concessão ao museu

Recorde-se que a notícia sobre a proposta do Governo de concessionar o Forte de Peniche a privados em conjunto com outros monumentos históricos, por um período entre 30 e 50 anos, para o desenvolvimento de unidades hoteleiras e turísticas gerou uma forte indignação por parte de democratas antifascistas, nomeadamente de ex-presos políticos, por considerarem que a sua privatização constituiria um atentado à democracia e à violação do dever de qualquer governo de honrar a memória de quem deu a própria vida em defesa da liberdade. Chegaram mesmo a afirmar que a transformação do Forte de Peniche numa unidade hoteleira, a partir da qual os turistas teriam uma vista privilegiada para o Atlântico, constituiria um insulto à memória dos que aí estiveram detidos e nem o mar conseguiam ver.


Na sequência dessa atitude do Governo, foi lançada uma petição, que rapidamente obteve 5 mil assinaturas, exigindo que a Fortaleza de Peniche se mantivesse como património nacional. A petição foi entregue no dia 5 de Outubro na Assembleia da República com nomes de diversos quadrantes político-ideológicos e de variadas áreas da vida política, cultural e social nacional.

Uma iniciativa que acabou por ter eco no Governo, que, a 27 de Abril de 2017, realizou, simbolicamente, a reunião semanal do Conselho de Ministros no Forte de Peniche, no dia em que se assinalavam 43 anos da libertação dos últimos presos políticos daquela cadeia de alta segurança do regime fascista.

Uma reunião no final da qual foi anunciada a instalação, naquele local, de um «museu nacional dedicado à luta pela liberdade e pela democracia». Aliás, por proposta do PCP, o Orçamento do Estado para 2017 já previa a concretização, por parte do Governo, de um plano urgente de intervenção na Fortaleza de Peniche, com a previsão de investimento de 3,5 milhões de euros e o apoio dos programas Centro 2020 e Portugal 2020, envolvendo a conservação e restauro da fortaleza e os custos da primeira fase de instalação do museu.

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