As estimativas da companhia low-cost irlandesa, que previa um fraco impacto da greve europeia, foram já ultrapassadas esta manhã. Durante a semana, a Ryanair disse que só ia cancelar uma centena de voos e que os restantes iam operar com normalidade, mas a realidade deste manhã aponta para o contrário.
A greve de hoje foi inicialmente convocada pelos tripulantes de cabine de um total de seis países: Portugal, Espanha, Bélgica, Holanda, Itália e Alemanha. Além disso, os pilotos da Ryanair de quatro países e outros trabalhadores da companhia juntaram-se também ao protesto, que está a ter uma forte adesão.
Por cá, os trabalhadores são representados pelo Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil (SNPVAC), que afirmou que mais de uma dezena dos voos previstos para esta manhã foram cancelados, em Lisboa e Porto, estando a greve a registar uma grande adesão dos tripulantes de cabine.
Na base do conflito está a exigência de que os contratos de trabalho da Ryanair sejam feitos segundo a lei laboral nacional de cada país, e não a irlandesa, que tem sido a usada pelo grupo, por ser mais favorável em vários aspectos. Por exemplo, permite contratos de zero horas, o que não é permitido em Portugal, além de que o tempo de serviço em avião só é contado se tiver passageiros.
Os sindicatos europeus contestam também o recurso pela companhia a empresas de trabalho temporário, a Crewlink e a Workforce, que funcionam na órbita da companhia aérea, acabando por ter condições mais precárias de trabalho.
«Estamos aqui para reivindicar melhores contratos, com um ordenado mínimo garantido e seguros para acidentes de trabalho, que estes tripulantes não têm, nem sabem se descontam em Portugal ou para a segurança social da Irlanda, estão completamente desapoiados», afirmou Tiago Mota, do SNPVAC, à RTP.
Ainda sobre os descontos, o dirigente alertou para os casos dos «tripulantes que estão a atingir o plafond permitido por lei», e, por isso, «vão ter de ficar em casa três meses. Como não há ordenado mínimo garantido, vão ter de ficar sem qualquer rendimento» durante o período.
Braço-de-ferro com historial de repressão
Com várias greves desde Março, os trabalhadores exigem o cumprimento de várias matérias previstas na lei, entre as quais os direitos de parentalidade, a garantia de um ordenado mínimo e o fim de processos disciplinares por motivo de baixas médicas ou contra quem não atinja os objectivos de venda a bordo. É ainda contestada a deterioração das condições de trabalho e os vínculos de trabalho precários, alguns com dez anos.
A Ryanair tem estado envolvida, em Portugal, numa polémica desde a 1.ª greve dos tripulantes de cabine de bases portuguesas, por ter recorrido a trabalhadores de outras bases para minimizar o impacto da paralisação, que durou três dias, no período da Páscoa. A empresa admitiu ter recorrido a voluntários e a tripulação estrangeira durante a greve, algo que é ilegal no nosso País.
Em Agosto, numa carta dirigida aos trabalhadores, a Ryanair tentou intimidar os tripulantes que fizeram greve a 25 e 26 de Julho, referindo que não seriam pagos vários componentes do salário, incluindo bónus de produtividade, e que a adesão à greve será «levada em conta, tal como outros factores relevantes de desempenho, em avaliações para oportunidades de promoções e de transferências».
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