«O Iémen é hoje um inferno na terra para as crianças. Um inferno não para 50-60% das crianças, mas para cada rapaz e rapariga que vivem no Iémen», afirmou Geert Cappelaere, director regional do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) no Médio Oriente e Norte de África, numa conferência de imprensa realizada este domingo em Aman, capital da Jordânia.
«Trinta mil crianças com idades inferiores a cinco anos morrem todos os anos no Iémen de doenças que têm a má-nutrição na sua origem», disse o responsável da Unicef, acrescentando que uma criança morre, a cada dez minutos, de doenças facilmente evitáveis».
De acordo com a Unicef, 1,8 milhões de crianças iemenitas sofrem diariamente de má-nutrição e 400 mil de má-nutrição severa, sendo que «40% destas residem em Hudaydah e nas províncias circundantes», onde a guerra se tem intensificado.
Preocupação especial com Hudaydah
Cappelaere fez especial menção à cidade portuária de Hudaydah, no Oeste do Iémen, e à situação humanitária que enfrenta, em virtude da ofensiva lançada pela coligação liderada pela Arábia contra a cidade e a região circundante.
A este propósito, lembrou que porto de Hudaydah tem uma importância vital para 70% a 80% da população iemenita, uma vez que constitui a única porta de entrada para o abastecimento de produtos comerciais e a assistência humanitária, que depois permite à Unicef ajudar o Norte do país.
«Com o assalto a Hudaydah, não tememos apenas pelas vidas de milhares de crianças [naquela região], temenos também pelo impacto que terá nas crianças e demais poulação, sobretudo no Norte do país», frisou Cappelaere.
Para acabar com esta catástrofe, insistiu na necessidade de «um acordo de cessar-fogo» no Iémen sob mediação do emissário especial das Nações Unidas.
Guerra de agressão, desde Março de 2015
Liderando uma coligação militar que inclui países como os Emirados Árabes Unidos, o Sudão e o Egipto, a Arábia Saudita lançou, em Março de 2015, uma ofensiva militar contra o mais pobre dos países árabes, declarando serem seus objectivos esmagar a resistência do movimento popular Ansarullah e recolocar no poder o antigo presidente Abd Rabbuh Mansur Hadi, aliado de Riade.
O Centro Legal para os Direitos e o Desenvolvimento iemenita afirma que a guerra de agressão contra o Iémen já provocou mais de 15 mil mortos, na sua grande maioria civis. Já o Armed Conflict Location and Event Data Project aponta para números mais elevados: 56 mil mortos.
Por seu lado, o Comité Internacional da Cruz Vermelha e as Nações Unidas têm-se referido à situação no país como «a maior crise humanitária do mundo». As Nações Unidas sublinham que a campanha militar provocou milhares de mortos e feridos entre a população civil, foi responsável pela destruição de uma parte substancial das infra-estruturas do país árabe e está na origem de uma situação humanitária em que mais de 22 milhões de iemenitas necessitam de ajuda alimentar urgente, sendo que 8,4 milhões são «severamente afectados pela fome».
Tanto a Arábia Saudita como os Emirados Árabes Unidos têm sido frequentemente acusados de violações dos direitos humanos e de perpetrar acções que se configuram como crimes de guerra.
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